Fui solicitado a me
pronunciar, em uma reunião de maçons, sobre tolerância.
Não sobre uma
tolerância qualquer, genérica, mas falar sobre a tolerância maçônica.
Neste
caso, não é uma questão de consultar dicionários e fazer comentários, vai mais
além.
Embora, na quarta
acepção do termo no Aurélio, poderemos observar uma definição que é bem próxima
do conceito maçônico: “tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir
que diferem dos de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou
religiosos”.
A maçonaria simbólica
foi construída como um espaço aberto ao diálogo das interpretações dos
símbolos. Há um convite à livre interpretação. Um convite ao exercício da
liberdade de imaginar e de expressar o pensamento de cada maçom, que é
naturalmente embargado em um contexto histórico, cultural e familiar do mesmo.
Embora no catecismo
maçônico, presente em alguns manuais de aprendiz maçom, esteja presente as
interpretações oficiais da organização maçônica que os adotam.
Fico, muitas vezes,
perplexo e encantado com as interpretações que escuto, por exemplo, do símbolo
maçônico \, três pontos equidistantes. Um livro de mil páginas seria
insuficiente para caber tantas interpretações. Mesmo que se fizesse uso de uma
fonte de letras com tamanho mínimo.
O Venerável Mestre da
loja escuta todas as interpretações de um símbolo maçônico, não censura nenhuma
e no final da escuta, apresenta a interpretação oficial da Ordem, quando existe
e é do seu conhecimento. Nesta atitude, se manifesta a tolerância maçônica:
ouvir e orientar quando se fizer necessário.
As organizações
maçônicas em geral, defendem a existência de um principio criador e a
imortalidade da alma. Mas, nada, além disso, no campo religioso. Entretanto, não
veta nos seus quadros obreiros que preferem um rito despido de qualquer
referência religiosa, a exemplo do Rito Francês Moderno, tido como agnóstico.
Assim como não
privilegia a concepção de Deus, teista ou deísta. Quanto à imortalidade da
alma, a Maçonaria não se manifesta se há encarnação, ressurreição ou nenhum
retorno.
Nos períodos de
instrução os temas preferidos são: liturgia, ritualística e simbologia.
Entretanto, não há impedimento para que qualquer obreiro possa apresentar um
trabalho que contemple uma abordagem científica de qualquer outro tema. Por
exemplo, a apresentação de outras antropologias que não estejam circunscritas
ao corpo material e a alma.
O que é terminantemente
proibido, e com isso apresenta-se um dos limites da tolerância maçônica, é a
apologia a qualquer doutrina religiosa ou política. Isto é, discursos
doutrinários e/ou evangelizadores de uma dada profissão de fé religiosa e/ou de
ideologia política partidária.
Sendo assim, as lojas
maçônicas acolhem qualquer profissão de fé religiosa e/ou filiações partidárias
dos seus obreiros. Todavia, para impedir qualquer constrangimento decorrentes
de embates entre os seus obreiros, proibi a discussão de temas religiosos e
político-partidários. É neste contexto em que se dá a tolerância maçônica, na
ausência do debate de ideias religiosas e/ou de políticas partidárias.
Uma característica
importante que expressa os limites da tolerância maçônica se dá na lenda
fundadora da Ordem: a defesa do mérito. Assim, não é tolerando a promoção sem
mérito. Nem se protege – no sentido de cumplicidade – um irmão que tenha
cometido um crime. Não há cumplicidade com o erro, muito menos com os vícios.
Todavia, se oferece os
instrumentos de defesa legal ao irmão que tenha caído em desgraça ou que se
encontre acusado de irregularidade, tudo em conformidade com o Estado de
Direito.
Como podemos observar, o
conceito de tolerância na maçonaria tem seus limites e possibilidades. Neste
sentido a quinta acepção do Aurélio, relativas a medições, também se aproxima
do conceito maçônico: “diferença máxima admitida entre um valor especificado e
o obtido; margem especificada como admissível para o erro em uma medida ou para
discrepância em relação a um padrão”.
Vamos, neste aspecto, dá
um exemplo bem comum. Os irmãos quando iniciados prestaram um juramento solene
de participar regularmente das sessões da loja, assim como pagar com
regularidade as mensalidades e outra obrigações pecuniárias que se fizerem
necessário.
Ao longo da vida
maçônica muitos são os irmãos que esquecem tal juramento, e por esta razão são
julgados em Câmara do Meio em sessão de finanças, e proclamados regulares ou
não. Neste julgamento se faz o exercício da quinta acepção oferecida ao
conceito de tolerância.
Meu amado irmão, se você
deseja saber o quanto os maçons são tolerantes, basta comparar o número de
maçons tido como regulares com o número de maçons irregulares da sua oficina.
Na minha loja o número de irregulares é bem maior.
Por fim, vamos observar
o conceito de tolerância aplicado no campo da ética. Não existe propriamente
uma ética tida como maçônica. O que podemos constatar é uma prática na qual o
maçom ético é aquele que busca o conhecimento para se aperfeiçoar e assim
exercer com competência a sua função, sem com isso esteja ocupado ou preocupado
com o sucesso do outro.
Assim como, podemos
observar, também, a prática na qual o maçom ético é aquele que busca servir ao
outro e neste serviço encontra o que ele reconhece como uma vida boa. As duas
práticas são toleradas e são vistas como forma corretas e complementares de
servir a humanidade.
Autor: Melquisedeque
Fonte: Site da Loja Alferes Tiradentes
Fonte: Site da Loja Alferes Tiradentes
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