O ESTUDO DA ORDEM E DOUTRINA MAÇÔNICA


Qualquer que tenha sido o vosso propósito e o anseio de vosso coração ao ingressar na Augusta Instituição que fraternalmente vos acolheu como um de seus membros é certo que não tereis entendido, a princípio, toda a importância espiritual deste passo e as possibilidades de progresso que com ele vos foram abertas.
A Maçonaria é instituição hermética no tríplice e profundo sentido da palavra. O segredo maçônico é de tal natureza, que não pode nunca ser violado ou traído, por ser mística e individualmente realizado por aquele maçom que o busca para usá-lo construtivamente, com sinceridade e fervor, absoluta lealdade, firmeza e perseverança no estudo e na prática da arte.
A Maçonaria não se revela efetivamente senão a seus adeptos, aqueles que a ela se doam por inteiro, sem reservas mentais, para tornarem-­se verdadeiros maçons, isto é, obreiros iluminados da inteligência construtora do universo, que deve manifestar-­se em sua mente como verdadeira luz que ilumina, desde um ponto de vista superior, todos os seus pensamentos, palavras e obras.
Isto é conseguido por intermédio das provas que constituem os meios pelos quais se torna manifesto o potencial espiritual que dorme em estado latente na vida rotineira, as provas simbólicas iniciais e as provas posteriores do desânimo e da decepção. 
Quem se deixar vencer por elas, assim como aquele que ingressar na associação com um espírito superficial, deixará de conhecer aquilo que a ordem encerra em sua forma e seu ministério exterior: deixará de conhecer seu propósito real e a força espiritual oculta que interiormente anima a ordem.
O tesouro acha-­se escondido profundamente na terra. Só escavando, buscando-­o por debaixo das aparências, pode-se encontrá-lo. Quem passa pela instituição como se fosse uma sociedade qualquer ou um clube de serviço, não pode conhecê-­la: somente permanecendo nela longamente, com fé, esforçando-se e tornando-se maçom, reconhecendo o privilégio inerente a esta qualidade, ela revelará o tesouro oculto.
Deste ponto de vista, e qualquer que seja o grau exterior que se possa conseguir, ou que já tenham sido conferidos para compensar de alguma forma os anseios e desejos de progresso, dificilmente pode-­se realmente superar o grau de aprendiz.
Na finalidade iniciática da ordem, somos e continuaremos sendo aprendizes por um tempo muito maior que os simbólicos três anos de idade. Oxalá fossemos todos bons aprendizes e continuássemos sendo-o por toda nossa existência!
Se todos os maçons se esforçassem primeiro em aprender, quantos males têm sido lamentados e que ainda serão lamentados, não mais teriam razão de existir.
Ser um aprendiz, um aprendiz ativo e inteligente que envida todos os esforços para progredir se iluminando no caminho da verdade e da virtude, realizando e colocando em prática, fazendo-­a carne de sua carne, sangue de seu sangue e vida de sua vida, a doutrina iniciática que se encontra escondida e é revelada no simbolismo do grau, é, sem dúvida, muito melhor que ostentar o mais elevado grau maçônico. Permanecendo na mais odiosa e destruidora das ignorâncias dos princípios e fins sublimes de nossa ordem não levam à evolução.
Não devemos ter pressa na ascensão a graus superiores. O grau que nos foi outorgado, e pelo qual exteriormente somos reconhecidos, é sempre superior ao grau real que alcançamos e realizamos interiormente, e a permanência neste primeiro grau dificilmente poderá ser taxada de excessiva, por maiores que sejam nossos desejos de progresso e os esforços que façamos nesse sentido.
Compreender efetivamente o significado dos símbolos e cerimônias que constituem a fórmula iniciática deste grau, procurando a sua prática todos os dias da vida é melhor que sair prematuramente dele, ou desprezá-­lo sem tê-­lo compreendido.
A condição e o estado de aprendiz referem-­se, de forma precisa, à nossa capacidade de apreender; somos aprendizes enquanto nos tornamos receptivos, abrindo-­nos interiormente e colocando todo o esforço necessário para aproveitarmos construtivamente todas as experiências da vida e os ensinamentos que de algum modo recebemos. Nossa mente aberta e a intensidade do desejo de progredir determinam esta capacidade.
Estas qualidades caracterizam o aprendiz e o distinguem do homem comum dentro ou fora da ordem. No profano, segundo se entende maçonicamente esta palavra, prevalecem a inércia e a passividade, e, se existe desejo de progresso, aspiração superior, encontram-se como que sepultados ou sufocados pela materialidade da vida, que converte os homens em escravos completos de seus vícios, de suas necessidades e paixões.
O que torna patente o estado de aprendiz é exatamente o despertar do potencial latente que se encontra em cada ser e nele produz um veemente desejo de progredir, caminhar para frente. Leva a superar todos os obstáculos e limitações, tira proveito de todas as experiências e ensinamentos que encontra em seus passos. Este estado de consciência é a primeira condição para que seja possível tornar-­se maçom em sentido lato.

Toda a vida é para o ser ativo, inteligente e zeloso, uma aprendizagem incessante. Tudo o que encontramos em nosso caminho pode e deve ser um proveitoso material de construção para o edifício simbólico de nosso progresso.
O templo que assim erigimos a cada hora, cada dia e cada instante à glória do Grande Arquiteto do Universo: é o princípio construtivo e evolutivo em nós mesmos. No fundo tudo é bom, pode e deve ser utilizado construtivamente para o bem: apesar de que possa ter-­se apresentado sob a forma de experiência desagradável, contrariedade imprevista, dificuldade, obstáculo, desgraça ou inimizade.
Eis o programa que o aprendiz deve esforçar-se em realizar na vida diária. Somente mediante este trabalho: inteligente, zeloso e perseverante, ele tem a possibilidade de converter-se em obreiro da inteligência construtora, e companheiro de todos os que estão animados pelo mesmo programa e finalidade interior.
O esforço individual é condição necessária para o progresso. O aprendiz não deve contentar-se em receber passivamente as ideias, conceitos e teorias vindas do exterior, e simplesmente assimilá-­las, mas trabalhar com estes materiais, e assim aprender a pensar por si mesmo, pois o que caracteriza a instituição maçônica são a mais perfeita compreensão e realização harmônica de dois princípios: liberdade e autoridade.
Estes se encontram amiúde em franca oposição ao mundo profano. Cada um deve aprender a progredir por meio de sua própria experiência e por seus próprios esforços, ainda que aproveitando segundo seu discernimento e experiência daqueles que procederam nesse caminho.
A autoridade dos mestres é simplesmente guia, luz e apoio para o aprendiz, enquanto não aprender a caminhar por si mesmo. Seu progresso será sempre proporcional aos seus próprios esforços. Assim é que esta autoridade, a única reconhecida pela Maçonaria, nunca será resultado de imposição ou coação, mas o implícito reconhecimento interior de superioridade espiritual, de um maior avanço na mesma senda que todos indistintamente percorrem. Aquela autoridade natural que somente conseguimos reconhecendo a verdade e praticando a virtude.
O aprendiz que realizar esta sublime finalidade da ordem reconhecerá que em suas possibilidades há muito mais do que fora previsto quando, inicialmente, pediu sua filiação e foi recebido como irmão.
O impulso que o moveu desde então foi radicalmente mais profundo que as razões conscientes determinantes. Naquele momento atuava nele uma vontade mais elevada que a da sua personalidade comum, sua própria vontade individual, a vontade do divino em nós. Seja ele consciente desta razão oculta e profunda que motivou sua filiação à augusta e sagrada ordem por suas origens, natureza e finalidades.
A todos é dado o privilégio e a oportunidade de cooperar para o renascimento iniciático na Maçonaria, para o qual estão maduros os tempos e os homens. Façamos-lo com aquele entusiasmo e fervor que, tendo superado as três provas simbólicas, não se deixa vencer pelas correntes contrárias do mundo nem arrastar pelo ímpeto das paixões nem desanimar pela frieza exterior, e que, chegando a tal estado de firmeza, amadurecerá e dará ótimos frutos.
Mas antes aprendamos o que é a ordem em sua essência: origem, significado da iniciação simbólica pela qual fomos recebidos. A filosofia iniciática da qual provêm os elementos. O estudo dos primeiros princípios e dos símbolos que os representam. A tríplice natureza e valor do templo alegórico de nossos trabalhos e a sua qualidade. A palavra dada para uso e que constitui o ministério supremo e central.
Receberemos assim o salário merecido como resultado de nossos esforços e nos tornaremos obreiros aptos e perfeitamente capacitados para o trabalho que de nós é exigido.
Texto extraído do livro Manual do Aprendiz Franco-Maçom
Sociedade de Ciências Antigas


O MAÇOM E A SOLIDARIEDADE

A Solidariedade é uma das marcas características do Homem, que o distingue das demais criaturas porque brota de seu íntimo e se origina da Lei Natural impressa pelo Criador em seu espírito. Basta atentarmos para as incontáveis tragédias que diuturnamente os meios de comunicação de massa nos colocam diante dos olhos.

Em meio aos quadros terríveis, alguns dantescos, invariavelmente aparecem, como anjos de misericórdia, aqueles que se doam a si mesmos para minorar os sofrimentos alheios, às vezes sob o risco ou até mesmo com o sacrifício de suas próprias vidas. 

Se formos ao dicionário, encontraremos como definição que Solidariedade é: “Adesão ou apoio, no sentido moral, à causa, empreendimentos, princípios, etc., de outros de tal forma que um indivíduo se vincula à vida, aos interesses e às responsabilidades de um grupo social, de uma nação ou da humanidade como um todo.”

Se nos voltarmos, agora, para a instituição maçônica veremos que nela a Solidariedade constitui uma das colunas mestras de  sua construção, dada a universalidade da Ordem.

É por meio desse sentimento que nos unimos, em espírito, a outros Irmãos Maçons, inclusive àqueles de cuja existência sequer temos conhecimento mas com quem, a cada dia, do meio-dia à meia-noite, trabalhamos espiritualmente para construir a Paz e erguer o Templo da Fraternidade Universal.  

Como diz a Quinta Instrução de Aprendiz, a Solidariedade é o laço que nos une e nos fortalece na luta incansável e ininterrupta que devemos manter contra os inimigos magnos da felicidade do Homem. Mas, ainda que exaltada dentro da Ordem, ela não pode ser praticada apenas dentro do universo maçônico e deixada de lado na vida profana.

Isso seria uma incoerência, porque antes de sermos Maçons somos irmãos universais, independente de nossas nacionalidades, cor, crença política ou religiosa.

Se semelhante nosso sofre, quem quer que seja ou onde esteja, nossa natureza comum de filhos do mesmo Pai deveria nos irmanar nesse mesmo sofrimento. Mas é justamente aí, na visão do sofrimento que se tornam nítidos os dois lados contraditórios do problema: Luz e Trevas. Por que, diante de tragédias dos últimos anos, como as de Biafra, Ruanda, Angola, Zaire, África do Sul, Bósnia, para citar apenas algumas das mais cruentas, se vemos exemplos da mais exaltada Solidariedade de um lado, de outro também se destaca uma fria Indiferença de tantas pessoas e mesmo nações?  

O monstro de crueldade, Stalin, que durante tantos anos dirigiu com mão de aço a União Soviética, disse certa vez que “uma morte é tragédia, mas milhões são apenas uma estatística” e a realidade do mundo de hoje continua dando razão àquela afirmação de crueza inaudita.

Quando o sofrimento se torna, apesar de concreto, uma mera abstração que desaparece ao apertar do botão da televisão ou do fechamento da página do jornal nós nos separamos dele, deixando de vê-lo sob a ótica da Lei Natural. Não nos irmanamos, pois, não o sentimos como nosso também; alienamos-nos dele, simplesmente.

Ao longo de minha vida, tanto profana como maçônica, tive a oportunidade de me deparar com inúmeras abordagens, textos e concepções sobre a Solidariedade, alguns superficiais, outros por demais filosóficos mas, alguns também de conteúdo maravilhoso e inspirador.

Dentre esses, lembro-me bem deste que se segue e que reproduzo na esperança de que sirva para alimentar a chama da Fraternidade e da Solidariedade em nossos corações, única forma de nos sentirmos verdadeiramente unidos e irmanados com todos os que sofrem e choram na solidão gelada em que são colocados pelo desamor.  “Um discípulo chegou-se a seu Mestre e perguntou-lhe:

- Mestre, qual a diferença entre o Céu e o Inferno?

Respondeu-lhe o Mestre:

- Vi um grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento. Ao redor dele estavam muitos homens famintos. Eles não podiam se aproximar do arroz, mas possuíam longos palitos de dois a três metros de comprimento. Pegavam, é verdade, o arroz mas não conseguiam levá-lo à própria boca porque os palitos eram muito longos.

E assim, famintos e moribundos, embora juntos, permaneciam solitários curtindo uma fome eterna diante daquela inesgotável fartura. Isso era o Inferno. - Vi outro grande monte de arroz, cozido e preparado como alimento.

Ao redor dele estavam muitos homens famintos, mas cheios de vitalidade. Eles não podiam se aproximar do arroz, mas possuíam longos palitos de dois a três metros de comprimento. Pegavam, é verdade, o arroz mas não conseguiam levá-lo à própria boca porque os palitos eram muito longos. “Mas, com seus longos palitos, ao invés de levá-los à própria boca serviam-se uns aos outros o arroz e assim saciavam sua imensa fome, numa grande comunhão fraterna, juntos e Solidários”. 
‘“Isso era o Céu.”

Reflitamos um pouco sobre o que essa parábola oculta em sua linguagem figurada e se o mundo hoje não é, em grande parte, aquele primeiro grupo de homens, juntos mas solitários, padecendo de fome diante da fartura. Ao depararmos com o sofrimento, o que sentimos?

O aguilhão da culpa, por nada fazermos, ou uma identificação? 

De nada serve racionalizar o problema, dizendo: “Não posso fazer nada. Esse problema está muito longe e não tenho como ir até lá” ou “Faço o que posso com quem está mais próximo de mim e sempre contribuo com o Tronco de Beneficência de minha Loja”. Pode-se fazer mais, sim.  

Pode-se estender a ponte e compartilhar o sofrimento em espírito.

Pode-se erguer os olhos para o Senhor da Compaixão e orar, em união com todo o sofrimento do mundo.  

Se for Solidário apenas porque uma regra me diz que devo sê-lo que mérito há nisso, se até uma criança é capaz de seguir regras, ainda que não saiba discernir o seu conteúdo?

Se for Solidário apenas com quem está mais próximo de mim, o que estou realizando se até mesmo os animais são capazes de defender os seus?

Cada um de nós recebeu, embutida no espírito pelo Criador, a semente da Solidariedade. Ela está dentro de nós mas não lhe damos um solo, não a irrigamos, não nos tornamos jardineiros. Carregamos a semente adormecida, encerrada em uma cela; não a colocamos na terra.

Temos medo que ela morra, o que é verdadeiro num certo sentido pois morrer ela precisa para que a árvore nasça. Cada desabrochar é morte e nascimento e a semente tem que morrer mas é precisamente por isso que temos medo, porque protegemos a semente.  

Diz uma história oriental que certo rei tinha três filhos, todos fortes e talentosos e estava indeciso e confuso quanto a qual deles entregar o reino. Assim, chamou um Mestre e perguntou-lhe o que deveria fazer para resolver o impasse.

O Mestre aconselhou-o a sair em uma longa viagem deixando com cada filho uma determinada quantidade de sementes de uma flor muito rara e dando-lhes instruções para que as preservassem o mais cuidadosamente possível, eis que suas vidas dependeriam disso. Satisfeito com o conselho do Mestre, o rei procedeu como lhe fora dito e partiu em viagem.

O filho mais velho era mais experiente nas coisas do mundo e calculou que o melhor seria guardar as sementes a salvo e assim poder devolvê-las a seu pai, intactas. Assim pensou e assim fez. Colocou-as em um cofre e pendurou a chave em uma corrente que levava permanentemente presa ao pescoço. 

O segundo filho calculou que sendo as sementes de uma flor muito rara, deveria vendê-las e fazer um bom dinheiro. Quando o pai retornasse, compraria outras sementes novas pois ninguém saberia dizer a diferença. Assim pensou e assim fez.  

O terceiro filho era menos experiente nas coisas do mundo e mais inocente e calculou que as sementes deveriam ter um significado. Pensou consigo mesmo, “As sementes existem para crescer. A própria palavra já tem o sentido de Origem, o que indica que ela é uma busca e a menos que se torne algo, não tem significado. Ela é como uma ponte que se tem que atravessar”. Assim pensou e assim fez. Foi ao jardim do palácio e plantou as sementes.  Após uma longa ausência, retornou o rei e quis logo saber das sementes, mandando chamar os filhos à sua presença.   
                                                                        
O mais velho pensou que o mais novo iria ficar muito mal perante o pai, porque destruíra as sementes; e o mesmo se daria com o segundo, porque as vendera. Mas, o mais novo não estava preocupado em vencer, apenas em preservar as sementes e isso só conseguira quando entendera que elas precisavam morrer e depois renascer, para dar novas sementes.  

O rei chamou o mais velho e disse-lhe: “És um estúpido e por isso perdeste o reino, porque uma semente só pode ser preservada se tem a oportunidade de morrer no solo, se tem a oportunidade de renascer”.
  
Ao segundo filho disse: “Agiste melhor que teu irmão mais velho, mas também perdeste o reino, ainda que tenhas compreendido que as sementes envelheceriam. Mas, a quantidade não mudaria.

“Quando a semente é preservada, multiplica-se por milhões”.

Ao terceiro filho disse: “É teu o reino, porque soubeste compreender, na inocência, a mensagem que antes dos tempos já te fora dada pelo Criador”.

BIBLIOGRAFIA
Ir.'.Antonio Carlos de Souza Godói
A.’.R.’.L.’.S.'. Nove de Abril  de Mogi Guaçu 


O PASSO LATERAL DA MARCHA DE COMPANHEIRO


 A Marcha é uma técnica adotada nos três Graus Simbólicos. Como recém-elevados ao Grau de Comp.’.Maç.’., a Sublime Instituição abriu-nos uma porta a mais para ser explorada através dos estudos. E, estudando, notamos pequenas diferenças ritualísticas entre as diversas Potências, mas não nos esqueçamos que todos somos Maçons e, como tais, temos como meta final o mesmo resultado moral, ou seja, a construção de nosso Templo Interior para a Glória do G.’.A.’.D.’.U.’., não importando a Potência à qual pertençamos.

Enquanto AApr.’.MMaç.’., ainda sem sabermos ler e nem escrever, somente soletrar, obrigatoriamente temos que ser guiados e orientados por nossos MM.’. na luta e na perseverança em nosso caminhar na senda da Perfeição, isto é, pelo caminho que nos leva das trevas à Luz, do Ocidente para o Oriente, do mundo objetivo dos sentidos para o mundo subjetivo do espírito. Este objetivo não é somente dos AApr.’. mas também dos CComp.’. e dos MM.’..                              

Sendo assim, nossos passos, sempre iniciados com o pé esquerdo, são obrigatoriamente retos e dirigidos, sempre na mesma direção, pelos IIr.’. mais experientes e compreende três passos de longitude desigual e proporcional a 3-4-5, lembrando o Teorema de Pitágoras e, a cada passo, juntando os pés em ângulo reto, em esquadria.

Estes três passos simbolizam as três qualidades morais que caracterizam a conduta do Apr.’.:- Retidão, Decisão e Discernimento. Também simbolizam que o maçom deve andar sempre retamente, em busca da virtude e da perfeição.

Como CComp.’., devemos sempre nos recordar de que tudo tem lógica e, portanto, a lógica é o caminho mais seguro que pode existir. Também temos que ter sempre em mente que devemos nos guiar a nós mesmos, uma vez que procuramos desenvolver o autodomínio.

No Grau de Comp.’., a Marcha é a continuação do caminhar iniciado no grau anterior. É a Marcha do Apr.’. acrescida de mais dois passos.

Ao passarmos do Nível à Perpendicular, ou dos cuidados do 1o.Vig.’. para os do 2o.Vig.’., ou seja, da Coluna onde operávamos com Força para a Coluna onde iremos trabalhar com a Beleza, e sedentos por novos conhecimentos, deixamo-nos dominar pelos nossos devaneios.

 Abandonamos a linha central trilhada enquanto AApr.’., dando o primeiro passo da marcha de Comp.’. em linha oblíqua para a direita ou para a esquerda, dependendo da Potência.

Este passo lateral e oblíquo é realizado conduzido por nossa faculdade de criar e, assim, arriscamo-nos aos perigos do desconhecido. Por isso, este passo denomina-se de Imaginação.

Saindo da trajetória a que estávamos obrigados enquanto AApr.’., significa que já podemos e devemos variar nossos caminhos em busca da Verdade. A Razão vigia e controla constantemente os devaneios da criação, ou seja, da Imaginação.                   

A Razão, que acompanha e reconduz a Imaginação de volta à realidade, sempre que esta se exceder, é simbolizada pelo pé direito que segue o esquerdo, formando uma esquadria. E é este pé esquerdo que dará  o segundo passo, em ângulo reto, denominado de Afetividade, retornando ao equador da Loja, demonstrando Obediência e Amor ao Trabalho.

 Neste passo do pé esquerdo, o direito o acompanha, simbolizando o regresso da Imaginação ao caminho inicial da Retidão, da Decisão e do Discernimento, evidenciado nos três passos iniciais.

A esquadria formada ao terminar a marcha leva o nome de Razão, protetora da Inteligência. O primeiro passo oblíquo também poderia se denominar de Livre Arbítrio significando que não precisamos mais caminhar em linha reta, pois já adquirimos conhecimento, podendo sair da trajetória.

O segundo passo seria o da Consciência, pois já conseguimos discernimento e, por conseguinte, sabemos voltar ao caminho da retidão quando nossa Razão assim ordenar. Isto demonstra que, quando nos desviamos da linha reta a que estávamos obrigados como AApr.’., é porque os nossos MM.’. já nos consideraram aptos a observar, procurar, experimentar e quantificar os métodos para assimilar e usufruir da filosofia contida e ensinada no Grau de Comp.’.. 

Como todo adolescente, sentimo-nos cheios de energia e totalmente independentes, auto-suficientes. Julgamo-nos possuidores dos conhecimentos, dos segredos e dos mistérios do caminho a ser percorrido e não levamos em conta as sábias orientações dos mais velhos e mais experientes que podem nos mostrar os atalhos para evitar passos desnecessários.

Assim, através do livre-arbítrio de que somos dotados, abandonamos impetuosamente, a linha central por onde até então trilhávamos e optamos por outros caminhos para chegarmos à Verdade, contrariando aqueles métodos impostos que nortearam nosso procedimento desde o início de nossa senda.

Ao contrariarmos as regras seguidas até então, nós, os CComp.’., como adolescentes no caminho da Perfeição, não devemos ser reprimidos em nosso processo criativo nem tampouco doutrinados com teorias que determinem nosso progresso, mas orientados para tais teorias.

É por isso que no Grau de Comp.’. há uma mudança no posicionamento das Três Luzes Emblemáticas, onde o Compasso, agora, está entrelaçado ao Esquadro, ou seja, uma perna do Compasso está livre do domínio moral do Esquadro simbolizando que nós, os CComp.’. já nos encontramos em condições de trilhar pelos caminhos da Verdade, em busca do saber, livre de preconceitos e de superstições. 

Os cinco passos do Comp.’.  também nos recordam a Conjugação dos Quinários:- De cinco anos é a idade do Comp.’.; os golpes de malhetes; as pancadas de bateria; os toques no sinal de reconhecimento. Cinco são as luzes que iluminam e cinco os pilares que sustentam a Loja de Comp.’..

De cinco viagens se compõe a elevação ao Grau. Quintessência é o quinto elemento. Quinta Ciência é a classificação da Geometria dentro das Sete Artes ou Ciências Liberais e, posicionada ao Meio Dia, a Estrela Rutilante  com suas cinco pontas a lembrar-nos que a Mente deve ser posta em Ação e Movimento, portanto, devemos Criar e Trabalhar com Sabedoria e Conhecimento!

Esta Peça de Arquitetura tem como finalidade um breve estudo sobre o tema "O Passo Lateral da Marcha de Comp.’.Maç.’.".


BIBLIOGRAFIA
Companheiro Maçom – Ir.’. Inácio Jorge Paulo Filho – Ed. Country
Curso de Maçonaria Simbólica – Companheiro – Theobaldo Varoli Filho – A Gazeta Maçônica
Grau de Companheiro e Seus mistérios – Jorge Adoum – Ed. Pensamento
Caminhos da Perfeição: O Companheiro – Walter de Oliveira Bariani – Ed. Maçônica A Trolha
Cartilha do Companheiro – José Castellani e Raimundo Rodrigues – Ed. Maçônica A Trolha

TEMPLOS A VIRTUDE E MASMORRAS AO VÍCIO


Escolhi este tema de forma independente às orientações da 2.'. Vig.'. para os trabalhos oficiais a minha postura como Ap.'. M.'., pois, acredito que , enquanto Ap.'., cada passo dentro de nossa Ordem , deve ser pesquisado, compreendido e postulado aos queridos IIr.'. , e, contudo, em conjunto, tentarmos consenso na interpretação destas duas palavras que conotam uma das mais discutidas dualidades inversas de nossa vida.

Outro motivo, que me pendi a este estudo/ pesquisa, foi o impacto de duas perguntas que a mim foram proferidas durante o Ritual de Iniciação, que, dentro de minha ignorância momentânea, percebi que minhas respostas não foram claras o suficiente, talvez pela emoção emanada do momento, ou até mesmo, pelo fato do desconhecimento profundo e misterioso que ambas as palavras nos submetem no dia a dia, na vida social e maçônica.

Relembro neste momento as seguintes perguntas:
O que entendeis por Virtude?
O que Pensais ser o Vício?

Relembro também as seguintes Palavras do Ir.'. Orad.'. : Se desejar tornar-vos um verdadeiro Maçom deveis primeiro morrer para o vício, para os erros, para os preconceitos vulgares e nascer de novo para a Virtude, para a honra e para a Sabedoria.

Como Homens livres e de bons costumes, entendo que além do sagrado dever de levantarmos templos a Virtude e cavarmos masmorras aos Vícios, devemos saber interpretar ambas as questões, para que no dia a dia, não sejamos submetidos ao despertar de nossa ignorância quando interpelado sobre seus significados. Daí, minhas conclusões que disserto a seguir.

Comecemos com a Virtude, em suas definições Filosóficas, que nos levam a discernir como um estado de Comportamento do Homem:

O primeiro desses significados se refere às qualidades materiais ou físicas de qualquer ser, inclusive do homem. São as virtudes da água, do ar, ou como as virtudes naturais dos seres vivos de respirar, reproduzir-se, ou do homem de raciocinar, de ser bípede etc.

Esse significado se refere às qualidades não adquiridas, mas próprias da natureza de cada ser, tanto em razão de sua composição química como em razão de sua estrutura orgânica ou de sua evolução natural. São as qualidades e as capacidades naturais que os seres em geral manifestam, desde os átomos até os seres organizados superiores.

O segundo significado diz respeito às habilidades próprias do ser humano, como tocar um instrumento musical, saber usar uma ferramenta, saber escrever, pintar, ler, raciocinar logicamente etc. São, na verdade, destrezas, habilidades ou capacidades de execução de alguma atividade, adquiridas através de exercícios e experiências, tanto em nível corporal como em nível mental. São as qualidades adquiridas pelo aprendizado.

O terceiro sentido de virtude diz respeito ao comportamento moral resultante do exercício do livre arbítrio e, portanto, diz respeito exclusivamente ao homem. É exatamente desse terceiro sentido, o comportamento moral, que nos interessa como Maçons, pois somente ele diz respeito exclusivamente à educação do espírito, uma tarefa extremamente valorizada dentro da Maçonaria porque conduz ao comportamento moral, ao amor e a generosidade.

Comportamento moral é a pratica da solidariedade humana em todos os sentidos, e que pode ser manifestada de infinitas maneiras, pois são infinitas as maneiras que nos podem conduzir na pratica da solidariedade. Podemos, por exemplo, trabalhar com dedicação para tirar o homem de sua ignorância, podemos ajudar o nosso semelhante a superar suas necessidades materiais, podemos nos colocar ao lado do nosso semelhante em suas dores mais profundas, podemos estar ao lado dele quando abatido em seus males corporais, enfim há vários meios de praticar a solidariedade.

Para que um determinado comportamento moral possa ser considerado uma virtude não é suficiente à prática de atos morais esporádicos ou isolados. É necessário antes de tudo haver uma continuidade, um hábito, um estado de espírito sempre ativo e presente na consciência, a cada dia e a cada momento.

Dentro do Comportamento Moral, podemos acrescentar o próprio comportamento social que vivemos para fazermos valer na tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade, onde cujas são por excelência, os elementos para construir em nosso templo interior o verdadeiro espírito maçônico. E para tanto, ao entender das pesquisas, temos que praticar constantemente as virtudes que relacionamos a seguir:

A Virtude da Justiça: por justiça entende-se como virtude moral, pela qual se atribui a cada indivíduo aquilo que lhe compete no seio social: praticar a justiça. A justiça em nossa Ordem é a verdade em ação, é a arma para as conquistas da Liberdade.

A Virtude da Prudência: é a Virtude que nos auxilia a nossa inteligência para distinguir a qualidade do ser humano que age com comedimento, com cautela e moderação, enriquecendo nossa igualdade, e respeito entre os irmãos, estendendo à sociedade que vivemos em nossa vida profana.

A Virtude da Temperança: podemos relacionar diretamente a virtude da Temperança com uma espícula extremamente dura a ocupar uma das infinitas arestas da Pedra Bruta, pois é ela que disciplina os impulsos, desejos e paixões humanas. Ela é a moderação e barragem dos apetites e das paixões, sendo o império sobre si mesmo. Com ela, estaremos deixando cada vez mais forte e profunda as raízes da Fraternidade.

Faço destaque à Fraternidade, ora regida por nossas temperanças, pois da importância do conjunto de nossa tríade, considero-a a mais direcionada às nossas causas e conquistas enquanto Maçons, pois ela é a diferença de nossa Ordem, ela que serviu de arma forte e reluzente, que fez com que nossos irmãos antepassados, entregando muitas vezes suas próprias vidas a repugnância, resistindo às perseguições e se deixando abater pela inquisição, pela própria rusga Cuibana não deflagraram nossos segredos, nossos augustos mistérios, e salvaram com os princípios fraternos a continuidade de nossa Ordem durante séculos que se passaram.

A Fraternidade Maçônica sempre foi conseguida através de um laço que se poderia chamar de cumplicidade maçônica. Essa cumplicidade nasceu entre os irmãos a partir do compartilhamento de diversos sigilos, como o aspecto secreto das reuniões, os sinais de reconhecimento, o segredo dos graus, os simbolismos etc., que começa a se formar a partir do momento da iniciação.

É essa gama de atos e fatos ligados à estrutura básica da Maçonaria que faz nascer essa ligação de cumplicidade que gera a inconfundível fraternidade Maçônica. Este laço material se reforça com a prática da Filosofia, das Virtudes e dos Princípios Maçônicos, principalmente da Justiça, da Prudência, do Amor, e da Generosidade.

Existem certamente momentos em que afloram os instintos, ou seja, vícios ainda não convenientemente dominados, tal como o egoísmo, provocando desentendimentos pessoais. Isso é natural que aconteça mesmo depois de nos tornarmos maçons, pois é sabido que mesmo após muitos anos o espírito dentro de sua cavalgada na busca da perfeição não consegue absorver o verdadeiro sentido do que é uma fraternidade. Não conseguem deixar-se dominar pela cumplicidade maçônica.

Nesses momentos deve agir o sentimento de temperança dos demais irmãos para serenar os ânimos e não deixar os ressentimentos se avolumarem. O Importante é não deixar de lutar pela fraternidade a cada dia e a cada instante, mas para isso é preciso termos em primeiro lugar domínio sobre nossos vícios, cujo também alvo desta peça, discuto a seguir, pois do que vale pregar o bem, sem o entendimento do mal?

Percebi em minhas pesquisas, que pouco se fala sobre os Vícios, até mesmo a própria Bíblia Sagrada, O Livro dos Espíritos, Livros afins e várias peças de arquitetura que o entendimento da palavra e do substantivo declarado Vício é de forma singela e simploriamente declarada como o "O oposto da Virtude", havendo logicamente mais espaços destinados ao assunto "Virtude", o qual não sou contra, pois dentro dos conceitos atuais de estruturalismo, é mais fácil corrigir o mal com o reforço do ensino e prática do bem, tal como nosso Ritual de Iniciação que o Ven.'. M.'. dita o seguinte discurso:

".'. É o oposto da Virtude. É o hábito desgraçado que nos arrasta para o mal; e é para impormos um freio salutar a esta impetuosa propensão, para nos elevarmos acima dos vis interesses que atormentam o vulgo profano e acalmar o ardor das paixões, que nos reunimos neste templo.'.".

O Vício pode ser interpretado como tudo quanto se opõe a Natureza Humana e que é contrário a Ordem da Razão, um hábito profundamente arraigado, que determina no individuo um desejo quase que doentio de alguma coisa, que é ou pode ser nocivo. Em síntese, tudo que é defeituoso e que se desvia do caminho do Bem.

Do ponto de vista abstrato, podemos dizer também que tudo que não for perfeito é Vício, mas do ponto de vista prático, é um termo relativo que depende do grau de evolução do Individuo em questão, pois o que seria um Vício para um Homem cultivado, poderia ser uma virtude para um selvagem.

Na verdade, nenhum vicio poderá ser jamais uma desvantagem absoluta, pois toda forma de expressão indica um desenvolvimento de força. O que devemos realmente é estabelecer e proclamar nossa guerra interna, conflitarmos espiritualmente o combate às nossas imperfeições seja nessa vida ou nas próximas que estamos por vir.

De todos os vícios que sofremos e estamos expostos no dia a dia para com a sociedade, nosso templo, nosso ego, enfim, aquele que podemos declarar como o Orientador a todos os outros vícios é o egoísmo, e este vem assolando todas as comunidades, todas as religiões, todas as irmandades, enfim, todo o Mundo está submisso ao Egoísmo, e  na prática e exercício deste de forma desequilibrada, teremos os demais vícios aflorando facilmente e deflagrando em cada canto do mundo, a discórdia,a intemperança, as guerras, o fanatismo, a injustiça, a fome, as doenças, a infelicidade, enfim, as mortes prematuras que assolam os ditos países não desenvolvidos.

Quando citei o exercício desequilibrado do egoísmo, quis demonstrar que jamais um vício pode ser uma desvantagem absoluta (dito a dois parágrafos anteriores) , pois como exemplo, podemos citar que o Egoísmo de um PAI na proteção de seu filho não pode ser tratado como um desequilíbrio egoísta e sim uma reação que não podemos condenar desde que para isso não tenha praticado o mal ao seu semelhante.

Assim como tudo na vida e em nossas ações estaremos submetendo ao equilíbrio, os vícios também o são submetidos, pois com certeza, nós homens nunca seremos perfeitos, a imperfeição faz parte do Homem, e isto é lógico e notório, partindo do principio que somos Espíritos tendo experiências humanas na terra e não humanos tendo experiências espirituais.

Nosso mundo nada mais é que uma grande escola espiritual e que para conseguirmos nossa evolução, temos que ser submetidos às vivências carnais tempo a tempo, até que sejamos perfeitos, e isto ocorrendo não mais estaremos de volta e sim estaremos ajudando em outro plano os demais que assim se fizerem de coração aberto para os ensinamentos.

Outra citação que coloco, é a questão das Paixões, também fruto do egoísmo, que dentro de uma estrutura hierárquica, posso considerá-la como uma segunda posição depois do Egoísmo. A Paixão está no excesso acrescentado à vontade, já que este princípio foi dado ao homem para o bem, e suas paixões podem levá-lo a realizar grandes coisas. É no seu abuso que está a sua definição como um vício.

A Paixão é semelhante a um cavalo, que é útil quando dominado e extremamente perigoso quando domina. Uma paixão será por demais perigosas no momento em que deixar de governá-la e resultar qualquer prejuízo para você ou aos outros.

Sem dúvida grandes esforços são feitos para que a Humanidade, e nós Maçons que fazemos parte dela, avance, encoraje-se, honre-se os bons sentimentos mais do que em qualquer outra época deste nosso mundo, entretanto a desgraça roedora do egoísmo continua sendo sempre a nossa chaga social. É um mau real que cai sobre todo o mundo, do qual cada um é mais ou menos vítima.

É preciso combater os vícios, equilibrá-los, assim como se combate uma doença epidêmica. Para isso, devemos proceder como médicos: ir à origem. Que se procurem, então em todas as partes de nossa organização social, desde as famílias até nossa comunidade, desde os barracos de tábuas, até as grandes Mansões, todas as causas, todas as influências evidentes ou escondidas que excitam, mantêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo.

Uma vez conhecidas as causas, o remédio se mostrará por si mesmo. Restará somente combatê-las, senão todas de uma vez, pelo menos parcialmente e, pouco a pouco, o veneno será eliminado. A cura poderá ser demorada, porque as causas podem e são numerosas, mas não impossível. Isso só acontecerá se o mal for atacado pela Raiz, ou seja, pela educação, não a educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A Educação, bem entendida é a chave para o progresso moral.

Quando conhecermos a arte de manejar o conjunto de qualidades do homem, como se conhece a de manejar as inteligências, será possível endireitá-los, como se endireitam plantas novas, mas esta arte exige muito tato, muita experiência e uma profunda habilidade de observação e vigilância. É um grave erro acreditar que basta ter o conhecimento da ciência, dos augustos mistérios de nossa ordem para que exercemo-las com proveito.

Todo aquele que acompanha o filho do rico ou do pobre, desde o nascimento e observa todas as influências más que atuam sobre eles por conseqüência da fraqueza, do desleixo e da ignorância daqueles que os dirigem, quando, frequentemente, os meios que se utilizam para moralizá-lo falham não se pode espantar em encontrar no mundo tantos defeitos. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e se verá que, se existem naturezas refratárias, que se recusam a aceitá-las, há, mais do que se pensam, as que exigem apenas uma boa cultura para produzir bons frutos.

O Homem, meus IIr.'., deseja ser feliz e esse sentimento é natural, por isso trabalha sem parar para melhorar sua posição neste mundo que vivemos. Ele procurará a causa real de seus males a fim de remediá-los. Quando compreender que o egoísmo é uma dessas causas, responsável pelo orgulho, ambição, cobiça, inveja, ódio, ciúme, que o magoam a cada instante, que provoca a perturbação e as desavenças em todas as relações sociais e destrói a confiança que o obriga a manter constantemente a defensiva, e que, enfim, do amigo faz um inimigo, então compreenderá também que esse vício é incompatível com sua própria felicidade e até mesmo com sua própria segurança.

E quanto mais se sofre com isso, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, assim combate a peste, os animais nocivos e os outros flagelos; ele será levado a agir assim por seu próprio interesse.

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, assim como a fraternidade é a fonte de todas as virtudes; destruir um e desenvolver outro ( Levantar templos a Virtude e Cavar masmorras aos Vícios ), esse deve ser o objetivo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar sua felicidade em nosso mundo e no seu mundo espiritual.

"Quem é bom, é livre, ainda que seja escravo, Quem é mal é escravo, ainda que seja livre.”
Santo Agostinho

 Ir.'. Roberto de Jesus Sant´Anna - M.'.M.'.
GOB / GOSP



A CABALA E A CORDA DE 81 NÓS


A Corda de 81 Nós é um dos símbolos mais controversos da iconografia maçônica. Como símbolo ela se presta a diversas interpretações e sua origem e real significado tem sido objeto de múltiplas especulações. Isso ocorre porque todo símbolo carrega em si um elemento de Gestalt. Cada observador acrescenta ao seu significado as suas próprias intuições a respeito. [1]

Nos templos maçônicos, a Corda de 81 nós é encontrada no alto das paredes, junto ao teto e acima das colunas zodiacais, como ornamento obrigatório, parecendo indicar que ali é posta para delimitar um determinado território, o qual deve ser preservado de interferências externas.

Sua origem histórica parece vir dos antigos canteiros de obra medievais, onde os chamados maçons ─ literalmente, trabalhadores de maço e cinzel  ou seja, artesãos que trabalhavam no esquadrejamento das pedras que iriam compor os edifícios, costumavam demarcar o seu local de trabalho. Nesses espaços, normalmente conhecidos como Lojas, esses trabalhadores de  cantaria, costumavam se reunir para transmitir instruções, receber seus salários, conversar sobre assuntos de seu interesse, etc.

Essa, aliás, é uma das possíveis origens históricas do termo Loja, aplicável à reunião dos trabalhadores da construção civil, e da qual derivou a tradição maçônica. Como a profissão do maçom era regida por rígidas regras corporativas, que faziam dela uma corporação praticamente iniciática, essa medida, a de delimitar o espaço maçônico dentro do canteiro de obras, era perfeitamente justificável. A corda com nós também era usada para efetuar medições de distância para demarcação dos espaços dentro do edifício. [2]

Já a razão de ela ter 81 nós parece que deriva do apego à tradição medieval ao chamado modelo três por quatro. Praticamente, todos os espaços geométricos dos edifícios antigos eram desenhados a partir de uma projeção retangular que partia dessa medida e se multiplicava por esse módulo conforme o tamanho que se pretendesse para o vão livre que se queria dar ao espaço. Eram as chamadas “caixas”, a partir das quais o edifício era metrificado e construído. [3]

Evidentemente essa não era uma fórmula obrigatória nem se constituía regra geral para uma construção, mas apenas uma tradição observada pelos construtores medievais. Era, segundo se dizia, uma tradição derivada das técnicas de construção utilizadas pelos arquitetos da  Grécia clássica, onde o mais belo de todos os edifícios jamais construídos, o Partenon, teria sido erguido a partir desse módulo.

Mais variadas, porém, são as interpretações esotéricas que são dadas a esse símbolo, as quais são oriundas de intuições místicas inspiradas em temas gnósticos e cabalísticos, onde entram também o pitagorismo e a teosofia, correntes de pensamento que, como bem viu Jung em sua análise da base psíquica do pensamento humano, são informadas por um arsenal simbólico (arquétipos) que habita no Inconsciente Coletivo da espécie humana desde suas origens.

O número 81 é um número cabalístico por excelência.  Ele é o resultado do número 3 elevado á sua quarta potência. Esse número sugere um universo formado por uma base tripla, que parte da noção de que na origem de tudo existe uma trindade de deuses:  (Pai, Filho, Espírito Santo, Brhama Vixenu e Xiva, Osíris, Isis, Hórus etc), dando origem às realidades universais.  Da mesma forma, são três os formadores da raça humana (os filhos de Noé) Sem, Cam e Jafet), assim como são três as ferramentas com as quais o Criador constrói o universo: a luz, o som e o número e três as manifestações da Divindade antes de dar a si mesmo uma condição de Existência Positiva: Aun, Aun Soph e Aun Soph AUR. [4]

Essas três manifestações se derramam pelos quatros mundos da formação primordial, que são conhecidos como os mundos de Atziloth, Briah, Yetzirah e Assiah [5]

Assim, o modelo três por quatro é um arquétipo bastante presente na intuição dos profissionais da construção civil e a ele foi integrada a tradição cabalística que se associa a esse número. Na tradição cabalística, a trindade se revela nas três primeiras séfiroths da Árvore da Vida ( Kether, Chokmah e Binah), que são as primeiras manifestações da divindade no mundo da realidade positiva. 

Elas se expressam através da luz,  do som e do número, que segundo essa tradição, são os elementos com quais Deus faz o mundo.  Destarte, como o universo é construído através das combinações do Nome Inefável (o Tetragramaton) formado pelas letras IHVH (IAVÉ), que resulta no número 12, temos uma base trina multiplicada por quatro, como formulação básica da estrutura do universo. Por isso temos toda a mística do povo de Israel em torno desse número.

As doze tribos de Israel, os doze signos do Zodíaco, os doze apóstolos de Cristo, os doze profetas do Velho Testamento (seis maiores e seis menores) os doze livros da constituição doreino de Israel, que são o Pentateuco (5), Josué (1), Juízes (1), Samuel (2) Reis (2) e assim por diante. .

Na física atômica pode ser feita uma analogia com as leis fundamentais de formação da matéria universal que são a relatividade, a gravidade e a termodinâmica. Essa base tríplice, que geometricamente se firma sobre um triângulo equilátero, resulta num universo tridimensional (altura, profundidade, largura). 

Por outro lado, como o universo é constituído por quatro elementos fundamentais (terra, ar, fogo, água), projetado em quatro direções (norte, sul, leste, oeste), isso significa que a sua conformação pode ser representada pelo número três na sua quarta potência, que resulta no número 81, número sagrado, que na tradição cabalística é representado pelos 72 anjos que servem diante do trono de Deus (os semanphores), mais os 9 Elohins, mestres construtores do universo. [6]

 Esses anjos são portadores dos archotes, ou seja, portam a luz que dá existência ao universo em suas duas estruturas (a material e a espiritual), razão pela qual a planta do universo cabalístico serve de inspiração para a conformação geométrica da Loja Maçônica. [7]

Dessa forma, a corda de 81 nós representaria uma delimitação territorial da estrutura da Loja Celeste, que é todo o cosmo, razão pela qual, nas antigas Lojas especulativas era costume marcar no solo, com giz ou outro instrumento de traçado, os símbolos da Ordem, circundados por uma borda semelhante a uma corda cheia de nós. Nessa simbologia se dizia que ali se construía obra semelhante aquela realizada pelo Criador.[8] 

Segundo o ritual do Grau 20 do Supremo Conselho do Grau 33 do Paraná, 81 anos era a idade de Hiram Abiff quando foi assassinado. 81 era também o número de meses que um irmão precisava para chegar ao ápice da Escada de Jacó no antigo ritual dos maçons do Real Segredo, na França e na Alemanha.[9]

Em termos filosóficos, a corda de 81 nós significa a “amarração” universal feita pelos Irmãos em torno do universo representado pela humanidade. Os nós são os irmãos (representação simbólica dos 72 arcanjos e os nove Elhoins) com as mãos dadas, formando o quadrilátero sagrado, onde a abertura aponta que qualquer pessoa de bons costumes pode adentrar nesse quadrilátero e participar dessa união em prol da evolução e da felicidade da raça humana.

Assim, o simbolismo da Corda de Oitenta e um Nós vai muito além de uma mera ornamentação no teto do templo maçônico. Cada um pode pensar e interpretá-lo que quiser acerca desse símbolo. Por isso o associamos á uma Gestalt. Não importa o que ele de fato significa como imagem ou mesmo como signo no campo da semiótica e da semiologia, nem mesmo o seu significado em termos de filosofia.  Importa sim o que ele fala ao espírito do Irmão.

Pois a Maçonaria, como toda disciplina iniciática, só tem sentido como atividade espiritual. O resultado dela no mundo profano é mero reflexo dessa atividade. Será útil ou inútil, virtuoso ou nocivo conforme os Irmãos entenderem a mensagem que os símbolos da Ordem lhe comunicam. 

Por João Anatalino

[1]Gestalt é a doutrina que ensina que a soma das propriedades de um objeto formado em nossa mente é mais do que ele realmente é, pois a mente acrescenta ao objeto outras propriedades que ela “acha” que o objeto tem. Exemplo disso é uma nuvem no céu, que olhada por diferentes pessoas pode assumir formas totalmente diversas na mente de cada observador.
[2] Jean Palou- A Maçonaria Simbólica e Iniciática, Ed Pensamento, 1978 
[3] Fulcanelli- As Moradas Filosofais- Madras, 2012
[4][4] Na Cabala, Deus, antes de fazer o universo é considerado como uma energia em estado latente (com Existência Negativa). Na sua tarefa de fazer o universo ele se manifestou como Existência Positiva. 
[5] De acordo com os ensinamentos da Cabala, a atividade divina na construção do universo se manifesta em quatro mundos formativos que são: o mundo da luz  (Atziloth), o mundo do espírito (Briah), o mundo do energia (Yetzirah) e o mundo da matéria (Assiah).,
[6] Knorr Von Rosenroth- A Kabbalah Revelada- Madras, 2010. Tabela que mostra a relação entre a Árvore da Vida, os quatro mundos de formação, as combinações entre as letras do Nome Sagrado e as diferentes conformações assumidas pela energia divina no trabalho de construção do universo.
[7] Vide o nosso ensaio, publicado neste Recanto das Letras, “ O Templo  e a Árvore ”, no qual mostramos a relação simbólica existente entre os desenhos da Árvore da Vida da Cabala, e o desenho do Templo maçônico.
[8]Idem, Jean Palou –Maçonaria Simbólica e Iniciática, citado. Pois segundo a ótica dos maçons medievais, as igrejas que eles construíam eram cópias simbólicas do universo, na forma como Deus o construía.
[9]  Artigo II da Constituição dos Princípios do Real Segredo para os Orientes de Paris e Berlim, edição de 1762


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