A TEMPERANÇA NA MAÇONARIA



A temperança na maçonaria requer o exercício de cautela no pensamento, julgamento, sentimento, expressão, ação e realização em todos os aspectos da vida e do trabalho.

A prática da temperança deve estar estreitamente aliada à firmeza, o que implica coragem moral, bem como coragem física, o que exige que um maçom prossiga no caminho que ele sabe ser o certo, mesmo que ao fazê-lo encontre problemas imprevistos e que o resultado não seja o que ele havia previsto.

A mulher que derrama líquido é uma alegoria muito comum durante a Idade Média para representar a virtude da temperança: supunha-se que misturava água no vinho para diminuir os seus efeitos. Curiosamente, a mesma imagem serviu durante os primeiros séculos do cristianismo para ilustrar o contrário: o milagre das bodas de Canaã, onde – por ordem de Jesus – a água se transforma em vinho.

Com outros significados pode ser encontrada nos versos de Horácio: “O cântaro reterá por longo tempo o perfume que o encheu pela primeira vez”.

Mistura de anjo e mulher, a Temperança evocou sempre, para os investigadores do Tarô, o mito do hermafrodita. Tema recorrente e vastíssimo, por um de seus aspectos – que é o que aqui interessa – a androginia tem sido considerada desde tempos antigos como premonição feliz.

Isto faz da Temperança uma carta amável, do ponto de vista adivinhatório, cuja presença alivia a densidade do oráculo.

Arcano de reunião, e, portanto de equilíbrio – a coniunctio oppositorum, em sua fase anterior à bissexualidade – onde o derramar do líquido já foi interpretado como metáfora das transformações: a passagem do espiritual ao físico, do sentimento à razão.

Do ponto de vista astrológico está em paralelo com as representações aquarianas, que por sua vez guardam correspondência com o simbolismo de Indra, divindade hindu da purificação.

Wirth relaciona a androginia da Temperança ao quinto ternário do Tarô, que provém da morte assexuada (XIII) e culmina no Diabo bissexual (XV).

É preciso assinalar também sua localização como último termo do segundo setenário, que corresponde à Alma ou psique, plano da personalidade fluente, flexível e instável na natureza, relacionada às águas em quase todas as teofanias, assim como o Espírito é associado à luz (fogo, ar) e o Corpo a terra.

O derramamento entre vasos gêmeos e opostos levam, por outro lado, as especulações sobre os prodígios terapêuticos: o Arcano XIIII é claramente o curador, o agente reparador e reconstituinte, aquele que verte harmonia universal sobre o desequilíbrio individual. Como o Eremita, lembra os médicos, curandeiros e charlatães; mais ainda, lembra conselheiros, confessores e terapeutas.

A Temperança pode ser vista, ainda, no contexto do inesgotável simbolismo aquático, pois se refere à matéria unívoca (o oceano primordial), à corrente circulatória que mantém a vida (chuva, seiva, leite, sangue, sêmen), à mãe (meio aquoso no plano pré-natal) e às imersões como rito de morte e ressurreição (batismo).

O homem maçom ao usar da Temperança, adquire pela paciência, pela observação, pela compreensão, pela fraterna união, o dom da Tolerância, aí sim, será um homem livre e de bons costumes, exemplo para os demais, Irmãos e Profanos.

Bruno Macedo

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