Para a Igreja Católica Apostólica Romana existem quatro virtudes
cardinais ou virtudes cardeais que polarizam todas as outras virtudes humanas.
Este conceito teológico destas quatro virtudes teve a sua origem inicialmente
do esquema de Platão e adaptado por Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho de
Hipona e São Tomás de Aquino.
O conceito teológico destas quatro virtudes, segundo a Doutrina da
Igreja Católica, elas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da
vontade humana, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam a
nossa conduta segundo a razão e a fé. As virtudes cardeais são quatro:
- A prudência (originalmente “Sapientia”
que em latim significa conhecimento ou sabedoria), dispõe a razão para
discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os
justos meios para atingi-lo. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes
a regra e a medida, sendo por isso considerada a virtude-mãe humana.
- A justiça, que é uma constante e
firme vontade de dar aos outros os que lhes é devido;
- A fortaleza (ou Força) que
assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem;
- E a temperança (ou Moderação)
que modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os
instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados, sendo por
isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres. “Pendente
nos cantos da Loja estão quatro borlas, destinadas a nos lembrar das
quatro virtudes cardeais, a saber: Prudência, Justiça, Fortaleza e a
Temperança, a totalidade das quais, nos informa a tradição, era
constantemente praticada pela maioria de nossos antigos irmãos”.
Esta provavelmente seja a referência mais conhecida sobre as quatro
borlas, mencionada nos principais rituais Ingleses, Escoceses e Irlandeses, de
onde derivam a maioria dos rituais do mundo. As virtudes cardinais como
esculpidas na tumba do Papa Clemente II na Catedral de Bamberg.
As Quatro Borlas pendentes dos quatro cantos da Loja que são mencionados
nas instruções sobre o painel do Primeiro Grau, estão diretamente relacionadas
com os métodos utilizados pelos mestres pedreiros operativos ao definir os
quatro cantos do prédio e ao implantar os cantos em um canteiro de obra. Mesmo
hoje em dia, um mestre de obra, ao construir os cantos das linhas de um prédio
irá suspender prumos a partir de suportes de madeira, adjacente aos cantos,
para garantir que os cantos fossem perpendiculares, bem como corretamente
localizados com relação aos demais pontos de canto estabelecidos.
Estas linhas eram também esticadas entre as linhas de prumo relevantes
nos cantos, para garantir que as paredes seguiriam as linhas corretas e
assegurar que os cantos estavam no esquadro e perpendiculares. As Quatro Borlas
também aludem às linhas de prumo, que foram colocadas nos cantos do prédio
durante a construção.
Em tempos operativos as Quatro Borlas que eram suspensas nos quatro
cantos do alojamento representavam guias, que foram destinados a ajudar um
maçom para manter uma vida justa e correta, de onde derivou a referência para
as quatro virtudes cardeais que, tradicionalmente, são prudência, justiça,
fortaleza e a temperança.
Em lojas modernas especulativas essas Quatro Borlas, representando
respectivamente a prudência, justiça, fortaleza e a temperança, nesta
sequência, deve começar no canto sudeste, que está ao lado esquerdo do
Venerável Mestre, em seguida, avançar no sentido horário em torno do recinto da
loja. Hoje em dia borlas não é uma característica comum em templos maçônicos,
mas geralmente são representados apenas pelo nome de uma das quatro virtudes
cardinais em cada canto. Em linguagem atual temperança sugere moderação ou
mesmo abstinência; fortaleza implica coragem no sofrimento; prudência transmite
uma impressão de cautela e justiça implica em reconhecer o que é certo.
A prática da temperança ou moderação deve estar estreitamente aliada à
fortaleza ou força, o que implica coragem moral, bem como ser forte e
destemido. Mesmo assim, a busca do curso de ação correto deve ser sempre
temperada ou moderada com prudência, que envolve o uso do bom senso e da boa
aplicação da razão e da lógica. No senso comum a justiça implica na
interpretação estrita da lei, mas no seu sentido mais amplo, deve refletir o
maior bem para a comunidade como um todo. É por isso que, em muitas versões da
instrução sobre o painel do primeiro grau, a referência às quatro virtudes
cardeais é seguida imediatamente por uma declaração semelhante à seguinte
passagem citada do Ritual de Emulação Inglês:
“As características distintivas de um bom maçom são virtude, honra, e
misericórdia, e que elas possam sempre ser encontradas no peito de um maçom.”
Neste contexto, misericórdia implica que a justiça por si só é insuficiente,
mas que ela deve ser temperada pela misericórdia se for para alcançar um
resultado equitativo. A virtude e a honra são corolários importantes da
misericórdia. Virtude significa bondade, moralidade e probidade, e também
significa muitos atributos de honra, que por sua vez significa honestidade,
integridade, retidão e justiça.
Na época operativa, todas as estruturas religiosas significativas e
outros edifícios imponentes foram criados a partir do centro, quando a
localização do centro de uma estrutura tinha sido decidida, o primeiro dever do
mestre pedreiro era estabelecer o ponto central da estrutura no terreno.
Chamava-se a isso de bater o centro. Ele, então, iria determinar a necessária
orientação do edifício por um método apropriado e configurá-la no chão. Nós
maçons especulativos deveríamos estar cientes de que, simbolicamente, eles têm
por objetivo encontrar as respostas para suas perguntas no centro, que é o
ponto dentro de um círculo a partir do qual todas as partes da circunferência
são igualmente distantes.
O Círculo entre Paralelas Tangenciais e Verticais é também importante
símbolo maçônico e, como essas paralelas representam os trópicos de Câncer e de
Capricórnio, ou seja, os dois São João, o Batista e o Evangelista, a figura
mostra que o Sol não transpõe os trópicos e recorda, ao maçom, que as
concepções metafísicas e a consciência religiosa de cada obreiro são de foro
íntimo e, portanto, invioláveis.
O ponto dentro de um círculo é um hieróglifo antigo e sagrado que se
refere à divindade. O mundo maçônico é um mundo geométrico por excelência,
portanto podemos definir o quadrado como a matéria, o círculo como o espírito e
o ponto é a origem de tudo, o criador. É um símbolo de importância suficiente
para merecer uma contemplação profunda, mas bastará agora dizer que as
respostas encontradas no centro são aquelas estabelecidas de acordo com os
decretos da divindade.
Edifícios sagrados geralmente eram obrigados a facear ou o leste ou o
nascer do sol no solstício de verão. Caso se necessitasse que a orientação
fosse de leste a oeste, o primeiro passo seria determinar a verdadeira linha
Norte-Sul com precisão, por meio de uma linha passando pelo ponto central, a
partir da qual a verdadeira linha Leste-Oeste poderia ser estabelecida.
Quando as quatro marcas de canto tinham sido estabelecidas, estacas
perpendiculares distintamente marcadas eram criadas perto delas, com cordões ou
fitas coloridas suspensas distinguiam as estacas marcadas, da mesma forma como
hoje são usadas estacas pintadas ou estacas com bandeiras coloridas, chamando a
atenção para a sua localização e protegendo-as contra danos acidentais.
Como as lojas operativas eram orientadas na mesma direção do templo de
Salomão em Jerusalém, que é o inverso de lojas especulativas modernas, a
entrada para o alojamento era no leste e o mestre sentava no oeste. Para evitar
possíveis confusões, na discussão a seguir será feita referência à posição dos
oficiais na loja, e não aos pontos cardeais. Lojas Operativas tinham um Mestre,
um Primeiro Vigilante e um Segundo Vigilante que tinham uma localização
relativa entre eles.
Em lojas operativas havia também um quarto oficial, o Superintendente de
Trabalho, cuja localização era do lado oposto ao do Segundo Vigilante. Nesta
explicação sobre a localização e o simbolismo das Quatro Borlas pendentes dos
cantos do alojamento, assume-se que todos esses quatro oficiais ficam sentados
de frente para o centro do alojamento.
A borla no canto do lado direito do Mestre deve representar justiça e a
do seu lado esquerdo deve representar temperança. A razão para isso é que,
quando governa seu alojamento e administra sua força de trabalho, o Mestre deve
fazê-lo com justiça que, no entanto, deve ser temperada com misericórdia, de
modo a garantir que não só o cliente obterá o serviço que está pagando, mas
também que os seus trabalhadores vão receber os devidos pagamentos.
A borla no canto do lado direito do Superintendente do Trabalho deve
representar prudência e a do seu lado esquerdo deve representar justiça. Tal
como o seu Mestre, a quem ele representa, o Superintendente do Trabalho deve
ser prudente na utilização de sua força de trabalho e dos materiais, para que o
Mestre esteja devidamente servido; mas ele também deve garantir que os homens
sejam tratados com justiça, para que eles recebam os proventos a que têm
direito.
Os dois Vigilantes são os oficiais que exercem controle direto sobre os
trabalhadores, sob a supervisão imediata do Superintendente do Trabalho. A
borla no canto do lado direito do Administrador Sênior, o Primeiro Vigilante,
deve representar fortaleza e a do seu lado esquerdo deve representar prudência.
A razão para isso é que, como o oficial que exerce o controle direto
sobre os trabalhadores enquanto estão no trabalho, ele é responsável por
superar as muitas dificuldades que inevitavelmente afligem o trabalho, o que
exigirá a máxima firmeza de sua parte. Ao mesmo tempo, deve exercer o seu
controle sobre o emprego dos homens e do uso de materiais com a máxima
prudência, para proteger o bem-estar dos homens e, ao mesmo tempo garantir que
a execução da obra não seja penalizada.
O Segundo Vigilante, cujo dever é ajudar o Administrador Sênior, é o
oficial principal responsável pelo bem-estar dos homens, especialmente quando
eles estão em repouso e descanso. A borla no canto do lado direito do Segundo
Vigilante deve representar temperança, em alusão à forma pela qual o descanso
deve ser sempre conduzido. A borla do lado esquerdo do Segundo Vigilante deve
representar fortaleza, porque ele deve personificar Hiram Abif cuja fortaleza
deve ser sempre imitada por todos os maçons.
Para o nosso pleno desenvolvimento como Maçom e como ser humano, devemos
não só praticar as quatro virtudes cardiais, prudência, justiça, fortaleza e a
temperança, bem como as três virtudes teologais, a fé, a esperança e a
caridade, as quais nós deveremos usar com muita sabedoria e inteligência.
Eduardo Bandeira Lecey, M.’.M.’. e M.’.I.’.
ARLS Guardiões da Arca 4348 (Rito Brasileiro)
Porto Alegre, Grande Oriente do Brasil
BIBLIOGRAFIA
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