Quando se segue
uma Via Espiritual ou se é admitido numa Ordem de tipo esotérica-iniciática tal
como a Maçonaria se define, é habitual o novo membro efetuar um juramento no
momento da sua admissão ou durante a execução de uma cerimônia de cariz
iniciático, no qual se assume um determinado compromisso.
E somente após a
realização desse juramento é que o neófito é recebido e integrado no seio da respectiva
Ordem.
No caso que irei
abordar e que será sobre a Maçonaria, é natural quando se fala em compromisso maçônico também se
abordar simbioticamente o juramento
maçônico. Tanto um como o outro são indissociáveis, porque um obriga ao
outro e o mesmo, reciprocamente.
Durante o
desenrolar de uma Iniciação Maçônica, no seu “ponto alto”, o neófito concorda
em submeter-se a um juramento onde assume como compromisso de honra,
aceitar e respeitar as Regras, Usos e Costumes da Maçonaria bem
como as regras e leis do país onde se encontra sediada a Obediência Maçônica e
a respectiva Loja da qual irá fazer parte.
Nomeadamente e de
entre os vários princípios maçônicos que se aceitam cumprir, os mais conhecidos
pelo mundo profano são a Fraternidade entre todos os Irmãos, a
persecução do espírito da Liberdade na Sociedade Civil e o sentimento de
Igualdade entre todos.
Assim, assumir-se
um compromisso com a Ordem Maçônica é assumir-se um compromisso pela
Ordem e a bem da Ordem. Isto é que é o tão
propalado estar à Ordem.
E estar-se
é mais do que o ser-se! E digo isto porque qualquer um pode “o
ser”, mas “estar” apenas se encontra ao alcance
de poucos…
Estar implica sacrifício, comprometimento,
trabalho, prática e estudo, e isto de forma incansável e não perene.
Por isto é que
assumir um compromisso deste gênero e com a relevância que este tem, nunca
deverá ser feito de forma leviana; o mesmo se passa com os outros compromissos
que se assumem durante a nossa vida profana e que também não devem ser
assumidos se não estivermos capacitados para cumpri-los.
-Há que se ter a
noção daquilo a que nos propomos a fazer-.
Por isso é
que o compromisso maçônico é feito com a nossa Palavra e sobre
a nossa Honra. Desvirtuar estas duas qualidades é desvirtuar a
própria Maçonaria.
Da mesma forma que,
se não respeitarmos a nossa palavra e não mantivermos a nossa dignidade na
sociedade civil, também não somos dignos de nela estarmos integrados e
sofreremos as consequências ou punições que forem legitimadas pelas leis do
país.
De certa maneira, a
Maçonaria atua e se assemelha com a sociedade profana, com as suas leis e
os seus costumes, competindo aos maçons respeitar a sua aplicação e
observar o seu cumprimento. É mais que um dever ou obrigação tal.
É a Assumpção que assim o deve ser e nada mais!
Porque assim tem
funcionado há quase três séculos e o deverá continuar a ser noutros tantos…
Aliás, ainda na
Maçonaria contemporânea se encontra algo que dificilmente se encontra na
profanidade atualmente, ou seja, o valor da palavra sobre a escrita. O que não
deixa de ser curioso dados os tempos que correm.
Nesta Augusta
Ordem, ainda hoje aquilo que um maçom afirma tem um valor tal, que se poderá
assumir que não necessitará de ser escrito para que o seja considerado; basta
se dizer, que assim o será.
O tal “contrato
verbal” na Maçonaria ainda hoje tem lugar. E somente pessoas de bons costumes o
usam fazer, pois a sua honra e a sua conduta serão sempre os seus melhores
avalistas.
Não obstante, o
compromisso maçônico ao ser albergado por um juramento, obriga a que quem se
submete a ele, o faça de forma permanente. Não se jura somente aquilo que
gostamos ou somente aquilo que nos dá jeito cumprir.
Quando entramos
para a Maçonaria sabemos que, tal como noutra associação ou organização
qualquer, existem regras e deveres para cumprir;
pelo que o cooptado compromete-se em respeitar integralmente todas as regras e deveres que
existem na sua Obediência. E quem age assim, faz porque decidiu livremente que
o quer fazer e não porque alguém a tal o obriga.
E uma vez que a
adesão à Maçonaria se faz por vontade própria, aborrece-me bastante (para não
ser mais acutilante ainda…) assistir ou ter conhecimento de casos em
que este juramento foi atraiçoado e em que os compromissos assumidos
perante todos, foram deliberadamente e conscientemente esquecidos.
Será que quem age
desta forma, poderá ser reconhecido como um verdadeiro maçom?
Ou será apenas
gente que simplesmente enverga um avental e um par de luvas brancas nas sessões
da sua Loja?
Em alguns casos
destes, creio que foram pessoas que entraram na Maçonaria, mas que por sua vez,
a Maçonaria certamente não entrou neles…
Algumas vezes,
infelizmente, isto pode acontecer porque quem vem para a Maçonaria vem
“desavisado”, isto é, pouco conhece ou percebe o que é a Maçonaria e o que ela
representa, “vem ao escuro” por assim dizer, e caberá a quem apadrinha uma
candidatura maçônica, informar ou retirar algumas dúvidas que se ponham ao seu
futuro afilhado e consequente irmão.
Em última
instância, devem os responsáveis pelas inquirições que decorrem no âmbito de um
processo de candidatura maçônica, no momento das entrevistas aos candidatos,
terem a sensibilidade para se aperceberem do desconhecimento do entrevistado
sobre os princípios e causas que movem os maçons e sobre a Ordem da qual este
manifesta a vontade de vir a fazer parte, e nesse caso, serem os próprios
inquiridores nessas alturas em concreto, a efetuar o trabalho que deveria ter
sido feito anteriormente pelo proponente da referida candidatura, no que toca a
esclarecer o profano e a fornecer-lhe as informações que lhe sejam necessárias
para que esta (possível) adesão possa decorrer sem sobressaltos, nem que esta
admissão venha a causar problemas (previsíveis!) no futuro, seja para a respectiva
Loja ou até mesmo para a Obediência que porventura o vier a acolher.
Todavia,
normalmente no momento do juramento maçônico, o neófito faz sem saber/compreender
o que estará a jurar e para o que estará a jurar, pois o véu que o
cobre na sua Iniciação é de tal densidade que muitas vezes somente passado
algum tempo é possível se perceber o juramento que se fez e o compromisso que
se tomou, e que por vezes pode ser diferente daquilo que são as crenças
pessoais e respectiva forma de estar de cada um ou até mesmo porque se
acreditava que se “vinha para uma coisa e afinal se
encontrou outra”…
E o trabalho que um
padrinho deve desenvolver com o seu afilhado durante a formação deste tanto
como a responsabilidade que assumiu perante o afilhado e a Ordem ao subscrever
a candidatura dele, serão fulcrais neste tipo de situação concreta.
O padrinho (pelo
dever moral) e a Loja em si (porque é um dever da loja acompanhar e tentar
integrar corretamente os Irmãos nos valores maçônicos) devem tentar perceber o
motivo pelo qual alguém se “distancia” da Maçonaria.
E apenas ulteriormente, se
for caso disso, devem aconselhar a um possível adormecimento desse
irmão por não ser do seu intento continuar a pertencer a algo com o qual não se
identifique mais.
Pelo que desta
forma se prevenirão certos casos e eventuais
“lavagens de roupa suja” ou fugas de informação que
poderão surgir, as quais na sua maioria nem sequer são informações plausíveis nem
verídicas sequer, pelo que apenas posso especular que estas ocorrências se
devem a paixões e vícios mal combatidos e nem sequer
evitados… E como se costuma dizer, “o mal corta-se pela raiz”, pelo
que “as desculpas devem evitar-se”…
E uma vez que quem
entra na Maçonaria tem de ter a noção que as suas atitudes já não lhe dirão
respeito apenas a si, mas a todos os integrantes desta Augusta Ordem, a conduta
de um maçom estará sempre sob um fino crivo pela sociedade e sempre debaixo do
escrutínio de todos, seja de fora ou internamente. -
Porque um, pode sempre e a qualquer momento, “por em xeque” os
demais -. E ter esta noção e assumir esta responsabilidade é algo que deve ser
intrínseco desde os primeiros momentos de vida maçônicos.
Já não é o Nuno, o
X ou o Y que fazem isto ou aquilo, serão os maçons Nuno, X ou Y que o fazem…
Logo é a Maçonaria na sua generalidade que será atentada com a má conduta que
os seus membros possam ter para além da Ordem poder vir a ser acusada de
cumplicidade pelos atos efetuados pelos seus membros.
Assumir que a
nossa forma de estar e agir condiciona e se
reflete na Maçonaria é um dos maiores compromissos que os maçons poderão tomar.
Tanto que o dever de honrar a nossa Obediência, a nossa Loja e a Maçonaria em
geral, deve permanentemente se encontrar na mente de todos os maçons.
Um juramento
implica obrigações, e jurar ser-se maçom, mas fundamentalmente ser-se
reconhecido maçom pelos nossos iguais, implica que sejamos maçons a
“tempo inteiro” e não apenas às segundas-feiras ou quintas-feiras de manhã ou à
noite, ou quando nos dará mais jeito, é sempre!
Sermos maçons, não
é quando visitamos a loja e usamos os respectivos paramentos. Não basta
envergarmos um avental, calçar umas luvas brancas e fazer uns “gestos estranhos”
é muito mais que isso! É cumprir preceitos, rituais e trabalhar em prol da
Ordem.
E se não estivermos
prontos para tal, de nada valerão os juramentos que fizermos, porque nunca nos
iremos comprometer com nada na realidade e em último caso, nem sequer reconhecidos
como tal seremos.
E a palavra persistirá perdida…
A PARTIR PEDRA
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