TRONCO DE SOLIDARIEDADE



Sinopse  Considerações a respeito do Tronco de beneficência ou de solidariedade; ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.

No Rito Escocês Antigo e Aceito é explicado ao neófito que o Tronco de Solidariedade arrecada dinheiro, denominado metais, que serão distribuídos depois aos necessitados.

O obreiro coloca seu óbolo na mão e a fecha, coloca-o dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e solta sua doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus dedos, energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e retira-a fechada.

Ao retirar a mão fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração, também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do quadro.

Existem relatos que creditam a origem deste procedimento como remanescente ao tempo em foi construído o templo de Salomão, onde ferramentas, projetos, documentos e pagamento dos obreiros eram colocados dentro das colunas do templo, que eram ocas exatamente para esta finalidade.

O pagamento de companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do interior do tronco das colunas o salário a que faziam jus.

Mas a origem mais convincente e lógica é francesa, pois naquela língua a palavra "tronc" pode ser usada tanto para tronco humano como para caixa de esmolas.

Guarda-se apenas a simbologia deste procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais são meras figuras simbólicas e não são ocas.

A circulação ritualística da bolsa de solidariedade obedece ao formato de duas estrelas de seis pontas, que por sua vez são compostas cada uma por dois triângulos um dentro do outro, em posição invertida.

A marcha inicia no ocidente, entre colunas, em direção ao oriente. O irmão hospitaleiro coloca a bolsa colada a sua cintura, ao lado esquerdo do corpo e inicia a marcha.

Sem olhar para o que é depositado na bolsa vai passando por todos os obreiros em loja.

O venerável mestre, primeiro vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador, secretário e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na primeira estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos mestres e oficiais da coluna do sul e pelos mestres e oficiais da coluna do norte, definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor externo formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela.

E por fim, o cobridor externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa, retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas. Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do que deve fazer em seguida.

Normalmente o hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar do tesoureiro e ambos conferem o valor coletado. Em seguida o tesoureiro comunica ao venerável mestre o valor arrecadado.

Durante a circulação da bolsa nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo.

Normalmente é momento em que os obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois o ato de doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como culto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um.

Para tornar o momento mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.

O retirar de metais não ocorre no instante em que o obreiro retira a mão da bolsa, mas é solicitado ao venerável mestre que determinará a seu critério mandar efetuar sindicâncias, para só então fornecer os recursos financeiros ao irmão em necessidade.

Normalmente sequer é o beneficiado quem faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do hospitaleiro, mas pode ser qualquer outro irmão do quadro.

O irmão que não consegue pagar suas contas tem direito ao uso destes recursos? Não! Isto não é situação válida para obter recurso deste fundo.

O obreiro teve sua casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu de forma inesperada, pode ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência? Sim! À critério do venerável mestre e da loja.

Sempre precisa haver razão válida, de real valor humanitário para se efetuar algum socorro. E esta ajuda é feita muitas vezes de tal maneira que o beneficiado sequer sabe de onde vem o recurso, é feita também de tal forma que não humilhe aquele; tem somente o objetivo de amenizar o sofrimento de quem realmente necessita. É por isto também conhecido como tronco da viúva, onde os filhos da viúva são os maçons.

Quando os fundos do tronco dos pobres ou da viúva atingem valor razoável, parte dele é destinado para obras de beneficência.

Nunca é totalmente gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver necessidade de socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.

Não colaborar com o ato litúrgico do tronco de solidariedade é o mesmo que fugir da prática da caridade e torna o maçom indigno de exercer todos os demais privilégios maçônicos.

E se possuir posses que lhe permitam fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo, pois poderá ser ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa.

Se não colabora por vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha algo errado consigo mesmo.

Dar esmola não significa mixaria, ninharia, insignificância; é melhor que não coloque nada e arque com as consequências que sua consciência lhe exigir.

É pela beneficência que o verdadeiro maçom se torna digno na procura de alcançar a glória de merecer de parte daquilo que ele considera o Grande Arquiteto do Universo, o seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação da sociedade.

Em sendo tão séria, esta disposição então porque abusar da sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe o que o amanhã reserva?

Bibliografia:
1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN 85-7252-158-5, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 1270 páginas, Londrina, 2003;

2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora Ltda., 413 páginas, São Paulo, 2001;

3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 143 páginas, Londrina, 2003;

4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 550 páginas, São Paulo, 1989;

5. Paraná, Grande loja do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, terceira edição, Grande loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.

Charles Evaldo Boller
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná



ALTAR - A MATERIALIZAÇÃO DO ESPIRITUAL



Ainda, por incrível que pareça, existe grande confusão entre Altar e Dossel do Venerável, que são duas coisas distintas. O Altar é o lugar onde o homem entra em contato com Deus.

É a materialização do espiritual. A posição do Altar varia de conformidade com os ritos, mas sempre é colocado em lugar de destaque, preferivelmente no centro e 
defronte ao Dossel.

Há os que afirmam que sua colocação deverá obedecer à Constelação Austral, tanto que o Altar também é conhecido com o nome de Ara.

Ainda, infelizmente, pelo menos no Brasil, não se conseguiu uniformizar a construção e uso do Altar. Uns o constroem em forma de triângulo, outros, quadrado, e por fim há os que apenas o apresentam como uma pequena coluna com caneluras.

No Templo de Salomão era quadrado, tendo em cada canto, na parte superior do cubo, um pequeno corno e sobre ele o Livro Sagrado aberto onde descansam o esquadro e o compasso entrelaçados. Nos cantos, três luzes, permanecendo um ângulo vazio ao Norte, onde não há luz.

Já entre nós é mais usado o Altar triangular, onde são colocados a Bíblia, um compasso e um esquadro.

Outros ritos colocam em cada face do triângulo um candelabro; no centro uma pequena almofada com franjas de ouro e sobre ela o Livro Sagrado, quando aberto, o compasso entrelaçado pelo esquadro e a espada Flamígera.

Os altares sempre foram locais onde o homem apresentava sacrifícios a Deus. Para os cristãos, considerando o Senhor o último Cordeiro dado em sacrifício, queimam incenso.

Espiritualmente representaria o desconhecido e materialmente, o túmulo.

Mas o seu significado mais coerente diz respeito apenas aos juramentos. Sobre o Altar somente devem ser colocados o Livro Sagrado; quando aberto sobre ele, o esquadro com o compasso entrelaçado.

Não se poderia emprestar ao Altar o significado de uma tumba, eis que o túmulo é representado pela Câmara das Reflexões.

O homem que sai da Câmara das Reflexões é alguém renascido ou ressuscitado, e a Nova Criatura não mais poderá ser entregue ao sacrifício.


Irmão Rizzardo da Camino 

UM “TOQUE” PARA DESPERTAR


O mundo tem mudado vertiginosamente. Ocorreram avanços em todas as áreas e o mundo se globalizou trazendo benefícios e malefícios. Benefício, porque possibilitou o acesso rápido às informações, aproximou as pessoas.

Malefício, porque se acirrou os conflitos, concorrência. Como está a Maçonaria nesse mundo moderno e transformado? Será que continuamos unidos no mesmo ideal “Liberdade, Igualdade e Fraternidade?”.

O neoliberalismo prega a concorrência pura e simples, a ética muitas vezes. Para o neoliberalismo, o próximo é meu concorrente, meu inimigo, ferindo os anseios da fraternidade maçônica.

O capitalismo reinante nos torna cada vez mais escravos do consumo nos rebaixa a uma busca material abominável, maculando a ideia de liberdade e de supremacia do espírito sobre a matéria.

A concentração das riquezas nas mãos de poucos, premeditada pelo capitalismo, orquestrado pelo neoliberalismo, divide o mundo em uma legião de miseráveis e uns poucos de multimilionários, escarnecendo o princípio da igualdade.

A Maçonaria tropeça enfraquecida num momento tão importante da história da humanidade.

A humanidade hoje precisa mais do que nunca que a Maçonaria reencontre sua identidade e desperte para combater os vícios, os preconceitos e a desigualdade, encarcerando-os numa masmorra de onde não poderão sair.

É preciso proteger a singela igualdade para que floresça nos campos verdejantes, sob o orvalho da fraternidade, faça brotar a formosa flor da liberdade, perfumando este mundo.

A Maçonaria precisa mais do que ações isoladas de alguns heróis idealistas, precisa de coesão e unidade de suas colunas, fazendo tremer a terra dos maus com o estrondoso ruído de sua marcha unificada e cadencial, como um gigante que caminha para a vitória.

Mais do que pessoas bondosas, a Maçonaria precisa de obreiros comprometidos com sua causa, comprometidos com a Ordem, que se dediquem para a construção de um mundo mais justo e perfeito.

A Maçonaria está chamando para o trabalho! Vamos dar às nossas sessões mais qualidade, aos trabalhos, mais profundidade, mais entusiasmo.

Vamos melhorar nossos conhecimentos, formemos ciclos de estudos, troquemos informações, pratiquemos mais a caridade, amemo-nos uns aos outros, levantemo-nos para o trabalho.


O mundo é como um diamante bruto há de ser lapidado para reluzir o brilho da luz que se derrama luz que vem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo.

O MIOSÓTIS E A MAÇONARIA ALEMÃ


Voltando a 1934, a Grande Loja Alemã do Sol se deu conta do grave perigo que iria enfrentar. Inevitavelmente, os maçons alemães estavam partindo para a clandestinidade, devido à radicalização política e ao nacionalismo exacerbado.

Muitos adormeceram e alguns romperam com a tradição, formando uma espúria Franco- Maçonaria Nacional Alemã Cristã, sem qualquer conexão com o restante da Franco- Maçonaria.

Declaravam eles abandonarem a ideia da universalidade maçônica e rejeitar a ideologia pacifista, que consideravam como demonstração de fraqueza e como uma degeneração fisiológica contrária aos interesses do estado.

Os maçons que persistiram em seus ideais precisaram encontrar um novo meio de identificação que não o óbvio Compasso & Esquadro, seguramente um risco de vida.

Há uma pequenina flor azul que é conhecida, em muitos idiomas, pela mesma expressão: não-me-esqueças  – o miosótis.

Entenderam nossos irmãos alemães, que esse novo emblema não atrairia a atenção dos nazistas, então a ponto de fechar-lhes as Lojas e confiscar-lhes as propriedades.

Através de todo o período negro do nazismo, a pequenina flor azul identificava um Irmão.

 Nas cidades e até mesmo nos campos de concentração, o miosótis adornava a lapela daqueles que se recusavam a permitir que a Luz se extinguisse.

Em 1945, o nazismo, com seu credo de ódio, preconceito e opressão, que exterminara, entre outros, também muitos maçons, era atirado no lixo da História.

Nas fileiras vitoriosas que ajudaram a derrota-lo, estavam muitos maçons – ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos, poloneses, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros.


De monarcas, presidentes e comandantes aos mais humildes pracinhas.

POEMA MAÇÔNICO


Da vida nós aprendemos e reaprendemos

A construir escolhas e decisões

Lapidando a nossa pedra bruta

Em cima de uma escadaria que leva ao céu

Talvez não igual ao céu comum

Mas com certeza um céu justo e perfeito

Com esquadro e compasso damos forma

E nossa pedra vai polindo e polindo cada vez mais

Na sua poeira leva lembranças, alegrias e dores

E o que fica resplandece a luz do Oriente

Com uma régua de 24 polegadas sinto que posso medir tudo

Medir o coração, a vida que passa, pois brancos e pretos

É o que vejo no quadriculado da minha caminhada

Sobre a espada templária componho versos

Sobre o grande olho faço minha remissão e confissão

Não se pode entender o mistério, é segredo

Mas um segredo que nos constrói guardar

Entre sinais abro as portas do meu templo

Para o mundo, para minha dimensão

no meu pedaço de céu nos degraus da escada de Jacó

Entre as colunas da vida e da morte

Um doce dualismo que só a alma entende

Tão doce quando as romãs

tão extensa quanto uma corda de 81 nós

E ainda sim cabe na abóboda azul celeste

Do meu céu, meu Oriente

Minha Ácácia...


Autor: César Frozza
Ácacia 3612


A MAÇONARIA E AS SETE ARTES LIBERAIS E CIÊNCIAS


A Maçonaria, em dos seus graus simbólicos, estuda as Sete Artes Liberais e Ciências da antiguidade, que são gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, música e astronomia. Cada uma dessas áreas de conhecimento está repleta de significado para os maçons.
Existem gravuras antigas que mostram uma deusa segurando um livro e uma vara. 

Ela é chamada de Sabedoria ou Sophia. O amor da sabedoria ou o “philio de Sophia” é o significado da palavra Filosofia. Vemos a seiva da sabedoria derramada em todas as artes e ofícios representados como os homens jovens, são ilustrações que unem todo o conhecimento em pintores, arquitetos, músicos e soldados, todos recebendo sabedoria.
Provérbios 9:1 diz: “A sabedoria já edificou a sua casa, já lavrou as suas sete colunas.” Estudiosos religiosos têm especulado sobre os sete pilares da sabedoria, a Sabedoria derramada para sete vocações. A Sabedoria também é vista presidindo ramos do conhecimento.
Representações alemãs da idade média mostram um livro e uma vara, símbolos do professor, supervisionado pela sabedoria alada de três cabeças que cuida de sete donzelas. No mesmo livro aparecem as Sete Artes Liberais e Ciências.
Marciano Capella, em Cartago, no ano 420, desenhou uma alegoria da Phoebus-Apolo, deus do sol, apresentando as Sete Artes Liberais como empregadas domésticas para sua noiva Filologia, um amante das palavras. Depois disso, os artistas têm ilustrado as artes liberais e ciências como empregadas domésticas.
As empregadas domésticas se reúnem em torno da sabedoria. Conhecimento é desenhado dentro de um círculo. Acima da Sabedoria estão a moral e teologia. Nos cantos inferiores são Aristóteles e Platão, possivelmente. Mas as figuras centrais são as Sete Artes Liberais e Ciências.
A escada em caracol
Juventude, adultez, e maturidade são representadas nos três graus simbólicos da Maçonaria. O primeiro constrói uma base de amor fraterno, respeito e verdade. O segundo leva em direção a masculinidade bem sucedida com o ouvido atento, a língua instrutiva, e um coração fiel. O terceiro grau ensina, entre outras coisas, que o tempo e a paciência vão realizar todas as coisas.
A vida progride como se estivéssemos subindo uma escada em caracol. Não enxergamos ao longe, o progresso exige esforço para crescer e amadurecer. Vencemos as primeiras três etapas, depois aprendemos a dominar os cinco sentidos com os quais observaremos o mundo que nos cerca.
Dessa forma poderemos subir os degraus das sete artes liberais e ciências. Semelhante a escada em caracol a educação maçônica é um processo onde começamos a ler e escrever ideias simples e terminamos com alta escolaridade e conceitos de idéias abstratas.
A História da Lista
Boa parte da população bem instruída da antiguidade não gostava de trabalhar, e quando alguém se transformava em aprendiz não era livre para estudar ou fazer o que quisesse e sim fazer o que era lhe mandado. As Artes Liberais Latinas eram estudos profissionalizantes voltados para uma finalidade econômica, algo que rendesse o sustento. A Maçonaria especulativa as adotou e lhes deu o significado esotérico necessário para a compreensão de determinados graus de seus estudos.
A história das sete artes liberais e ciências estão ligada a Pitágoras, Platão e Santo Agostinho, personagens que desempenharam importantes papéis no estabelecimento de suas bases.
Pitágoras, grego que viveu em 520 a.C., era um grande matemático e também um mestre filósofo e teólogo. Com seus alunos na Academia observou conexões entre a geometria e o Divino. Seus discípulos procuraram relacionamentos na música, aritmética e astronomia assim estabelecendo a relação de Pitágoras com as quatro últimas das Sete Artes Liberais e Ciências.
Platão, 400 a.C., escreveu sobre a importância da educação para os cidadãos da República. Platão enfatizou a lógica, a filosofia e dialética. Para Platão, a lógica representa a maior faculdade cognitiva, possibilitando examinar argumentos e compreendê-los.
Santo Agostinho de Hipona, que viveu no século III d.C., deixou escrito 5 milhões de palavras que ainda hoje existem. Ele foi o maior professor de retórica da humanidade. Ele declarou que, se alguém quisesse defender a verdade, deveria ser eloquente para refutar a mentira através do poder da oratória. Ele preencheu o Sete Artes Liberais e Ciências, com sua ênfase na gramática e retórica.
A ordenação da Lista das Sete Artes Liberais e Ciências
Aprendemos a falar para descrever o mundo que nos cerca. Palavras organizam nossos pensamentos. A linguagem é essencial para a aprendizagem. À medida que progredimos aprendemos a falar com eloquência e graça, que é retórica. Aprendemos a usar a lógica para fazer os nossos argumentos convincentes e verdadeiros.
Avançamos até lições de níveis mais elevados de aritmética, geometria e música. Estas matérias exigem pensamento abstrato e maiores níveis de concentração. À medida que amadurecemos na vida vamos adquirindo sabedoria e aprendendo a desfrutar das magníficas obras da criação, as estrelas e os planetas, astronomia, e o divino. A ordem desses temas foi desenvolvida por mais de mil anos e ainda hoje preservam sua validade e sua magnificência.
As três primeiras artes derivam do Trivium que em latim significa Três Vias ou Estradas, um cruzamento onde o público se encontra. Poderíamos chamar o trivium de praça pública, onde o público se reúne para discutir os temas habituais do dia: o tempo e a colheita. Aqueles que se destacam em lembrar experiências comuns são bons em “trivialidades”. Trivia está no centro do conhecimento cotidiano utilizando a gramática, a retórica e a lógica.
Vamos repassar as Sete Artes e Ciências Liberais e suas características.
Gramática
Em Gênesis, a primeira tarefa de Adão é nomear todas as coisas e e ter domínio sobre a criação. Saber o nome das coisas dá autoridade ao homem para falar e entender.
Na escola primária ou Primeiro Grau aprendemos a recitar o alfabeto, números e cores. Gramática envolve palavras e significados. As primeiras lições de falar envolvem repetição, teríamos palavras trava-línguas e recitamos frases para aprender a falar, fazemos exercícios de articulação. As crianças aprendem a sua própria língua, bem como línguas estrangeiras, para tanto a gramática e a estrutura são essenciais.
A Gramática envolve declinações e aprendizagem para verbos e substantivos, inclui aprender o significado das palavras, suas nuances, e como elas se relacionam em diferentes configurações.
Retórica
Estudar retórica é estudar como falar e escrever para persuadir os outros. Retórica é essencial no estudo da lei e dos regulamentos. Roscoe Pound, Albert Mackey, e Allen Roberts foram alguns dos maiores escritores em jurisprudência maçônica da língua inglesa e eram experts em retórica.
Todos os Romanos influentes da antiguidade aprenderam a falar em público com fluência e oratória. Falar em público é aterrorizante para alguns, mas para os maçons é tarefa cotidiana, pois aprendem tanto de falar como ouvir o discurso dos outros.
Retórica acrescenta força e elegância aos nossos pensamentos, podemos cativar nosso ouvinte com a força dos nossos argumentos e a beleza da nossa expressão. Nosso domínio da retórica nos ensina a rogar e exortar os nossos irmãos a atos de caridade, elogia e aplaude a excelência da boa conduta. Saber ouvir é dominar um dos nossos sentidos e nos proporciona ouvir a poesia da linguagem e a ordem das palavras. Sabemos que de alguma forma Fé, Esperança e Caridade soa melhor do que caridade, fé e esperança, nossas consagradas virtudes teologais.
Lógica
A lógica é a terceira etapa do Trivium. Ela nos leva a conclusões baseadas em nosso conhecimento, dirige e nos orienta na busca da verdade. Ela consiste em uma sequencia regular de argumentos nos levando a deduzir ou inferir a partir dos fatos. A lógica treina a mente a pensar com clareza usando as nossas faculdades de conceber, julgar e raciocinar.
A dialética é o termo usado para descrever o pensamento crítico. Nós pesamos os prós e contras para encontrar a melhor escolha. Observamos o mundo procurando ver padrões e relações, começamos a fazer previsões usando o raciocínio indutivo. A educação de nossas mentes inclui provas e raciocínio dedutivo. Aprendemos a evitar argumentos de que algo é verdadeiro ou falso, simplesmente por que se diz que é, em vez de sua verdade inerente.
Gramática, retórica e lógica compõem o trivium, ou as três primeiras das Sete Artes Liberais e Ciências.
O Quadrivium
O Quadrivium está associado com a ciência que nos ajudam a entender os mistérios do universo. Pitágoras é o principal responsável por estes quatro ramos da ciência: aritmética, geometria, música e astronomia.
O Quadrivium significa Quatro Vias ou Caminhos que convergem para o centro da cidade ou localidade, após ter percorrido as tres estradas. Uma mente forte progride pelos caminhos em direção aos segredos da sabedoria. Um homem sábio percorre os caminhos da ciência.
Aritmética
Como ciência a matemática é progressiva através da construção de habilidade e familiaridade com a prática frequente, é ensinada passo a passo. Primeiro aprendemos a contar, depois a somar e a subtrair. Assim desenvolvemos operações abstratas, tais como adição e multiplicação. A Aritmética oferece um sistema estruturado, tem regras, ordem, e opera em termos de equações.
Equilíbrio e igualdade são princípios aprendidos na aritmética que deve lembrar-nos de agir sobre o nível. O a beleza em aritmética e matemática. Descobrimos simetria e proporção.
Os números nos fascinam quando observamos a espiral de Fibonacci (Leonardo Fibonacci,1201) e a proporção perfeita presente da concha à galáxia (1,618). Encontramos padrões fractais em biologia, química e física que se repetem.
A Matemática nos mostra retas e curvas e indiretamente nos ensina sobre a moralidade.
Geometria
A Maçonaria coloca especial ênfase na geometria como sinônimo de auto-conhecimento, como compreensão da substância básica do nosso ser. A Geometria descobre áreas não medidas dentro do ser.
As ferramentas de geometria são o esquadro, o compasso, o nível e o prumo. Estas são as ferramentas básicas de maçons operativos que hoje usamos na Maçonaria especulativa para ensinar lições de comportamento correto, retidão de caráter e veracidade.
O sentido da visão é desenvolvido em Geometria, percebemos a profundidade das estruturas, se estão em ordem e quais não são as bem organizadas. Reconhecemos que a geometria é a base da arquitetura universal.
Música
A música é a sexta das sete Artes Liberais e Ciências. Pitágoras e seus seguidores estavam interessados em estudar música como uma ciência. A música é parte de nós, nosso batimento cardíaco é o padrão básico primário, do bebê intra-útero ao seu primeiro choro até nosso último suspiro.
O sentido da audição é melhorado pela música, de modo que podemos reconhecer cantigas e ritmos. Vibrações causam sons de determinada a freqüência, aprendemos a ouvir diversas escalas, combinamos sons com cantos. A Maçonaria nos ensina que é preciso disciplina para alcançar a harmonia e escutar os sons do universo.
Astronomia
O espaço e o tempo nos fazem pequenos, contemplar as estrelas nos faz perceber a glória do grande arquiteto e a sabedoria de Deus. A Astronomia nos ensina a admirar e estudar o universo.
Os globos sobre os capitéis das colunas das Lojas nos ensinam a compreender a rotação da Terra em torno do Sol. A essa observação nos é dado compreender os Solstícios e Equinócios, os tempos de venerar a natureza e a eterna renovação do universo. Os recomeços de uma jornada sem fim, isso nos mostra a astronomia.
A compreensão das Artes e Ciências Liberais
As Sete Artes Liberais e Ciências são ramos da Sabedoria e do Conhecimento. A compreensão do nosso mundo nos tornará melhores homens. Para tanto as sete artes e ciências são fundamentais para o aprendizado de outras áreas do conhecimento, incluindo história e psicologia, entre outras tantas.
Se compreendermos melhor o uso da música e da arte em nossas vidas, se usarmos a matemática e a geometria, se observarmos a perfeição do universo, se expandirmos a nossa redação e vocabulário, tudo isso ao longo da nossa vida vamos nos tornar melhores seres humanos e merecedores das graças e da bondade do altíssimo.

Paulo Edgar Melo


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