A *aventalite* é uma doença que assola alguns maçons, geralmente
de forma aguda, passageira e facilmente curável, mas podendo evoluir para uma
forma crônica, essa necessariamente mais séria e com um tratamento mais
demorado e cura mais difícil.
Manifesta-se por uma despropositada inflação do ego,
injustificada sensação de superioridade, perturbador sentimento de poder e, nos
casos mais persistentes, inadequado comportamento em relação aos seus iguais,
vistos pelo doente como inferiores ou subordinados, por não usarem aventais de
Grande Alguma Coisa.
A aventalite é suscetível de atacar Grandes Oficiais e
Dignitários, independentemente da Obediência, seja Grande Loja ou Grande
Oriente, seja de orientação mais anglo-saxônica ou mais latina.
O tratamento da sua forma aguda é fácil e geralmente eficaz, se
aplicado na fase inicial da doença. Consiste numa severa e sonora puxada de
orelha, com solene declaração de que se não tem paciência para aturar exageros
de vaidosos, acompanhada de expressa chamada de atenção para a Igualdade que
obrigatoriamente reina entre os maçons e uma injeção de recordação de que o
exercício de ofícios em Grande Loja ou Grande Oriente são meros serviços,
tarefas, trabalhos a serem desempenhados com zelo e humildade, e não honrarias
ou reconhecimentos de inexistentes superioridades.
Nos casos mais graves, pode ser necessário um reforço de
tratamento com recurso a expressões vernáculas, envios para determinados
lugares não propriamente prestigiados, e solenes avisos de que, ou o doente
atina e baixa a crista, ou é melhor continuar a enganar-se correndo atrás do
seu próprio rabo, porque junto dos seus iguais (mesmo ele não reconhecendo como
iguais) não vai ter muita sorte.
Nas formas mais leves da doença, e, sobretudo quando o doente é
de boa índole, o tratamento mais suave chega para erradicar os sintomas, sem
sequelas. Podem, no entanto, ocasionalmente observar-se recaídas, em regra
facilmente tratáveis com uma observação chocante, mas bem-humorada, como, por
exemplo, “Você aí de novo deixando o avental subir-lhe à cabeça. Deixa-o na
pasta e não se exceda, porque você é melhor que isso…”.
Nas formas mais severas, a doença prolongada ou nos casos de
doentes com obtusidade cerebral, é indispensável o tratamento intensivo,
repetido as vezes que forem necessárias até o doente melhorar. No entanto, quer
a índole mais difícil do doente, quer a maior agressividade do tratamento,
podem dar origem a efeitos colaterais ou sequelas desagradáveis, designadamente
mau humor e afastamento temporário. Nas situações verdadeiramente graves e
reincidentes pode mesmo ser necessário aplicar quarentena.
A aventalite é uma doença oportunista que se manifesta com mais
frequência em ambientes poluídos por regras, sejam elas expressas, implícitas
ou consuetudinárias, que favoreçam, ou mesmo imponham, o uso com demasiada
frequência e em locais inapropriados de aventais de grande alguma coisa. O
oportunismo da aventalite aproveita qualquer desatenção que permita ou propicie
o uso desadequado e fora do seu ambiente próprio dos ditos aventais de grande
alguma coisa.
Para além do tratamento dos casos concretos dos enfermos pela
doença, é importante que se faça adequada prevenção, para evitar novas
infecções, recidivas e recaídas.
Recomenda-se, assim, revisão das normas regulamentares e das
práticas que não limitem o uso dos aventais de grande alguma coisa aos locais e
ocasiões adequados. Designadamente, é de toda a conveniência que se tenha
presente que, na Loja que se é membro, o obreiro é um elemento do quadro desta,
absolutamente igual aos demais, nem mais, nem menos que qualquer dos outros e,
que, consequentemente, fique inquestionavelmente assente que nenhum obreiro, na
sua própria Loja, usa avental de grande alguma coisa, antes devendo usar o avental
do seu grau e, se for o caso, o colar do seu posto na Loja, sendo absolutamente
indiferente posição ou ofício que porventura tenha na Grande Loja ou Grande
Oriente. Esta regra deve ter como única exceção – certamente ocasional – a
situação em que o obreiro se apresente na Loja, não na sua qualidade de obreiro
da mesma, mas no efetivo exercício da sua função de Grande Oficial ou em
representação oficial do Grão-Mestre.
Este princípio deve ser extensivo à visita a outras Lojas. Se o
obreiro faz visita a título pessoal, não faz sentido, e propicia a grave doença
da aventalite, que use avental de grande alguma coisa. Se a visita, porém, se
fizer no exercício das suas funções de Grande Oficial ou em representação do
Grão-Mestre, então, e só então, justifica-se que use o seu avental de grande
alguma coisa.
Claro que, em Assembleias de Grande Loja ou Grande Oriente, aí
sim, se está em espaço e momento em que é justificado e adequado o uso de
aventais de grande alguma coisa. Aí e nessas ocasiões, não há qualquer
inconveniente. Trata-se de um uso moderado e adequado de avental de grande
alguma coisa, que, por regra, não propicia nem aumenta o risco de contágio pela
irritante aventalite.
A bem da saúde dos irmãos maçons exorto que esta atividade de
prevenção seja feita. É saudável e, sobretudo, é… maçônica!
Rui Bandeira
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