Meu Querido Irmão Aprendiz
O momento que te terá apanhado de surpresa e sobre que captaste
apenas um pouco dos seus inúmeros pormenores e significado, representa o
instante mais importante na vida de um Guerreiro da Luz.
Possibilitou o primeiro mergulho no interior de ti próprio,
exercício que será repetido vezes sem conta na via que começaste agora a
trilhar.
O primeiro passo nesse trilho foi um exercício de vontade e
perseverança, uma vez que as provas a que foste sujeito não te demoveu na
vontade de ver a Luz e seres recebido entre os Irmãos, como novo Obreiro.
Os passos que te vão ser exigidos, a partir de agora, serão
novos apelos à tua vontade, esclarecimento e vontade de aprender. Estás agora
na idade infantil da Maçonaria, a idade de Aprendiz e é-te exigido um silêncio
absoluto durante as sessões da Loja.
Esse silêncio não significa amesquinhamento ou desconsideração
pela tua condição de Homem Livre e de Bons Costumes, requisitos sobre que foste
inquirido quando do inquérito maçônico.
Significa enorme disponibilidade para ver, ouvir, cheirar
e sentir, sem juízos pré-formados e ideias pré-concebidas. Este é o tempo de
aprendizagem sobre as regras da Arte Real, as normas da nossa Augusta Ordem, as
exigências do ritual, a interação dos Irmãos Mestres nos trabalhos da Loja.
Olhar vivo e sentidos bem despertos é o que te recomendo. Se e
quando tiveres necessidade de expor alguma necessidade ou ideia faça pelo Irmão
Mestre mais próximo de ti ou quando eu, na qualidade de Mestre da Loja, te
autorizar.
A boa aprendizagem é aquela que se faz gradualmente, sem
pressas, sem saltar etapas na via que agora iniciaste, na via do conhecimento
das leis que nos regem, na relação com os outros homens, no preito Àquele de
que fomos feitos à imagem, Deus.
Não tenhas, por isso, pressa. Na caminhada, que iniciaste, serás
conduzido pelo oficial da Loja que tem a incumbência de instruir e
supervisionar os Aprendizes, o Irmão Segundo Vigilante. Irmão que está sentado
à tua frente, na mesa triangular que lhe serve de enquadramento.
Deixa-te seguir pela mão dele, pela sua experiência e
sensibilidade; cumpre as suas orientações. Será ele que me relatará os teus
progressos e que me informará, ultimada a instrução, que estás em condições de
veres o teu salário aumentado, isto é, progredires para Companheiro Maçom.
Na coluna onde te sentas, a coluna do Norte, não terás grande
visibilidade, porque as três janelas do Templo estão fora da tua área de visão.
Como saíste não a muito tempo do sepulcro onde morreste para a
vida profana e terrena, os teus olhos têm dificuldade em se adaptarem à
luminosidade que advém da iluminação do Grande Arquiteto, aqui representado
pelo Delta luminoso que está por detrás do teu Venerável Mestre.
Ela ser-te-á concedida paulatinamente, passo após passo, esforço
após esforço. Porque o excesso de luz deslumbra e cega.
Os homens que vês em teu redor já fizeram essa caminhada, cada
um de per si, e chegaram a outros estádios da evolução maçônica quando foram
julgados merecedores desse progresso. Eles são os teus Irmãos e companheiros
nessa jornada. Confia neles e observa-os.
Nós, Maçons, somos a mais antiga fraternidade humana.
Fraternidade que, segundo uns, data do tempo das guildas e corporações de
pedreiros e maçons operativos que construíram as grandes catedrais, os
castelos, as igrejas paroquiais; segundo outros, de mais atrás das grandes
civilizações da Antiguidade: dos egípcios, dos fenícios, dos babilônios, dos
judeus.
Nunca saberemos ao certo onde começamos e quando, mas sabemos
que desde então temos uma Regra, vários Rituais e Ritos, alguns segredos e
princípios que nos orientam: tratar o outro como um fim e não como um meio;
fazer o bem sem olhar a quem; ser solidário com os que têm dificuldades; ajudar
a tornar o mundo em que vivemos um mundo melhor.
Somos uma Fraternidade com segredos que despertam enorme
curiosidade do mundo profano, que entrevê em nós e nas nossas tradições
ausência de transparência, ideias conspirativas e a subversão da Ordem Pública,
inspiração satânica.
Tudo isso nos merece uma enorme gargalhada que é a melhor forma
de reagir perante as tolices de gente mal-informada ou apenas ignorante.
Temos segredos, mas apenas segredos ligados à nossa tradição e à
transmissão do conhecimento que, como em épocas arcanas, é feito boca a orelha,
pessoa a pessoa, para aqueles que merecem recebê-lo e aprendem a interpretá-lo.
Há o conhecimento imediatista, que poderíamos designar por exotérico com
x, intuitivo; há depois o conhecimento esotérico, intimista, reflexivo.
O primeiro está nos livros, na Internet, nas revistas
sensacionalistas, nos documentários da conspiração; o segundo encontrarás
por ti próprio, com esforço, observando os símbolos que te rodeiam, mas olhando
para dentro, para a tua alma, procurando a razão de estares aqui nesta
particular comunidade de homens.
Procuraremos aqui despertar-te para este segundo domínio.
A Aprendizagem exige estudo, e muita reflexão, aplicação e
vontade de melhorarmos como seres humanos e como maçons. A informação pode-nos
ser mostrada e indicada mas esse caminho é individual e muito solitário. Buda
disse “Somos o que pensamos.
Tudo o que somos surge com os nossos pensamentos. Com os nossos
pensamentos, fazemos o nosso mundo.” Jesus disse “O olho é a lâmpada do corpo.
Se o teu olho é bom, todo o teu corpo se encherá de luz.
Mas se ele é mau, todo o teu corpo se encherá de escuridão. Se a
luz que há em ti está apagada, imensa é a escuridão”. Maomé acrescentou “A
verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz neste mundo”.
Toma estes ensinamentos como guia do teu comportamento, aqui e
lá fora.
Todos os meses reunir-nos-emos aqui, duas vezes, longe dos
olhares profanos para erguer novos templos à virtude e cavar sepulcros ao
vício, exercitando o que designamos por Arte Real.
Os nossos trabalhos são guardados por Irmãos que têm a missão de
manter a sacralidade deste espaço e impedir a entrada de intrusos. A espada é o
símbolo desse ofício, hoje puramente simbólico e essa a razão que o guarda
interno está armado com uma espada.
Mas por vezes os intrusos não são físicos, mas mentais, são os
nossos julgamentos precipitados, os nossos impulsos mesquinhos, os nossos ódios
de estimação.
Habitua-te a deixar os teus pensamentos profanos à porta do
Templo. Aquieta o teu pensamento quando entrares no Templo. Participa com
alegria e empenho nos nossos trabalhos.
Por vezes vê-se em lojas, irmãos a consultar repetidamente o
relógio e o celular. Isso é muito mau sinal: ou os trabalhos não estão a
decorrer com a elevação, o rigor e a profundidade que deviam ter; ou esses
irmãos não deveriam estar na sessão. A reunião em Loja é o momento quinzenal de
convívio com os Irmãos e isso deve merecer a nossa concentração e respeito.
Finalmente o Templo em que estás não teria sido construído sem a
ajuda fraterna e o contributo de todos os Irmãos desta Loja. Como te foi
explicado na entrevista é-nos pedida uma contribuição mensal para que possamos
fazer face à renda e à conta de eletricidade e limpeza.
O nosso Irmão Tesoureiro que se senta na coluna do Sul, à minha
esquerda, tem a função de garantir que essas despesas sejam pagas a tempo e que
os Irmãos façam em tempo as suas contribuições.
Bem vindo Meu Irmão.
Meus Irmãos juntem-se a mim para saudar pelo sinal, pela bateria
e pela aclamação escocesa a entrada deste Irmão. Em pé e à ordem Meus Irmãos.
Pelo sinal….; pela bateria….; pela aclamação escocesa…….
Sentemo-nos.
Arnaldo Gonçalves, M∴ I∴ – Venerável Mestre
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