A LEI DO SILÊNCIO


 

A tarefa mais difícil para um homem comum é guardar um segredo e permanecer em silêncio

(Aristóteles – 384-322 a.C)

A própria palavra “mistério” (segredo) significa em linguagem religiosa, alguma coisa de separado, de secreto, de oculto e de que não é lícito falar.

A imposição do silêncio não é somente uma disciplina que fortalece o caráter, é também, e principalmente, o meio pelo qual o Iniciado pode entregar-se à meditação sobre os augustos mistérios que encerram as perguntas que todo o espiritualista se faz: donde vim? Quem sou? Para onde vou? Perguntas essas que o Iniciado Maçom defronta desde o momento em que transpõe a porta da Câmara de Reflexão. É também o meio de melhor observar os ensinamentos maravilhosos contidos no Ritual.

Mesmo antes da própria admissão na Ordem, já se começa a exercitar o princípio do Silêncio. Nos momentos que precedem as Iniciações, quando o Candidato permanece na Câmara de Reflexão, o silêncio é fundamental.

Isso tem por finalidade o desenvolvimento da vontade e permite atingir um maior domínio sobre si mesmo. Não esqueçamos que somente um homem capaz de guardar o silêncio, quando necessário, pode ser seu próprio senhor.

Em Maçonaria define-se o SILÊNCIO como virtude maçônica, mediante a qual se desenvolve a discrição, corrige-se os defeitos próprios e usa-se prudência e tolerância em relação à faltas e defeitos de outros. Na Maçonaria se costuma simbolizá-lo pela trolha, com a qual se deve estender uma camada de silêncio sobre os defeitos alheios, tal qual faz o pedreiro vulgar com o cimento para descobrir as arestas do edifício em construção.

O silêncio deve ser rigorosamente mantido, não por força de disposições regulamentares ou pelos ditames da boa educação e das conveniências sociais, mas para que possa ser formado o ambiente de espiritualidade, próprio de um Templo. Ao ajudar a formação desse ambiente, tão propício à meditação, o Maçom beneficia-se a si mesmo e beneficia aos demais. A fecundação das ideias se faz no silêncio.

Devemos guardar e observar completo silêncio no decorrer dos Trabalhos. Não é de boa esquadria pelas normas maçônicas, tolerarem-se conversas paralelas, rumores, murmúrios de vozes, sussurros, chamadas de telefones celulares (que deveriam estar desligados), enquanto se desenvolve os trabalhos, observem que quando o “Irmão falador” desrespeita essas regras, a Oficina “trava” e quebra de imediato a Egrégora formada pelo “som“, pelo “perfume” do incenso e pelas vibrações dos presentes.

O Aprendiz deve por sua tenra idade simbólica não tomar parte ativa nas discussões entre seus maiores, a não ser quando interrogado ou solicitado.

O Aprendiz não pode tomar a palavra senão a convite do Venerável. Esta Lei do Silêncio deve ser por ele observada também fora do Templo, no que respeita à Ordem Maçônica.

O princípio do silêncio exigido dos Aprendizes e Companheiros tem por base filosófica: só deve falar quem sabe e, quem o sabe deve se omitir, pois, flui a sabedoria e os grandes ensinamentos, fonte dos nossos conhecimentos e alimentos para os nossos espíritos.

O aprendizado é o período de meditação e de silêncio. Saber falar com ética é sabedoria, mas saber ouvir é muito mais, pois o homem que sabe falar com respeito, com educação, com amor, naturalmente saberá também ouvir. A visão e a audição devem ser educadas, tanto quanto as palavras e as maneiras.

Em Maçonaria, ao prestar o seu compromisso iniciático, o Candidato promete guardar silêncio sobre tudo o que se passa no interior do templo maçônico. A fórmula é sempre a mesma, mas já propiciou ataques à instituição maçônica, como se ela se entregasse a práticas escusas, sobre as quais os seus filiados devessem se calar.

Mas ela visa, apenas, resguardar Toques, Sinais e Palavras, para que eles não cheguem ao conhecimento de não maçons (profanos), os quais, com esse conhecimento, poderiam ingressar, indevidamente, num templo maçônico.

O Aprendiz maçom cultiva a virtude do silêncio, porque não tem ainda a capacidade do comentário; deve apenas ouvir, meditar e tirar as próprias conclusões, até poder “digerir” o alimento que lhe é dado.

O Maçom pensa duas vezes antes de emitir opinião, porque tem obrigação de emiti-la de forma correta e que jamais possa ofender a quem a ouve. Recorda que às vezes, o silêncio é a melhor resposta.

Segundo José Castellani (Consultório Maçônico X): “O silêncio do Aprendiz é apenas simbólico, em atenção ao fato de que ele, simbolicamente, só sabe soletrar e não sabe falar. Todas as nossas práticas são simbólicas e não reais, como mostram, inclusive as provas iniciáticas”.

Esse silêncio significa que o conhecimento que o mestre lhe transmite é absorvido sem qualquer dúvida ou reação, até o momento em que se torna capaz de emitir, por sua vez, conceitos superiores e que podem até conduzir ao sadio debate.

Há algumas coisas que são lindas demais para serem descritas por palavras. É necessário admirá-las em silêncio e contemplação para apreciá-las em toda a sua plenitude.

São necessárias tão poucas palavras para exprimir a sua essência. Na realidade, as palavras devem ser as embalagens dos pensamentos.

Não adianta fazer discursos muito longos para expressar os sentimentos de seu coração. Um olhar diz muito mais que um jorro de palavras. As grandes falas servem frequentemente só para confundir. O silêncio é frequentemente mais esclarecedor que um fluxo de palavras.

Olhe para uma mãe diante do seu filho no berço. Ele consegue muito bem tudo o que quer sem dizer nenhuma palavra. São necessários dois anos para que o ser humano aprenda a falar e toda uma vida para que aprenda a ficar em silêncio.

Ouvimos que, em sua grande sabedoria, a natureza nos deu apenas uma língua e dois ouvidos para que escutemos mais e façamos menos discursos longos.

Se um texto não é mais bonito do que o silêncio, então é preferível não dizer nada. Esta é uma grande verdade sobre a qual os grandes dirigentes deste mundo deveriam meditar. Quanto mais o coração é grande e generoso menos palavras se tornam úteis…

O silêncio é a única linguagem do homem realizado. Pratiquemos moderação no falar. Isso é fecundo de várias maneiras. Desenvolverá amor, pois do falar descuidado resultam incompreensões e facções.

Quando é o pé que resvala, a ferida pode ser curada, mas quando é a língua, a ferida é no coração e perdura por toda a vida. Às vezes para manter a paz é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio.

Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se.

É necessário lembrar-se do provérbio dos filósofos: “as verdadeiras palavras não são sempre bonitas, mas as palavras bonitas nem sempre são verdades…”

Xenócrates (394 – 314) filósofo grego afirmava: “Arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio”.

Pitágoras (571 a 496 a.C) exigia o mais absoluto sigilo dos Aprendizes, pelo período mínimo de três anos. Estabeleceu vários conceitos que estão presentes em nossos manuais, como os quatro elementos fundamentais (terra, fogo, ar e água).

A definição do Pentagrama, configurando a Estrela de cinco pontas que representa o homem, de braços e pernas abertas. Quando de suas hastes se desprendem “chamas”, o pentagrama denomina-se “Estrela Flamígera”. Essa estrela simboliza um guia para o caminho que conduz ao templo.

O maçom vê no Pentagrama a si mesmo dominando os impulsos da carne. Foram os filósofos Pitágoras e Platão que nos legaram o valor dos números, cujos cálculos, desde uma simples soma ou subtração aos mais complicados, hoje formulados eletronicamente, tendem a esclarecer os mistérios do Universo.

Pitágoras afirmava que “quem fala semeia e quem escuta recolhe” – e esta era a obrigação dos novatos.

Se poucas palavras são necessárias dizer “eu gosto de você”, todas as outras que poderiam ser ditas são supérfluas…

Sim e Não são as palavras mais curtas e fáceis de serem ditas, mas são aquelas que trazem as mais pesadas consequências. Afirmar o bem, negar o mal; afirmar a verdade, negar o erro; afirmar a realidade, negar a ilusão; eis aqui, o uso construtivo da palavra.

Lembremo-nos de usar o silêncio quando ouvirmos palavras infelizes; quando alguém está irritado; quando a maledicência nos procura; quando a ofensa nos golpeia; quando alguém se encoleriza; quando a crítica nos fere; quando escutamos uma calúnia; quando a ignorância nos acusa; quando o orgulho nos humilha; quando a vaidade nos procura.

O silêncio é a gentileza do perdão que se cala e espera o tempo, por isso é uma poderosa ferramenta para construir e manter a paz.

Lojas há que incentivam Aprendizes e Companheiros a se exibirem em discursos repletos de lugares-comuns, ou tratando de assuntos profanos, fazendo assim perder o precioso tempo dos ouvintes. E chegam até considerar a recomendação do silêncio como se fora um atentado contra pretensos direitos maçônicos do Aprendiz.

Inútil será dizer que não tendo recebido nenhuma espécie de instrução maçônica, nada podem transmitir aos Neófitos. Assim, transformam as Sessões das Lojas em palavreado inútil que nada constroem, mas acumulam perigosos elementos para o incenso de orgulhos e vaidades e futuros desentendimentos.

O Juramento de Silêncio é um procedimento ritualístico e ao prestá-lo devemos todos (inclusive as Luzes – pousando o Malhete sobre o altar e o Guarda do Templo – embainhando ou colocando a Espada sobre sua cadeira), estender o braço direito para frente, formando um ângulo de 90° em relação ao corpo, com os dedos unidos, e a palma da mão voltada para baixo e os dedos unidos, o braço esquerdo caído verticalmente junto à perna esquerda dizendo “EU O JURO”, em atendimento a solicitação do Venerável.

Encerrados os Trabalhos, o Venerável Mestre ainda uma vez chama a si os Obreiros, confirmatoriamente. Pelo que está feito estes se manifestam em uníssono pelo sinal, pela bateria do Grau e pela aclamação. É, mais uma vez, a confirmação de cada um de seu juramento de Iniciação.

Fica em cada um a memória e a gratificação de mais um dia trabalhando em união fraterna na construção do templo da humanidade. O resto é silêncio.

Texto de Valdemar Sansão – M:. M:. (vsansao@uol.com.br)

Fontes:

Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia (Nicola Aslan)

“OBSERVANDO MELHOR O RITUAL” – (Cartilha em elaboração) Valdemar Sansão

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”
(Martin Luther King)

 

BEM INFORMAR, PARA BEM ESCOLHER!


 

A Maçonaria escolhe homens de bem, livres e de bons costumes, amantes da liberdade e legionários da razão e faz deles ainda melhores!

Graças ao prestígio que tem desfrutado em todos os períodos de sua história, a Ordem Maçônica tem sido sempre um imã que atrai numerosos candidatos à Iniciação.

Aos não-Maçons, denominados “profanos” (em Maçonaria aquele que não foi Iniciado Maçom), oferecemos uma idéia mais ou menos aproximada, desta grande Instituição e, principalmente, aos que nela pretendem ingressar. Objetivamos proporcionar-lhes uma antevisão do terreno em que poderão vir a pisar e da trilha que, obviamente, terão de seguir.

Objetivo da Maçonaria – O objetivo inicial da Maçonaria tem sido o de tornar a Fraternidade Maçônica “um centro de União e o meio de conciliar, por uma amizade sincera, pessoas que, sem ela, não se conheceriam”.

Um escritor francês, em poucas palavras, descreve esta faceta, aliás, a mais importante da Maçonaria: “Durante muito tempo ainda, haverá lugar para uma instituição dizendo aos homens: nada quero ter em comum com vossas desavenças, aos que virão a mim ensinarei o bom senso e a moderação, nas horas que passarão em meus templos, obrigá-los-ei a calar as suas dissensões e a se tratarem como Irmãos. E na plenitude de sua liberdade!

Outro escritor define a Maçonaria nestas poucas palavras: “A Maçonaria é uma associação de idealistas autênticos. Compõe-se de homens de boa vontade, bem intencionados, dotados de sentimentos de solidariedade humana. Os que quiserem ingressar em seu meio devem possuir espírito de bem servir”.

O Irmão Henri Dubois, dirigindo-se aos candidatos, prossegue: “Mas se vos perguntardes o que isto há de render ao bolso ou para as eleições, então, não, não deveis entrar e se entrastes por erro, rápido, parti! Se possuíres opiniões que vos dominam antes de serem dominadas por vós, se tendes propensões demasiadamente vivas para vos tornardes o censor dos outros, ou se não tiverdes para ti mesmo o orgulho de vossa independência em tudo o que se referir a vossa pessoa, à educação dos vossos filhos, aos atos de vossa vida religiosa, cívica ou de família, jamais tereis o caráter de um Maçom, jamais compreendereis os que o têm.

Então não vindes. Se deveis dedicar todo o vosso tempo e recursos a vossa família, nada furteis a um dever quer prevalece sobre os demais. Mas tampouco formai ilusões! Não vos deixeis levar pela idéia de que deveis fazer sacrifícios pela humanidade, para o progresso e o resto.

Não entreis para a Maçonaria salvo se o desejardes por vós mesmos. Os Maçons por certo têm o dever de assegurar a perenidade da Ordem, mas não é o número que importa.

Na verdade, a Maçonaria é a única sociedade com possibilidades de satisfazer plenamente a um homem generoso, idealista e progressista, pela razão que possui todos os elementos capazes de ajudar os homens na senda do aperfeiçoamento. Isto não significa, porém que todos os Maçons se esforcem neste sentido, objetivo principal da Ordem.

É preciso contar, obviamente, com aqueles que entraram na Instituição no intuito de “explorar os Sinais, Toques e Palavras”.

Se você ingressar na Maçonaria e, encontrando algum deles, se sentir desanimado e desiludido, é melhor não continuar. A Maçonaria necessita de homens fortes, dignos deste nome e capazes de empunhar o facho que nos legaram os nossos antecessores conduzindo-o a meta final.

De que lhe podem servir homens fracos, pusilânimes e comodistas a debandar na primeira contrariedade Prefere poucos Maçons a muitos “Profanos de Avental”.

Requisitos para ingresso – Para conseguir ingresso na Maçonaria, o que se faz por meio da Cerimônia da Iniciação em Loja, um candidato deve possuir certos requisitos mínimos sem os quais não poderá ser admitido:

a) – ser maior de vinte e um anos e do sexo masculino;
b) – estar em pleno gozo da capacidade civil;
c) – ter bons costumes e reputação ilibada, apurada em rigorosa investigação, que abranja seu presente e seu passado;
d) – possuir instrução de nível primário completo, no mínimo, ou equivalente e seja capaz de compreender, aplicar e difundir os ideais da Instituição;
e) – ter profissão ou meio de vida lícito;
f) – não professar ideologia que se oponha aos princípios maçônicos;
g) – ser fisicamente sadio, não apresentando defeito físico ou moléstia que o impeça de cumprir os futuros deveres maçônicos ou que o incapacite para a vida social, devidamente comprovado por atestado de sanidade física e mental, com firma reconhecida;
h) – aceitar a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo.

Para ingressar na Maçonaria é preciso que o candidato esteja civilmente emancipado. O candidato não desfruta somente de bom conceito, como será livre. Livre quer dizer dispor de sua própria pessoa. Isenção de paixões e preconceitos é indispensável para a compreensão dos superiores ensinamentos da Maçonaria.

Também se dá atenção a certa independência econômica, pois as atividades das Lojas exigem de seus membros contribuições em dinheiro. Estas contribuições não são, no entanto, tão elevadas que qualquer pessoa, exercendo qualquer atividade profissional remunerada, não possa dar conta das mesmas.

A Maçonaria não é uma organização capitalista. Ela é uma Ordem Fraternal. A participação do operário, do elemento da classe média, como do milionário, tem para ela o mesmo valor.

Os inadaptados – ao indicar o elemento que é conveniente afastar da Maçonaria, outro escritor traz a sua colaboração dizendo: “Deveriam ser afastados da Maçonaria os sectários cuja mentalidade acha-se em oposição formal com os princípios fundamentais de nossa Instituição; os pretensiosos; os egoístas que praticam a Fraternidade “em sentido único”, os ambiciosos necessitados de encontrar na Loja apoio, clientes, cabos eleitorais (de acordo com o seu modo de atividade profissional ou extra-profissional); os imbecis que são um peso morto a arrastar, e enfim os astuciosos decididos a explorar sob todas as formas possíveis, o altruísmo dos verdadeiros Maçons.

 Farol luminoso – Ao admitir em seu seio homens de todas as religiões, de todas as nacionalidades, de todas as raças, de todos os partidos, a Maçonaria deu ao homem o exemplo da mais ampla tolerância, um ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

Ela se constituiu desta forma, em cimento que pode unir homens das índoles mais díspares, das classes mais diversas, e das regiões mais afastadas.

Acima das religiões, dos partidos, das classes e das raças, a Maçonaria teve o grande mérito de fazer com que os homens se estendessem a mão por onde se encontrassem e se chamassem Irmãos. 

Maçonaria é um farol luminoso que pode esclarecer e iluminar a humanidade sofredora. A sua razão de ser é, ao contrário do que pensam os que não a compreenderam, tentar unir e harmonizar os homens. A sua finalidade é demonstrar-lhes que o EGOÍSMO é a fonte de todos os males e que não chegarão à salvação sem o calor da FRATERNIDADE e do AMOR.

Procuramos nestas páginas de maneira simples, mostrar quem a Maçonaria busca para os seus quadros de Obreiros e o que é necessário para dela fazer parte.

Valdemar Sansão – M.’. M.’.
vsansao@uol.com.br

Fonte de consultas:

a) “UMA RADIOSCOPIA DA MAÇONARIA” – Nicola Aslan (Edit. A Trolha).
b) – “O DESPERTAR PARA A VIDA MAÇÔNICA” – Valdemar Sansão (Editora “A Trolha”).
c) “VOCÊ QUER SER MAÇOM?” Cartilha em elaboração (Valdemar Sansão).

“A Maçonaria é uma Instituição humanitária e sublime que exalta tudo o que une e repudia a tudo que divide, porque aspira fazer da Humanidade uma grande família de Irmãos”.

 

O ESOTERISMO DOS CONSTRUTORES DE CATEDRAIS


 

A frase composta para o título consiste em três conceitos distintos: primeiro o de esoterismo, de seguida, o de construtores e, finalmente, o das catedrais que são os monumentos mais grandiosos do catolicismo romano.

Estes três elementos justapostos refletem uma crença compartilhada por certos maçons: os construtores de catedrais praticavam entre eles, e gravavam nas pedras das igrejas, colégios e catedrais, mensagens e sinais de esoterismo, que para alguns autores do final do século XIX, se tornam pura heresia ou anticlericalismo se não ateísmo.

Vejamos rapidamente cada um destes conceitos separadamente, antes de compreender, porque é muito mais uma questão de compreender que de aderir.

O ESOTERISMO

O esoterismo é uma maneira de pensar sobre a vida interior e que se manifesta na discrição, mesmo em segredo. Assim como o símbolo, de que só alguns podem entender o significado, escreve Marie Madeleine Davy na sua indispensável “Introdução ao simbolismo romano”, publicado pela Editora Flammarion.

O esoterismo é uma forma universal de pensar, ao mesmo tempo no tempo e no espaço. Há esoterismo quando há conhecimento reservado a eleitos e revelado em segredo. Esta ideia remonta a tempos mais antigos.

Ela é encontrada em abundância na Grécia. Em seguida, em Roma, com os celtas, os etruscos e os alemães, mesmo dentro do cristianismo com diversas tradições secretas ente as quais o gnosticismo; na Idade Média, com os cavaleiros templários, os cátaros, a lenda do Graal, os grandes poetas entre eles o maior, sem dúvida, Dante, com a alquimia, a adivinhação, a magia, a astrologia; no Renascimento com Paracelsus e um florescimento de pensadores e escritores esoteristas; no século XVII com os Rosacruzes, e no século XVIII com o ocultismo, a teosofia nascente; no século XIX, com ocultismo invasivo, a Teosofia e a escola de Papus; no século XX, com um resumo de todos os itens acima, usando o prefixo muito conveniente: néo.

Uma constatação geral: o esoterismo parece ser apanágio de intelectuais e pensadores pelo menos alfabetizados, ou seja, capazes de ler e escrever, e sobretudo, livres para pensar à margem de quadros impostos.

A questão colocada acaba sendo saber se, em toda esta confusão onidirecional, os construtores de catedrais puderam constituir um vetor de um ou outro destes diferentes sistemas secretos.

A existência de um esoterismo cristão é afirmada por alguns, incluindo, obviamente, Guenon que vê ali “o lado interior da tradição cristã”, mas que é rigorosamente rejeitado por outros e principalmente pela Igreja Católica Romana que nega absolutamente a existência de qualquer dimensão esotérica na doutrina cristã.

De fato, como conciliar afirmações contraditórias tais como “não deis pérolas aos porcos”, Mateus VII, 6, com “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia”, Mateus X, 27.

Mesmo assim, como conciliar a afirmação: “não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim sobre um lampadário para iluminar o dia” com o seu oposto absoluto “estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram” Mateus VII, 6.

No exame dos textos cristãos tanto canônicos quanto apócrifos, podemos então recorrer a muitas referências que lhe eram totalmente contrárias. Por exemplo, de um lado, a crença num esoterismo cristão proveniente do pensamento do próprio Jesus marcada por um significado supostamente oculto contido nas suas parábolas, e, de outro, a completa ausência e mesmo a recusa desse modo de pensar a doutrina que ele pregava.

OS CONSTRUTORES, OU MAÇONS OPERATIVOS

Portanto, se existe um esoterismo cristão, ou vestígios de qualquer outro pensamento esotérico que tenha uma origem diferente dentro do cristianismo, os trabalhadores que construíram as catedrais maravilhosas constituíram o vetor? Vejamos, portanto, como eles eram tanto espiritual quanto sociologicamente

No século XII, a arte da construção é dirigida pelo mestre de obras, que é ao mesmo tempo arquiteto e engenheiro, e até mesmo empresário. O seu status social é frequentemente muito importante. Ele possui casas, às vezes um castelo. Com frequência ele assinava as suas obras.

Ganhando até vinte vezes o salário de um trabalhador qualificado, ele está perto do poder de quem depende a sua sorte, e compartilha muitos privilégios. É também chamado Mestre Pedreiro. É ele quem tem uma formação emprestada de Pitágoras e de Euclides particularmente. Devemos encontrar vestígios disso no nosso grau de companheiro Maçom…

Quanto ao patrão da obra, ele é muitas vezes constituído por uma comunidade religiosa, mosteiro, claustro ou capítulo de cânones. Ele inclui os únicos estudiosos da época, o clero secular que conheceu em diversos momentos de um estado vizinho à decadência. Os monges são muitas vezes eles mesmos, ao mesmo tempo mestres da obra e mestres de obra.

Há outras escolas ou colégios de construtores que conhecem formas diferentes e hierarquizadas de organizações corporativas, e tudo isto ao longo da Idade Média. Estes trabalhadores trabalham por conta de cânones e capítulos constituídos em conselhos particulares para os bispos.

A mão de obra abundante e não qualificada é recrutada na classe dos desenraizados: servos em fuga, filho de camponeses, filhos de famílias numerosas, além de trabalhadores especializados tais como pedreiros e canteiros.

Esta última categoria inclui tanto os “desbastadores de pedras” (canteiros de pedras brutas) que os escultores- talhadores (pedreiros livres, abreviado como freemasons ou frimaçons sob o Cardeal Fleury), a noção contemporânea e distinta de artista sendo então desconhecida e inexistente.

Todo este pessoal era analfabeto. As contas de salários estavam cheias de erros de soma, que não enganariam uma criança de 10 anos nos nossos dias.

As marcas lapidares, de transporte e sinais de posse são grafites rudimentares compensando a ignorância generalizada do alfabeto.

Esta mão de obra analfabeta é profundamente católica romana, assim como toda a sociedade da época. A cultura estava exclusivamente nas mãos dos clérigos.

A composição de imagens religiosas parte de princípios impostos pela Igreja Católica, precisamente codificados e de que qualquer desvio era punido. Os escultores contam a história sagrada aos fiéis, eles também analfabetos, de acordo com uma tradição cristã onde os monges e os mestres de obra são os depositários exclusivos e vigilantes.

Havia um segredo dos Pedreiros? Vários regulamentos corporativos revelam que no final da Idade Média, compromissos deviam ser assumidos de não revelar “certos truques do ofício” e nada mais. Esta obrigação de segredo não estava ligada particularmente ao oficio de construção, mas estava relacionada com a maior parte dos ofícios organizados como sindicatos.

Os sapateiros e ferreiros tinham os seus.

Knoop e Jones, antes da escola francesa, estudaram a fundo o conjunto das Antigas Obrigações inglesas. Todos estes manuscritos, tipos de regulamentos ou constituições profissionais defendem rigorosamente isso: “o primeiro dever do Pedreiro é fugir da heresia, e também amar a Deus, à Santíssima Trindade, à Virgem Maria, os santos e a Santa Igreja, não brigar e ser discreto”.

Existe mais de uma centena desses manuscritos, que vão de 1389 a 1722. Os principais textos são: Ms Regius, datado de 1389; o Ms Cooke, do início do século XV; o Ms Plot datado de 1686; o Ms Grand Lodge datado de 1583; o Ms. Roberts datado de 1722. Eles nada contêm, absolutamente, que seja de natureza esotérica, observam Knoop e Jones.

Eles foram escritos por alguns monges piedosos e eram destinados a serem lidos em grandes ocasiões a “trabalhadores totalmente analfabetos, profundamente crédulos e supersticiosos” assim os descreveu Bernard Jones.

A CATEDRAL

Monumento grandioso e manifesto explosivo da dogmática romana, a catedral é o símbolo vivo da onipotência da Igreja, mas também da mais autêntica espiritualidade cristã. A catedral é símbolo. A sua própria função é de ordem simbólica, numa sociedade teocrática e teocêntrica, onde tudo tem um significado espiritual e simbólico que remete a Deus. Ela é também ensino.

Marie-Madeleine Davy escreveu que “a fé penetra a existência, ou melhor, ela É a existência”. Os monges e ninguém mais, também preservaram de alguma forma, pedaços de tradições simbólicas vindas da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia, da China, da Índia e da Palestina, todas as regiões de onde vêm elementos exóticos que às vezes adornam as capitéis e pórticos.

A alquimia tem ali o seu lugar, muito pouco esotérico, no sentido moderno do termo. Ela é integrada ao universo simbólico da catedral. Alguns prelados apropriam-se da Arte Real, enquanto outros a ela se opõem e a rejeitam. Mas, no século XII, a alquimia é uma disciplina, ao mesmo tempo natural e hermética, o que não é absolutamente um pecado. A Alquimia serve para lembrar aos fiéis, entre outras imagens alegóricas, que ela é o templo de Deus; ela é considerada uma ciência “sacramental”.

A Igreja não é, contudo, unânime em considerar que o povo precisa de imagens edificantes e assustadoras. São Bernardo, por exemplo, critica com ironia, mas com firmeza todo este material de monstros ridículos “que os monges devem considerar como estrume”, escreveu este homem santo que não era brando com isto.

Em conclusão, como, sob estas condições, admitir a tese de romancistas anticlericais do século XIX, argumentando que os nossos trabalhadores analfabetos e devotos teriam constituído o veículo de tais ou quais tradições esotéricas do culto de Isis ou de Druidas celtas?

E a se supor por um momento que se tal fosse o caso, seria preciso reconhecer que esta transmissão secreta foi exercida somente através dos mestres de obras, o que implica que ela foi infiltrada à revelia dos capítulos de cânones, à revelia dos bispos muito vigilantes e financistas desses projetos caríssimos. Que ela fosse ainda mais exercida à revelia dos trabalhadores ingênuos e supersticiosos encarregados da sua execução revela, uma vez mais, pensamento ilusório.

Ou ainda, infinitamente mais absurdo ainda, com a sua cumplicidade herética em tudo? E, finalmente, questão determinante, a intenção de quem receberá esta “mensagem”, o público presente nas igrejas católicas sendo composto de praticantes sinceros, mas ingênuos, incapazes de compreender o alcance escondido de alusões ditas esotéricas? A mensagem da Igreja sempre foi exclusivamente exotérica.

Mas a resposta a estas objeções é bem conhecida, e ela floresce mesmo em alguns círculos maçônicos, permeáveis a fábulas e mitos. A Tradição Esotérica seria então transmitida para o uso exclusivo somente dos “iniciados”.

Talvez, mas iniciados em quê? No culto de Ísis, sob São Luis? Nas práticas dos Druidas, sob Filipe, o Belo? E existe um único documento irrefutável que permita apoiar cientificamente estas extravagâncias imaginativas? A resposta é claramente, não.

CONCLUSÃO

Por que, e quem propagou esta imagem ridícula do Maçom anticlerical, que ainda existe nos dias de hoje, e até mesmo numa certa maçonaria? Quem é o inventor da imagem anticlerical, e com que finalidade?

Por duas razões, na minha análise, que levam ao conceito francês de uma maçonaria nacionalista e política, quando ela afirma:

A Maçonaria nasceu na França e não na Inglaterra ou na Escócia. Ela mesma foi exportada da França para a Inglaterra, originalmente! Ela descende em linha reta dos construtores de catedrais, que praticavam uma espécie de esoterismo de natureza anticlerical, herética, à margem da Igreja Católica, em filiação direta dos Grandes Iniciados egípcios, dos Collegia Fabrorum Romanos, dos druidas celtas, seguidos pelos Templários os Rosa-cruzes, os Alquimistas e alguns outros “Atlantes”. Em resumo, observemos, por um conjunto eclético de adversários pré-históricos do papado.

Esta filiação herética e anticlerical é reivindicada ao final do século XIX pelos maçons franceses em ruptura com a tradição maçônica. A intrusão da política em loja, por volta de 1860, que coincidirá com a ejeção do GADU e da Bíblia, leva a nova instituição secular a inventar uma justificativa e uma ascendência nobre, tanto histórica quanto espiritual: a do canteiro de pedras, do pedreiro, da imagem anticlerical, Grande Iniciado e detentor de segredos extraordinários, apesar de todo o poder espiritual e temporal da Igreja. Sabemos o destino que reservou a Santa Inquisição a esse tipo de pessoas.

Este construtor de catedrais puramente imaginário é, portanto, o ancestral sonhado do Maçom “comedor de padres: inimigo da Igreja Católica, mas ao mesmo tempo detentor de tradições e mistérios antigos genuínos, ou seja, que não se originam do judaico-cristão. Ele é o arquétipo da Tradição Autêntica (vamos lá com as guenonices capitalizadas!), que vem de todos os lugares, exceto de Roma e de Jerusalém.

E esta concepção surpreendente encontrou ecos cúmplices em alguns círculos intelectuais. E garante tiragens gigantescas ou faraônicas a autores populares.

Para alguns, trata-se de um sonho. Não os culpamos por escolher esta opção, muitas vezes fascinante porque mais suave e consoladora que a dura realidade.

“Eu sou bela, ó mortais, como um sonho de pedra… “Meu trono é o azul como uma esfinge misteriosa… “Porque eu tenho o que fascina estes amantes dóceis “Espelhos puros que fazem mais belas todas as coisas: “Meus olhos, meus olhos enormes, de claridades eternas.

Para outros, esta opção calmante é um cálculo ideológico. Como tal, ela é lícita, justa e salutar de denunciar, como todas as fraudes moral e intelectual. Eu jamais me privaria disto. O sono da Razão produz monstros.

Jean van Win
Adaptado de tradução feita por  J. Filardo

Bibliografia

Initiation à la Symbolique romane, M.M. Davy, Champs, Flammarion.

L”Esotérisme, Pierre A. Riffard, Robert Laffont.

Images et Symboles, Mircea Eliade, TEL, Galli-mard.

L”Ordre corporatif dans la Belgique ancienne, André Frantzen, D. De Brouwer,1941

Le Moyen Age, Christian Papeians. Ed. Artis-Historia, Bruxelles.

Chateaux et Cathédrales, Marcel Brion, Edito Service, Genève.

Les Bâtisseurs de cathédrales, Jean Gimpel, Seuil.

Freemason”s Guide and Compendium, Bernard E. Jones, Harrar & Compagnie Ltd, London.

Signs & Symbols in Christian Art, George Ferguson, Hesperides Book, New York-Oxford University. (Pres-criptions iconographiques de l”Eglise).

La Bible et les Saints, Gaston Duchet, Guide icono-graphique, Flammarion.

Textes politiques. Saint Bernard de Clairvaux. 10/18, Union générale d”éditions.

La Franc-Maçonnerie opérative, Louis Lachat, Ed. Figuière, Paris.

Questionável e tendencioso:

Les origines religieuses et corporatives de la Franc- Maçonnerie, Paul Naudon, Dervy

Delirante e imaginário :

Le Message des constructeurs de cathédrales, Christian Jacq, Rocher.

 

O “SEGREDO MAÇÔNICO”

Muito se fala e especula sobre o segredo maçônico. O que é o que será e o que representa?

Ele não é mais que uma conduta de Vida. E como tal não tem nada de segredo ou escondido.

O tal segredo, como se costuma designar, é a forma de como o Maçom vive a sua vida. A forma como respeita, tolera, ama e se solidariza com o seu próximo, é que é a parte prática do segredo; pois a parte teórica está ao alcance de qualquer Homem se assim o pretender conhecer.

São as boas normas de conduta moral e social que guiam o Maçom no seu dia-a-dia. E isso não tem nada de segredo, basta os curiosos atentarem na forma de estar e viver dos Maçons para perceberem afinal de que de segredo não há nada.

O único segredo é de que tudo está à vista de todos, e tal como o ditado, “quanto mais à vista, menos se vê”, assim está o segredo maçônico. Tudo o resto, com trabalho, empenho e estudo é fácil de descobrir…

A vasta literatura maçônica que encontramos ora seja em livrarias especializadas ou na internet, nem sempre é fidedigna; pois a sua maioria é escrita por profanos, que por sua vez, também eles, têm um contato muito superficial e limitado com os mistérios da Ordem; advindo dessa restrição, a impossibilidade de providenciarem informação correta e fatual.

Uma grande parte dos rituais, palavras de passe e sinais que “pululam” por esse mundo fora, possa inclusive não ser verdadeiros, ou o sendo, estarem desatualizados face aos dias de hoje. Causando dessa forma, enorme confusão aos detratores da Maçonaria, sobre quais afinal serão os seus segredos e mistérios.

Apesar do core secret ser a “conduta do maçom”, tal como já afirmei, existem também “segredos” (ou neste caso concreto, informações) que devem ser conservados apenas entre Maçons. E são para serem conservados tais segredos, porque fazem parte de um comprometimento pessoal em honrá-los; e um maçom como pessoa honrada que deve ser assim o deve escrupulosamente cumprir.

Os tais segredos que a maioria dos curiosos quer saber, mas que lhes estão vetados ao conhecimento (e passo a explicar o porquê) são:

Não revelar a condição de um Irmão maçom a profanos, porque dessa revelação poderão advir sérios prejuízos ao Irmão em causa, fruto da ignorância e malvadez de gente mal informada sobre o que trata a Ordem Maçônica.

Não revelar os rituais maçônicos e/ou cerimônias onde os mesmos são executados. Porque o seu conhecimento e execução poderão não ser compreendidos por quem receber essas informações, bem como, se os recipiendários, não sendo maçons, nada fariam de interessante ou fenomenal com essas informações.

Mas fundamentalmente, porque tais rituais e cerimônias não devem ser de domínio público, porque quaisquer cerimônias e rituais executados devem ser sentidos e vividos por quem os executa e vivência. Logo, se tornaria irrelevante o seu conhecimento ao público em geral, que não os interpretaria da melhor forma.

Não revelar o que se passa no seio de uma sessão ritual maçônica, nem quais os maçons nela presentes. Uma vez que, se outros guardam para si o que fazem nas suas casas, porque não os maçons poderem fazer o mesmo na sua casa?!

Não terão eles esse direito também?! No fundo, é uma questão de “justiça social” ser respeitada a privacidade das reuniões de maçons. Porque para além de também eles, respeitarem a privacidade de outras organizações e particulares. Também o público em geral assim o faz. Se o “direito à reserva de intimidade” existe para ser cumprido, então que seja por todos!

Não revelar as formas de identificação e reconhecimento entre maçons. Porque sendo algo do seu foro íntimo, deve ser respeitado como tal. E porque acima de tudo, a sua função serve apenas para reconhecimento de e entre Irmãos e nada mais.

E uma vez que não se deve revelar a identidade de um irmão maçom a profanos, logo se for do conhecimento geral as formas de reconhecimento, facilmente se saberá quem é maçom e quem não o é. E se em Liberdade e Democracia isso é de somenos, em regimes ditatoriais, isso seria bem nefasto aos maçons.

Pois quem defende valores de Igualdade, Fraternidade e Liberdade, não costuma ser bem tolerado nesses países.

E finalmente não revelar a outro Maçom, informação referente a grau superior ao que ele se encontrar. 

Porque para além de retirar o efeito surpresa ao Irmão em causa, na execução dos rituais do grau em questão, estará também a fornecer conhecimentos que possivelmente não lhe sejam inteligíveis.

Ou seja, se a um maçom lhe for fornecida informação de um grau superior, ele não a saberá interpretar corretamente, para além de não a executar ritualmente na forma devida. O que ao contrário de melhorar a sua “cultura maçônica”, só o irá “prejudicar” na sua formação e caminhada como maçom.

Quanto ao resto, isso eu não posso contar, porque é “segredo”…

A/D

                                                                                                                          

DEÍSMO E TEÍSMO


 

DEÍSMO é a crença em Deus considerando somente o que é natural e racional.

Rejeita a revelação sobrenatural e os elementos sobrenaturais na religião. Muitos “livres pensadores” da França, nos séculos XVI e XVII foram classificados como “deistas”. É um erro grosseiro dizer que eles tiveram grande influencia na Franco-maçonaria naquele período.

Os Princípios e as Doutrinas da Franco-maçonaria repudiam o Deísmo. Maçons são Teístas; eles acreditam num Deus verdadeiro e ativo; eles reconhecem suas revelações sobrenaturais de Si mesmo e de seus desejos e os elementos sobrenaturais na verdadeira religião.

TEÍSMO é a doutrina de um Deus, eterno, auto-suficiente, onisciente, onipotente, impregnando toda a Criação, criador, preservador, protetor e benfeitor de todas as coisas e do Homem.

É nesse Deus que os maçons confessam a sua Fé e Crença, e reconhecem as revelações desse Deus. É o oposto do Ateísmo – doutrina na qual não há um Deus, ou do Politeísmo – a doutrina na qual há muitos deuses, e do Deísmo – descrito acima e do Panteísmo – doutrina na qual toda natureza é Deus e Deus é toda natureza.

Comentários: na verdade, em 1717, na união das quatro Lojas em Londres, dando início à Maçonaria Especulativa que praticamos hoje, a tendência era mais para o Deísmo do que para o Teísmo. Isso, talvez, mais por receio ou prevenção, pois a Inglaterra estava passando por mudanças radicais em sua Monarquia e a religião dominante variava conforme o Monarca eleito.

Quando do lançamento da Constituição de Anderson, um reverendo presbiteriano, em 1723, a Maçonaria estava em “cima do muro”. Somente em 1738, quando ocorreu a primeira revisão dessa Constituição, muita coisa já tinha sido definido e houve, realmente, uma tendência para o Teísmo. 

Alfério Di Giaimo Neto - MI

Fonte: www.redecolmeia.com.br

CARTA DE UM MAÇOM AO SEU FILHO


 

Meu Filho,

Quando você parar de me contar – como ainda você faz – as suas brincadeiras e as suas coisas pessoais; quando você não tiver mais medo da “escuridão” e decidir abrir, finalmente, as páginas desses livros desconhecidos que hoje você somente olha talvez mal ajeitados, na estante do meu escritório, e que conservo com muito carinho; quando for adulto, aproxime-se desses senhores que hoje você acha misteriosos e que, se bem não te desagradam, te merecem tão somente certa indiferença.

Procura essas pessoas que, frequentemente, me ligam ou me visitam e com quem compartilho algumas horas, a cada semana, nesses dias que você me vê chegar mais tarde em casa. Sim, procura esses homens que a sociedade identifica como “Os Maçons” e que eu chamo, orgulhosamente de, “Meus Irmãos”.

Tantas vezes você os viu e ouviu que, provavelmente, já conheça todos eles. A grande maioria são jovens; alguns homens maduros; e outros, com as suas testas coroadas por cabelos grisalhos, do mesmo jeito que algumas montanhas mostram seus cumes, cobertos pelo branco da neve.

Mas todos eles me permitiram beber da fonte da sabedoria. Todos, por igual, abriram seus peitos como se abre uma cesta para receber as confidências, a alegria, os infortúnios e decepções, os projetos e as ilusões do melhor amigo. Sim, procura essas pessoas, sem importar o longo caminho a ser percorrido, nem quantos os obstáculos que devam ser vencidos.

Decidido a procurá-los, o Ser Supremo vai mostrar-te o caminho. E quando souber o que é que eles fazem como pensam e o que pretendem desde que o teu espírito esteja satisfeito, e achadas todas as tuas respostas, junte-se a eles e siga-os.

Mas, se mesmo depois de analisar os seus princípios, as tuas dúvidas continuarem sem resposta, então, meu Filho, saia do caminho, com a decência de um homem bem nascido.

Se eu ainda for vivo, baterei palmas à tua decisão, a aceitarei, pois você terá estudado antes de definir e porque conseguiu analisar a tua escolha, ou seja, terá decidido por você mesmo, após ter pensado e raciocinado.

E, caso eu tiver passado para o Oriente Eterno, vou pedir ao Grande Arquiteto do Universo (GADU) enfeitar a tua vida com os atributos que sempre procurei para você e que, Maçom ou não, o Mundo te reconheça como sendo um homem honesto, virtuoso, justo, respeitável, oposto a todo gênero de opressão e com um profundo amor pela humanidade.

Seu Pai e Maçom com muita honra.

Rogerio Pascoal

 

 

SER UM HOMEM, NASCIDO LIVRE


 

No grau de Aprendiz, uma das coisas que mais me chamou à atenção foi à seguinte pergunta e resposta depois de você, como candidato, bater pela primeira vez na porta da sala para declarar o seu desejo de se tornar um Maçom. É uma pergunta feita ao Diácono Júnior pelo Diácono Sênior.

A questão é: “Com que direitos e benefícios espera ele ser admitido?” A resposta é: “Sendo homem, nascido livre, de boa reputação e bem recomendado“. Depois de o candidato entrar no Templo da Loja, a mesma pergunta é feita pelos 1º e 2º Vigilantes e pelo Venerável Mestre ao Diácono Sênior. Para ser correto, o Mestre Venerável pergunta duas vezes ao Diácono Sênior.

Ele responde uma vez no altar quando relata a causa do alarme na porta do Templo e outra quando o candidato está a ser examinado pelo Venerável Mestre, antes de ser reconduzido para o Ocidente, onde o 1º Vigilante lhe ensina a se aproximar do Oriente por um passo regular e ereto.

A principal razão que me chamou à atenção foi o termo “nascido livre”. Há uma resposta bastante simples para o porquê de ainda ser usado no nosso ritual. Para citar a explicação que Chris Hodapp dá sobre o termo no seu livro Maçonaria para Leigos (Freemasonry for Dummies):

“O “termo” nascido livre” vem dos dias em que escravidão, servidão contratada e vínculo eram comuns. Significa que um homem deve ser o seu próprio Mestre e não estar ligado a outro homem. Atualmente, isto não é um problema, mas a linguagem é mantida por causa da sua antiguidade e do desejo de manter a herança da Fraternidade”.

Contudo, ao ler “Uma Palestra sobre Vários Rituais da Maçonaria”, do Rev. George Oliver D. D., enquanto ele explica as Palestras Prestonianas para Aprendizes, encontrei outra explicação interessante.

A terceira parte da Palestra de Aprendiz Prestoriano, apresentada por Oliver, é a seguinte:

P: Que tipo de homem deve ser um Maçom livre e aceite?

R: Um homem livre, nascido de uma mulher livre, irmão de reis e companheiro de príncipes, se Maçons.

P: Por que livre?

R: Para que os hábitos cruéis da escravidão não contaminem os verdadeiros princípios nos quais a Maçonaria se baseia.

P: Uma segunda razão…

R: Porque os Maçons que foram escolhidos para construir o templo do rei Salomão foram declarados livres e isentos de todas as imposições, deveres e impostos. Depois, quando este templo foi destruído por Nabucodonosor, a boa vontade de Ciro deu-lhes permissão para erigir um segundo templo, e ele colocou-os em liberdade para esse fim. É a partir desta época que ostentamos o nome de Maçons Livres e Aceites.

P: Por que irmão de reis e companheiro de príncipes?

R: A um rei na Loja é lembrado de que, embora uma coroa possa adornar a sua cabeça e um cetro a sua mão, o sangue nas suas veias é derivado do pai comum da humanidade, e não é melhor do que o do sujeito mais malvado.

O estadista, o senador e o artista são lá ensinados que, tal com os outros, eles são, por natureza, expostos a enfermidades e doenças; e que um infortúnio imprevisto, ou uma estrutura desordenada, pode prejudicar as suas faculdades e nivelá-las com as mais ignorantes da sua espécie. Isto é motivo de orgulho e incita cortesia ao comportamento.

Homens de talentos inferiores, que não são colocados por fortuna em tais posições exaltadas, são instruídos na Loja a considerar os seus superiores com estima peculiar; quando os descobrem voluntariamente despojados das armadilhas da grandeza externa e condescendentes, no emblema da inocência e do vínculo de amizade, para rastrear a sabedoria e seguir a virtude, auxiliada por aqueles que estão abaixo deles.

A virtude é a verdadeira nobreza, e a sabedoria é o canal pelo qual a virtude é dirigida e transmitida; Sabedoria e virtude apenas marcam a distinção entre os Maçons.

P: De onde surgiu a frase – nascido de uma mulher livre?

R: Na grande festa que Abraão deu ao seu filho Isaac. Posteriormente, quando Sara, esposa de Abraão, viu Ismael, filho de Hagar, a escrava egípcia, provocando e perturbando o seu filho, ela protestou a Abraão, dizendo: Afasta essa escrava e o seu filho, pois eles não podem herdar como os nascidos livres.

Ela falou como sendo dotada de inspiração divina; sabendo que, se os rapazes fossem criados juntos, Isaac poderia absorver alguns dos princípios escravos de Ismael; sendo universalmente reconhecido que as mentes dos escravos estão muito mais contaminadas do que as dos nascidos livres.

P: Por que essas igualdades entre os Maçons?

R: “Todos somos iguais pela nossa criação, mas muito mais pela força da nossa obrigação”.

Algumas coisas acima se destacaram para mim. A primeira é que um homem deve ser livre para que “os hábitos cruéis da escravidão não contaminem os verdadeiros princípios sobre os quais a Maçonaria se baseia“. Para tentar entender isto, fui ver as definições de vicioso e de hábitos. Uma das definições de cruel é: “Ter a natureza do vício; mal, imoral ou depravado“.

Uma das definições de hábito é: “Uma disposição estabelecida da mente ou do caráter“. Isto parece apontar para uma crença na época de que os escravos seriam de caráter imoral.

Esta crença parece estar apoiada na resposta à pergunta que pergunta a origem do termo mulher livre.

“Ela falou como sendo dotada de inspiração divina; sabendo que, se os rapazes fossem criados juntos, Isaac poderia absorver alguns dos princípios escravos de Ismael; sendo universalmente reconhecido que as mentes dos escravos estão muito mais contaminadas do que as dos nascidos livres”.

Por que seria universalmente reconhecido que as mentes dos escravos estão muito mais contaminadas do que as dos nascidos livres? Eu acho que é impossível responder a isto, pois não sou daquele tempo. Devo suspeitar que a resposta que Chris Hodapp deu acima, que é a ideia de que um escravo não seria capaz de ser o seu próprio Mestre, provavelmente é a resposta mais próxima que poderíamos esperar encontrar.

Também vale a pena mencionar que isto também pode ser um remanescente da arte especulativa proveniente da arte operativa. Na época, os pedreiros operativos não estariam dispostos a partilhar os segredos de seu ofício com alguém que não os pudesse proteger.

Um escravo, ou servo contratado poderia ser obrigado pelo Mestre a lhe contar esses segredos. Portanto, pelas mesmas razões, Maçons especulativos não gostariam que alguém que não pudesse proteger os segredos fosse membro.

Olhando para a última pergunta: “Por que essas igualdades entre os Maçons?” A resposta que é dada é: “Somos todos iguais pela nossa criação, mas muito mais pela força da nossa obrigação“. Esta resposta é uma homenagem emocionante à ideia essencial da nossa irmandade de que somos irmãos devido à nossa obrigação. No entanto, também demonstra por que a ideia de alguém não ter nascido livre seria prejudicial para a Ordem. Isto fica mais claro na quarta parte das palestras de Preston com esta pergunta e resposta:

P: Como não trouxe outras recomendações, o que veio aqui fazer?

R: Não pela minha própria vontade e prazer, mas para aprender a governar e governar minhas paixões, ser obediente à vontade do Mestre de manter uma língua de boa reputação, praticar sigilo e fazer mais progressos no estudo da Maçonaria.

Oliver menciona que “Esta cláusula foi introduzida para ilustrar a subordinação necessária para garantir a observância da disciplina estrita na Loja“. Como Mateus 6:24 diz: “Ninguém pode servir a dois senhores. Ou você vai odiar um e amar o outro, ou será dedicado a um e desprezará o outro”. Portanto, seria impossível ser obediente ao Mestre da Loja, assim como ao Mestre que o possuía. Para evitar o potencial na desarmonia Loja, seria essencial que apenas homens nascidos livres pudessem participar.

Independentemente das razões originais, felizmente vivemos numa época em que isto já não é uma preocupação. No entanto, para os nossos irmãos que viveram numa época em que estas coisas abomináveis ainda eram praticadas, era uma preocupação. Penso que parte da razão pela qual permaneceu no nosso ritual é como um lembrete de que não devemos entrar na Maçonaria devido a quaisquer motivos mercenários.

Perguntam-nos várias vezes ao longo dos nossos graus se a nossa razão para buscar o avanço maçônico é de livre e espontânea vontade. Se não fosse, então você não seria livre, mesmo que nascesse livre. Você estaria a entra por outras razões, para além das da sua própria vontade. Isto é o que nossos irmãos da época de Preston e antes tentavam evitar afastando da Fraternidade aqueles que não nasceram livres.

Darin A. Lahners

Tradução de António Jorge

Fonte

Midnight Freemasons

 

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