SER OU ESTAR MAÇOM



Atualmente podemos afirmar que "Ser ou Estar alguma coisa" está se tornando uma expressão bastante difundida, que é utilizada para identificar se uma pessoa assumiu ou não seu posicionamento correto com respeito a qualquer organização da qual participa, como por exemplo:

 - Quando se desempenha um cargo público ou legislativo, tal qual o de "Estar Ministro", entre outros exemplos, sendo inclusive utilizado com personagens em programas humorísticos. Absorvendo este conceito e aplicando-o no seio de nossa Fraternidade percebemos que todos nós

"Estamos Maçons" ao procedermos nossa Iniciação. Estamos Maçons ao frequentarmos a Loja e pagarmos as suas mensalidades e taxas. Estamos Maçons quando participamos de uma atividade organizada pela loja, uma atividade filantrópica, uma palestra, uma visita a outra Loja. Ou até mesmo Estamos Maçons quando meditamos sobre o nosso papel e partimos em busca da meditação interior em busca da verdade.

Mas o que é Ser Maçom?

O verbo SER não poderia ser considerado sinônimo do verbo ESTAR.

A caracterização mais expressiva é de que estar é um verbo que indica certo estado, portanto, há como que embutido em seu conteúdo certa passividade, enquanto que o verbo ser é ativo, representa ativação.

Ser Maçom é um estado de espírito que deve caracterizar o membro presente a toda situação em que pode ajudar e cooperar para que o mundo torne-se de alguma forma melhor.

Ser Maçom é compreender que por mais poderosas que sejam as forças externas elas devem ser dominadas pela energia que tem sede em sua própria personalidade.

Ser Maçom é ter consciência que sua presença discreta pode dar apoio a novos projetos úteis à comunidade e constituir-se num valoroso pilar de sustentação de valores mais nobres do indivíduo.

Ser Maçom é ser o eterno estudante que busca o ensinamento diário, tirando de cada situação uma lição, e aplica com êxito os princípios estudados.

Desenvolve em toda oportunidade de sua intuição, sua força de vontade, sua capacidade de ouvir e entender os outros. Temos que considerar que o Ser Maçom deve, como livre pensador, questionar o porquê de determinados acontecimentos entendendo e vivenciando nos nosso aprendizado que palmilhamos lentamente, com passos firmes para não tropeçar nos erros e vícios do passado, mesmo que em momentos saiamos da trajetória para poder compreender o mundo com uma visão holística de suas nuances.    
                         
O Maçom que se limita a ler ou estudar as instruções dos graus ou a literatura disponível e não procura aplicar em sua vida diária os conceitos que lhe são transmitidos, na busca do desbaste da Pedra Bruta, e em erigir o Templo Interno, perde excelentes oportunidades de ampliar seus conhecimentos e de verificar como o saber do aprendizado da Arte Real pode ser útil para o seu bem-estar na busca de seu retorno ao Cósmico.

O Ser Maçom é aquele estado em que sem abandonar os hábitos de disciplina racional, a mente busca uma abrangência do universo, o conhecimento intrínseco dos fenômenos que estão ocorrendo, procurando desenvolver a sensibilidade e a compreensão das razões de estudo.

O Maçom que desenvolveu sua mente para estar atenta e acompanhar a evolução dos fatos sabe como conhecer as sutilezas que envolvem suas origens, é como um oleiro que dá formas sutis ao barro bruto, enquanto que o Maçom modela sua própria consciência num confronto com sua própria personalidade.

Vivemos juntos e cruzamos com diferentes seres humanos que pensam e agem de maneira diversa da nossa. Isto nos propicia excelentes oportunidades de nos adaptarmos a estas personalidades e, sobretudo, de aprimorarmos as formas de inter-relacionamento.

A sabedoria do bem viver é despertada quando nos conscientizamos dessas diferenças e procuramos compreender o indivíduo através de suas particularidades.

Ser Maçom é despertar este sentido de compreensão do indivíduo e estar preparado para assisti-lo nos momentos de dificuldades. O exemplo de uma atitude mental moderada, sincera e cooperativa caracteriza muito o Ser Maçom.

E todos notam que sob muitos aspectos, o Ser Maçom diferencia-se como indivíduo entre todos os outros. No aprendizado inicial aprendemos que além dos SS.'. TT.'. e PP.'. o Maçom deve ser reconhecido pelos atos e posturas dentro da sociedade e no meio onde vive, traduzindo de maneira diuturna os nosso aprendizado e a filosofia dos postulados da Arte Real. Sentimos que temos que desempenhar um papel mais complexo na sociedade e dar uma contribuição positiva para que ela se torne superior.
                                                                                  
Ser Maçom implica em algumas renúncias, mas a compensação que advém deste estado de espírito especial é muito agradável. Sentimo-nos como se fôssemos os autores da novela e não apenas os personagens passivos, criados pelos mesmos.

Temos uma participação presente e atuante, embora que, aparentemente o Maçom apresente-se um tanto reservado. Já se disse que nos colocamos muito mais em evidência, quando nos mantemos como observadores e damos a colaboração somente quando é solicitada pelos outros, do que aqueles que procuram apresentar-se como os donos da festa.

Considerem, sobretudo, que encontramos muitas pessoas evoluídas e que podem ser consideradas possuídas de elevado espírito Maçom. Têm uma expressiva vivência das coisas do mundo e utilizam grande sabedoria em suas decisões, mesmo se nunca se tornaram Maçons.

Nós estamos Maçom ao entrarmos na Ordem e Somos Maçom quando o espírito dela entrar em nós. A diferença é muito grande, mas facilmente perceptível. Irmãos unam-nos na trilha que leva ao Templo ideal e tomemos o cuidado para não Estarmos Maçons, para não trilharmos a Maçonaria simplesmente cumprindo Rituais, envergando a mera condição de um "Profano de Avental".

Desejo que todos avaliem como é bom SER MAÇOM!


BIBLIOGRAFIA

Texto extraído do site www.polibusca.com.br

O QUE É O SEGREDO MAÇÔNICO?


O "segredo maçônico" é daquelas coisas a que a curiosidade da sociedade, certa comunicação social, e alguns setores mais "aguerridos" não resistem.

A maçonaria é coisa de que só recentemente se fala às claras e na praça pública: antes só merecia comentários em surdina, meias palavras e olhares de desagrado, invariavelmente acompanhados de desinformação, descontextualizados e eivados de preconceito.

Uma boa parte da responsabilidade é dos próprios maçons. Perseguidos anos a fio, mantiveram-se a partir de certo ponto de tal modo "subterrâneos" e discretos que não se preocupavam, sequer, com o que deles diziam - quanto mais preocuparem-se com a refutação pública das inverdades, e com a divulgação de informação correta sobre a maçonaria.

Os tempos têm mudado, os extremismos do passado têm-se refreado, e a maçonaria começa a poder sair debaixo da pedra onde se escondeu - e os maçons começam a querer desfazer os equívocos resultantes de décadas de silêncio. 

No entanto, ao fazê-lo, deparam-se com uma primeira linha de ideias feitas, de argumentos falaciosos, de cegueiras voluntárias, em referências constantes às mesmas fontes já mil vezes desmascaradas, na insistência em questões já inúmeras vezes respondidas, e na recusa em mover-se um milímetro para além dos pontos de vista anteriormente adquiridos.

 O que, de início, parece ser um desafio interessante, começa a tornar-se numa desmoralizante e surda guerra de teimosias e de cansaços. É que, depois de se responder à mesma pergunta trinta vezes seguidas, de cada vez tentando encontrar uma resposta mais certeira, mais facilmente inteligível, mais passível de irradiar a dúvida, e perante a incessante repetição da mesma pergunta, vezes sem conta, acabam-se as ideias, exaure-se a imaginação, e esgota-se a paciência.

 No que me concerne, tenho-me esforçado por encarar cada pergunta como uma vontade honesta de chegar à verdade. Mesmo aquelas que, colocadas de má fé, não pretendam senão passar a proverbial rasteira merecem-me uma resposta tão cândida quanto o consigo: afinal, as respostas ficam aqui, para usufruto e benefício de quantos as quiserem ler, e pode ser que aproveitem a alguém...

 Quem está de fora não pode falar de maçonaria sem falar de segredo. De fato, arrisco a dizer que o segredo é aquilo de que mais se fala "de fora" quando se fala de maçonaria. E também arrisco dizer que não se fala mais de segredo "de dentro" porque é algo já tão interiorizado que (já) não merece constante reparo. Deixem que repita uma vez mais: os "segredos" da maçonaria não passam do conteúdo dos rituais, dos meios de reconhecimento dos vários graus, da identidade dos maçons e do que se passa nas sessões.

Os dois primeiros segredos são simbólicos e rituais. O conteúdo dos rituais não tem nada de especial, e estou certo de que quem os ler esperando encontrar alguma verdade miraculosa ficará muito desapontado: simplesmente determinam quem diz o quê, quando, e em que circunstâncias, um pouco com uma peça de teatro.

Também os sinais de reconhecimento são meramente rituais, e usados quase exclusivamente em loja ou à entrada de um templo maçônico. Os maçons não andam aí pela rua a fazer "sinalizas" uns aos outros...

Os outros dois segredos têm que ver com a reserva da privacidade das pessoas. A identidade dos maçons só pode ser revelada pelos próprios, uma vez que muita gente ainda vê a maçonaria com maus olhos, e a revelação da condição de maçom de alguém pode, por essa mesma razão, causar-lhe dissabores profissionais, sociais ou religiosos.

Por outro lado, ao guardar-se segredo do que cada um diz em loja confere-se aos participantes a liberdade de se exprimirem sem reservas, com a certeza de que as posições que revelarem as ideias que defenderem as atitudes que tomarem, ficarão ali.

Só errando se aprende, e a maçonaria é uma escola de aprendizagem. Cada um é convidado a dar o melhor de si, sem o medo de errar e sem temer a acusação dos demais. Longe disso, aprende-se que o mais implacável juiz de um homem deve ser ele mesmo, mas que para isso é preciso que os demais se refreiem e lhe deem espaço e tempo para que isso suceda sempre num ambiente de confiança e de entre ajuda.

Não esqueçamos que a maçonaria especulativa nasceu há mais de três séculos em Inglaterra, e que era uma escola de gentlemanship, vindo por isso bem embebida da cultura e valores desse país e dessa época.

Umgentleman era na altura (e ainda hoje...) alguém de quem se espera certa contenção, certa reserva no trato, uma dose de circunspeção que evite a precipitação nas conclusões, incessantes mudanças de opinião ou, até, a exteriorização de mais asneiras do que as circunstâncias o permitam, podendo fazê-lo cair em descrédito...

Diz-se, às vezes a brincar, que o grande segredo é que não há segredo nenhum; é quase isso. Para além do enunciado, não há mais "segredos" que possam servir seja para o que seja. Não há ingredientes mágicos, fórmulas secretas ou passagens ocultas; apenas o salientar de uma característica importante num cidadão maduro. 

É que aprender a calar-se é algo que demora tempo, especialmente numa sociedade em que tudo é cada vez mais transparente.

É, precisamente, para a aprendizagem do refrear-se, do não dizer tudo o que nos passa pela cabeça, do guardar o que se pretende dizer para o momento que seja mais apropriado, que serve o "segredo".

Este não é mais do que mera ferramenta de trabalho, um exercício de vontade, no sentido de levar os maçons a aprender a guardar para si as - eventualmente injustas, possivelmente erradas, certamente precipitadas - primeiras impressões acerca do que quer que seja.


A/D

O RITO DE INICIAÇÃO: UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA


O presente trabalho busca estabelecer alguns conceitos antropológicos para se analisar, em seguida, o rito de iniciação maçônico no R.’.E.’.A.’.A.’. como uma busca de apaziguamento da ânsia do sagrado que a humanidade vem procurando nos últimos tempos.

A Função Social do Rito
Um dos componentes fundamentais dos grupos e das sociedades humanas é o processo ritual. Os ritos e as cerimônias permeiam todo o grupamento social, desde as sociedades primitivas até as modernas sociedades pós-industriais.

Os antropólogos contemporâneos afirmam que temos um comportamento ritual quando amamos e fuzilamos, quando nascemos e morremos, quando noivamos ou casamos, quando ordenamos e oramos.

Os rituais revelam os valores mais profundos do comportamento humano e o estudo dos ritos tornou-se a chave para compreender-se a constituição essencial das sociedades humanas.

Se o processo ritual é tão remoto quanto a própria criação do Homem, o estudo sistemático e científico dos ritos advém com a formação da antropologia no século XIX.

Estudam-se hoje os ritos como um fenômeno social que possui um espaço independente, isto é, como um objeto dotado de uma autonomia relativa em termos de outros domínios do mundo social, e não mais como um dado secundário, uma espécie de apêndice ou agente específico e nobre dos atos classificados como mágicos pelos estudiosos.

Essa autonomia relativa da antropologia foi conseguida a duras penas no processo de formação da própria antropologia. Os antropólogos ingleses, da época vitoriana, evolucionistas e etnocêntricos, estudavam os fenômenos mágicos e ritualísticos das sociedades primitivas como um meio, no fundo, de provar a superioridade biológica e cultural do europeu de então.

Para os estudiosos da época, o ritual não surgia como algo socialmente relevante, pois nem mesmo o fato social existia conceitualmente como algo socialmente independente, como viria a ser descoberto pela sociologia de Durkheim posteriormente.

Para os antropólogos vitorianos, por desconhecerem o fato social, reduzia-se o mesmo às suas componentes biológica, psicológica ou geográfica.

Para os reducionistas biológicos, os fenômenos sociais ou antropológicos eram explicados como resultantes de tensões e caracteres raciais. O social submergia no biológico do mesmo modo que o diferente, o outro, desaparecia na sua história natural.

Na outra vertente, a do reducionismo psicológico do século XIX, o social se liquefaz na vontade dos agentes individuais, vontade, depois projetada, por meio de um fiat obscuro para toda a sociedade. Segundo o antropólogo brasileiro Roberto da Matta, na apresentação do livro clássico de Van Gennep, Os Ritos de Passagem, “Tylor é um excelente exemplo desta posição (psicológica). Ele (Tylor) explica a origem da religião como uma especulação na crença da alma, especulação que nasce dos sonhos dos primitivos.

Sonhando com tudo e principalmente com os mortos, os homens primitivos descobrem diz Tylor a noção de alma, de imagem, de duplo e assim constroem o domínio do ‘outro mundo’, o domínio do sagrado e do sobrenatural. Descobrem também, segundo o mesmo estudioso, que pode haver uma relação entre os dois domínios e procuram então controlar um pelo outro.

Estaria agora fundada a estrutura mais elementar da religião: a crença em espírito e em almas e a condição necessária a esta crença, a divisão entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Daí, como sabemos o nome ‘animismo’ para designar a religiosidade básica e enganada do primitivo. Nesta perspectiva psicológica, que engloba estudiosos de Tylor e Frazer, o interesse é discutir o religioso em suas formas mais primitivas, fazendo um corte evidente entre as religiões com tradição escrita (do Ocidente e, às vezes, das grandes civilizações) e a magia, forma de religiosidade vigente nos grupos tribais, selvagens e primitivos” (pg. 13).

A terceira variante explicativa era a do reducionismo geográfico ou ecológico. Reduzia-se, mais uma vez, o social à dinâmica dos climas, dos solos, das vegetações, do regime de chuvas e ventos. Presume-se que até mesmo o escritor brasileiro Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, sofreu este reducionismo geográfico ao explicar o comportamento do sertanejo.

Todos esses três reducionismos biológico, psicológico e geográfico liquidam o social como um fenômeno específico de estudo. Contudo, a tomada do fato social como um fenômeno não explicável nem pela biologia, nem pela psicologia e muito menos pela geografia, nasce da tradição francesa de Comte e, sobretudo pela sociologia de Émile Durkheim.

Já não se trata aqui de subdividir o social para estudá-lo, fazendo dele um fenômeno individualizado e redutível a uma de suas partes, mas tomar o estudo da sociedade, partindo de sua totalidade.

O social adquire então a sua feição contemporânea: são fatos capazes de coagir e, sobretudo de não serem redutíveis a seus componentes geográficos, psicológicos, etc.

Não se negam estes aspectos biológico, psicológico e geográfico do fato social ou cultural, mas não é isso que os faz socialmente significativos. Pela sociologia de Durkheim, somente quando se tornam socialmente significativos é que são levados em consideração.

O modelo a ser apresentado para a análise do ritual de iniciação maçônico não será, contudo o de Durkheim, que escreveu sobre a magia e a religião, por ser o seu foco centrado na religião elementar, nas formas mais simples da vida religiosa, como também por apresentar uma polaridade rígida entre o sagrado e o profano.

O modelo escolhido será então o de Van Gennep, no seu famoso “Ritos de Passagem”. Esse autor não toma mais o rito como um apêndice do mundo mágico ou religioso, mas como algo em si mesmo.

Como um fenômeno dotado de certos mecanismos recorrentes (no tempo e no espaço) e também de certos conjuntos de significados, o principal deles sendo o de realizar uma espécie de costura entre posições e domínios sociais, pois a sociedade é concebida em Van Gennep como uma totalidade dividida internamente.

Se Durkheim percebe a sociedade composta de um sistema coercitivo de regras, sobretudo as regras penais e religiosas, com uma divisão interna entre o sagrado e o profano, Van Gennep concebe o sistema social como estando departamentalizado, como uma casa, com os rituais sempre ajudando e demarcando os quartos e as salas, os corredores e as varandas, por onde circulam as pessoas e os grupos na sua trajetória social.

Concebendo a sociedade como internamente dividida, Van Gennep introduz um dinamismo no mundo social que nem vitorianos nem durkheimianos foram capazes de reconhecer. Se a divisão clássica entre o sagrado e o profano é vista como cerne e raiz do mundo social, Durkheim trabalha numa perspectiva dualista do mundo, com um jogo do sagrado ao profano, do mecânico ao orgânico, como domínios fixos e mutuamente exclusivos. Em suma, Durkheim é um evolucionista de sequências duais e também um sociólogo dos pontos polares, jamais das margens e das posições mais confusas, quando a totalidade social não se encontra nem no pólo do sagrado nem do profano.

Em Van Gennep, o sagrado e o profano são totalmente relativos, pois sempre haverá um lado mais sagrado dentro da própria esfera tomada como sagrada, o mesmo sendo válido para o profano. O sentido não estará equacionado a uma essência do sagrado (ou profano), mas na sua posição relativa dentro de um contexto de relações.

Van Gennep no seu “Ritos de Passagem” estuda diversos ritos, tais como: da porta e da soleira, da hospitalidade, da adoção, da gravidez e parto, do nascimento, da infância, da puberdade, da iniciação (que nos interessará mais de perto), da ordenação, do noivado, do casamento, dos funerais, das estações, etc.

Ele separa antologicamente os ritos em três grandes subdivisões: ritos de separação, ritos de margem e ritos de agregação. Segundo Van Gennep (1978, pg.31) “essas três categorias secundárias não são igualmente desenvolvidas em uma mesma população nem em um mesmo conjunto cerimonial. 

Os ritos de separação são mais desenvolvidos nas cerimônias dos funerais, os ritos de agregação nas do casamento. Quanto aos ritos de margem, podem constituir uma seção importante, na gravidez, no noivado, na iniciação, ou se reduziriam ao mínimo na adoção, no segundo parto, no novo casamento, na passagem da segunda para a terceira classe de idade etc. 

Se, por conseguinte, o esquema completo dos ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares (separação), liminares (margem), e pós liminares (agregação), na prática estamos longe de encontrar a equivalência dos três grupos, quer no que diz respeito à importância deles quer no grau de elaboração que apresentam.

Além disso, em certos casos, o esquema se desdobra, o que acontece quando a margem é bastante desenvolvida para constituir uma etapa autônoma. Assim é que o noivado constitui realmente um período de margem entre a adolescência e o casamento.

Mas, a passagem da adolescência ao noivado comporta uma série especial de ritos de separação, de margem e de agregação à margem. A passagem do noivado ao casamento supõe uma série de ritos de separação da margem, de margem e de agregação ao casamento.

Esta mistura é também verificada no conjunto constituído pelos ritos de gravidez, do parto e do nascimento. “Embora procure agrupar todos esses ritos com maior clareza possível, não escondo que, tratando-se de atividades, não se poderia chegar nestas matérias a uma classificação tão rígida quanto a dos botânicos, por exemplo”.

Antes de terminar esta parte teórica convém tecer algumas considerações sobre o sagrado e o profano. Segundo ainda Van Gennep (pg.25) “toda sociedade contem várias sociedades especiais, que são tanto mais autônomas e possuem contornos tanto mais definidos quanto menor o grau de civilização em que se encontra a sociedade geral.

Em nossas sociedades modernas só há separação um pouco nítida entre a sociedade leiga e a sociedade religiosa, entre o profano e o sagrado... Entre o mundo profano e o sagrado há incompatibilidade, a tal ponto que a passagem de um ao outro não pode ser feita sem um estágio intermediário...

À medida que descemos na série das civilizações, sendo esta palavra tomada no sentido mais amplo, constatamos a maior predominância do mundo sagrado sobre o mundo profano, o qual nas sociedades menos evoluídas que conhecemos, engloba praticamente tudo. Nascer, parir, caçar etc. são então atos que se prendem ao sagrado pela maioria de seus aspectos...

Se em nossas sociedades a solidariedade sexual é reduzida ao mínimo teórico, entre os semi-civilizados desempenha considerável papel em consequência da separação dos sexos nas questões econômicas, políticas, e sobretudo mágico-religiosas... A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra e de uma ocupação a outra.

Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios a aprendizagem, e que entre os semi-civilizados consistem em cerimônias, por que entre eles nenhum ato é absolutamente independente do sagrado.

“Toda alteração na situação de um indivíduo implica ai ações e reações entre o profano e o sagrado, ações e reações que devem ser regulamentadas e vigiadas, afim de a sociedade geral não sofrer nenhum constrangimento ou dano”.

Mircea Eliade (1958, pg.9), por sua vez, afirma que “a originalidade do homem moderno, sua novidade com respeito às sociedades tradicionais, está precisamente na vontade de considerar-se como um ser unicamente histórico, no desejo de viver em um Cosmos radicalmente dessacralizado...

Em certo sentido, podemos dizer que, para o homem das sociedades arcaicas, a História está fechada, esgotadas em uns quantos acontecimentos grandiosos do começo. Ao revelar aos polinésios, in illo tempore, as modalidades da pesca em alto mar, o herói mítico esgotou de uma só vez as possíveis formas desta atividade; desde então, cada vez que vão pescar, os polinésios repetem o gesto exemplar do herói mítico: imitam um modelo transumano”.

O homem moderno perdeu o contato com o sagrado em muitas ações diárias. Frequentemente, viajamos dentro do país e ao exterior como fatos absolutamente corriqueiros. Nas sociedades arcaicas, as viagens eram raras, e antes de viajar realizavam-se cerimônias de purificação (rito de separação) para que o viandante não se poluísse ao entrar em contato com o estrangeiro. Ao chegar ao destino, o viajor poderia ou não ser recepcionado com um banquete (rito de agregação) que significava o seu ingresso em outra dependência do sagrado.

Contudo, por mais profanos que sejamos no mundo moderno, ainda mantemos os rituais, na maioria das vezes de forma inconsciente. Observe-se, por exemplo, as despedidas dos astronautas em Cabo Kennedy, momentos antes de partir em viagem de exploração. A cerimônia de despedida não deixa de ser um rito de separação, o tensionamento da viagem está inserido num rito de margem e quando a viagem é bem sucedida o retorno triunfal se insere num rito de agregação.

Visto esta parte mais conceitual, tenta-se agora aplicar tais conceitos vangennepianos ao rito de iniciação.

Análise do Rito de Iniciação

A ânsia do sagrado no mundo moderno também faz parte do ideário do maçom que busca sair do profano em direção ao sagrado.

Uma vez iniciado, o aprendiz evade-se um pouco de um mundo essencialmente profano e ingressa numa área um pouco mais sagrada, buscando alcançar o grau de companheiro, para finalmente atingir a plenitude maçônica. A senda em busca de apaziguar esta ânsia do sagrado prossegue nos altos graus e por que não dizer só termina com a morte.

Todo este período, que vai da iniciação até a morte terrena, pode ser chamado de um rito de margem ou de liminaridade, pois o processo de aprendizagem e maturação só encontrará o seu final, para efeito de análise, na morte terrena. Dentro desse período de margem de longo prazo, assistir-se-á aos mais diversos ritos de passagem de um grau para o outro.

Esta análise somente levará em conta o período de iniciação propriamente dito. A cerimônia de iniciação será, assim, o rito de passagem do mundo profano ao mundo sagrado.

Vejamos a introdução e a preparação do neófito. Denota-se já aqui um rito de separação, pois o mesmo não é separado dos metais, talvez simbolizando o despojamento de suas riquezas do mundo profano? Nem nu nem vestido simbolizando o desnudamento das vestes profanas, como num ritual de separação, pedindo humildemente o ingresso no sagrado.

A venda dos olhos simboliza a morte de um órgão vital estratégico que deverá renascer em um novo estágio de consciência compatível com um recinto mais sacralizado. A Câmara, o testamento, a prova da Terra seriam, mais uma vez, a morte do profano para um renascimento mais consciente em outra esfera do sagrado. Simbolicamente esta descida aos infernos ou pelo menos às profundezas da terra, como nos antigos mistérios greco orientais, seria rito de separação para uma longa viagem.

As outras três provas, já no interior do templo, podem ser vistas como ritos de aprofundamento de passagem, de purificação crescente, agora defronte os altares da Beleza, da Força e da Sabedoria. Podem ser analisadas como ritos de margem neste vestibular espiritual para uma esfera mais sagrada. Neste processo de alquimia mental e espiritual estaria se matando, homeopaticamente, o profano para o renascer, simbolicamente doloroso e ao mesmo tempo glorioso, do aprendiz tateante.

E aqui nos socorremos de Mircea Eliade (1958, pg. 12) quando diz que “a maior parte das provas iniciáticas implicam de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual se seguiria uma ressurreição ou novo nascimento. O momento central de toda iniciação vem representado pela cerimônia que simboliza a morte do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas o que volta à vida é um homem novo, assumindo um modo de ser distinto. A morte iniciática significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da condição profana”.

O batismo de sangue significaria o começo de um ritual de agregação, algo que na Igreja Católica se chama de Comunhão dos Santos, isto é, o iniciante depois de purificado pelas provas começaria a participar, a ser agregado simbolicamente à comunhão de todos os maçons.

O juramento teria algo do rito de margem, pois o iniciante, já agora menos poluído pelo profano e mais ciente do sagrado, teria então os pré-requisitos mínimos para um juramento mais consciente.

O nascimento o fiat lux pode ser analisado como o nascer biológico do novo ser, um rito de agregação ao mundo da Luz e da comunidade dos irmãos, que, em seguida, é batizado pelo ritual de iniciação propriamente dito. Nasce-se e imediatamente se é iniciado, sem perda de tempo, em suma, um rito sumário de agregação, a culminância do processo iniciático.

A passagem dos segredos de reconhecimento pode ser entendida como um reforço do ritual de agregação, um modo e um processo de comunicação rápido e instantâneo para melhor agregar a comunidade dos eleitos. Os aventais seriam, então, a nova vestimenta do sagrado para cobrir a nudez simbólica do ex-profano.

E por último, mas não menos importante, o banquete, que não fazendo parte direta da cerimônia do templo, insere-se num contexto de um ritual de reagregação. Aqui, já se está de volta ao mundo profano, mas como alguém que circulou pela esfera do sagrado e volta ao mundo profano aureolado pela sacralidade. É como uma espiral; deu-se um giro de 360º, mas num outro nível, outro patamar; está-se no mundo profano mas como um ser consagrado.

 Conclusão

A sociedade moderna assiste, cada vez mais, ao crescimento da onda avassaladora do profano em relação ao sagrado. Os núcleos de sacralidade são como pequenas ilhas no imenso oceano do profano. Tem razão Mircea Eliade (1958, pg. 9) quando afirma que “uma das características do mundo moderno é o desaparecimento da iniciação. De capital importância nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente inexistente na sociedade ocidental de nossos dias.

É bem verdade que as diferentes confissões cristãs conservam, em diferentes graus, vestígios de um Mistério iniciático. O batismo é essencialmente um rito iniciático; o sacerdócio implica uma iniciação.

Não se deve esquecer que o cristianismo triunfou precisamente e chegou a ser uma religião universal senão por ter se liberado dos Mistérios Greco orientais, proclamando ser uma religião de salvação acessível a todos”.

Essa tendência secular de profanização da sociedade tem encontrado, contudo, nos últimos tempos, uma busca, por parte de alguns homens, de uma volta ao sagrado, ou um revolta contra o monopólio do profano, o que talvez tenha contribuído para que L. Kolakowski escrevesse o seu famoso ensaio em 1973: “A Revanche do Sagrado na Cultura Profana”.

Talvez se assista, no limiar do século XXI, a uma revivescência espiritual. As grandes religiões, que sempre foram matrizes de moralidade exotérica, estão em crise neste final do milênio, e estão sofrendo um processo crescente de profanização de sua cultura religiosa.

A luta frenética de alguns fundamentalismos, principalmente os de base muçulmana, para barrar o processo de modernização, inevitável no mundo atual, é prova cabal. 

Na faixa esotérica, considera-se a Maçonaria como uma das mais poderosas alavancas do sagrado no mundo laico, que avidamente necessita dos eternos valores maçônicos.

A resultante da crise deverá ser, não a negação das ciências e das liberdades humanas mais fundamentais, não uma volta ao passado preconceituoso, supersticioso e retrógrado, mas a busca de uma nova moralidade, que incorpore as raízes profundas da Verdadeira Tradição, compatibilizando-a com a Liberdade e a Ciência.

E, neste momento, cremos profundamente que a maçonaria terá um papel de escol a desempenhar.
Pelo Ven.’. Ir.'. William Almeida de Carvalho 33

Bibliografia
CASTELLANI, José, O Rito Escocês Antigo e Aceito, ed. Trolha, Londrina, 1988.
COIL, Henry Wilson, Coil’s Masonic Encyclopedia, Macoy, Virginia, 1995.
ELIADE, Mircea, Iniciaciones Misticas, ed. Taurus, Espanha, 1958.
ELIADE, Mircea, O Reencontro com o Sagrado, Ed. Nova Acrópole, Lisboa, 1993.
FRAZER, James George, O Ramo de Ouro, Círculo do Livro – Zahar, São Paulo, 1986.
LALANDE, André, Vocabulaire de la Philosophie, PUF, Paris, 1960.
Encyclopaedia Britannica, 30 vol., 1982
PIKE, Albert, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry,
Charleston, 1871.
TURNER, Victor, O Processo Ritual, ed. Vozes, Petrópolis, 1974. 
VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem, ed. Vozes, Petrópolis, 1978.


O SIMBOLISMO NA MAÇONARIA E O TRABALHO



AS FUNÇÕES INTELECTUAL SUPERIOR E EMOCIONAL SUPERIOR DO SISTEMA DE GURDJIEFF

A Maçonaria tem sido definida ao longo do tempo por vários modos, entre eles como um “sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”.

Nas instruções ministradas na Ordem, aspectos essenciais deste sistema são expostos paulatinamente, a partir da observância de rituais que remontam às “Escolas de Mistérios da Antiguidade”.

Alguns autores que escrevem sobre a “Arte Real” ensinam que “quando a Maçonaria Livre e Aceita começou a ter uma vida própria, separada da Maçonaria Operativa, ela usava símbolos e emblemas para lembrar a seus membros os princípios morais e espirituais inerentes á sociedade. Ao longo do período em que se deu esse desenvolvimento, (...) o uso geral dos símbolos era uma prática comum e de uso cotidiano; assim, a sua incorporação em qualquer instituição esmerada, tal como a dos Maçons Especulativos, não seria nada extraordinária”.

Esses são os sistemas que, no passado, eram chamados de “Mistérios”, entre eles os do Egito, os da Pérsia, os de Elêusis, na Grécia e outros na Babilônia, Roma e nos grandes centros da alta antiguidade.

A esse respeito, na “Introdução sobre a Doutrina Esotérica” que abre a grande obra do Sr. Èdouard Schuré em português (“Os Grandes Iniciados”), enfatiza-se que “todas as religiões têm uma história exterior e uma história interior; uma aparente, outra oculta.

Por história exterior entendo os dogmas e os mitos ensinados publicamente nos templos e nas escolas, reconhecidos no culto, e as superstições populares.

Por história interior entendo a ciência profunda, a doutrina secreta, a ação oculta dos grandes iniciados, profetas ou reformadores que criaram, sustentaram, propagaram estas mesmas religiões.

Esta é a “tradição esotérica ou doutrina dos mistérios, é bastante difícil de discernir, pois ela se passa no fundo dos templos, nas confrarias secretas, e seus dramas mais surpreendentes se desenrolaram inteiramente no mais profundo das almas dos grandes profetas, os quais não confiaram suas crises supremas ou seus êxtases divinos a nenhum pergaminho e também a nenhum de seus discípulos”.

Estes círculos exotéricos e esotéricos delimitam a fronteira entre a humanidade mecânica e o trabalho isto é, entre a "Torre de Babel" ou o "Reino da Confusão das Línguas" e a busca através de "sofrimentos intencionais e esforços conscientes" do conhecimento de si.

Podem ser visualizados nas esferas concêntricas que demonstram as dimensões exotérica, mesotérica e esotérica da vida. A passagem de uma a outra compreende uma fase "transicional" de tomada de decisão, de rompimento da dualidade e formação da tríade no ser humano, isto é, a criação de uma linha contínua de resultados.

Com toda a sua sagacidade, o filósofo Greco-armênio, Georges Ivanovitch Gurdjieff, expressava sua interpretação das escolas de conhecimento e de mistérios como meios de transmissão de verdades arcanas que não poderiam ser traduzidas nos marcos da linguagem convencional. Segundo ele deveria haver uma “ciência objetiva”, uma unidade de todas as coisas e “procurava-se, pois, colocá-la em formas capazes de assegurar sua transmissão adequada, sem risco de deformá-las ou corrompê-las”.

Assim, “dando-se conta da imperfeição e da fraqueza da linguagem usual, os homens que possuíam a ciência objetiva tentaram exprimir a ideia da unidade sob a forma de ‘mitos’, “símbolos” e ‘aforismos’ particulares que, tendo sido transmitidos sem alteração, levaram essa ideia de uma escola a outra, freqüentemente de uma época à outra”.

Estas ideias não atuavam sobre os estados convencionais, normais de consciência do homem, mas sobre níveis superiores, o que ele denominava “centro emocional superior” e o “centro intelectual superior”. Ao primeiro, o “centro emocional superior”, destinavam-se os mitos, ao segundo, o “centro intelectual superior”, os símbolos.

A Maçonaria, portanto, elegeu como meio por excelência de aprendizagem a simbologia herdada tradições do passado que permeiam as instruções dos seus graus e seu Manual de Ritualística. Resultante da confluência mais recente das velhas Oficinas operativas de Roma e da Itália em seus albores, das corporações de ofício medievais e das contribuições dos filósofos herméticos e mestres da "Arte Real, esta nobre Ordem é a guardiã no Ocidente de um corpo de verdades que são incorporadas pelo Obr.'. através do trabalho consciente em Loj.'.. Isso significa que na verdadeira Maçonaria, assim como no "Trabalho", nenhuma transformação pode se operar sem que haja uma "harmonização" do Templo interno e do externo, do físico, do emocional e do intelectual. Tal como no "Quarto Caminho" nada é possível sem que os centros sejam harmonizados, tanto é que ao entrar no Temp.'. físico o cortejo de MM.'. deve, conduzido pelo M.'. de Cer.'., entrar em um "oceano de tranquilidade".

Na Maç.'., mais que em outras ordens, prerrogativas fundamentais do trabalho estão presentes. Em primeiro lugar, a necessidade de ser um bom "Chefe de Família", alguém que tenha responsabilidades e as cumpra. Ao contrário das falsas "ordens" de adolescentes (bruxaria, satanismo, simulacros da "Golden Dawn" e Thelema e mesmo da "Rosa Cruz" mercadológica) a Maçonaria exige que o M.'. seja trabalhador, tenha renda e seja fiel às suas obrigações no casamento e com a família.

Gurdjieff advertia que nenhum lunático ou vagabundo poderia ingressar no trabalho. Nenhum lunático ou vagabundo pode ser iniciado na Maçonaria.

Outras exigências da condição maçônica também são similares às do Trabalho. É indispensável uma vida sexual saudável e sem aberrações. Também é preciso tempo e recursos para cumprir obrigações maçônicas e socorrer aos homens.

È fundamental a humildade porque no trabalho das oficinas todos os Obr.'. são iguais e regidos pelo nível. Em uma Loj.'. mesmo o Ven.'. M.'., caso transgrida os rituais ou a Lei Maçônica pode ser corrigido pelos IIr.'. O objetivo da Maçonaria, assim como no Grupo do Quarto Caminho ou a "Sangha" budista é escapar da "prisão do mundo material" e esse ato não se executa sem ajuda mútua. Por isso, equivocadamente, a Ordem foi confundida por tanto tempo como uma Sociedade de Socorro Mútuo. De certa forma não deixa de sê-lo.

Porém, ser Maçom não significa que se está no Trabalho Real.. No Trabalho Real de um Grupo Gurdjieff é preciso sempre estar trabalhando não apenas exteriormente, mas, sobretudo interiormente. Nas Loj.'. se diz um Ir.'. que está indisposto com outro Ir.'. não deve comparecer a suas reuniões para não comprometer a Egrégora.

Porém, nem sempre este mandamento é levado a sério na prática. Em sentido amplo, no Trabalho, as coisas não são vistas tão "formalmente" e o mestre de um Grupo pode tomar decisões mais ou menos duras que soem como destempero ou demasiadamente violentas.

Nesse sentido, o "Trabalho" transcende todo o resto e penetrar nele, como diria Nicoll, é submeter-se a mais Leis ainda que o comum dos mortais na Terra. É preciso estar ciente disso antes de tomar qualquer decisão preliminar sobre ele.

Autor não identificado.


OS DEGRAUS DO TEMPLO MAÇÔNICO


INTRODUÇÃO
Nos Templos onde as Lojas trabalham sob a égide do REAA existem DEZ degraus que expressam uma hierarquia e, nós maçons, devemos procurar entender o significado da sua escalada, pois, eles nos conduzem a uma liderança e quando galgado por irmãos não preparados levam a Loja à desarmonia.   

Por unanimidade dos autores da literatura maçônica os degraus  dos Vigilantes não têm nomes, os demais, segundo a maioria dos autores, possuem nomes com seus respectivos significativos.

DESENVOLVIMENTO         

No Ocidente
Temos um degrau na mesa do segundo vigilante: e dois na do primeiro vigilante significando, portanto, uma hierarquia existente.                     

No Oriente  
Temos separando o Ocidente do Oriente quatro degraus.

É o Oriente o lugar dos Mestres Instalados que ali chegaram através de estudo, experiências e vivência maçônica.              

O primeiro o da FORÇA corresponde a todo o Ocidente da Loja e representa o conjunto da força física e espiritual dos irmãos, em torno do Venerável, e, quanto mais unidos estiverem todos, mais forte será esse degrau.
Seguem-se os três degraus seguintes entre as duas grades, pelos quais subimos para o Oriente.        

O segundo degrau é o do TRABALHO que corresponde simbolicamente o desbastar pedra bruta, o desbastar das nossas imperfeições no nosso caminho em busca da evolução.  Significa também trabalho de saber conduzir uma Loja mantendo todos os obreiros em harmonia. Significa ainda o exercício do honesto trabalho das oito horas diárias, para garantia do sustento digno para a nossa família.        

O terceiro degrau é o da CIÊNCIA, que se consegue através do estudo. O aprendizado constante que leva à Sapiência ou à Sabedoria. É o conhecimento das coisas e das causas, que libera o nosso espírito para entender a filosofia que cultivamos (combate incessante a Intolerância, a Ignorância e ao Fanatismo). 

É através da ciência que  Deus se manifesta onde o homem é seu instrumento.       

O quarto degrau é o das VIRTUDES, que habita o Ocidente e os quatro cantos da Loja, cuja prática é indispensável para a subida da Escada de Jacó, essa noção emblemática da nossa escola de Regeneração.       

Nesse momento atingimos o Oriente e para chegarmos ao Santo dos Santos, que está por baixo do dossel, necessitamos ascender mais três degraus, antes de sentarmos na Cadeira de Salomão.

O primeiro degrau é o da PUREZA de sentimentos e de conduta diante do próximo, sem subterfúgios, calúnias, agindo com sinceridade e transparência, em todos os momentos da nossa vida. É o agir sem preconceitos e evitar a prática do mal.    

O  segundo degrau é a LUZ, a nossa opção contra as TREVAS. O caminho do bem, sempre pronto a combater o mal. A compreensão da sua existência sobre a Terra. A abertura da Inteligência a um nível mais alto. A iluminação do espírito e da consciência, o momento esperado quando vemos a Estrela Flamígera, apanágio de poucos. 

A Luz que nos invade o corpo e nos enche de alegria que nós conduz à presença do Criador.     

O terceiro degrau é o da VERDADE, de onde julgaremos e onde seremos julgados por todos, e se passarmos sem mácula, e através de um procedimento justo, exemplar e reto, faremos a Loja progredir e brilhar. Neste patamar da escalada evolutiva mereceremos então receber o título de Venerável, aquele que deve ser honrado por sua Loja.

 CONCLUSÃO
Concluo refletindo que o Oriente DEVE ser constituído de destacados e virtuoses Obreiros. Se a qualidade moral, cultural e ética das pessoas que compõem a Loja é ruim, de que adianta o mais sábio dos homens em sua presidência?

Quem faz uma Loja, quem dá luz ao espetáculo, quem brilha de fato, não é o venerável, o Grão-Mestre, são todos os membros Unidos na oficina e abençoados pelo Incriado. Aquele que sobe o último degrau e já introjetou s filosofia dos demais serve aos que estão em degraus inferiores.

Na ordem maçônica, o mestre maçom está empenhado em um processo de melhoria interminável onde não deve ser visto o poder pelo poder, mas pelo servir. Para obter sucesso o não servir coloca em cheque o que os degraus nos orientam, e quanto mais nós subirmos na hierarquia da Loja, mais se empenhados deveremos ser em servir e isto nos proporcionará verdadeiro e natural poder e Capacidade de refletir a sabedoria gerada nos demais Quadrantes do Templo.

Autor: José Geraldo da Cruz Oliveira


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