NÃO ANTES DA MEIA NOITE

 

Quando um irmão querido, obreiro útil e dedicado se ausenta injustificadamente dos trabalhos de uma Loja Maçônica por um período significativamente longo, essa ausência causa preocupação e certa inquietação aos membros da oficina que muitas vezes buscam obter informações acerca do que tenha dado causa ao afastamento do irmão.

É muito comum ocorrerem esses afastamentos que são causados por uma série de fatores, sendo alguns deles a perda da motivação ou problemas de ordem pessoal diversos que vão se acumulando e o irmão não consegue conciliar seus compromissos e tarefas do dia a dia que acarretam com o seu afastamento voluntário sem haver qualquer comunicação prévia.

Diante disso é necessário que a Loja, através de seu Venerável, nomeie uma comissão escolhida em assembleia dentre aqueles membros com maior afinidade com o irmão ausente e o faça uma visita a fim de buscar saber os motivos que o levaram a se afastar e o que seria necessário fazer para que o irmão retorne às suas tarefas no desbastar da Pedra Bruta.

Muitas vezes, o que é necessário a se fazer em tais circunstâncias para motivar o irmão a retornar ao seio da Loja é demonstrar de forma simples e objetiva que a sua ausência está fazendo significativa falta e que sem ele, que é um dos elos fortes da Cadeia de União da egrégora fraternal, os trabalhos não estão sendo desenvolvidos com a devida força e vigor.

Feito isso, e deixando claro ao irmão que as portas da oficina estarão sempre abertas e os irmãos sempre prontos a recebê-lo quando ele quiser retornar, o que se tem a fazer é aguardar que ele reflita; mas jamais desistir do companheiro de ofício.

A Maçonaria Universal, a partir do momento em que ingressa um novo irmão nos estudos de seus Augusto Mistérios, tem total responsabilidade sobre esse obreiro que passa a fazer parte desse corpo de homens livres e de bons costumes que são reconhecidos por seus pares em qualquer recanto da terra e do universo.

A busca pelo conhecimento e a investigação constante da ver verdade é o que torna o Obreiro da Arte Real um indivíduo diferenciado em seu labor o destacando no seio social.

Portanto, é obrigação da loja não deixar que um irmão adormeça; mas se isso vier a ocorrer, que ele seja despertado de seu sono, resgatado e reincorporado com o máximo de urgência ao canteiro de obras, pois os trabalhos se encerram somente à meia noite e o sol ainda está a pino no zênite.

Trabalho concluído em 26/04/2022 pelo ir.’. Murilo Américo da Silva, membro da A.’.R.’.L.’.S.’. Onofre de Castro Neves n° 2.555, Or.’. de Carangola/MG.

QUAL É A LOJA MAÇÔNICA MAIS ANTIGA DO MUNDO?


 

Introdução

A Inglaterra é considerada o berço da Maçonaria por esta ter lá se firmado quanto organização após a criação da Grande Loja de Londres e Westminster em 24 de junho de 1717 em Londres. Apesar disso, no que tange ao aparecimento de Lojas (operativas e especulativas) e de documentos antigos sobre a Maçonaria, é nítido que a Escócia provavelmente é, se não o berço, o ninho da Maçonaria moderna, com o que concorda Harry Carr em Ars Quatuor Coronatorum vol.81 (1968, p. 159) “O céu abençoe os escoceses! Eles cuidaram de cada pedaço de papel, e se não fosse por eles, não teríamos praticamente nenhuma história. O nosso material mais antigo e fino é quase todo escocês!”.

Este fato foi constatado inclusive pelo 3° Grão-Mestre da própria Grande Loja de Londres John Teophilus Desaguliers. De acordo com LYON (1900) no seu History of the Lodge of Edinburgh (Mary´s Chapel) nº 01, em 1721 Desaguliers viajou a Edimburgo (Escócia) a negócios e acabou por participar de uma reunião com os Mestres Maçons e o Vigilante (antiga e alternativa denominação para o Mestre da Loja) da Loja Mary´s Chapel, onde ele foi recebido em Loja como Irmão, e onde supostamente ele teve a ideia da elaboração das Constituições (futuras constituições de Anderson de 1723) e da organização das cerimônias inglesas com base nas diferentes preleções que presenciou na Loja Mary´s Chapel, preleções estas que constituíram “o ritual que ele estava ansioso para apresentar” aos irmãos ingleses.

Segundo o pronunciamento do Irmão John Hamill , diretor de comunicação da Grande Loja Unida da Inglaterra, no documentário The Scottish Key – An Investigation into the origins of Freemasonry (SimonGo Productions, 2007), até então na Inglaterra da fundação da Grande Loja de Londres as sessões se davam, ao contrário das práticas escocesas, de forma simples: com os membros da Loja sentados em volta de uma mesa posta em cavaletes, desenhando com giz no chão, ou num quadro, os símbolos da cantaria e tratando dos assuntos cabíveis ao momento, após o que apagavam os desenhos e serviam o jantar nestas mesmas mesas.

Ainda de acordo com o documentário The Scottish Key – An Investigation into the origins of Freemasonry (SimonGo Productions, 2007), e as apresentações que nele constam proferidas pelos irmãos Ewan Rutherford e Joseph McArthur, ambos membros da Loja Mary´s Chapel, há registro em ata da visita de Desaguilers, onde se lê:

“Naquele dia, Doutor John Theophilus Desaguliers, membro da Royal Society e Capelão junto a sua Graça Jaime Duque de Chandoi, último Grão Mestre das Lojas Maçônicas de Londres, estando na cidade, desejou conferenciar com o Vigilante e Mestres Maçons de Edimburgo, o que lhe foi concedido, pois tendo sido reconhecido e estando devidamente qualificado em todos os aspectos da Maçonaria, o receberam como irmão na Sociedade”.

Com a indubitável e já comprovada antecedência das Lojas escocesas, surge então uma singela disputa entre duas Lojas: The Mother Kilwinnig Lodge nº 0 (que por algum tempo foi a nº 2) da cidade de Kilwinning e The Lodge of Edinburgh (Mary´s Chapel) nº 1 da cidade de Edimburgo, na contenda de comprovar qual delas é a Loja mãe da Escócia e consequentemente a Loja mais antiga do mundo. A seguir, tem-se um pouco da história de ambas.

Kilwinning: The Mother Kilwinning Lodge nº 0

Segundo o que diz a própria Loja Kilwinning no seu website através do texto de autoria de Bloomfield (http://www.mk0.com/history1.htm, 2015), a sua história data de cerca do ano de 1140 com a construção da abadia da cidade de Kilwinning, na Escócia.

De acordo com o histórico da Loja, nesta época, o Papa Inocêncio II (o mesmo que apoiou e estabeleceu privilégios aos Cavaleiros Templários em 1139) criou corporações (ou fraternidades) de pedreiros, e deu a elas certos privilégios com o objetivo de enviar artistas italianos, que eram famosos por construírem catedrais, para erguerem igrejas noutros países também.

Uma guilda destes pedreiros e forasteiros parece ter ido a Kilwinning, para construir a abadia, e de acordo com os relatos da Loja, lá fundou e constituiu a primeira Loja regular da Escócia. A Loja foi fundada na sala capitular dentro da abadia, uma sala com 11,6 x 5,8 m, e ali permaneceu até à sua reforma em 1560, quando Earl de Glencairn, um inimigo mortal de Earl de Eglinton (que mantinha uma forte amizade com a Loja), destruiu grande parte da abadia.

Eles continuaram a se reunir de acordo com o que sugerem os relatos da Loja. Primeiro, na abadia em 1598-1599, depois numa casa no Crossbrae no centro da cidade em 1643 e por fim numa casa da corte de Earl de Eglinton. Em meados de 1700, os membros decidiram por construir uma Loja e em 1779 a antiga Loja foi construída na entrada da abadia. Infelizmente, 100 anos depois, devido à deterioração e o receio da construção entrar em colapso, o templo foi demolido e um novo foi construído a trinta quilômetros de distância do local anterior, e lá permanece até hoje. Esta última construção foi consagrada em 1893.

O artigo The Grand Lodge of Scotland publicado no website The Masonic Trowel (2015) relata que antes da formação da Grande Loja da Escócia em 1736, a Loja Kilwinnig afirmava ter sido uma Grande Loja por si só, com o direito de emitir cartas constitutivas para outras Lojas que desejavam desfrutar dos privilégios da Maçonaria.

É importante definir aqui qual é o conceito de “Grande Loja”. Uma Grande Loja precisa ser um corpo independente e soberano, que não deva obediência a qualquer outro corpo maçônico, o que exclui da definição todas as Grandes Lojas Provinciais e todas as outras Lojas que trabalham sob uma carta patente de um diferente corpo de jurisdição. Uma Grande Loja que nunca expediu nenhuma carta constitutiva, mesmo que cumpra todas as outras exigências, não é uma Grande Loja de fato e sim apenas de nome.

Todas as Lojas inglesas e escocesas, que existiam antes de 1717, exceto uma (a Loja Kilwinning), passaram pelo teste de serem independentes, mas nunca emitiram nenhuma carta constitutiva a outras Lojas e, portanto, não poderiam ser consideradas Grandes Lojas.

Após a Grande Loja de Londres publicar o Livro das Constituições em 1723 (Constituições de Anderson), foram acrescentadas algumas outras regras para o estabelecimento de uma Grande Loja regular (como ter sido formada por no mínimo três Lojas, por exemplo).

Entretanto, apesar de ter grande validade para muitos maçons, foram regras criadas pela Grande Loja de Londres (hoje Grande Loja Unida da Inglaterra) e que não tem outros precedentes históricos. Por isto a Loja Kilwinning considera que foi uma Grande Loja por si só e mais antiga que a própria Grande Loja de 1717.

Muitas Lojas carregam o nome da Kilwinning até hoje nas suas cartas constitutivas. Sendo a Escócia um país pequeno, era indesejável que lá houvesse duas Grandes Lojas, sendo assim a Kilwinning abriu mão destes direitos de que possuía quando houve a formação da Grande Loja da Escócia em 1736.

Segundo o já citado artigo The Grand Lodge of Scotland publicado no website The Masonic Trowel (2015), em 1743, a Grande Loja da Escócia decidiu por enumerar as Lojas pela idade dos seus registros. Infelizmente as atas mais antigas da Loja Kilwinning datam de 20 de dezembro 1642, e os registros anteriores que se pensava existir podem ter sido hipoteticamente contrabandeados por monges para a França quando da queda do cristianismo na Escócia, apesar de ser mais aceitável a hipótese de que tenham sido destruídos durante um desastroso incêndio nos arredores do Castelo de Eglinton. Logo, a Loja de Edimburgo, que possuía registros de 1598, conquistou o primeiro lugar.

A Loja Kilwinning foi então a segunda colocada no hall da Grande Loja, o que gerou a discordância dos seus membros que a retiraram da égide da Grande Loja e continuaram a emitir cartas constitutivas para outras Lojas como antes. Estas Lojas “filhas” da Kilwinning não ficaram apenas na Escócia, pois tem-se notícia de Lojas que também foram criadas e patenteadas por ela na Irlanda, EUA, Antígua e no Caribe.

Ainda no que afirma a Loja no seu website, a disputa terminou em 1807 quando a Grande Loja da Escócia e a “Grande Loja de Kilwinning” se reuniram em Glasgow e acertaram as suas diferenças tecendo um acordo onde a Loja Kilwinning foi aceita como mais antiga, colocada no topo do hall da Grande Loja da Escócia, recebendo assim o distinto e famoso número “0” e o título de Loja Mãe da Escócia.

Foi acordado ainda que o Venerável Mestre da Loja Kilwinning seria automaticamente o Grão Mestre Provincial de Ayrshire. Assim, a Mãe Kilwinning, como passou a se denominar, também renunciou ao direito de emitir as cartas constitutivas novamente.

Em 1860, durante uma busca no Castelo de Eglinton os agora famosos Estatutos de Schaw de 1598 e 1599 foram encontrados. William Schaw, o Mestre de Obras do Rei e “Vigilante de todos os Maçons”, foi designado pelo Rei James VI para liderar os irmãos escoceses nas suas “cerimônias sagradas”. Segundo o que informa ISMAIL (2011) está aí um fato de que as lojas escocesas não eram de simples pedreiros, pois já possuíam “cerimônias sagradas”, isto cem anos antes da criação da Grande Loja de Londres e Westminster.

Schaw escreveu logo no cabeçalho do seu segundo estatuto, datado de 28 de dezembro de 1599, que a Loja Kilwinning era a Loja “cabeça” da Escócia e conferiu a ela vários privilégios. Porém ele deixa bem claro no artigo terceiro deste documento que a Loja Kilwinning é a nº 2 da Escócia e que a nº 1 é a Mary’s Chapel:

“Primeiro, fica ordenado que os Vigilantes dentro dos limites de Kilwinning e de outros locais jurisdicionados a esta Loja devem ser escolhidos e eleitos anualmente pela maioria dos mestres da referida Loja no dia vinte de dezembro, e que isso aconteça dentro da igreja de Kilwinning pois esta é a líder e segunda Loja da Escócia […]. Pensa-se necessário e oportuno por meu Senhor, Vigilante Geral, dizer que a Edimburgo deve ser em todos os tempos futuros, como foi antes, a primeira e principal Loja, na Escócia, e que a Kilwinning será a segunda, como tem sido notado notoriamente através dos nossos antigos registros, e que a Stirling será a terceira Loja, de acordo com os antigos privilégios.”

O primeiro acordo entre a Grande Loja da Escócia e a Loja Kilwinning durou 176 anos, até que em 1983 foi alterado mais uma vez, onde novamente as mudanças diziam respeito à Kilwinning. O Venerável da Loja Kilwinning não seria mais o Grão Mestre Provincial de Ayrshire, em vez disso: A Loja Mãe Kilwinning teria para sempre o direito de nomear um irmão para ser o Porta-Bíblia da Grande Loja e foi consagrada e instituída a Grande Loja Provincial de Kilwinning, tendo a Loja Mãe Kilwinning o direito exclusivo de nomear o Grão Mestre Provincial desta. Todas estas mudanças ainda garantiram a posição singular e a autonomia da Loja no mundo maçônico.

Mary’s Chapel: The Lodge of Edinburgh (Mary’s Chapel) nº 1

No seu website, a Loja de Edimburgo (Mary’s Chapel) nº 1 diz ocupar uma posição invejável, não apenas na Maçonaria escocesa, mas na Maçonaria mundial. Devido à diligência dos irmãos que serviram à Loja como secretários e daqueles que acharam por bem manter a salvo os seus registros, a Loja tem uma ata que remonta a 31 de julho de 1599. Esta é a ata de Loja mais antiga ainda existente em qualquer lugar do mundo e o seu conteúdo reflete a natureza operativa da Loja naquela época.

Foi só com a admissão de maçons não-operativos, ou especulativos, no século XVII que o ofício começou a adoptar a forma como conhecemos hoje. Em relação a isto, a Loja de Edimburgo também pode reivindicar a sua precedência com uma ata de 1634 que registra a admissão de Lord Alexander, Sir Anthony Alexander e Sir Alexander Strachan na Loja, e posteriormente outra ata de 1641 quando Robert Moray foi iniciado na Loja que tinha sido convocada em New Castle (Inglaterra), o primeiro Maçom não-operativo a ser admitido em solo inglês.

A Loja de Edimburgo também é chamada de Mary’s Chapel pois se reunia na Capela de Maria em Niddry’s Wynd, Edimburgo. Com a demolição da capela em 1787, a Loja reuniu em vários locais até se firmar na 19 Hill Street em 1893 na New Town.

Em 1736, de acordo com o artigo The Grand Lodge of Scotland publicado no website The Masonic Trowel (2015), St. Clair de Rosslyn, Grão Mestre da Escócia, convocou uma reunião com trinta e duas Lojas no templo da Loja de Edimburgo, e deu a elas todos os direitos e outros títulos de acordo com os privilégios que ele e os seus herdeiros possuíam como Grãos Mestres dos maçons Escócia.

Assim a GLoS (Grand Lodge of Scotland) foi criada em 30 de novembro de 1736. A Loja Kilwinnig estava representada por procuração, e dela foram eleitos os primeiros oficiais da GLoS e assim permaneceram até que os irmãos decidiram enumerar as Lojas de acordo com a sua antiguidade.

O posto de mais antiga, obviamente foi reivindicado pela Kilwinning, mas esta foi contrariada pela Mary’s Chapel que alegou e provou ter registros mais antigos como atestado da sua precedência. Foi assim que a Loja Mary’s Chapel se tornou a Loja nº 1 e a Kilwinning a Loja nº 2.

Muitos membros notáveis pertenceram a Loja Mary’s Chapel incluindo Sua Alteza Real, o Príncipe de Wales que posteriormente se tornou o Rei Edward VII e Sua Alteza Real o Rei Edward VIII.

Segundo o que diz o artigo Oldest Masonic Lodge – Which Lodge is the Oldest Masonic Lodge in the World? publicado pelo website Masonic Lodge of Education, os dois foram admitidos na Loja, tomando a obrigação sobre a bíblia.

Assim como os estatutos de Schaw e as atas antigas, a caneta com a qual eles gravaram os seus nomes no hall da Loja após a iniciação permanece preservada no museu da Loja até hoje.

De acordo com Ars Quatuor Coronatorum, vol. 3 (1840, P. 204-206), transcrição da mais antiga e prestigiada Loja de pesquisas do mundo The Quatuor Coronati Lodge nº 2076, de Londres (Grande Loja Unida da Inglaterra), em trabalho intitulado Formation of the Grand Lodge of Scotland e apresentado por E. MacBean, sobre as quatro velhas Lojas envolvidas nos eventos que culminaram na eleição de St. Clair como primeiro Grão Mestre da Escócia no dia de Santo André em 30 de novembro de 1736, diz-se que a Loja Mary’ Chapel nº 1 certamente desempenhou um papel crucial, embora não tenha sido tão proeminente quanto a Loja Canongate Kilwinning, que foi a mais vigorosa de todas.

A Loja de Edimburgo (Mary’s Chapel) nº 1 possui no seu museu, preservado até os dias de hoje, o original do tão famigerado manuscrito datado de 31 de julho de 1599, e o original do primeiro estatuto de Schaw de 28 de dezembro de 1598, que são tão valorosos para os estudos maçónicos.

Com pequenas exceções, os seus registros continuam até os dias de hoje, e embora não figure atualmente no topo do hall da Grande Loja, ela ainda permanece sendo a nº 1, assim como nos dias em que o Mestre de Obras William Schaw, Vigilante de todos os maçons da Escócia, a chamou de mais importante e primeira Loja da Escócia.

Ainda segundo Ars Quatuor Coronatorum, vol. 3 (1840, P. 204-206) no artigo Formation of the Grand Lodge of Scotland, a sua existência pode datar de muito antes de 1598, mas a data exata quando a Loja foi fundada é um ponto discutível.

Alguns estudiosos afirmam que o seu início se deu quando da construção da abadia de Holyrood por David I, em 1128. A sua vasta história continua com a Corporação, que surgiu em 1475 quando a profissão de pedreiro foi legalmente constituída sob a sanção do Conselho de Magistrados da Cidade de Auld Reekie (apelido escocês da cidade de Edimburgo), e recebeu permissão para se reunir no corredor da capela sagrada de São João com o distintivo de Colégio Kirk de St. Giles. A associação foi reforçada posteriormente pela admissão de vários operários de outras profissões, incluindo vidraceiros, tanoeiros, estofadores, pintores, encanadores etc. e ficou conhecida como Corporação Unida de Mary’s Chapel.

A capela que dá nome à Loja foi construída em 1504 pela Condessa de Ross, e dedicada à virgem Maria (ou seja, Mary’s Chapel – A capela de Maria). Ela foi situada em Niddry’s Wynd – Edimburgo, mas em 1787 teve de ser removida para abrir caminho para a construção da Ponte Sul.

A guilda comprou este ponto de encontro em 1618, que entre outras coisas serviu também como depósito de armas durante a guerra civil de Charles I e como espaço para um centro presbiteriano, porém a serventia mais notável para o local foi sem dúvidas o teto sob o qual foi fundada a Grande Loja da Escócia em 1736.

Narra ainda a publicação Formation of the Grand Lodge of Scotland que um facto muito interessante envolvendo a Capela ocorreu durante a visita de Desaguliers na Loja Mary’s Chapel nos dias 24 e 25 de agosto de 1721.

Nesta data a Loja tinha escolhido para a sua presidência um vidraceiro, que, portanto, não era pedreiro e não poderia de fato assumir a Loja, e pela primeira vez desde 1598 (registro mais antigo), a eleição não foi descartada pelos Mestres do Ofício.

Este evento é considerado por muitos estudiosos como um marco na luta pela supremacia entre maçons operativos e não-operativos nas Lojas da época, o que já vinha acontecendo há muitas décadas e continuou até 1727 quando os não-operativos emplacaram uma vitória (embora acirrada) que culminou com a vitória de um advogado chamado William Brown para Mestre (na época chamavam o cargo de presidente de Vigilante) da Loja Journeymen, e este pôde assumir o cargo e prosseguir com a sua carreira especulativa sem maiores problemas.

Conclusão

Tanto a Loja Mother Kilwinning quanto a Loja Mary’s Chapel, sem dúvidas pertencem a tempos imemoriais, épocas tão distantes que nem os seus próprios registros podem provar. Não se pode afirmar que estas sejam as Lojas mais antigas do mundo, pois muitas outras podem ter existido anteriormente, haja vista as inúmeras Old Charges que temos a disposição para consulta que datam de tempos muito antigos também. Todavia, ao tratarmos de Lojas em funcionamento até os dias de hoje e que estejam de posse dos seus registros e atas, ambas figuram no topo da precedência maçônica.

Apesar de haver indícios de que a Loja Mãe Kilwinning, antes nº 2 e agora nº 0, seja a mais antiga, ela carece de documentos comprobatórios para se firmar como tal, pois como visto, o seu registro mais antigo data de 20 de dezembro de 1642. Isto leva a crer que o fato da Grande Loja da Escócia ter conferido o nº 0 e ter autorizado a utilização do título distintivo de Loja Mãe da Escócia por ela foi movido por aspirações políticas, objetivando tê-la de volta sob os seus auspícios.

A Loja de Edimburgo (Mary’s Chapel) de fato é comprovadamente a mais antiga, porque tem na sua posse registros mais antigos, datados de 31 de julho de 1599. Ela é assim reconhecida desde a elaboração do segundo estatuto de William Schaw, que à sua época teve convicção para afirmar que, mesmo a Loja Kilwinning sendo merecedora de todo prestígio e autoridade, a Loja Mary’s Chapel era e sempre seria a Loja nº 1 da Escócia.

Com isto, pode-se afirmar que a Loja de Edimburgo nº 1, mais conhecida como Loja Mary’s Chapel, é de fato a primeira Loja do mundo. Até que, documentalmente, se prove o contrário.

Guilherme Cândido

Referências bibliográficas

BOURLAND, Tristan. Documentário – The Scottish Key – An Investigation into the origins of Freemasonry. SimonGo Productions, 2007.

BLOG MASONIC LODGE OF EDUCATION. Oldest Masonic Lodge – Which Lodge is the Oldest Masonic Lodge in the World? Disponível em: http://www.masonic-lodge-of-education.com/oldest-masonic-lodge.html. Acesso em nov. 2015.

BLOG MASONIC NETWORK. Which Lodge is oldest Masonic Lodge? Disponível em: http://www.masonicnetwork.org/blog/tag/marys-chapel/. Acesso em nov. 2015.

BLOG MOTHER KILWINNING NO.0. Disponível em: http://www.mk0.com/history1.htm. Acesso em nov. 2015.

BLOG THE LODGE OF EDINBURGH. Disponível em: http://www.lodgeofedinburgh.org.uk/index.html. Acesso em nov. 2015.

BLOG THE MASONIC TROWEL. Disponível em: http://www.themasonictrowel.com/masonic_talk/stb/stbs/36-05.htm. Acesso em nov. 2015.

History of Freemasonry. Disponível em: http://www.themasonictrowel.com/Articles/History/history_main_toc.htm#top. Acesso em nov. 2015.

LYON, David History of the Lodge of Edinburgh (Mary’s Chapel), No. 1. London: Gresham Publishing, 1900.

QUATUOR CORONATI LODGE. Ars Quatuor Coronatorum.3, p.204-206 – Tradução livre. 1840.

 

SCHRÖDER: MAÇONARIA COSMÉTICA X MAÇONARIA ESTÉTICA

 

Permitam-me uma singela explicação preliminar, quanto a utilização dos termos que formam o título do presente texto; cujo escopo é propor uma contraposição entre os termos gregos aesthese e cosmo, que dão origem às palavras “estética” e “cosmética”. Por estética pode-se entender a percepção do belo, verdadeiro etc., enquanto a “cosmética” implica em certo engendramento, um acobertamento ou ofuscação para que algo se apresente com uma imagem irreal, falsa e imaginária.

Pode-se concluir da leitura de suas obras (rituais) que Friedrich Ludwig Schröder percebeu em sua época uma maçonaria cosmetizada e procurou resgatar a maçonaria estética e mais significativa. Como Nietzsche, Schröder escreveu utilizando-se de aforismos, onde as metáforas permitem ao leitor (maçom) liberdade de pensamento e reflexão.

Schröder percebeu que a maçonaria de sua época, não se tratava da verdadeira expressão da “Arte Real”, e sim de uma pseudomanifestação maçônica, muito em voga atualmente, infelizmente, inclusive, no próprio Rito Schröder “contaminado” por interpretações infundadas, “costumes”, enxertos de outros ritos etc.

Infelizmente, a Maçonaria contemporânea pode ser identificada como aquela que produz estrategicamente, uma sensação de beleza, que abusa de adereços, de “fantasias”, de símbolos, imagens, de pronomes de tratamentos e outros recursos com vistas a uma sensação de beleza e poder que transparece não um significado, visão da Instituição e da verdade, mas praticamente impõe a todos a leitura que deve ser feita.

O que vejo em Schröder é justamente um trabalho de descaracterização da maçonaria cosmetizada/maquiada ou, a tentativa de resgate da maçonaria estética, significativa, real, crítica, ética e filosófica. Como dramaturgo e diretor teatral rejeitou a utilização de recursos “artísticos” e “efeitos especiais” tão comuns nas artes, (teatro, fotografia, cinema etc.) na Maçonaria, em outras palavras, optou pela essência a aparência, o real ao maquiado.

Infelizmente, vivemos numa Maçonaria e sociedade desgastada, onde cada maçom/cidadão constitui a parte de um todo sem reconhecer-se como indivíduo (singularidade). Sofremos, infelizmente, a interferência de séculos de “verdades” estabelecidas, mas não motivadas, refletivas e fundamentadas, em especial, por cada maçom em sua interioridade. Muitos maçons, atualmente, acreditam e obedecem apenas por acreditar que é a “verdade”. E para tanto, basta verificar os “trabalhos”, “peças de arquiteturas” e os ensinamentos ministrados em algumas lojas, a educação maçônica de nossa época é uma educação que em tese, torna todos os maçons aptos apenas para assumirem cargos em Loja, a obedecerem e repetirem “formulas tradicionais”, não os tornam críticos, pensadores livres e aptos a compreenderem o quanto estão robotizados, imitadores e integrados a uma linha de produção maçônica, com reflexos não virtuosos nas instituições, Poderes e órgãos maçônicos e na sociedade como um todo. Perdemos a habilidade artística de Schröder e de outras figuras importantes de nossa Ordem.

Acredito que na visão de Schröder a Loja deveria funcionar como: um “palco da filosofia”: um espaço epistémico, um “palco da filosofia”: um espaço heterotópico, um “palco da filosofia”: “um lugar seguro para os que buscam a verdade”.

Nesse sentido, faz indispensável relembrar que todo maçom é um ser humano, inclusive na percepção etimológica da palavra “humano”, que tem origem no radical húmus, do latim “terra fértil”, em outras palavras, o humano/maçom é, ou deveria ser portador de uma fertilidade/produtividade a partir de si mesmo, um ser fecundo, capaz criar-se novo a partir da autorreflexão, do autoconhecimento e da autoprodução propiciada pela Maçonaria, e para tanto, faz-se necessária uma rebeldia disciplinada, nas palavras Oscar Wilde que ensinou que a rebeldia é a virtude original do ser humano.

Precisamos todos nos unir para defender e revigorar a Maçonaria como fizeram nossos irmãos no passado. O legado de nossa Instituição e de Schröder transmitidos, continuamente, de geração a geração, aqueles que buscam a verdade no palco da vida, não podem ser ofuscados pelo holofote da vaidade e da ilusão. Por fim, lembro-me da advertência de Machado de Assis, para acrescentar que não é só tempo que caleja a sensibilidade, a maquiagem também.

OBS: Texto sem revisão.

C.A.M. e TFA

Ir.´. Marcelo Artilheiro

Joinville (SC), 03 de fevereiro de 2023



 

EGRÉGORA NA MAÇONARIA: NECESSIDADE OU FALÁCIA?

 


Introdução

O termo Egrégora tem sido usado na Maçonaria, indiscriminadamente, numa tentativa de caracterizar uma situação que por si só se torna polémica na sua origem quanto à sua validade no contexto maçônico.

Numa busca, quase fatigante e desanimadora, é propósito deste texto identificar se o exercício prático, mais contundente e direcionado de uma Egrégora, possa trazer benefícios para os objetivos da Maçonaria, dentro dos seus recintos.

Alguns questionamentos são necessários, apenas com a intenção de suscitar reflexões particulares, mas sem a pretensão de respondê-los na sua totalidade. Por que estas retóricas sobre a validade de uma Egrégora Maçônica nos seus âmbitos de atuação? É válido preocupar-se com a necessidade, ou exigência, de uma Egrégora nas suas sessões ritualísticas? Nesta tentativa retórica de dizer que todos têm razão nos seus argumentos, apazigua os contendores neste embate? Qual sentido mais específico que esta ação de uma Egrégora Maçônica, nos tempos atuais, poderá agregar conhecimentos e ações que beneficie a todos?

Todos estes questionamentos circulam, esporadicamente, em alguns recintos maçónicos e ignorá-los não é justificativa para a negação da sua existência, bem como, a sua aceitação, também, não é prerrogativa da sua necessidade dentro da Maçonaria.

Registro que, neste texto, interpreto uma Egrégora Positiva, tendo ciência de que também existe uma Egrégora Negativa que por antagonismo definem-se por si próprias.

Caracterizar o termo Egrégora, fazendo uma relação com Egrégora Maçónica, no contexto atual com algumas interpretações, definições argumentativas e, pretensamente, validar a sua necessidade é objetivo deste texto, além de salientar o seu lado positivo que pode contribuir em todo contexto.

Esta caracterização do processo [1] de uma Egrégora Maçônica trará o posicionamento de que, bem ou mal quanto à sua validade, o termo existe e ignorá-lo é pernicioso. A tentativa de desmerecer a existência de uma Egrégora Maçônica denota o entendimento errado da não consideração daquilo que possa existir, mas, não se tem a compreensão exata do que se trata.

Contextualização

Definir o termo Egrégora e, especificamente, o entendimento de Egrégora Maçônica é necessário, mesmo que isto se torne enfadonho, dentro daquele ensinamento inoportuno, pois o leitor está mais do que acostumado a recorrer a definições e conceitos de qualquer coisa, devido à temporalidade em que a rapidez de pesquisa é impressionante. Algumas definições, aqui citadas, não têm o carácter de menosprezar a inteligência do leitor, mas sim, de situar o termo dentro do texto, para que não fiquem dúvidas do que se está tratando.

A definição mais corriqueira, acessível, de Egrégora: Força espiritual que resulta da soma das energias mentais, físicas e emocionais proveniente de duas ou mais pessoas reunidas em grupo. Do grego egrêgorein; velar, vigiar. (DICIONÁRIO, 2023). Tendo por argumento esta definição pode-se interpretar que existem diversos tipos de atuação de uma Egrégora, seja no ambiente familiar, espiritual, pessoal, enfim tudo dentro dos limites estabelecidos.

É válido, também, registrar uma definição, apenas para argumentos posteriores: As Egrégoras são energias coletivas, energias de massa, formadas pelo pensamento coletivo das pessoas sobre um determinado assunto ou quando essas pessoas estão num determinado padrão vibratório. É um campo de energia criado no plano astral, a partir da energia individual dessas pessoas. (GOOGLE, 2023). Alguns sinônimos para Egrégora: sintonia, atmosfera, clima, envolvimento, participação, conspiração, confraria, fé etc., enfim, adaptá-la a qualquer situação depende da abordagem que se quer dar.

Num posicionamento particular, buscando uma definição mística para o processo, saliento que numa Egrégora é necessário agregar uma Espiritualidade e para tanto relaciono a definição com os argumentos na Bíblia Sagrada, escrito no Evangelho de Mateus, 18; 19-20:

E afirmo a vocês que isto também é verdade: todas as vezes que dois de vocês que estão na terra pedirem a mesma coisa em oração, isso será feito pelo meu Pai, que está no céu. Porque, onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com vocês (BÍBLIA SAGRADA, 2014 p.1454).

Se considerarmos esta definição como verdadeira e inquestionável, num primeiro momento, isto pode causar um desconforto em alguns que, simplesmente, desconsideram que possa existir um envolvimento da Espiritualidade no processo maçônico. Algumas pessoas ignoram qualquer tipo de Egrégora porque não aceitam que ela tenha um componente Espiritual, reduzindo-a uma simples característica abstrata, existente em tudo.

As religiões, também, têm entendimentos sobre a Egrégora, registro duas interpretações religiosas:

No Espiritismo:

Segundo o médium Chico Xavier, a egrégora é poderosa. Por isso, devemos nos atentar a todos os aspectos de casa. Assim,

o que poucos sabem é que as paredes, objetos e a atmosfera da casa têm “memória” e registram as energias de todos os acontecimentos e do estado de espírito dos seus moradores. Por isso, quando pensar na saúde energética da sua casa tome a iniciativa básica e vital de impregnar a sua atmosfera apenas com bons pensamentos e muita fé.

Além disso, você pode buscar fortalecimento nos terreiros ou com os seus guias espirituais. Deste modo, você encontrará forças para lidar com as suas angústias e medos. Ademais, cercar-se-á de uma energia espiritual para a cura dos seus sentimentos. (INSTITUTO REIKIANO, 2023)

No Catolicismo:

Para a Igreja Católica, não há crença na egrégora. Aliás, ela condena qualquer doutrina que pregue os simbolismos da energia. Neste sentido, podemos concluir que não existe uma egrégora católica. Sendo assim, os princípios católicos visam a graça como o dom universal.

Desta maneira, é pela graça que os fiéis são sustentados por Deus. Assim, não dependem de outras energias para encontrar o estado de plenitude. Então, para se alcançar a graça, é preciso cumprir os sacramentos da ideologia católica. (INSTITUTO REIKIANO, 2023)

Na simplicidade da busca Acadêmica para a definição de Egrégora, baseado apenas neste entendimento particular, registro que esta definição pode ser entendida como um termo comum em que significa entrar em sintonia com pessoas visando atingir um objetivo em comum.

E, por fim, algumas definições maçônicas são pertinentes. É importante destacar o que diz o Prof. Avides Reis de Farias na sua disciplina no Curso de Pós-Maçonologia: História e Filosofia:

O conceito da Egrégora corresponde à energia vital circulante no Templo. A Egrégora é entendida em muitas lojas maçônicas como uma carga que se descarrega do CÉU, devendo retornar em sentido contrário. O som das palmas, quando as mãos direita e esquerda entram em contato, drena a energia vital (Egrégora) presente. Os demais membros da cadeia de união sentir-se-ão como ‘minados’ das suas energias. Por isso, algumas lojas substituem as palmas por estalidos de uma mesma mão.

Também visualizada na aula 4 o estado de espírito dos participantes presentes em loja é peça fundamental para o bom andamento das sessões maçónicas. Por isso, recomenda-se que o Ir:. Cobridor (Guarda do Templo – Malkut) deve segurar a sua espada apontada para ‘cima’, ou na horizontal, impedindo que a espada toque o chão. (UNINTER, 2018)

É necessário salientar a citação de Rizzardo Da Camino sobre Egrégora presente na Maçonaria:

Deriva do grego egregorien com o significado de “vigiar”.

A maçonaria aceita a presença da egrégora nas suas sessões litúrgicas. A egrégora é uma “entidade” momentânea; subsiste enquanto grupo está reunido; é formada pelas partículas espirituais de cada Maçom presente.

Os mais sensitivos percebem esta entidade; ela se mantém silenciosa, mas atua de imediato em cada Maçom presente dando-lhe a assistência espiritual de que necessita, manipulando as “permutas” de Maçom para Maçom, construindo assim a Fraternidade.

Os cépticos não aceitam esta entidade. Porém o Maçom espiritualizado deve procurar os seus efeitos e esforçar-se para visualizar a sua Egrégora. (CAMINO, p. 132)

É apropriado fazer uma relação entre uma Egrégora e a Cadeia de União na Maçonaria, através da citação de Jules Boucher:

A “Cadeia de União” é uma tradição que se encontra ao mesmo tempo nas Associações de Operários e na Maçonaria. Ela consiste em formar uma cadeia, dando-se mutuamente as mãos, depois de cruzados os braços.

Ora, é evidente que a Cadeia de união, cria um “campo magnético” turbilhonante, devido ao cruzamento dos braços, e a tensão desse campo será tanto mais forte quanto mais ativa for a malha.

Seria, portanto, necessário para que a Cadeia de união seja realmente eficaz, que uma finalidade determinada lhe seja atribuída…

Se cada Maçom tivesse consciência do seu papel, não apenas toda a Maçonaria seria transformada, mas o próprio mundo receberia a influência benéfica que emanaria da Lojas. Para ser “eficiente”, a ação não tem nenhuma necessidade de publicidade exagerada; ao contrário, é no silêncio e na meditação “ativa” e não passiva, que os pensamentos se transformam em ideias-força, e é pela Cadeia de União que essas ideias podem ser projetadas no mundo profano (BOUCHER, p. 356 – 358)

A citação dos que consideram a Egrégora como necessária na Maçonaria são visíveis, entretanto, os que a ignoram, ou mesmo não a acham necessária, é de difícil registro, pois, estes denotam o medo da argumentação e trazem o estigma dos que são contra algumas coisas e não sabem o porquê, o que prejudica o debate retórico.

Ao posicionar-se sobre a Egrégora na Maçonaria, quanto à sua necessidade ou não, também, obrigatoriamente tem-se que justificar o que está implícito quando se rotula que alguns argumentos sobre esta mesma necessidade possam ser falaciosos, principalmente os contrários à necessidade de uma Egrégora Maçônica. Busca-se uma definição do termo falácia, aqui adaptado a este contexto, sabedor que ele pode ter outras implicações:

Falácias não são apenas formas incorretas de argumentar, mas também formas incorretas de pensar. Contudo, mesmo pessoas inteligentes recorrem conscientemente às falácias, pois são atalhos para encurtar o debate, fugir do assunto ou enganar o público. Algumas falácias são sofisticadas e passam a impressão de argumentação válida.

Muitas pessoas, principalmente líderes religiosos, empresários e políticos, as utilizam ostensivamente contando com o fanatismo, superstição, baixa escolaridade, fragilidade ou ingenuidade das pessoas. No argumento falacioso as premissas não sustentam a conclusão. Muitas falácias são difíceis de serem detectadas e acabam passando a ideia de argumento válido e coerente. (NETMUNDI.ORG)

Para efeito de argumentação, aponta-se aqui que o termo ou processo de uma Egrégora não faz parte da Docência Maçônica no Rito Schröeder, pois, não é citada em lugar algum nas suas Normas, Leis e Procedimentos Litúrgicos e, portanto, não faz parte deste contexto, o que ameniza o debate para aqueles que a desconsideram e usam este argumento para menosprezá-la.

Numa tradução livre dos pensamentos citados e para se chegar a uma definição, entende-se Egrégora Maçônica como a necessidade, dentro do seu esoterismo, de uma sintonia que vise atingir os objetivos em comum.

Considerações finais

Quando se fala em Egrégora Maçônica, entre controversas opiniões, uma se destaca: a Egrégora é supérflua. Esta superficialidade, para alguns, transforma-se em posicionamentos simples, em que citam de que uma Egrégora é algo abstrato e chegar-se a conclusões, se é positiva ou negativa, nem valeria o esforço realizado; são os que trazem “tatuados” o desprezo pelo desconhecido e não tentam compreendê-lo.

Na simplicidade da imaginação, se existisse a necessidade, literal, do processo de uma Egrégora na Ritualística Maçônica, quando se fizesse uma “baixa de frequência ou sintonia”, certamente o seu resultado seria positivo. Como a Ritualística [2] não preconiza isto, fica prejudicado o posicionamento, pois a simples imaginação de que algo seria bom, justifica posicionamentos específicos dos seus detratores que, nestes momentos, atém-se apenas a oficialidade do Rito. Omitem de maneira proposital, para justificar os seus posicionamentos de que existe, oficialmente, o processo chamado Cadeia de União realizada no referido Rito e que traz na sua essência a busca de uma Egrégora que acompanhe os Irmãos mesmo que seja uma intenção, entretanto, referenda a sua validade.

Também, tendo em vista os registros neste texto, especificamente de pessoas, sobre o assunto Egrégora Maçônica, chega-se à conclusão de que a maneira destes ao analisar o processo, depende mais de pensamentos personalísticos. Deveriam, numa concepção utópica de consenso, analisar o processo como um todo, positivo ou negativo, sem levar em conta o pensamento de serem os “donos da verdade”. Justifico este posicionamento individual que uma Egrégora Maçônica apenas agrega coisas boas em Ritualísticas, em ambientes maçónicos ou mesmo dentro da Maçonaria. Nesta quase infindável procura de motivos para entender de que maneira uma Egrégora Maçônica possa prejudicar a Maçonaria, não encontro nada específico, além da má vontade daqueles que não acreditam neste processo.

Na minha aceitação definitiva de que uma Egrégora Maçônica tem um componente Espiritual, senão a sua essência, como explicar ou encorajar o seu processo para aqueles que, teoricamente, acreditam na necessidade de uma Espiritualidade na Maçonaria, mas, na prática a ignoram veladamente? Para estes a Egrégora nunca será quesito necessário numa Ritualística, pois, não a entendem na sua essência, entretanto a ignoram pelo simples motivo de que no Rito e em Leis Maçônicas (GLMERGS – Constituição – 2019) ela não é citada ou recomendada. Na busca dos motivos que levaram a Instituição Maçônica citada no texto a não incluir na sua Liturgia a necessidade de uma Egrégora nas suas Lojas, causa-me um desconforto, pois, imagino várias situações que ocorreram para estes posicionamentos oficiais. O primeiro que vem à mente é a de que a Instituição, entendendo que a Egrégora possa ter um componente Espiritual, não quis, ou não quer, desagradar a estes que ainda não consideram a Espiritualidade como um processo necessário em Lojas, o que se torna um contrassenso na sua exigência de Crença em um Ser Superior.

É pertinente dizer que qualquer tipo de Egrégora somente se realizará se a pré-disposição seja individual, pois, o processo não será possível com a simples exigência de que outros a realizem. Em Lojas Maçônicas [3] (DOCÊNCIA MAÇÓNICA, p. 7) é recorrente ouvir a citação da exigência de uma Egrégora Maçônica desde que esta seja feita pelos outros, sempre em atitudes autoritárias, beirando o egoísmo.

Neste posicionamento necessário, sugere-se a necessidade da prática de uma Egrégora dentro da Maçonaria com o aval Institucional nos seus propósitos, tais como exigências mais contundentes, no registro de que ela seja parte integrante e inicial da Ritualística. As Instituições Maçônicas precisam validar que Maçonaria e Espiritualidade, “caminham lado a lado”, pois, esta referência está lá, entendida que somente serão considerados Irmãos maçônicos os que creem em um Ser Supremo (GLMERGS – Constituição, Preâmbulo, p.6), surgindo a oportunidade da prática Espiritual, também, através deste processo.

No entendimento de que uma Egrégora Maçônica somente será possível se envolver a Espiritualidade, esta prerrogativa trará a oportunidade de um resgate histórico maçônico do necessário envolvimento Espiritual nos seus âmbitos de atuação. Aliado a este entendimento, uma Egrégora Maçônica trará a oportunidade de benefícios recorrentes a todos e a Entidade.

Jorge Antônio Mendes, M. I., Loja Namaste nº 172 – Oriente de Esteio/RS – GLMERGS. Pós-graduado em Maçonologia: História e Filosofia (UNINTER-PR) – 2018.

 Email: jorgemendes2017@hotmail.com

Notas

[1] Método, sistema, modo de fazer alguma coisa. (PRIBERAM DICIONÁRIO, 2023)

[2] Aqui citado, especificamente, a Ritualística do Rito Schröder.

[3] Loja Maçônica é uma reunião de Maçons para uma atividade específica.

Bibliografia

BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Paulinas Editora, 2014.- Impressão 2021

BOUCHER, Jules – A Simbólica Maçônica. Editora Pensamento – São Paulo – 1979.

CAMINO, Rizzardo da – Breviário Maçônico – 6. Ed. – São Paulo. Madras, 2014, p. 132.

DICIONÁRIO – Significado de Egrégora – https://www.dicio.com.br/egregora/ – acesso em 25.04.23.

DOCÊNCIA MAÇÓNICA – GLMERGS, Porto Alegre. Edição 2015

Constituição da Grande Loja Maçónica do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2019.

GOOGLE – www.google.com – acesso em 25.04.23.

INSTITUTO REIKIANO – https://institutoreikiano.com.br/egregora/ – Acesso em 01/05/23.

ORG – https://www.netmundi.org/home/category/falacias/ – Acesso em 01/05/23.

PRIBERAM DICIONÁRIO – https://dicionario.priberam.org/processo – Acesso em 2023

UNINTER – Curso de Pós-Maçonologia: História e Filosofia – Disciplina A Geometria Sagrada e a Visão Cabalística – 2018.

 


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