A SIMBOLOGIA DA PURIFICAÇÃO PELOS ELEMENTOS E AS ORIGENS DA SUA INTRODUÇÃO NOS RITUAIS MAÇÔNICOS


A simbologia da purificação pelos quatro elementos encontra-se presente na maior parte dos rituais de iniciação, dos ritos maçônicos continentais, e ausentes na globalidade dos ritos de origem anglo-saxônica. Este procedimento litúrgico, que integra as provas sucessivas da terra, água, ar, e fogo, baseia-se numa concepção simbólica da constituição da matéria, profundamente enraizada na cultura clássica ocidental.

O estudo do Cosmos foi um dos temas recorrentes entre os filósofos gregos pré-socráticos. Segundo Actius “Foi Pitágoras o primeiro que deu o nome de Cosmos à envolvente do universo, em razão da organização que aí se vê”.

O mesmo filósofo refere, ainda, que “Thales, Pitágoras e os da sua escola tinham dividido a totalidade da esfera celeste em cinco círculos, que eles chamavam zonas”. 

Estes consistiam no equador, nos trópicos, no circulo ártico, e no circulo antártico.

Tião de Esmirna nos conta dos ensinamentos de Filolaos (Filolau de Crotona), que estabelece uma correspondência simbólica entre as cinco zonas da esfera celeste e cinco elementos: “Os corpos da esfera são cinco: o fogo, a água, a terra e o ar, que se encontram contidos na esfera, aos quais se acrescenta um quinto, a casca da esfera”.

Resulta, pois, evidente a correspondência dos quatro elementos atrás referidos às cinco zonas da esfera celeste, e a crença na existência de um quinto elemento representativo da unidade de todo o Cosmos. Esta correspondência identificava a água com a região antártica, os trópicos com o ar, o ártico com o fogo e, a terra com a zona equinocial.

Para além deste arquétipo cosmológico, os quatro elementos tradicionais tiveram, também, interpretação metafísica, simbolizando Zeus o fogo, Hera a terra, Nestes (Hefesto) a água e Adônis o ar.

Tendo em conta a sua proveniência e essência, estes quatro elementos da física pré-socrática não podem ser considerados literalmente, mas apenas simbolicamente, seja no seu contexto de origem, seja no âmbito dos domínios que, posteriormente, os importaram por sincretismo, tais como a filosofia hermética, a alquimia, ou a maçonaria.

É neste último caso, que importa aprofundar a sua gênese e disseminação.
Muito embora a temática das viagens tenha estado presente, nas cerimônias de iniciação, desde os primórdios da maçonaria especulativa, o mesmo não se passa relativamente às purificações pelos quatro elementos. Assim:

Em 1730, Samuel Prichard na sua “Masonry Dissected” (Maçonaria Dissecada) refere, somente, que o candidato efetuava uma volta à Loja, para se apresentar à assistência;

Em 1737, no mais antigo Ritual Francês conhecido, o recipiendário fazia três viagens, antes de ser conduzido ao Venerável Mestre. Não existem, neste ritual, nem elementos, nem provas, nem purificações, apenas no decurso das viagens era vertida resina em pó sobre os candelabros justapostos ao Quadro de Loja, para causar maior impressão no recipiendário;

Em 1767, os “Rituais do Marquês de Gages” descrevem o recipiendário conduzido à volta da Loja pelo 1º Vigilante, sem que intervenham nas viagens nem elementos, nem purificações, se bem que a prova do fogo figure na iniciação;

Todavia, um catecismo de 1749, de uma Loja de Lille, comporta a resposta “Fui purificado pela água e pelo fogo”. Trata-se da mais antiga menção desta inovação, a qual já existia em altos graus praticados na época, podendo ter migrado daí para a maçonaria azul. Estas duas purificações não têm, aliás, origem hermética, mas sim bíblica, correspondendo aos batismos da Antiga e da Nova Aliança. Recordem-se as palavras de S. João Batista, em Mateus 3.11 “Em verdade vos batizo com água… mas aquele que vem após mim… batizará-vos com o Espírito Santo e com fogo”;

Em 1786, no “Régulateur Du Maçon” (Regulador do Maçom), documento fundador do Rito Francês, o Grande Oriente de França fixa a purificação pela água após a segunda viagem, e a purificação pelo fogo após a terceira, sem haver qualquer referência a outros elementos;

Os três elementos constituintes da matéria, na perspectiva Martinista (fogo, água, terra) só aparecem tardiamente na maçonaria retificada, em 1786-1787, apenas e somente com a interpretação especifica do RER, sem qualquer relação com a que se encontra nos restantes ritos;

O “Guide des Maçons Écossais” (Guia dos Maçons Escoceses), de 1804, mais antigo documento regulador dos graus simbólicos do REAA, faz passar o recipiendário pelas chamas purificadoras na terceira viagem, sendo as duas anteriores isentas de purificações;

Enfim, em 1820, o Ritual do Rito de Misraïm explicitamente prevê a purificação pelos quatro elementos, sendo a prova da terra objetivamente associada à passagem pela Câmara de Reflexões, e as purificações pela água, fogo, e ar, realizadas sucessivamente por esta ordem, associadas a três viagens realizadas fora do Templo, nos Passos Perdidos. Tratou-se, pois, de uma completa inovação, relativamente a um século de pratica maçônica anterior, neste país.

Este modelo repetiu-se no Ritual do 1º Grau do Rito de Memphis, de 1838, no qual apenas foi alterada a ordem dos elementos, para terra-ar-água-fogo. A migração desta simbologia foi quase imediata, dos Ritos Egípcios para os demais ritos praticados à época na França, passando, contudo, as purificações a serem realizadas no interior do Templo.

Muito embora nas revisões do Rito Francês efetuadas até a versão Murat, de 1858, tenha sido mantido, formalmente, o protocolo inicial das duas purificações, a identificação das viagens com os quatro elementos foi, correntemente assumida pelos autores maçônicos da época ligados a este Rito, nomeadamente por Clavel e, por Ragon.

A partir de 1877, as purificações foram retiradas dos rituais do Grande Oriente de França, na sequência de uma revisão laicizante do Rito, tendo sido reintroduzidas, já com referência aos quatro elementos, no decurso dos últimos decênios. Tanto no Rito Francês Groussier, como no Rito Francês Moderno Restabelecido, a ordem dos elementos considerada é terra-água-ar-fogo.

Tal foi, também, a ordem elegida por Robert Ambelain, na sua revisão dos rituais dos Ritos Egípcios, que deu origem ao Ritual do Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraïm, atualmente praticado.

No REAA, a importação também se deu imediatamente, estando à mesma presente em todos os Rituais da Grande Loja de França, desde a sua fundação em 1896, com a ordem terra-ar-água-fogo, que é hoje característica deste Rito. Se o REAA influenciou, na sua gênese, os Ritos Egípcios, também podemos considerar que estes vieram, reciprocamente, a inspirar, de algum modo, a sua matriz original.

Perante toda esta sequência cronológica, duas perguntas surgem naturalmente:

– Por que é que estas purificações apareceram em 1820?
– E por que num Rito Egípcio?

A resposta para elas poderá estar em… Mozart!

No libreto da ópera “A Flauta Mágica”, de 1791, no seu segundo ato, cena 7, consta a seguinte referência:

“Aquele que avançará por esta estrada plena de obstáculos
Será purificado pelo fogo, a água, o ar e a terra
Se ele pode superar os receios da morte
Se elevará da terra até ao céu”

Sendo esta ópera da autoria de dois Maçons, Mozart e Shikaneder, e reproduzindo a mesma uma iniciação, será que esta simbologia já existia na maçonaria austríaca trinta anos antes de ter surgido em França?

Mozart foi iniciado em 14 de dezembro de 1784, em Viena, na Loja “Zur Wohltätigkeit”, sob os auspícios da Grande Loja Nacional Austríaca. Antes dessa data, praticavam-se, em Viena, quatro ritos: a Estrita Observância, o Rito de Zinnendorf, o RER e o Rito de Adoção.

Muito embora a Loja-Mãe de Mozart tenha sido constituída para praticar o RER, à data da sua iniciação, a oficina utilizava já outro ritual, do qual se encontra depositada, em Copenhague, uma cópia manuscrita.

Trata-se de um ritual claramente de influencia francesa, todavia com alguns pontos comuns ao Ritual do 1º Grau do Rito de Zinnendorf. Nesta cerimônia, o recipiendário, depois de passar pela Câmara de Reflexões, faz três viagens. 

Segundo o texto deste ritual, o Venerável Mestre ordena ao Segundo Vigilante que faça o recipiendário realizar a primeira viagem “pelo ar e pela terra”, a segunda “pela água”, e a terceira “pelo fogo”, sem haver, contudo, qualquer referência a purificações.

Se este conceito migrou da maçonaria para a ópera, tal não pode ser objetivamente confirmado. Constitui, contudo, um fato, que Mozart foi iniciado através de um ritual que mencionava os elementos, não assumindo, todavia, no mesmo a forma presente no libreto de “A Flauta Mágica”, que se parece reproduzir no Rito de Misraïm.

No final do séc. XVIII a maçonaria austríaca irá cair na penumbra, e praticamente desaparecer, em virtude dos éditos restritivos de José II, o mesmo não sucedendo, contudo, a “A Flauta Mágica”, que conhecerá uma notoriedade assinalável por toda a Europa.

Subsistem, todavia, as perguntas: por que 1820, e por que num Rito Egípcio. Poderá, no entanto, ter sido recentemente descoberto o elo da cadeia, que faltava para lhes dar resposta.

Em 1801, Ludwig Wenzel Lachnit, natural de Praga, apresentou ao público parisiense uma “nova ópera de Mozart” denominada “Os Mistérios de Ísis”. Esta obra, com libreto em Francês, da autoria de Étienne de Chédeville, e música reciclada a partir da partitura da “A Flauta Mágica”, e de importações de outras óperas de Mozart, conheceu um assinalável sucesso, atingindo um total de 130 representações até 1810, com reposições em 1816, e 1827.

Terá sido a ópera mais representada durante o Império, não sendo estranho ao seu êxito o fato de a sua estréia ter coincidido com o final da Campanha do Egito, e de ter beneficiado de uma quinzena de anos nos quais os temas egípcios estiveram na moda.

No livreto desta obra, publicado em Paris, em 1806, as personagens são precipitadas “num sombrio subterrâneo”, passando posteriormente para outro “sombrio e profundo subterrâneo destinado às provas do fogo, da água, e do ar” antes de, finalmente, acenderem ao “Templo da Luz”.

Será que, numa altura em que a informação existente sobre o Antigo Egito era escassa e mítica, o livreto de “Os Mistérios de Ísis” não poderá ter servido de inspiração aos irmãos Bédarride para escreverem o Ritual do seu Rito de Misraïm?

Trata-se, contudo, de uma pergunta que só eles poderiam responder, sendo, todavia, comprovado, que nos meios maçônicos da época, lhes foram merecida ou imerecidamente, atribuídos propósitos idênticos aos que teria tido o promotor desta ópera, e que teriam mais a ver com metais, do que com valores maçônicos.

A ter-se verificado, este “transfer” constituiria mais um exemplo de que nem a sociedade é impermeável a ideias veiculadas na maçonaria, nem esta última o é a ideias, ou modas, provenientes da sociedade.

Este sincretismo pode, ainda, ser indiciado pelo fato de Alexandre Lenoir ter publicado, em 1814, o livro “La Franche-Maçonnerie rendue à sa véritable origine”, o qual marca a origem da Egiptologia Maçônica e, onde se descrevem as iniciações no Antigo Egito (mítico), referindo-se as purificações pelos quatro elementos e, a necessidade das cerimônias maçônicas se ajustarem aos procedimentos dos Antigos Mistérios.

Ainda no que concerne à ópera de Lachnit, apesar do enorme sucesso comercial obtido, não se eximiu de ser severamente criticada nos meios musicais mais eruditos, nomeadamente por Berlioz, ou por Otto Jahn, que lhe alterou o titulo de “Les Mystères d’Isis” para “Les Misères d’ici”.

Em conclusão, as purificações pelos elementos, introduzidas em força e vigor na maçonaria, no primeiro quarto do séc. XIX ganharam plena profundidade simbólica já no séc. XX, através da contribuição de vários simbolistas notáveis, dos quais destaco Oswald Wirth, que incorporou muitas interpretações herméticas à simbólica tradicional maçônica do REAA. Termino, pois, com palavras suas bem elucidativas do sentido iniciático que podemos dar a este procedimento ritual:

“Esta vida de ordem superior proporciona-se através do desenvolvimento do princípio da personalidade, dado que o ser inferior não é mais do que um autômato que reage mecanicamente sobre a ação das forças das quais é o joguete. A sua vida permanece material ou elementar porque ela resulta unicamente do conflito dos Elementos… Mas as forças exteriores, tão potentes sejam elas, devem ser dominadas pela energia que acha a sua origem na personalidade. É porque o homem é chamado a desenvolver em si um princípio mais forte que os Elementos, que ele entra em luta com eles no decurso das provas iniciáticas”

Pessoalmente, penso que este princípio reside no Conhecimento, principal impulsionador da elevação da Condição Humana, entendendo-se o mesmo não só como sapiência, mas também e, fundamentalmente, como consciência. Cada um, contudo, dentro do seu livre-pensamento deverá encontrar a sua interpretação pessoal para o mesmo.

Só assim estaremos, realmente, a fazer Maçonaria.

Autor: Joaquim G dos Santos

Loja de S. João Fiat Lux nº 537, Oriente de Lisboa, filiada ao G.’.O.’.L.’.
Referências Bibliográficas
– Ambelain Robert “Freemasonry in olden times – Ceremonies and Rituals from the Rites of Mizraïm and Memphis”, Robert Laffont, 2006;
– Dachez Roger ”Les Rites Maçonniques Égyptiens”, PUF, Paris, 2012;
– Dachez Roger e Pétillot Jean-Marc ”Le Rite Écossais Rectifié”, PUF, Paris, 2012;
– Dachez Roger ”Quatre elements: Epreuves élementaires ou baptêmes successifs?”, Paris, 2013;
– Giambello Sylvain ”Les Mystères d’Isis (Lachnit, Paris, 1801)”, Paris, 2013;
– Guérillot Claude ”Les trois premiers degrés du Rite Écossais Ancien et Accepté”, Guy Trédaniel Éditeur, Paris, 2003;
– Mainguy Iréne ”La Symbolique maçonnique du troisième millénaire”, Éditions Dervy, Paris, 2006;
– Marcos Ludvic ”Histoire Illustrée du Rite Français”, Éditions Dervy, Paris, 2012;
– Négrier Patrick ”Les Symboles Maçonniques d’après leurs soures”, Éditions Télètes, Paris, 1990;
– Nöel Pierre ”Les Grades Bleus du Rite Écossais Ancien et Accepté”, Éditions Télètes, Paris, 2003;
– Ragon Jean-Marie ”Cours Philosophique et Interprétatif des Initiations Anciennes et Modernes”, Berlandier Libraire-Éditeur, Paris, 1841;
– Ragon Jean-Marie ”Tuileur Général de la FrancMaçonnerie”, Collignon Libraire-Éditeur, Paris, 1861;
– Win Jean van ”Le rituel de récepcion au grade d’apprenti de Mozart et ses épreuves purificatrices”, Bruxelles, 2013;
– Wirth Oswald ”La Franc-Maçonnerie rendue intelligible à ses adeptes”, Éditions Dervy, Paris, 2007.


O SIMBOLISMO DO TEMPLO MAÇÔNICO



O Templo Maçônico reúne dentro de si o espaço e o tempo sagrados. Basta apenas traspassarmos sua porta e faz-se evidente a diferença entre os mundos, aonde o tempo decorre linearmente em forma indefinida e amorfa, e o recinto sacro, onde se percebe um tempo mítico e significativo: o “tempo” das origens do ser humano, a eternidade e a simultaneidade, conhecidas e compreendidas na interioridade do homem que estabelece esta comunicação ritual desde as profundezas do Templo.

Por outra parte, o Templo é um modelo do Universo, ao qual imita em suas formas e “proporções” e, como ele, tem por objeto albergar e ser o meio da realização total e efetiva do ser humano.

Nas tribos mais primitivas, encontramos a choupana ritual (ou a casa familiar) como lugar de intermediação entre o alto e o baixo. Efetivamente, nela o teto simboliza o céu e o chão, a terra; os quatro postes onde se assenta são as colunas onde se apóia o macrocosmo.

É muito importante assinalar que sempre nessas construções há um ponto zenital que está aberto a outro espaço.

Exemplo: a pedra caput ou cimeira, que não se colocava na construção das catedrais, ou o orifício de saída da choça cerimonial (na casa familiar esta saída é simbolizada pela chaminé, o lar). Esta construção, imagem e modelo do Cosmo, têm, pois, uma porta de entrada que se abre ao percurso horizontal do Templo (transposição da porta, passagem pelas águas do batistério, perda no labirinto cuja saída desemboca no altar, coração do Templo), e posteriormente um orifício de saída sobre o eixo vertical, desta vez localizada na sumidade, simbolizando o Coroamento da Obra e o rendimento a outro espaço, ou mundo, inteiramente diferente, que está “mais além” do Cosmo, ao qual o Templo simboliza.

É também o Templo uma imagem viva do microcosmo e representa o corpo do homem, criado à imagem e semelhança de seu criador; inversamente, o corpo do homem é seu Templo. O centro de comunicação vertical é o coração, e ali, nesse lugar, acende-se o fogo sagrado capaz de gerar a Aventura Real da transmutação, após as provas e experiências de Conhecimento que levam até lá.

Em nosso diagrama Sefirótico, a porta horizontal se abre de Malkhuth a Yesod, enquanto a vertical de Tifereth a Kether. Ou seja, que todo o trabalho prévio, encaminhado ao Conhecimento, tem que ter por objetivo imediato a chegada ao coração do Templo, o fogo perene do altar sobre o qual se assenta o tabernáculo, espaço vazio construído com as réguas e proporções harmônicas do próprio Templo, e do qual é sua síntese.

Terá então terminado com a primeira parte dos Mistérios Menores (mistérios da Terra) e começará sua ascensão simultânea pela segunda parte (os mistérios do céu), ficando para além do Templo, ou seja, para o supracósmico, os Mistérios Maiores, que por serem inefáveis não podem ter aqui análise e nem comentário.

Na realidade, este processo é prototípico e válido para qualquer mudança de plano ou estado, onde se manifesta à sua maneira.

Fraterno Abraço
RuyR@mires

VAIDADE...



.. palavra pequena e de fácil pronunciamento, de tonalidade suave aos ouvidos, porém, encerram em muitas ocasiões, situações gravíssimas no comportamento do ser humano, com consequências desastrosas.

A vaidade, literalmente falando, é a qualidade do que é vão, vanglória, ostentação, presunção malformada de si, futilidade, e etc.

Soberba, orgulho, arrogância, vaidade e altivez são palavras que possuem significados muito próximos nos dicionários. Especialistas consideram que todos estes sentimentos sejam sinônimos. Dessas qualidades a vanglória é perniciosa, pois objetiva o indivíduo jactancioso, ou seja, presunçoso, arrogante e frívolo o egoísmo.

Pessoas tomadas por estes sentimentos são aquelas que olham para si como dignos de admiração pelos outros. Creem que estão acima das demais pessoas, seja por sua beleza física, qualidades intelectuais, erudição, cultura ou condições financeiras. Vamos juntar todos estes sentimentos no adjetivo que se usou para batizar um dos sete pecados capitais: vaidade.

O vaidoso é aquele indivíduo que olha para as opiniões alheias com desprezo, ou na melhor das intenções, até com dó mesmo e sobre os que professam opiniões diferentes das suas, pensa: Idiotas!

O vaidoso tem orgulho de suas conquistas, de suas coisas, de suas idéias, de sua existência que trás beleza e sabedoria ao mundo.

Afirmar categoricamente que o egoísmo faz parte da natureza humana faz com que vozes se levantem com inúmeros argumentos para negar à afirmativa. São muitas as qualidades que ajudam a encobrir o óbvio, mas, como tudo que foge à verdade, há um momento em que a redoma da hipocrisia se desfaz e o ser humano não tem alternativa senão se render às evidências, geradas por sua própria experiência. 

É bem verdade que muitos de nós nem chegaremos a nos incomodar com determinados sentimentos; muitos nem fomos tocados pelas virtudes e pela necessidade de aprimorar o caráter e o espírito. Assim, movidos por um instinto gregário e social aceitamos, sem qualquer reflexão, aquilo que é comum a todos nós. Todos entendemos que a vaidade é a conseqüência do egoísmo que se vê limitado pela sociedade.

Vaidade é este desejo de estar sempre em evidência. Para Aristóteles, as virtudes e os vícios podem ser definidos pelo critério do excesso, da falta e da moderação.

O vício sempre seria uma conduta ou um sentimento excessivo ou deficiente. Já a virtude seria o sentimento ou conduta moderado.

Para o filósofo, a vaidade peca pelo excesso, a modéstia pela deficiência e a virtude estaria no respeito próprio, diante da vaidade ou da modéstia. Mais uma vez, encontramos a triangulação que encontra no centro a justiça e a perfeição das nossas atitudes e comportamentos.

A vaidade personificada tem sua origem na mitologia grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco e foi punido com a maldição de apaixonar-se de forma incontrolável por sua própria imagem refletida na água.

A alma humana é a mais completa de todas, não é só instinto, é também sensível, mas o grande diferencial está na racionalidade.

O que nos faz humanos não é deixar fluir os nossos instintos, mas fazermos o uso racional deles.

Em princípio, o ser humano quer ser feliz e para isso pode se contentar com a posse e contato com seus objetos de prazer, como pode precisar alimentar a sua vaidade por meio do reconhecimento de sua excelência pessoal pelo outro.

O homem também pode entender que a felicidade é possível por estar bem consigo mesmo. É quando ele próprio se reconhece em sua magnitude e busca se premiar por isso, com comportamentos compatíveis com sua maneira de pensar, com valores voltados para si mesmo e que podem ser consumidos no viver bem e na busca da felicidade.

Este é um aspecto do egoísmo que o mal não é real; o que se evidencia é o respeito a si mesmo, e isto é uma virtude.

A presunção mal fundada de si traz em seu seio situações embaraçosas, notadamente na Maçonaria, visto que aqui todos se tratam por Irmãos e presume-se que a verdade deve imperar sempre.

A tão propalada vaidade feminina não traz conseqüências, pois se atém tão-somente na área de estética. A masculina quando não se atém às futilidades torna-se algo de preocupação, encerra-se muitas vezes em disputas desnecessárias, gerando graves problemas de ordem interna, principalmente quando essa vaidade inclui fator poder.

O fator poder é inerente ao ser humano, na Maçonaria no desbastar da Pedra Bruta, ou seja, no seu próprio burilamento cada um recebe a incumbência de burilar a si próprio e aos que estão a sua volta.

Arvorar-se na condição do dever cumprido, de ser possuidor de títulos ou de possuir extensa bagagem maçônica, não contribui em nada para os destinos da Ordem.

Maçonaria se faz no dia-a-dia, na conquista permanente de novos adeptos e na tentativa da melhoria constante da espécie humana. A busca incessante e permanente da verdade faz da Sublime Instituição, organização sem similar.

A permanência da Maçonaria como instituição respeitável como é, deve necessariamente contar com a renúncia das possíveis vaidades de seus membros para o bem comum.

Mas, vemos com frequência Irmãos desentendidos ou que se fazem de desentendidos, querendo manter a ferro e fogo o seu círculo de poder. Apesar da inerência do poder ao ser humano, o Maçom pelos ensinamentos recebidos não pode a isso se ater.

A perpetuação de uma instituição passa, com absoluta certeza, pelo grau de compreensão de seus membros e na renovação sistemática de suas lideranças. Cabe a cada um de seus membros renunciarem às vaidades e presunções infundadas para o bem.

A título de exemplo, tem Irmãos que gostam de apologizar-se, em descumprir a legislação em vigor, criando com esses atos bolsões de intransigências, que mais tarde derivam-se na mais pura vaidade e arrogância de ser um descumpridor, notadamente, de um poder que não tem coercitividade, que afinal é o caso da Maçonaria.

Para vivermos em Igualdade, sem qualquer Grau de subordinação, é muito difícil; porém, dentro da Maçonaria é necessário.

Não basta respeitar ao Irmão como homem, deve respeitar como Maçom.

Não importa qual o Grau ou Rito que freqüente, importa sim, o respeito pelo ato da Iniciação e pela instituição a que o Maçom pertence.

Esta diversidade que o Maçom possui, deve ela crescer sempre em benefício da ordem, e não transformar-se em um poço de orgulho, egoísmo e vaidade.

Ter vaidade de ser Maçom é muito bom e proveitoso, mas ser um Maçom vaidoso e refém do poder, com absoluta certeza, não trará qualquer benefício à Ordem e aos Irmãos.

Os três princípios de sustentação da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, não devem ser distorcidas de sua real finalidade. Ao viciar qualquer ensinamento ou distorcê-lo é um perjúrio, os Irmãos devem ter consciência disso.

As reuniões costumeiras e obrigatórias deveriam servir como bálsamo às nossas dificuldades e angústias do dia-a-dia. Infelizmente não é isso que amiúde presenciamos, a praxe é uma guerra surda no sentido de manter posições, ou seja, o “statu quo ante”, isso é incompatível com o princípio da Sublime Instituição.

Entre um homem simplesmente vestido de Avental e um Maçom, tem uma diferença significativa.

A parábola dos talentos vem a isso confirmar. Ninguém é dono de nada, apenas o seu guardião, os Irmãos devem isso se lembrar, o nivelamento pelo valor monetário disponível por cada um, não serve para a caracterização do reconhecimento e vinculação maçônica.

Cada Irmão deve ser entendido e aceito independentemente, o que vale e significa muito para a Maçonaria são os fatores intrínsecos, isto é, os fatores internos da Ordem, a sua irradiação de valores humanos, hauridos por seus membros em Loja.

A Maçonaria é uma escola de humanismo e disso ninguém pode duvidar.

Tanto no estudo da filosofia, da filologia e no campo social, a Maçonaria incute aos seus adeptos essa capacidade de modificação no comportamento e na visão geral da sociedade, notadamente, nas condutas de moral e ética.

Reflitamos sobre nossas atitudes.
Fonte: JB News

UM ETERNO APRENDIZ, JAMAIS, DEVE SER CONFUNDIDO COM UM APRENDIZ ETERNO!



O Maçom, como um buscador da Verdade, em sua vereda iniciática, mesmo que já tenha galgado os mais altos graus de seu rito, jamais, poderá se considerar que absorveu todo o conhecimento. A busca da Verdade é um exercício diário e infinito na evolução do homem.

Encontrá-la seria a maior das utopias, pois quando nos certificarmos de algo, logo, um amplo terreno de dúvidas se abre a nossa frente. A palavra “Verdade” poderia se traduzir em “qualidade de ver”, estando, estritamente, condicionada ao estado de consciência de cada um, em relação a algo. Cada um de nós é o portador de sua Verdade.

 A Verdade Absoluta é a Divindade, o Grande Arquiteto do Universo. Como criaturas, e criados à imagem e à semelhança do Criador, somos partículas infinitesimais de Deus. A nossa Verdade se expande conforme se amplia a consciência da divindade dentro de nós.

Dizia o Mestre Jesus: “Eu Sou a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai, senão por Mim!” Sua origem transcende aos três tempos verbais, passado, presente e futuro. Haja vista que, tal palavra no grego, chama-se “aletheia”, referindo-se as coisas que são; no latim, chama-se “veritas”, e se refere aos fatos que foram; já no hebraico, chama-se “emunah”, com relação às coisas que serão. 

A cada vez que assistimos o ministrar das mesmas instruções maçônicas, a cada momento a interpretamos através de uma nova ótica, angariando um novo aprendizado.

Em verdade, não foi à instrução que se modificou, mas o nosso estado de consciência. A nossa Verdade que se expandiu com relação àquele ensinamento e passamos a enxergá-lo por outro prisma. Buscar a Verdade é buscar o nosso Deus Interno, a fagulha divina. É o despertar de nossa quintessência, o espírito.

Seu despertar é início do domínio do espírito sobre a matéria, sobre o quaternário dos elementos. Esse é o princípio do trabalho da Iniciação, ou seja, é o “início” da “ação”, ou a “ação de iniciar” uma caminhada, a guisa da parábola bíblica do “Filho Prodígio de Volta à Casa do Pai”, a fim de que a centelha (nós) se una, novamente, à Chama do Eterno. O trabalho é constante e requer do postulante à Iniciação, disciplina e dedicação, pois a busca é eterna, como é eterno o aprendizado.

 Ao nos considerarmos um eterno aprendiz, não estamos falando que estaremos limitados, para sempre, à condição de ser um Aprendiz Maçom, de ficarmos restritos ao aprendizado relativo ao Primeiro Grau Maçônico.

Em verdade, o Eterno Aprendiz é aquele que, independente do Grau já adquirido, coloca-se, incondicionalmente, receptivo a novos conhecimentos, permitindo que sua Verdade se expanda. O Teatro da Cerimônia de Iniciação, realizado quando ingressamos na Ordem, não nos concede o “status”, a partir de então, de nos considerarmos um iniciado.

O seu enredo é, tão somente, a trajetória iniciática que se espera que alcancemos um dia. Talvez, e muito provavelmente, tal conquista não se dará uma só vida! Portanto, devemos seguir, humildemente, nossa infinita caminhada, sem buscar atalhos, sem nos deixarmos desviar do verdadeiro caminho, devido ao iminente risco de sermos iludidos pelo falso brilho das alfaias, altos cargos e funções. 

O aprendizado é eterno, daí sermos eternos aprendizes em busca da Verdade Absoluta!

Esse é o verdadeiro caminho da Iniciação, cuja estrada não nos conduz para fora, mas sim, para dentro de nós mesmo!

Revista Arte Real

MAÇONS - QUE GENTE É ESSA?



Que gente é essa? É gente de conteúdo interno que transcende a compreensão medíocre, simplória.

É gente que tem idealismo na alma e no coração, que traz nos olhos a luz do amanhecer e a serenidade do ocaso.

Tem os dois pés no chão da realidade.

É gente que ri, chora se emociona com uma simples carta, um telefonema, uma canção suave, um bom filme, um bom livro, um gesto de carinho, um abraço, um afago.

É gente que ama e curte saudades, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais, admira paisagens, escuta o som dos ventos.

É gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão, repartir ternura, compartilhar vivências e dar espaço para as emoções dentro de si.

É gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir de compromissos difíceis e inadiáveis, por mais desgastantes que sejam.

Gente que semeia, colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um analfabeto.

É gente muito estranha os Maçons.

Gente de coração desarmado, sem ódio, sem preconceitos baratos ou picuinhas.

Gente que fala com plantas e bichos, dança na chuva e alegra-se com o sol.

Eh! Gente estranha esses Maçons.

Falam de amor com os olhos iluminados como par de luas cheias.

Gente que erra e reconhece. Gente que ao cair, se levanta, com a mesma energia das grandes marés, que vão e voltam.

Apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros e fazendo redentores suas lágrimas e sofrimentos. Amam como missão sagrada e distribuem amor com a mesma serenidade que distribuem pão. Coragem é sinônimo de vida, seguem em busca dos seus sonhos, independentes das agruras do caminho.

Essa gente vê o passado como referencial, o presente como luz e o futuro como meta.

São estranhos os Maçons!

Cultuam e estudam as Sagradas Tradições como formas de perpetuar as leis que regem o Universo, passam de geração para geração a fonte renovadora da sabedoria milenar. São fortes e valentes, e ao mesmo tempo humildes e serenos.

Com a mesma habilidade que manuseiam livros codificados de sabedoria, o fazem com panelas e artefatos.

São aventureiros e ao mesmo tempo criam raízes, inventam o que precisa ser inventado. Criam raízes, inventam suas próprias histórias.

Falam de generosidade em exercício constante.

Ajudam os necessitados com sigilo e discrição.

Conduzem a prática desinteressada e oculta da caridade e do amor ao próximo.

Interessante essa gente, esses Maçons.

Obrigam-se nas tarefas, de estudar a Arte Real, de evoluir, de amar e dividir.

Partilham da mesa do rei e de um amigo montanhês com mesmo sorriso enigmático de prazer e sabedoria que iluminava a face de seus ancestrais.

Degustam um pão artesanal, com a mesma satisfação que o fazem em um banquete cinco estrelas.

Amam em esteiras e em grandes suítes, desde que estejam felizes, pois ser feliz e levar felicidade são sempre a única condição dessa gente estranha.

É gente que compra briga pela criança abandonada, pelo velho carente, pelo homem miserável, pela falta de respeito humano.

É gente que fica horas olhando as estrelas, tentando decifrar seus mistérios, e sempre conseguem.

Agradecem pelas oportunidades que a vida lhes dá. Aliás, essa gente estranha agradece por tudo, até pela dor, que tratam como experiência.

Reúnem-se em Escolas Iniciáticas que chamam de Lojas, para mutuamente se bastarem, se protegerem, se resguardarem, para resgatar valores, e estudar muito.

Interessantes são os Maçons.

Mas interessante mesmo é a fé que os mantêm vivificados ao longo de séculos.

Abençoada essa estranha gente.

É dessa estranha gente, que o Supremo Arquiteto do Universo precisa para o terceiro milênio.

É a essa estranha gente, de que sou parte, que desejo DE TODO MEU
CORAÇÃO, as mais ardorosas congratulações.

Leandro Sidney Eli

Or.". de Farroupilha-RS

A PEDRA EM BRUTO


Na reunião passada, ao entrar em minha Loja, tropecei neste pedaço de rocha que chamamos Pedra Bruta e que ornamenta minha coluna.

Com certa ironia, dei meia volta e lhe disse: “Desculpa, Pedra Bruta”. Surpreso, escutei que me respondeu: “Não há de que, Maçom Bruto”.

Ofendido, voltei e lhe disse: “Ah! Então falas também?”

“Sim, me disse. E o que é melhor, penso no que digo. Pena me dá ver que IIr.'. como tu me tem em tão pouca estima. Passam e passam sem sequer me dar um olhar compassivo, ou tão sequer um gesto amável.

Isto me irrita, porque me dou conta de quão pouco compreendem a grandeza que encerro dentro do meu significado. Aqui onde me vês, não fui sempre o que sou; eu venho dos penhascos, das alturas; onde podia ver o Sol antes de todos e desfrutar de seus suaves raios, enquanto tu vivias na penumbra.

Eu aspirava o ar puro e fresco, e quando o furacão te causava espanto e medo, eu simplesmente ria. Minha massa ereta, firme e segura recortava, com o meu perfil perfeito, o infinito azul do horizonte.

Nas mudanças de estações, as transformações atmosféricas depositavam em mim copos alvos, que me faziam parecer mais pura e branca, e ao coroar minhas têmporas, me fazia sentir orgulhosa de receber a oferenda do espaço.

Depois as fazia escorregar por mim, transformadas em cascata clara e cristalina, onde o Sol adornava com sua luz o Arco Íris. A minha altura, somente os condores chegavam e era agradável ver a meus pés, como ajoelhada ante minha grandeza, a imensa esmeralda do vale bordada de lantejoulas de mil cores.

Os rios, os animais, as flores, não faziam mais que emoldurar a minha beleza. Meu orgulho chegou a tal grau, que me cria invencível, inacessível, eterna. Porém, quão equivocada eu estava. Um dia o universo, como querendo demonstrar meu erro, desatou sua fúria e mandou sobre mim um raio que com sua luz, cegou meus olhos e, ao terrível impacto, voei em mil pedaços.

Precipitei-me no abismo, e à medida que rodava, menor me fazia, e rodando e rodando fui descendo até ficar no fundo do barranco. Chorei de raiva a me ver nesta infinita impotência, quando os elementos deformaram mais e mais minha outrora orgulhosa presença. Assim permaneci não sei quanto tempo, até que, igual a outras pedras companheiras de infortúnio, nos transportaram.

E voltou a renascer minha esperança. Pensei que talvez, por minha linhagem nobre, seria colocada em lugar que me correspondesse. “Serei agora um monumento” - pensava - com minha presença simbolizarei o coração duro e inflexível da razão; ou serei a venda que representa a imparcialidade em todos os juízos. Talvez forme parte do monumento a Pátria, eternizando com minha presença, as glórias de um povo.

Gostaria de ser a coroa de louro que cinge as têmporas do patriota ou talvez, porque não, serei parte integrante do monumento à Mãe, para que as gerações futuras vejam que, com minha cooperação, se imortaliza o amor mais puro que existe.

Com que carinho acolheria a ideia de ser o braço da mãe que envolve o menino em eterna caricia; ou os olhos que vêem com doçura a terna criança; ou as lágrimas que as mães vertem ante a ingratidão de seus maus filhos; isso teria querido ser.

Depois de ser grande, seguir sendo-o, não em tamanho, mas em espírito, em essência. Quantas e quantas ilusões me fiz. Quantos desejos de altura e grandeza. 

Mas, porém, aqui me tens, tão dura e feia como no barranco, tão grotesca que causo pena, e se não me esculpem é porque nem para isso tenho forma. Não haverá um artífice que me transforme que me dê vida?

Maçom, só tenho servido para representar-te, para que vejas em mim as tuas imperfeições, teus vícios e tua ignorância. Sou agora o exemplo do mal. Todavia, às vezes me envergonho de que me comparem com alguns de vocês. Há pouco me vês, mas eu tenho visto tantos e tantos que por aqui entraram que até perdi a conta.

Perguntou-me: onde estão agora tantos MM.'. que aqui vieram jurar fraternidade, lealdade e amor a esta augusta instituição?

Onde estão os MM.'. que aqui se iniciaram?

Eu não sei, nem me explico. Só sei que saíram para nunca mais voltar, e que andarão por aí dizendo: “Sou M.'.M.'.”. E isto me dá pena e lástima, não pela Maçonaria, senão por eles que não foram capazes de ver mais além de seus narizes; porque ilusos, acreditaram que a Maçonaria é feira de vaidade, quando melhor deveriam ter lutado por encontrar a formosa beleza que encerra esta luz e esta verdade.

A ti, Aprendiz, tenho observado; e não creio que sejas diferente daqueles, por isso desejo aconselhar-te. Vejo quando decifras tuas peças, trêmulo, tanto quê quase teus joelhos se dobram de medo. E te pergunto: medo de que ou de quem?

Tens por acaso medo de ti mesmo? Porém, quando escutas o aplauso de teus IIr.'., voltas a teu lugar envaidecido. Inchas-te como um Pavão Real, e se pudesses ver-te como te vejo, verias que não és mais que um pobre Pato.

Olhando-te em teu posto, vejo que quase explodistes de satisfação perante os elogios, nem sempre feitos com justiça. E isso é muito mau, não te deve subir à cabeça, o que supões um êxito, porque podes cair no erro de sentir-te superior, quando não és mais que um Apr.'. Serena-te e analisa. Sejas prudente em teus atos e humilde em tuas afirmações.

Sejas sincero contigo mesmo, para que possas sê-lo com os demais, mas sobre todas as coisas, conhece-te a ti mesmo. Pratica tuas teorias, sejas bom, caritativo, honrado, estudioso, ajuda a tua Loja e a teus IIr.'.. Não sejas M.'.de Bico, nem sejas M.'. Teórico. A virtude, a honra, a lealdade, não se adquirem martelando liturgias.

Agora te felicitam, dando-te alento para seguir adiante, é justo que festejem tuas peças de arquitetura, não por seu valor, mais bem para dar-te ânimo para seguir lutando e melhorando. Tu deves saber que melhoras a cada dia, e à medida que passa o tempo, estás obrigado a superar-te.

Espero que entendas o que digo. Não te envaideças, aceita os aplausos como estímulo para tua própria superação. Não te detenhas enquanto tiveres traçando um caminho a seguir. A Maçonaria é grande, muito grande, aonde somente chegam poucos e onde também a maledicência e a mediocridade se perdem no torvelinho escuro do nada. Para terminar quero pedir-te um favor. 

Não me digas Pedra Bruta, sou Pedra em Bruto, que é diferente.

Dispunha-me a responder à Pedra, quando com um golpe de malhete meu V.'.M.'. disse: “Silêncio IIr.'., estamos em Loja”... fiquei calado, porém, pensando na infinita verdade que representa esta humilde e feia Pedra em Bruto.

Extraído do Livro A Pedra Bruta (Instruções de Aprendiz) - 1995 do Ir.'. Antônio César Celente
Fonte: portaldamaconaria


SIMILARIDADES ENTRE A ORDEM ROSACRUZ E A MAÇONARIA



O Rosacrucianismo, assim como a Maçonaria, é um sincretismo de diversas correntes filosófico-religiosas: hermetismo egípcio, cabalismo judaico, gnosticismo cristão, alquimia etc.

A primeira menção histórica da ordem data de 1614, quando surgiu o famoso documento intitulado “Fama Fraternitatis”, onde são contadas as viagens do alemão Rosenkreuz pela Arábia, Egito e Marrocos, locais onde teria adquirido sua sabedoria secreta, que só seria revelada aos iniciados.

Existe ligação entre a Maçonaria e os rosacruzes e essa ligação começou já na Idade Média. No fim do período medieval e começo da Idade Moderna, com inicio da decadência das corporações operativas (englobadas sob rótulo de maçonaria de Ofício ou operativa), estas começaram, paulatinamente, a aceitar elementos estranhos à arte de construir, admitindo, inicialmente, filósofos, hermetistas e alquimistas, cuja linguagem simbólica assemelhava-se à dos francos-maçons.

Como a Ordem Rosacruz estava impregnada pelos alquimistas, como já vimos Dara daí a ligação do Rosacrucianismo e da alquimia com a Maçonaria. Leve-se em consideração, também, que durante o governo de José II, imperador da Alemanha de 1765 a 1790, e co-regente dos domínios hereditários da Casa d’Áustria, houve um grande incremento da Ordem Rosacruz e sua comunidade, atingindo até a Corte e fazendo com que o imperador proibisse todas as sociedades secretas, abrindo, apenas, exceção aos maçons o que fez com que muitos rosacruzes procurassem as lojas.

Ambas as Ordens são medievais, se for considerado o maior incremento da Maçonaria de Ofício durante a Idade Média e o início de sua transformação em Maçonaria dos Aceitos (também chamada, indevidamente, de “Especulativa”).

Se, todavia, considerarmos o início das corporações operativas, em Roma, no século VI antes de Cristo, a maçonaria é mais antiga. Isso é claro, levando em consideração apenas, as evidências históricas autênticos e não as “lendas”, que fazem remontar à origem de ambas as instituições ao antigo Egito.

A maçonaria é uma ordem totalmente templária, ou seja, os ensinamentos só ocorrem dentro das lojas.

Já a Antiga e Mística Ordem Rosacruz - AMORC dá ao estudante o livre arbítrio de estudar em casa ou em um templo Rosacruz. O estudo em casa é acompanhado à distância, e assim como a maçonaria, é composto de vários graus, que vão do neófito (iniciante) ao 12º grau, conhecido como grau do ARTESÃO.

O estudo no templo, mesmo não sendo obrigatório, proporciona ao estudante além do contato social como os demais integrantes, a possibilidade de participar de experimentos místicos em grupo, e poder discutir com os presentes os resultados, e por último, a reunião templária fortalece a Egrégora da organização, o que também ocorre na maçonaria.

DA REGENERAÇÃO E IMORTALIDADE A REFORMADOR SOCIAL.

A partir da metade do século XVIII e, principalmente, depois de José II, com a maciça entrada dos rosacruzes nas lojas maçônicas, tornava-se difícil, de uma maneira geral, separar Maçonaria e Rosacrucianismo, tendo, a instituição maçônica, incorporado, aos seus vários ritos, o símbolo máximo dos rosacruzes: ao 18º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, ao 7º grau do Rito Moderno, ao 12º grau do Rito Adonhiramita etc.

O Cavaleiro Rosacruz é como o próprio nome diz, um grau cavalheiresco e se constitui no 18º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. A sua origem hermetista e a sua integração na Maçonaria, durante a Segunda metade do século XVIII, leva a marca dos ritualistas alquímicos, que redigiram naquela época os rituais dos Altos Graus.

O hermetismo atribuído ao Grau 18 é perceptível no símbolo do grau, que tem uma Rosa sobreposta à Cruz, representando esta, o sacrifício e a Rosa o segredo da imortalidade, que nada mais é do que o esoterismo cristão, com a ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, a tipificação da transcendência da Grande Obra.

A Maçonaria também incorporou, em larga escala, o simbolismo dos rosacruzes, herdeiros dos alquimistas, modificando, um pouco, o seu significado e reduzindo-o a termos mais reais. Assim, o segredo da imortalidade da alma e do espírito humano, enquanto é aceito o princípio da regeneração só pode ocorrer através do aperfeiçoamento contínuo do homem e através da constante investigação da Verdade.

O misticismo dos símbolos rosacruzes, todavia, foi mantido, pois embora a Maçonaria não seja uma ordem mística, ela, para divulgar, a sua mensagem de reformadora social, utiliza-se do misticismo de diversas civilizações e de várias correntes filosóficas, ocultistas e metafísicas.

AS INICIAÇÕES.

Uma singularidade entre a AMORC e a Maçonaria, são as iniciações nos seus respectivos graus, sendo que para ambas, a primeira é a mais marcante. No caso da Maçonaria a iniciação é ao grau de Aprendiz, e da AMORC, a admissão ao 1º grau de templo.

As iniciações têm o mesmo objetivo, impressionar o iniciante, levá-lo à reflexão, para que ele decida naquele momento se deve ou não seguir adiante, e se o fizer assumir o compromisso de manter velado todos os símbolos, usos e costumes da instituição de que fará parte.

O SIMBOLISMO

Vários são os símbolos comuns às duas instituições, a começar pela disposição dos mestres com cargos, lembrando os pontos cardeais, e a passagem do Sol pela Terra, do Oriente ao Ocidente.

Cada ponto cardeal é ocupado por um membro. A figura do venerável mestre na maçonaria, ocupando sua posição no Oriente, encontra similar na Ordem Rosacruz, na figura de um mestre instalado, que ocupa seu lugar no leste.

A linha imaginária que vai do altar dos juramentos ao Painel do Grau, e a caminhada somente no sentido horário, também é similar. Em ambos os casos o templo é pintado na cor azul celeste, e a entrada dos membros ocorre pelo Ocidente.

O altar dos juramentos encontra semelhança no Shekinah na ordem Rosacruz, sendo que neste último não se usa a bíblia ou outro livro, mas sim três velas dispostas de forma triangular, que são acesas no início do ritual e apagadas ao final deste, simbolizando a luz, a Vida e o Amor.

Outra semelhança é o uso de avental por todos os membros iniciados ao adentrarem o templo, enquanto que os oficiais, (equivalente aos mestres com cargo), usam paramentos especiais, cada qual simbolizando o cargo que ocupa no ritual. O avental usado pelos membros não diferencia o grau de estudo. Algumas das diferenças ficam por conta da condução do ritual, onde na rosacruz tem caráter místico-filosófico.

Os iniciantes na Ordem Rosacruz recebem seus estudos em um templo separado, anexo ao templo principal (Pronaos), enquanto os aprendizes maçons recebem suas instruções juntamente com os demais irmãos e, finalmente, o formato físico da loja maçônica lembra as construções greco-romanas, enquanto que a Ordem Rosacruz (AMORC) lembra as construções egípcias.


Fonte: Blog "Nós Fraternos" - Postado em Julho/2010.


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