PARADOXOS MAÇÔNICOS



Caríssimo Irmão! O presente ensaio se propõe assinalar a distância que medeia a Maçonaria da Sociedade Brasileira e os Maçons dos propósitos e princípios da Ordem. E cabe proclamar, inicialmente, que não se trata de crítica e não se busca indicar caminhos para a Ordem ou para os Maçons. A pretensão, única e exclusiva pretensão, é chamar a atenção dos Maçons à reflexão sobre alguns dos muitos paradoxos da Ordem e por extensão, despertar os maçons, no momento em que a leitura se efetivar.

A Maçonaria é uma Instituição sem fins lucrativos, constituída por homens inteligentes, virtuosos, generosos e conscientes de seus deveres e obrigações. As suas Constituições, Regulamentos, Estatutos e legislação ordinária ressaltam princípios fundamentais e postulados universais, tendo por escopo deveres de fraternidade, filantropia, prática de virtudes cardeais, esclarecimento e preparação para emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

O propósito da Maçonaria é (ou há que ser) com o ensino interno e com a vida que jaz fora das Lojas e dos Rituais, sem os quais, os ensinamentos que induzem os maçons a dedicarem-se à felicidade dos seus semelhantes, os sentimentos de solidariedade e filantropia que os faz serem considerados Filhos do Grande Arquiteto do Universo, Irmãos e Amigos de todos os homens, e  fieis observadores da Lei do Amor que Deus estabeleceu no planeta, perde completamente seu valor, sentido e dignidade.

Caríssimos Irmãos! O Verdadeiro Espírito da Maçonaria é a fraternidade ampla, geral e irrestrita; a preservação da vida e a promoção da felicidade da espécie humana; a continuidade do processo evolutivo da humanidade; e a transcendência do ser humano das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento e da morte para a imortalidade. E se bem compreendermos este preâmbulo, estão explicadas as palavras ecumênicas de Anderson, de Désaguliers, de Thomas Paine e dos seus colaboradores – um maçom é obrigado, pelo seu compromisso, a obedecer à lei moral, e se ele compreender corretamente a Arte, ele não será nunca um ateu estúpido nem um libertino irreligioso – ainda que se admitam inúmeras outras interpretações.

À primeira vista ser maçom é missão fácil de ser executada, bastar-se-á deixar passar pelo processo de Iniciação, frequentar as Sessões da Loja, receber as instruções e seguir as regras basilares dos postulados maçônicos. Em tese: permitir que a sociabilidade ilustrada, a filosofia e a fundamentação maçônica se incorporem pelo poder do hábito e o passeio pela senda maçônica se conclua ao lado dos Guiais Espirituais da Maçonaria. Resumindo: é fácil ser Maçom sem buscar entender, em profundidade, os princípios fundamentais da Ordem e os desígnios do Grande Arquiteto do Universo que canalizou cada um para o ingresso na Maçonaria.

Caríssimos Irmãos! No dia em que estas palavras são/foram escritas, a Seleção do Brasil entra/entrou em campo para decidir com a Seleção do México uma vaga para continuar na Copa da Rússia, e a nacionalidade aflorada, se une, cultivando o Amor Fraternal, a fundação e telhado, o cimento e a glória da Nação, e os Maçons, meio a todos, com todos se confundem, não dizendo ou não fazendo nada que possa entravar o Amor Fraternal, como bem recomenda a Constituição de Anderson (1723). Mas, logo mais ou amanhã tudo vai retornar ao habitual, e esse ensaio seguira seu desiderato, perpetuando os argumentos dos paradoxos maçônicos.

Os paradoxos maçônicos são incontáveis e há, ademais, considerável divergência entre os Maçons no entendimento da importância da prática da caridade, da filantropia e da ação fraternal nos moldes propostos pela orientação principio lógica da Maçonaria. Quer ver? Vou, então, propor cinco questões e pedir que respondam, mentalmente, a todas, embora a avaliação se processe com a leitura da problemática exposta.

Pois bem, examinemos e faça esforço para compreender estes paradoxos, e agora, tente responder ou mentalizar respostas satisfatórias, conscientemente: o que fazem ou do que se ocupam os maçons em suas Oficinas durante as Sessões Ritualísticas? Qual o destino das contribuições semanais confiadas ao Irmão Hospitaleiro?

Como, quando e de que forma se processa a integração dos Irmãos da Loja com a Família Maçônica e com a Grande Família Universal? Como avalia o relacionamento dos maçons com a sociedade dita profana e como atuam para promover o seu aperfeiçoamento? E, quais os projetos de cooperação e/ou integração comunitária, cultural, educacional, de cidadania, de meio-ambiente e de viver bem, sob a égide da sua Loja e dos Obreiros da Arte Real?

Caríssimos Irmãos! Gradativamente, espero tê-lo colocado diante de paradoxos carecedores de rumos conciliatórios. Os paradoxos maçônicos ensaiados foram expostos, propositalmente, para que cada um possa descobrir por si mesmo, o quanto está afastado do Verdadeiro Espírito da Maçonaria, e mais afastado, ainda, dos dolorosos problemas de injustiça e de desigualdade sociais, problemas que uma ação consciente dos Maçons, em nome da Maçonaria, poderia mitigar. Para onde vamos afinal? Melhor expressando, para onde queremos ir afinal?

Penso que cheguei ao limiar do tema. Sei, bem sei que o Irmão somente sentirá o significado do paradoxo quando se colocar dentro dele – qualquer que seja – e aceitar o fato de que fazer ou deixar de fazer algo pode não ser de sua alçada ou responsabilidade, mas, penso que não pode se omitir, não pode deixar de colocar seus valores e sua atenção à mostra, e nos limites da sua capacidade, interferir. Sentir e dissentir que está fazendo ou deixando de fazer algo. Afinal, precisamos saber para onde queremos ir e o que buscamos na Maçonaria. Trata-se aqui de uma ação interior, de uma busca dentro de uma busca na superação de paradigmas.

Luiz Gonzaga da Rocha – Escritor e Articulista Maçônico. Especialista em História da Maçonaria. Membro Efetivo da ARLS Antônio Francisco Lisboa – Grande Oriente do Distrito Federal. Coordenador do Curso de Pós-Graduação em História da Maçonaria.


A INJUSTIÇA



O coração de um maçom não aceita as injustiças e não compactua com o erro e a maldade. E mais do que isso, ele se inquieta se revolta e luta contra todo tipo de injustiça e opressão.

Ao longo de toda história da humanidade a Maçonaria tem-se empenhado em duras batalhas contra a tirania o despotismo e o obscurantismo, sofrendo com isso consequências dolorosas, perseguições implacáveis que resultaram no flagelo e na morte de vários irmãos.

Ela, porém jamais se curvou, jamais abriu mão de seus nobres ideais, nunca se omitiu em sua missão altruística, em sua luta inglória em favor da Liberdade, da Igualdade, e da Fraternidade.

Igualmente hoje quando o futuro da raça humana aponta para rumos incertos, a influencia benéfica e restauradora da Maçonaria se faz necessária.

Num momento em que nossa pátria no olho de uma crise mundial passa por momentos difíceis devido ao estado fragilizado de sua economia, o que leva a muitos passar apertos financeiros, está em voga à prática do salve-se quem puder e do cada um por si.

Muitos são os adeptos da famigerada Lei de Gerson, onde o importante é levar vantagem em tudo.

Quando testemunhamos a importância e a natureza sagrada da família sendo relegada a segundo plano por motivos fúteis, quando vemos as drogas, a violência e todo tipo de criminalidade assolando a sociedade, nós, os pedreiros livres, não podemos nos omitir.

Batalhas, embora não sangrentas como as da Antigüidade, mas igualmente árduas, esperam por nossa ação. Não mais a espada, mas nossa determinação, nosso exemplo, nossos propósitos de aperfeiçoamento são nossas armas.

Ir. Bruno Bezerra de Macedo MM


DESCORTINAR DA FRATERNIDADE MAÇÔNICA



O tempo da fraternidade é nossa grande e redentora Utopia
(João Alves da Silva)

PREAMBULO
Caríssimos Irmãos. O saudoso Irmão Octacílio Schüler Sobrinho, no livro “O Desafio das Mudanças” (Sobrinho, p. 162), escreveu: “a vocação dos Maçons é descobrir e investigar quem é o próximo, o necessitado que merece ser assistido. Ele não espera encontrar um ferido à beira da estrada, mas antecipa-se para que não se fira”. Temos aqui duas frases, dois sentidos opostos da palavra fraternidade.

O objetivo deste “descortinar da fraternidade maçônica” é focar e iluminar o sentido do termo “fraternidade”, e, complementarmente, alertar para o aprofundamento do abismo que separa o conceito de fraternidade no meio maçônico do conceito de fraternidade universal, e para dizer, com todas as letras, que na sua infraestrutura, a Maçonaria e os Maçons precisam repensar e entender o significado do termo fraternidade maçônica.

Estou convencido de que se os Dirigentes Maçônicos, em todos os níveis, não entenderem a fraternidade maçônica como fator de crescimento e de consolidação social, enfrentarão muitas dificuldades para entenderem o esforço que alguns maçons fazem para reformular velhos conceitos e caminhar para substituição da concepção de fraternidade incorporada nos moldes “estrito senso” para a concepção de fraternidade em moldes “lato senso”.

E se nada for feito, a razão deste Encontro de Membros e Membros Correspondentes da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas, aqui em Juiz de Fora, as discussões havidas e ideias expostas, não farão qualquer sentido. Tudo se perderá se na prática, não se reproduzir no seio da Maçonaria Nacional o ideal da fraternidade em seu mais amplo sentido filosófico, político e social.


O CONCEITO DE FRATERNIDADE
Originário do latim “frater”, com o sentido de “Irmão”, o termo fraternidade, não ultrapassa as fronteiras de conceito filosófico e político associado às ideias de liberdade e igualdade. De modo que, em termos efetivos, a fraternidade é algo que precisa ser entendido um pouco mais além de solidariedade, caridade, afeto, união fraternal, carinho de irmão para irmão, e de boas relações de inteligência entre os maçons.

Busquem nos melhores dicionários e aceitem o desafio de encontrar um conceito que destoe da concepção de que não seja a fraternidade o laço de união entre os homens, de algo fundado no respeito pela dignidade da pessoa humana e de algo assentado na igualdade de direito entre todos os seres humanos. Ou seja, duvido que encontrem um conceito que não associe a concepção ou ideário de fraternidade conforme estampado nas linhas antecedentes.

O conceito ideal de fraternidade, a meu entender, se coaduna com o que se encontra transcrito no artigo inicial da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, proclamada pela ONU em 1948, para o qual peço vênia para transcrição:
“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”

Na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, impressa a 24 de abril de 1793, por ordem da Convenção Nacional, em seu artigo XXXV, a ideia de fraternidade política estava vazada nos seguintes termos:
“Os homens de todos os países são irmãos, e os diferentes povos devem se auxiliar mutuamente segundo seu poder, como os cidadãos de um mesmo estado”.

As ideias de fraternidade, conforme transcrita está ligada, irremediavelmente, a uma concepção de valores que nos remetem à formação de comunidades, agrupamentos sociais e instituições diversas, em que a empatia, inclusão, cooperação, compromisso, responsabilidade, confiança, imparcialidade, equidade e liberdade.

O SIGNIFICADO DE FRATERNIDADE
Depois de apresentado a definição, pode-se entender fraternidade como sendo a convivência equilibrada e agradável entre as pessoas, como sendo o amor demonstrado pelo nosso próximo, e como sendo o afeto e o carinho dedicado aqueles aos quais não conhecemos. Esses elementos da fraternidade se inter relacionam e costuram o verdadeiro sentido filosófico e político da ideia ou do conceito de per si.

Então, fica fácil perceber que o significado de fraternidade perpassa o pensamento maçônico individualizado e focado no maçom, para se fixar no sentimento de irmandade entre todas as pessoas, e nos remete às ações que comprovam respeito à dignidade de todos os seres humanos, considerados iguais e com plenos direitos.

Resta demonstrado, portanto, que a expressão fraternidade não pode e não deve ser confundida com as expressões/termos: “caridade” e “solidariedade”, e muito menos com o sentido maçônico de “socorro aos necessitados”. Caridade e Solidariedade é o que induz os Maçons à ajuda desinteressada, é o que a Maçonaria mais faz ou pratica. Ambrósio Peters, que por muito tempo nos honrou com sua sabedoria nos Encontros da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas, foi mais franco ao substituir os termos “Fraternidade Maçônica” por “Generosidade Maçônica” (Peters, p. 214).

Fraternidade significa: devotamento, indulgência, abnegação, tolerância, benevolência, doação, e tudo o mais que for contrário ou oposto ao egoísmo. Ninguém pode ser o relógio que existe sem se conhecer e sem se relacionar. 

O fenômeno da relação foi descrito por Martin Buber com o emprego de vários termos: diálogo, relação essencial, encontro. O conhecer-te a ti mesmo para a pessoa significa, conhecer-se como ser. A pessoa contempla-se o seu si - mesmo, enquanto que o egótico ocupa-se com o seu “meu”, minha espécie, minha raça, meu agir, meu gênio (Buber, p. 33).

A FRATERNIDADE MAÇÔNICA
Em sentido estrito, a aplicabilidade do conceito de fraternidade entre os maçons é matéria apenas de proselitismo (Guimarães, p. 330), é um desacerto, por pressupor que a fraternidade maçônica abranja, tão somente, os membros das Lojas ou da Ordem Maçônica. A fraternidade – a verdadeira fraternidade – não conhece limites ou fronteiras físicas, nem se restringe a um grupo ou associação de pessoas, por mais relevantes que estas possam ser.

Distribuir sopa, doar alimentos, doar cobertores e agasalhos em tempos frios, distribuir brinquedos em certas épocas do ano, e algumas outras ações esporádicas ou eventuais praticadas por Lojas e irmãos em nome da Maçonaria, não condiz em nada, absolutamente nada, com o real conceito de fraternidade. Neste sentido, a fraternidade maçônica precisa se reinventar se reconstituir for mais além do doar por doar. Não nos equivoquemos com isso.

Ouso adiantar que a “fraternidade maçônica” é uma balela quase que por completa, seja por não entender e/ou não considerar que a verdadeira fraternidade assenta-se na ideia de que todos os seres humanos são iguais, e possuem igual dignidade, iguais direitos e deveres; ou seja, por não considerar e/ou não entender que a fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres e direitos dos homens, uns para com os outros.

Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade é a pedra angular, é a base. Sem ela, não pode existir a igualdade, nem a fraternidade. A Maçonaria, por seus membros e Lojas, precisa investir em entender, compreender, fazer valer a fraternidade como fator de crescimento e consolidação social da Ordem.

CONCLUSÃO
Estamos quase a concluir, e antes de concluir quero louvar a iniciativa da Loja Maçônica Fraternidade Braziliera de Estudos e Pesquisas em chamar à discussão um tema de tamanha relevância para Maçonaria e para a sociedade brasileira como um todo. Também aproveito o ensejo para agradecer a todos os que me ouvem nesta oportunidade, e aos que ausentes deste espaço, terão oportunidade de leitura deste texto.

A todos ouso dizer que o tema não se esgota com esta conclusão, mas que continua aberto, aguardando a crítica e as sugestões.

Julgo caber aqui, ainda, duas ou três breves considerações a propósito da “fraternidade” no seio da Maçonaria. Senão vejamos:
A infraestrutura maçônica construída em final do século XVII e início do século XVIII demonstra, na atualidade, ser uma infraestrutura arcaica, superada em termos de valores fraternos, e por assim dizer, carente do pensar e da ação basilar que realize a felicidade social, sem a qual os maçons e a sociedade profana deixam de compreender os deveres e os benefícios advindos da fraternidade.

A Maçonaria e os Maçons – e estes principalmente – precisam repensar e entender o significado dos termos fraternidade e fraternidade maçônica. As doações maçônicas, por maiores e melhores que sejam as intenções, não atendem ao desiderato de tornar feliz a humanidade, melhor seria que os Maçons se concentram-se em construir e gerenciar Escolas, Hospitais, Cemitérios, Asilos e Creches. Agir coletivamente em prol da coletividade.

Podemos admitir, grosso modo, que a importância da fraternidade se encontra no mesmo patamar da liberdade e da igualdade na busca pela felicidade em sociedade. 

Precisamos agir e agir rápido. Precisamos divulgar no meio maçônico, tudo o que aqui se produziu. Precisamos ter em mente o sentimento de que o resultado que aspiramos, é para a construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna. E, por fim, quero afirmar que é a vontade de orientar os homens para a “vida feliz” é o que anima o meu pensamento como Maçom neste momento e oportunidade.

Por Luiz Gonzaga da Rocha

Juiz de Fora/MG, 18 de outubro de 2014
Fontes de Apoio:
ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, A Trolha, Londrina, 2012.
BUBER, Martin. Eu e Tu, Centauro, São Paulo, 2001.
CAMINO, Rizzardo Da. Grande Dicionário Maçônico, Aurora, Rio de Janeiro, 1990.
GUIMARÃES, João Francisco. Cartilha Maçônica: antigos conceitos, com novas abordagens para o século XXI, Madras, São Paulo, 2010.
KLOPPENBURG, Boaventura. A Maçonaria no Brasil: orientação para os católicos, Vozes, Petrópolis/RJ, 1961.
LIPOVETSKY, Gilles. A Sociedade Pós-Moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos, Manole, Barueri/SP, 2006.
NAY, Olivier. História das Idéias Políticas, Vozes, Petrópolis, 2004.
PETERS, Ambrósio Peters, Maçonaria: História e Filosofia, Academia Paranaense de Letras Maçônicas, Curitiba, 1999.
RAWLS, John. Justiça como Equidade: uma reformulação, Martins Fontes, São Paulo, 2003.
SANTIAGO, Marcos. Prática Maçônica e Sociedade, in Temas para a Reflexão do Mestre Maçom, A Trolha, Londrina, 1993.
SILVA, João Alves da. Vamos Ler Maçonaria, A Trolha, Londrina, 1996.
SKINNER, Quentin. Hobbes e a liberdade republicana, UNESP, São Paulo, 2010.
SOBRINHO, Octacílio Schüler. O Desafio das Mudanças, A Trolha, Londrina, 2004.


A SIMBOLOGIA DA PURIFICAÇÃO PELOS ELEMENTOS E AS ORIGENS DA SUA INTRODUÇÃO NOS RITUAIS MAÇÔNICOS


A simbologia da purificação pelos quatro elementos encontra-se presente na maior parte dos rituais de iniciação, dos ritos maçônicos continentais, e ausentes na globalidade dos ritos de origem anglo-saxônica. Este procedimento litúrgico, que integra as provas sucessivas da terra, água, ar, e fogo, baseia-se numa concepção simbólica da constituição da matéria, profundamente enraizada na cultura clássica ocidental.

O estudo do Cosmos foi um dos temas recorrentes entre os filósofos gregos pré-socráticos. Segundo Actius “Foi Pitágoras o primeiro que deu o nome de Cosmos à envolvente do universo, em razão da organização que aí se vê”.

O mesmo filósofo refere, ainda, que “Thales, Pitágoras e os da sua escola tinham dividido a totalidade da esfera celeste em cinco círculos, que eles chamavam zonas”. 

Estes consistiam no equador, nos trópicos, no circulo ártico, e no circulo antártico.

Tião de Esmirna nos conta dos ensinamentos de Filolaos (Filolau de Crotona), que estabelece uma correspondência simbólica entre as cinco zonas da esfera celeste e cinco elementos: “Os corpos da esfera são cinco: o fogo, a água, a terra e o ar, que se encontram contidos na esfera, aos quais se acrescenta um quinto, a casca da esfera”.

Resulta, pois, evidente a correspondência dos quatro elementos atrás referidos às cinco zonas da esfera celeste, e a crença na existência de um quinto elemento representativo da unidade de todo o Cosmos. Esta correspondência identificava a água com a região antártica, os trópicos com o ar, o ártico com o fogo e, a terra com a zona equinocial.

Para além deste arquétipo cosmológico, os quatro elementos tradicionais tiveram, também, interpretação metafísica, simbolizando Zeus o fogo, Hera a terra, Nestes (Hefesto) a água e Adônis o ar.

Tendo em conta a sua proveniência e essência, estes quatro elementos da física pré-socrática não podem ser considerados literalmente, mas apenas simbolicamente, seja no seu contexto de origem, seja no âmbito dos domínios que, posteriormente, os importaram por sincretismo, tais como a filosofia hermética, a alquimia, ou a maçonaria.

É neste último caso, que importa aprofundar a sua gênese e disseminação.
Muito embora a temática das viagens tenha estado presente, nas cerimônias de iniciação, desde os primórdios da maçonaria especulativa, o mesmo não se passa relativamente às purificações pelos quatro elementos. Assim:

Em 1730, Samuel Prichard na sua “Masonry Dissected” (Maçonaria Dissecada) refere, somente, que o candidato efetuava uma volta à Loja, para se apresentar à assistência;

Em 1737, no mais antigo Ritual Francês conhecido, o recipiendário fazia três viagens, antes de ser conduzido ao Venerável Mestre. Não existem, neste ritual, nem elementos, nem provas, nem purificações, apenas no decurso das viagens era vertida resina em pó sobre os candelabros justapostos ao Quadro de Loja, para causar maior impressão no recipiendário;

Em 1767, os “Rituais do Marquês de Gages” descrevem o recipiendário conduzido à volta da Loja pelo 1º Vigilante, sem que intervenham nas viagens nem elementos, nem purificações, se bem que a prova do fogo figure na iniciação;

Todavia, um catecismo de 1749, de uma Loja de Lille, comporta a resposta “Fui purificado pela água e pelo fogo”. Trata-se da mais antiga menção desta inovação, a qual já existia em altos graus praticados na época, podendo ter migrado daí para a maçonaria azul. Estas duas purificações não têm, aliás, origem hermética, mas sim bíblica, correspondendo aos batismos da Antiga e da Nova Aliança. Recordem-se as palavras de S. João Batista, em Mateus 3.11 “Em verdade vos batizo com água… mas aquele que vem após mim… batizará-vos com o Espírito Santo e com fogo”;

Em 1786, no “Régulateur Du Maçon” (Regulador do Maçom), documento fundador do Rito Francês, o Grande Oriente de França fixa a purificação pela água após a segunda viagem, e a purificação pelo fogo após a terceira, sem haver qualquer referência a outros elementos;

Os três elementos constituintes da matéria, na perspectiva Martinista (fogo, água, terra) só aparecem tardiamente na maçonaria retificada, em 1786-1787, apenas e somente com a interpretação especifica do RER, sem qualquer relação com a que se encontra nos restantes ritos;

O “Guide des Maçons Écossais” (Guia dos Maçons Escoceses), de 1804, mais antigo documento regulador dos graus simbólicos do REAA, faz passar o recipiendário pelas chamas purificadoras na terceira viagem, sendo as duas anteriores isentas de purificações;

Enfim, em 1820, o Ritual do Rito de Misraïm explicitamente prevê a purificação pelos quatro elementos, sendo a prova da terra objetivamente associada à passagem pela Câmara de Reflexões, e as purificações pela água, fogo, e ar, realizadas sucessivamente por esta ordem, associadas a três viagens realizadas fora do Templo, nos Passos Perdidos. Tratou-se, pois, de uma completa inovação, relativamente a um século de pratica maçônica anterior, neste país.

Este modelo repetiu-se no Ritual do 1º Grau do Rito de Memphis, de 1838, no qual apenas foi alterada a ordem dos elementos, para terra-ar-água-fogo. A migração desta simbologia foi quase imediata, dos Ritos Egípcios para os demais ritos praticados à época na França, passando, contudo, as purificações a serem realizadas no interior do Templo.

Muito embora nas revisões do Rito Francês efetuadas até a versão Murat, de 1858, tenha sido mantido, formalmente, o protocolo inicial das duas purificações, a identificação das viagens com os quatro elementos foi, correntemente assumida pelos autores maçônicos da época ligados a este Rito, nomeadamente por Clavel e, por Ragon.

A partir de 1877, as purificações foram retiradas dos rituais do Grande Oriente de França, na sequência de uma revisão laicizante do Rito, tendo sido reintroduzidas, já com referência aos quatro elementos, no decurso dos últimos decênios. Tanto no Rito Francês Groussier, como no Rito Francês Moderno Restabelecido, a ordem dos elementos considerada é terra-água-ar-fogo.

Tal foi, também, a ordem elegida por Robert Ambelain, na sua revisão dos rituais dos Ritos Egípcios, que deu origem ao Ritual do Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraïm, atualmente praticado.

No REAA, a importação também se deu imediatamente, estando à mesma presente em todos os Rituais da Grande Loja de França, desde a sua fundação em 1896, com a ordem terra-ar-água-fogo, que é hoje característica deste Rito. Se o REAA influenciou, na sua gênese, os Ritos Egípcios, também podemos considerar que estes vieram, reciprocamente, a inspirar, de algum modo, a sua matriz original.

Perante toda esta sequência cronológica, duas perguntas surgem naturalmente:

– Por que é que estas purificações apareceram em 1820?
– E por que num Rito Egípcio?

A resposta para elas poderá estar em… Mozart!

No libreto da ópera “A Flauta Mágica”, de 1791, no seu segundo ato, cena 7, consta a seguinte referência:

“Aquele que avançará por esta estrada plena de obstáculos
Será purificado pelo fogo, a água, o ar e a terra
Se ele pode superar os receios da morte
Se elevará da terra até ao céu”

Sendo esta ópera da autoria de dois Maçons, Mozart e Shikaneder, e reproduzindo a mesma uma iniciação, será que esta simbologia já existia na maçonaria austríaca trinta anos antes de ter surgido em França?

Mozart foi iniciado em 14 de dezembro de 1784, em Viena, na Loja “Zur Wohltätigkeit”, sob os auspícios da Grande Loja Nacional Austríaca. Antes dessa data, praticavam-se, em Viena, quatro ritos: a Estrita Observância, o Rito de Zinnendorf, o RER e o Rito de Adoção.

Muito embora a Loja-Mãe de Mozart tenha sido constituída para praticar o RER, à data da sua iniciação, a oficina utilizava já outro ritual, do qual se encontra depositada, em Copenhague, uma cópia manuscrita.

Trata-se de um ritual claramente de influencia francesa, todavia com alguns pontos comuns ao Ritual do 1º Grau do Rito de Zinnendorf. Nesta cerimônia, o recipiendário, depois de passar pela Câmara de Reflexões, faz três viagens. 

Segundo o texto deste ritual, o Venerável Mestre ordena ao Segundo Vigilante que faça o recipiendário realizar a primeira viagem “pelo ar e pela terra”, a segunda “pela água”, e a terceira “pelo fogo”, sem haver, contudo, qualquer referência a purificações.

Se este conceito migrou da maçonaria para a ópera, tal não pode ser objetivamente confirmado. Constitui, contudo, um fato, que Mozart foi iniciado através de um ritual que mencionava os elementos, não assumindo, todavia, no mesmo a forma presente no libreto de “A Flauta Mágica”, que se parece reproduzir no Rito de Misraïm.

No final do séc. XVIII a maçonaria austríaca irá cair na penumbra, e praticamente desaparecer, em virtude dos éditos restritivos de José II, o mesmo não sucedendo, contudo, a “A Flauta Mágica”, que conhecerá uma notoriedade assinalável por toda a Europa.

Subsistem, todavia, as perguntas: por que 1820, e por que num Rito Egípcio. Poderá, no entanto, ter sido recentemente descoberto o elo da cadeia, que faltava para lhes dar resposta.

Em 1801, Ludwig Wenzel Lachnit, natural de Praga, apresentou ao público parisiense uma “nova ópera de Mozart” denominada “Os Mistérios de Ísis”. Esta obra, com libreto em Francês, da autoria de Étienne de Chédeville, e música reciclada a partir da partitura da “A Flauta Mágica”, e de importações de outras óperas de Mozart, conheceu um assinalável sucesso, atingindo um total de 130 representações até 1810, com reposições em 1816, e 1827.

Terá sido a ópera mais representada durante o Império, não sendo estranho ao seu êxito o fato de a sua estréia ter coincidido com o final da Campanha do Egito, e de ter beneficiado de uma quinzena de anos nos quais os temas egípcios estiveram na moda.

No livreto desta obra, publicado em Paris, em 1806, as personagens são precipitadas “num sombrio subterrâneo”, passando posteriormente para outro “sombrio e profundo subterrâneo destinado às provas do fogo, da água, e do ar” antes de, finalmente, acenderem ao “Templo da Luz”.

Será que, numa altura em que a informação existente sobre o Antigo Egito era escassa e mítica, o livreto de “Os Mistérios de Ísis” não poderá ter servido de inspiração aos irmãos Bédarride para escreverem o Ritual do seu Rito de Misraïm?

Trata-se, contudo, de uma pergunta que só eles poderiam responder, sendo, todavia, comprovado, que nos meios maçônicos da época, lhes foram merecida ou imerecidamente, atribuídos propósitos idênticos aos que teria tido o promotor desta ópera, e que teriam mais a ver com metais, do que com valores maçônicos.

A ter-se verificado, este “transfer” constituiria mais um exemplo de que nem a sociedade é impermeável a ideias veiculadas na maçonaria, nem esta última o é a ideias, ou modas, provenientes da sociedade.

Este sincretismo pode, ainda, ser indiciado pelo fato de Alexandre Lenoir ter publicado, em 1814, o livro “La Franche-Maçonnerie rendue à sa véritable origine”, o qual marca a origem da Egiptologia Maçônica e, onde se descrevem as iniciações no Antigo Egito (mítico), referindo-se as purificações pelos quatro elementos e, a necessidade das cerimônias maçônicas se ajustarem aos procedimentos dos Antigos Mistérios.

Ainda no que concerne à ópera de Lachnit, apesar do enorme sucesso comercial obtido, não se eximiu de ser severamente criticada nos meios musicais mais eruditos, nomeadamente por Berlioz, ou por Otto Jahn, que lhe alterou o titulo de “Les Mystères d’Isis” para “Les Misères d’ici”.

Em conclusão, as purificações pelos elementos, introduzidas em força e vigor na maçonaria, no primeiro quarto do séc. XIX ganharam plena profundidade simbólica já no séc. XX, através da contribuição de vários simbolistas notáveis, dos quais destaco Oswald Wirth, que incorporou muitas interpretações herméticas à simbólica tradicional maçônica do REAA. Termino, pois, com palavras suas bem elucidativas do sentido iniciático que podemos dar a este procedimento ritual:

“Esta vida de ordem superior proporciona-se através do desenvolvimento do princípio da personalidade, dado que o ser inferior não é mais do que um autômato que reage mecanicamente sobre a ação das forças das quais é o joguete. A sua vida permanece material ou elementar porque ela resulta unicamente do conflito dos Elementos… Mas as forças exteriores, tão potentes sejam elas, devem ser dominadas pela energia que acha a sua origem na personalidade. É porque o homem é chamado a desenvolver em si um princípio mais forte que os Elementos, que ele entra em luta com eles no decurso das provas iniciáticas”

Pessoalmente, penso que este princípio reside no Conhecimento, principal impulsionador da elevação da Condição Humana, entendendo-se o mesmo não só como sapiência, mas também e, fundamentalmente, como consciência. Cada um, contudo, dentro do seu livre-pensamento deverá encontrar a sua interpretação pessoal para o mesmo.

Só assim estaremos, realmente, a fazer Maçonaria.

Autor: Joaquim G dos Santos

Loja de S. João Fiat Lux nº 537, Oriente de Lisboa, filiada ao G.’.O.’.L.’.
Referências Bibliográficas
– Ambelain Robert “Freemasonry in olden times – Ceremonies and Rituals from the Rites of Mizraïm and Memphis”, Robert Laffont, 2006;
– Dachez Roger ”Les Rites Maçonniques Égyptiens”, PUF, Paris, 2012;
– Dachez Roger e Pétillot Jean-Marc ”Le Rite Écossais Rectifié”, PUF, Paris, 2012;
– Dachez Roger ”Quatre elements: Epreuves élementaires ou baptêmes successifs?”, Paris, 2013;
– Giambello Sylvain ”Les Mystères d’Isis (Lachnit, Paris, 1801)”, Paris, 2013;
– Guérillot Claude ”Les trois premiers degrés du Rite Écossais Ancien et Accepté”, Guy Trédaniel Éditeur, Paris, 2003;
– Mainguy Iréne ”La Symbolique maçonnique du troisième millénaire”, Éditions Dervy, Paris, 2006;
– Marcos Ludvic ”Histoire Illustrée du Rite Français”, Éditions Dervy, Paris, 2012;
– Négrier Patrick ”Les Symboles Maçonniques d’après leurs soures”, Éditions Télètes, Paris, 1990;
– Nöel Pierre ”Les Grades Bleus du Rite Écossais Ancien et Accepté”, Éditions Télètes, Paris, 2003;
– Ragon Jean-Marie ”Cours Philosophique et Interprétatif des Initiations Anciennes et Modernes”, Berlandier Libraire-Éditeur, Paris, 1841;
– Ragon Jean-Marie ”Tuileur Général de la FrancMaçonnerie”, Collignon Libraire-Éditeur, Paris, 1861;
– Win Jean van ”Le rituel de récepcion au grade d’apprenti de Mozart et ses épreuves purificatrices”, Bruxelles, 2013;
– Wirth Oswald ”La Franc-Maçonnerie rendue intelligible à ses adeptes”, Éditions Dervy, Paris, 2007.


O SIMBOLISMO DO TEMPLO MAÇÔNICO



O Templo Maçônico reúne dentro de si o espaço e o tempo sagrados. Basta apenas traspassarmos sua porta e faz-se evidente a diferença entre os mundos, aonde o tempo decorre linearmente em forma indefinida e amorfa, e o recinto sacro, onde se percebe um tempo mítico e significativo: o “tempo” das origens do ser humano, a eternidade e a simultaneidade, conhecidas e compreendidas na interioridade do homem que estabelece esta comunicação ritual desde as profundezas do Templo.

Por outra parte, o Templo é um modelo do Universo, ao qual imita em suas formas e “proporções” e, como ele, tem por objeto albergar e ser o meio da realização total e efetiva do ser humano.

Nas tribos mais primitivas, encontramos a choupana ritual (ou a casa familiar) como lugar de intermediação entre o alto e o baixo. Efetivamente, nela o teto simboliza o céu e o chão, a terra; os quatro postes onde se assenta são as colunas onde se apóia o macrocosmo.

É muito importante assinalar que sempre nessas construções há um ponto zenital que está aberto a outro espaço.

Exemplo: a pedra caput ou cimeira, que não se colocava na construção das catedrais, ou o orifício de saída da choça cerimonial (na casa familiar esta saída é simbolizada pela chaminé, o lar). Esta construção, imagem e modelo do Cosmo, têm, pois, uma porta de entrada que se abre ao percurso horizontal do Templo (transposição da porta, passagem pelas águas do batistério, perda no labirinto cuja saída desemboca no altar, coração do Templo), e posteriormente um orifício de saída sobre o eixo vertical, desta vez localizada na sumidade, simbolizando o Coroamento da Obra e o rendimento a outro espaço, ou mundo, inteiramente diferente, que está “mais além” do Cosmo, ao qual o Templo simboliza.

É também o Templo uma imagem viva do microcosmo e representa o corpo do homem, criado à imagem e semelhança de seu criador; inversamente, o corpo do homem é seu Templo. O centro de comunicação vertical é o coração, e ali, nesse lugar, acende-se o fogo sagrado capaz de gerar a Aventura Real da transmutação, após as provas e experiências de Conhecimento que levam até lá.

Em nosso diagrama Sefirótico, a porta horizontal se abre de Malkhuth a Yesod, enquanto a vertical de Tifereth a Kether. Ou seja, que todo o trabalho prévio, encaminhado ao Conhecimento, tem que ter por objetivo imediato a chegada ao coração do Templo, o fogo perene do altar sobre o qual se assenta o tabernáculo, espaço vazio construído com as réguas e proporções harmônicas do próprio Templo, e do qual é sua síntese.

Terá então terminado com a primeira parte dos Mistérios Menores (mistérios da Terra) e começará sua ascensão simultânea pela segunda parte (os mistérios do céu), ficando para além do Templo, ou seja, para o supracósmico, os Mistérios Maiores, que por serem inefáveis não podem ter aqui análise e nem comentário.

Na realidade, este processo é prototípico e válido para qualquer mudança de plano ou estado, onde se manifesta à sua maneira.

Fraterno Abraço
RuyR@mires

VAIDADE...



.. palavra pequena e de fácil pronunciamento, de tonalidade suave aos ouvidos, porém, encerram em muitas ocasiões, situações gravíssimas no comportamento do ser humano, com consequências desastrosas.

A vaidade, literalmente falando, é a qualidade do que é vão, vanglória, ostentação, presunção malformada de si, futilidade, e etc.

Soberba, orgulho, arrogância, vaidade e altivez são palavras que possuem significados muito próximos nos dicionários. Especialistas consideram que todos estes sentimentos sejam sinônimos. Dessas qualidades a vanglória é perniciosa, pois objetiva o indivíduo jactancioso, ou seja, presunçoso, arrogante e frívolo o egoísmo.

Pessoas tomadas por estes sentimentos são aquelas que olham para si como dignos de admiração pelos outros. Creem que estão acima das demais pessoas, seja por sua beleza física, qualidades intelectuais, erudição, cultura ou condições financeiras. Vamos juntar todos estes sentimentos no adjetivo que se usou para batizar um dos sete pecados capitais: vaidade.

O vaidoso é aquele indivíduo que olha para as opiniões alheias com desprezo, ou na melhor das intenções, até com dó mesmo e sobre os que professam opiniões diferentes das suas, pensa: Idiotas!

O vaidoso tem orgulho de suas conquistas, de suas coisas, de suas idéias, de sua existência que trás beleza e sabedoria ao mundo.

Afirmar categoricamente que o egoísmo faz parte da natureza humana faz com que vozes se levantem com inúmeros argumentos para negar à afirmativa. São muitas as qualidades que ajudam a encobrir o óbvio, mas, como tudo que foge à verdade, há um momento em que a redoma da hipocrisia se desfaz e o ser humano não tem alternativa senão se render às evidências, geradas por sua própria experiência. 

É bem verdade que muitos de nós nem chegaremos a nos incomodar com determinados sentimentos; muitos nem fomos tocados pelas virtudes e pela necessidade de aprimorar o caráter e o espírito. Assim, movidos por um instinto gregário e social aceitamos, sem qualquer reflexão, aquilo que é comum a todos nós. Todos entendemos que a vaidade é a conseqüência do egoísmo que se vê limitado pela sociedade.

Vaidade é este desejo de estar sempre em evidência. Para Aristóteles, as virtudes e os vícios podem ser definidos pelo critério do excesso, da falta e da moderação.

O vício sempre seria uma conduta ou um sentimento excessivo ou deficiente. Já a virtude seria o sentimento ou conduta moderado.

Para o filósofo, a vaidade peca pelo excesso, a modéstia pela deficiência e a virtude estaria no respeito próprio, diante da vaidade ou da modéstia. Mais uma vez, encontramos a triangulação que encontra no centro a justiça e a perfeição das nossas atitudes e comportamentos.

A vaidade personificada tem sua origem na mitologia grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco e foi punido com a maldição de apaixonar-se de forma incontrolável por sua própria imagem refletida na água.

A alma humana é a mais completa de todas, não é só instinto, é também sensível, mas o grande diferencial está na racionalidade.

O que nos faz humanos não é deixar fluir os nossos instintos, mas fazermos o uso racional deles.

Em princípio, o ser humano quer ser feliz e para isso pode se contentar com a posse e contato com seus objetos de prazer, como pode precisar alimentar a sua vaidade por meio do reconhecimento de sua excelência pessoal pelo outro.

O homem também pode entender que a felicidade é possível por estar bem consigo mesmo. É quando ele próprio se reconhece em sua magnitude e busca se premiar por isso, com comportamentos compatíveis com sua maneira de pensar, com valores voltados para si mesmo e que podem ser consumidos no viver bem e na busca da felicidade.

Este é um aspecto do egoísmo que o mal não é real; o que se evidencia é o respeito a si mesmo, e isto é uma virtude.

A presunção mal fundada de si traz em seu seio situações embaraçosas, notadamente na Maçonaria, visto que aqui todos se tratam por Irmãos e presume-se que a verdade deve imperar sempre.

A tão propalada vaidade feminina não traz conseqüências, pois se atém tão-somente na área de estética. A masculina quando não se atém às futilidades torna-se algo de preocupação, encerra-se muitas vezes em disputas desnecessárias, gerando graves problemas de ordem interna, principalmente quando essa vaidade inclui fator poder.

O fator poder é inerente ao ser humano, na Maçonaria no desbastar da Pedra Bruta, ou seja, no seu próprio burilamento cada um recebe a incumbência de burilar a si próprio e aos que estão a sua volta.

Arvorar-se na condição do dever cumprido, de ser possuidor de títulos ou de possuir extensa bagagem maçônica, não contribui em nada para os destinos da Ordem.

Maçonaria se faz no dia-a-dia, na conquista permanente de novos adeptos e na tentativa da melhoria constante da espécie humana. A busca incessante e permanente da verdade faz da Sublime Instituição, organização sem similar.

A permanência da Maçonaria como instituição respeitável como é, deve necessariamente contar com a renúncia das possíveis vaidades de seus membros para o bem comum.

Mas, vemos com frequência Irmãos desentendidos ou que se fazem de desentendidos, querendo manter a ferro e fogo o seu círculo de poder. Apesar da inerência do poder ao ser humano, o Maçom pelos ensinamentos recebidos não pode a isso se ater.

A perpetuação de uma instituição passa, com absoluta certeza, pelo grau de compreensão de seus membros e na renovação sistemática de suas lideranças. Cabe a cada um de seus membros renunciarem às vaidades e presunções infundadas para o bem.

A título de exemplo, tem Irmãos que gostam de apologizar-se, em descumprir a legislação em vigor, criando com esses atos bolsões de intransigências, que mais tarde derivam-se na mais pura vaidade e arrogância de ser um descumpridor, notadamente, de um poder que não tem coercitividade, que afinal é o caso da Maçonaria.

Para vivermos em Igualdade, sem qualquer Grau de subordinação, é muito difícil; porém, dentro da Maçonaria é necessário.

Não basta respeitar ao Irmão como homem, deve respeitar como Maçom.

Não importa qual o Grau ou Rito que freqüente, importa sim, o respeito pelo ato da Iniciação e pela instituição a que o Maçom pertence.

Esta diversidade que o Maçom possui, deve ela crescer sempre em benefício da ordem, e não transformar-se em um poço de orgulho, egoísmo e vaidade.

Ter vaidade de ser Maçom é muito bom e proveitoso, mas ser um Maçom vaidoso e refém do poder, com absoluta certeza, não trará qualquer benefício à Ordem e aos Irmãos.

Os três princípios de sustentação da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, não devem ser distorcidas de sua real finalidade. Ao viciar qualquer ensinamento ou distorcê-lo é um perjúrio, os Irmãos devem ter consciência disso.

As reuniões costumeiras e obrigatórias deveriam servir como bálsamo às nossas dificuldades e angústias do dia-a-dia. Infelizmente não é isso que amiúde presenciamos, a praxe é uma guerra surda no sentido de manter posições, ou seja, o “statu quo ante”, isso é incompatível com o princípio da Sublime Instituição.

Entre um homem simplesmente vestido de Avental e um Maçom, tem uma diferença significativa.

A parábola dos talentos vem a isso confirmar. Ninguém é dono de nada, apenas o seu guardião, os Irmãos devem isso se lembrar, o nivelamento pelo valor monetário disponível por cada um, não serve para a caracterização do reconhecimento e vinculação maçônica.

Cada Irmão deve ser entendido e aceito independentemente, o que vale e significa muito para a Maçonaria são os fatores intrínsecos, isto é, os fatores internos da Ordem, a sua irradiação de valores humanos, hauridos por seus membros em Loja.

A Maçonaria é uma escola de humanismo e disso ninguém pode duvidar.

Tanto no estudo da filosofia, da filologia e no campo social, a Maçonaria incute aos seus adeptos essa capacidade de modificação no comportamento e na visão geral da sociedade, notadamente, nas condutas de moral e ética.

Reflitamos sobre nossas atitudes.
Fonte: JB News

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