SOIS REALMENTE UM “ETERNO” APRENDIZ?

Somos eternos aprendizes?
O que viestes fazer aqui?
Quem sou eu como Maçom?
Somos eternos Aprendizes?

É preciso buscar. Certamente a essas três questões fundamentais da reflexão maçónica apoiamo-nos para tentar explicar ao nosso próprio íntimo sobre quem realmente somos e sobre os nossos propósitos no Sublime Trabalho de Cantaria…

Seria preciso descrever muito mais do que se nos apresenta aqui, neste simples artículo, quando se referem a questões tão profundas do ‘EU maçônico’, filosófico, mas o objetivo aqui é ser direto e conciso sobre principalmente a acepção da expressão “somos eternos aprendizes”.

Preliminarmente, é preciso considerar uma outra perspectiva da acepção da expressão “somos eternos aprendizes”, – ou até mesmo por que não, “desconsiderar”, algumas interpretações que, muitas vezes, são utilizadas como “bordões” para justificativas vãs das nossas próprias negligências, onde para tudo ou qualquer coisa que se procrastine ou negligencie, o escudo, ou ponta-de-lança, é: “somos eternos aprendizes”. Será?

Por outro turno, o termo em que muito amiúde dizemos: “- sou um “eterno” aprendiz”, trata-se, pois, de uma força ou figura de linguagem em que explica e nos ensina que sempre seremos aprendizes ou estaremos a aprender algo, e, assim, melhorando-nos, aprimorando-nos.

É, também, uma forma de dizer sobre a humildade que sempre temos que ter, frente à imensidão infinita do saber, em contraste e combate ao orgulho, à vaidade, presunção e à arrogância. É reconhecer que precisamos, in práxis constantemente aprender, desbastar a Pedra Bruta…

Todavia, esta expressão metafórica “eterno aprendiz”, ipsis litteris, ao estrito e rigoroso olhar aos nossos Rituais Maçónicos, simplesmente não existe. (E se acaso passar a existir, favor trazer-nos o registro apontando tal passagem, para que possamos reconsiderar e aprender).

À luz dos Rituais atuais, como exemplo, citando os dos Rito Moderno, REAA, Rito de Schroeder, Rito Adonhiramita, não há tal termo “eterno aprendiz”, e em nada nos ensina as Sebentas sobre tal termo. E o Ritual do Rito de York, apenas para exemplificar, também não o há. O que há e se pode encontrar escrito, por exemplo, é no Ritual de Aprendiz Franco-maçom para o Rito de York do GOB, Grau 1, (ainda não vigente), na sua página 20, em título de seção Alguns Objetos Peculiares na Sala da Loja, especificamente sobre as Rough Ashlar ou P. B. e Perfect Ashlar P. P. ou P. C., é:

“Evidentemente a tal perfeição, isto é, a pedra perfeitamente polida, jamais será atingida pela nossa origem humana. No entanto a Maçonaria nos ensina que deve ser sempre perseguida, e por este motivo estamos numa eterna aprendizagem, numa eterna busca à perfeição.” [1] (grifo nosso).

No mundo não-maçônico e moderno atual, por outro lado, encontramos o termo “eterno aprendiz” em pensamentos, canções, livros outros e tantos, como em Augusto Cury, Vagner Andrei Brunn e Sebastião Bicalho, facilmente encontrados em rápida e elementar busca a qualquer momento na internet, como por simples exemplos aqui elencados [2], [3], [4], [5]. Pode-se, também, exemplificativamente, encontrar o “Eterno Aprendiz” em estrofe da canção do compositor e cantor Gonzaguinha, de mesmo título: Eterno Aprendiz:

“Eterno Aprendiz

Viver e não ter a vergonha de ser feliz Cantar. (E cantar e cantar…) A beleza de ser um eterno aprendiz
Ah meu Deus!
Eu sei… (Eu sei…) Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita.”

(Gonzaguinha) [5]

Às demais questões neste artículo, subseguem duas restantes: Quem sou eu? Quem sou eu como Maçom? e, O que vim aqui fazer? De modo simples, encontramos no formato de perguntas e respostas, e à luz do Ritual do Rito de York, com base nas Preleções de William Preston, (na Primeira Seção da Primeira Preleção), explicação notável sobre o ser Maçom e o seu propósito, e encontra-se:

Quem sois vós?

“P: – Quem sois vós que desejais instrução?

R: Um Maçom Livre e Aceito.…

P: Por isto eu presumo que sois Maçom?

R: Como tal sou considerado e aceito entre IIr.'. e Companheiros.” [1]

Portanto, como Maçom Livre e Aceito, presume-se, através da interlocução, através da conclusão dialética, que o Maçom, e para ser Maçom, é aquele que é considerado e aceito entre os Irmãos. Talvez aí encerre o núcleo do significado maior de ser Maçom: ser considerado como tal, ou seja, numa única palavra, considerado, ou em dois núcleos fundamentais, considerado e aceito entre Irmãos.

E o que viestes fazer aqui?

“P: Visto que não trazeis nada além de sinceras congratulações, o que viestes fazer aqui?

R: Aprender a controlar e subjugar as minhas paixões, e fazer maiores progressos na Maçonaria.

P: Por isto eu presumo que sois Maçom?

R: Como tal sou considerado e aceito entre IIr.’. e Companheiros.” [1]

Logo, todo Maçom deve ter METAS, de diversas ordens, e dentre elas, a de APRENDER e entre as aprendizagens, aprender a controlar e subjugar as suas paixões, para que assim o fazendo, consiga conquistar maiores progressos na Maçonaria. Ou, ainda, por outro vector, sem subjugar as nossas paixões, jamais conseguiremos realizar maiores progressos na Maçonaria. E as paixões são exatamente o não-exercício da virtude, da RAZÃO, PRUDÊNCIA e TEMPERANÇA.

Com mais esta incursão ou mergulho a mais uma nova reflexão, chegamos à TEMPERANÇA, que limita e controla as paixões humanas. Mas o que seria a Temperança?

“P: Te serei grato pela definição de TEMPERANÇA.

R: É aquela devida limitação das paixões e afeições, que tornam o corpo submisso e governável, e livram a mente das tentações dos vícios. Esta virtude deve ser uma prática constante de todo Maçom, assim ele é ensinado a evitar os excessos, ou a contrair quaisquer vícios ou hábitos licenciosos, de modo que ele possa, por imprudência, ser levado a trair a confiança nele depositada.” [1]

Depreende-se, portanto, concisamente, a seguinte sequência lógica ou equação de palavras à luz do Rito de York, como universalmente:

SER MAÇOM => CONSIDERAÇÃO E ACEITE COMO TAL, ENTRE IRMÃOS

Ou, também, de outra forma:

SER MAÇOM –> ETERNA APRENDIZAGEM –> TEMPERANÇA –> SUBJUGAÇÃO DAS PAIXÕES –> FAZER MAIORES PROGRESSOS NA MAÇONARIA.

Evidentemente que não se pretende aqui “restringir” a definição de ‘ser Maçom’, mas por outro ângulo, observar, estritamente, o que literal e logicamente está escrito, e não simples e meramente negar o “nullius in verba” e aceitar, por assimilação auditiva de replicação, expressões ou termos, que embora reflitam a magnitude de ser Maçom, não se encontram ou estão descritas nos Rituais, como por exemplo, in ipsis litteris: “O Maçom é um eterno Aprendiz”.

Somos, indubitavelmente, aprendizes e em constante aprendizagem! somos ou fomos, também, aprendizes maçons, quando no Grau 1 da Maçonaria Simbólica, estamos, ou um dia estivemos, assim como também noutros graus outrora concluídos, mas, rigorosamente, neste particular, pelo menos este articulista nas suas buscas, não encontrou em Rituais a expressão “sou um eterno aprendiz” ou “somos eternos aprendizes”, muito embora haja a inevitabilidade natural do ser humano em sempre estar a aprender.

Assim, por lógica, na estruturação hierárquica e pedagógica dos graus maçônicos simbólicos, rigorosamente, é correto o entendimento de que uma vez concluído o 3° Grau na Maçonaria Simbólica, sim, será este um eterno Mestre Maçom, uma vez que na Maçonaria Simbólica não há mais que 3 graus – é um Landmark, e, portanto, uma vez Mestre Maçom, sempre e eternamente o será Mestre Maçom da Maçonaria Simbólica, portanto, um Mestre Maçom é e sempre será um “eterno Mestre Maçom”.

Caberá, pois, ao Mestre Maçom, “reunir o que está esparso”; conscientizar-se de que também, assim como o Aprendiz e o Companheiro Maçons, precisa eternamente aprender bem e desenvolver-se, auxiliando a todos os Irmãos e a sociedade, o mundo; conciliar a eterna aprendizagem dos graus antecedentes e todo o universo infindo do conhecimento com o ser eternamente Mestre Maçom, para que, eternamente, possa aprender e ensinar, ensinar e aprender.

Obviamente, não se aprende somente enquanto Aprendiz Maçom; não se aprende somente enquanto Companheiro Maçom e nem tampouco é-se o verdadeiro e “eterno aprendiz” somente quando atingir a plenitude maçónica simbólica, como Mestre Maçom. A aprendizagem é um processo contínuo, e todos nós somos sujeitos e partícipes desse processo. Somos todos eternos aprendizes, os não-maçons ou profanos, assim como os maçons. Todos estamos a aprender.

A falácia, ou silogismo errôneo, encontra-se em conceber ou aceitar que nós, maçons, “somos eternos aprendizes”, como se estivéssemos ou fôssemos sempre pertencer a um grau iniciático da Maçonaria Simbólica, “eternamente”, e protegêssemos nessa “falsa égide”, as nossas diversas falhas e indiligências em aprender, com a argumentação explicativa tomada como “universal”, quando por qualquer erro havido, causado por reflexo das nossas próprias negligências, de que e por que… o motivo de tudo e a justificativa nada honrosa é, “porque…sempre somos ou seremos eternos aprendizes”. É preciso BUSCAR, buscar sempre a verdade, o conhecimento, as virtudes, os princípios, a luz. Assim nos ensinam os nossos Rituais.

Finalizo, em pré-conclusão, como se estivesse eu à porta do nosso Templo, à busca de luz, desejoso de conhecimento, batesse à porta do Templo e de meu Templo interior, e, buscando a verdade, buscando a eterna aprendizagem, pensasse, por um único e lépido instante, nas palavras do grande Rabi Yeshua, sobre a Busca, segundo escrito em Marcos 7:7-11:

“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra?”. [6]

Alexandre Fortes, 33º – CIM 285969 – ARLS Cícero Veloso n° 4543 – GOB-PI

Referências

[1] RITUAL DE APRENDIZ FRANCO-MAÇOM PARA O RITO DE YORK DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Versão 05/2020.

[2] https://www.google.com/search?q=eterno+aprendiz+augusto+cury&client=firefox-b-d&sxsrf=ALiCzsZsicY0jZ5DpKD_jzSa-HrgGATW_A%3A1652868339321&ei=88SEYsubE4T21sQP7a6QoAI&oq=eterno+aprendiz+augusto&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYADIFCCEQoAE6BwgjELADECc6BwgAEEcQsAM6CAgAEA8QFhAeSgQIQRgASgQIRhgAUKIHWJkNYKIbaAFwAXgAgAHHAogBzgqSAQcwLjYuMC4xmAEAoAEByAEJwAEB&sclient=gws-wiz

[3] https://www.estantevirtual.com.br/livros/sebastiao-bicalho/eterno-aprendiz/909989152?livro_usado=1&b_order=preco&gclid=Cj0KCQjwspKUBhCvARIsAB2IYuu9QIN9XYrEw-pTrUrVZWGNzyadaNFrDUHhDakIvDg6OX11RJa0PVYaAt0yEALw_wcB

[4] https://www.estantevirtual.com.br/ceniralivros/vagner-andrei-brunn-o-eterno-aprendiz-1856829428?gclid=Cj0KCQjwspKUBhCvARIsAB2IYuueQpE5d5Zd8JWtmx-fgIAt4AA9MBAuXMo1GEygJJSnqvNRe14nmOEaAgmNEALw_wcB

[5] https://som13.com.br/gonzaguinha/eterno-aprendiz

[6] https://www.bible.com/pt/bible/1608/MAT.7.7-11.ARA

 

 

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