SCHRÖDER: MAÇONARIA COSMÉTICA X MAÇONARIA ESTÉTICA

 

Permitam-me uma singela explicação preliminar, quanto a utilização dos termos que formam o título do presente texto; cujo escopo é propor uma contraposição entre os termos gregos aesthese e cosmo, que dão origem às palavras “estética” e “cosmética”. Por estética pode-se entender a percepção do belo, verdadeiro etc., enquanto a “cosmética” implica em certo engendramento, um acobertamento ou ofuscação para que algo se apresente com uma imagem irreal, falsa e imaginária.

Pode-se concluir da leitura de suas obras (rituais) que Friedrich Ludwig Schröder percebeu em sua época uma maçonaria cosmetizada e procurou resgatar a maçonaria estética e mais significativa. Como Nietzsche, Schröder escreveu utilizando-se de aforismos, onde as metáforas permitem ao leitor (maçom) liberdade de pensamento e reflexão.

Schröder percebeu que a maçonaria de sua época, não se tratava da verdadeira expressão da “Arte Real”, e sim de uma pseudomanifestação maçônica, muito em voga atualmente, infelizmente, inclusive, no próprio Rito Schröder “contaminado” por interpretações infundadas, “costumes”, enxertos de outros ritos etc.

Infelizmente, a Maçonaria contemporânea pode ser identificada como aquela que produz estrategicamente, uma sensação de beleza, que abusa de adereços, de “fantasias”, de símbolos, imagens, de pronomes de tratamentos e outros recursos com vistas a uma sensação de beleza e poder que transparece não um significado, visão da Instituição e da verdade, mas praticamente impõe a todos a leitura que deve ser feita.

O que vejo em Schröder é justamente um trabalho de descaracterização da maçonaria cosmetizada/maquiada ou, a tentativa de resgate da maçonaria estética, significativa, real, crítica, ética e filosófica. Como dramaturgo e diretor teatral rejeitou a utilização de recursos “artísticos” e “efeitos especiais” tão comuns nas artes, (teatro, fotografia, cinema etc.) na Maçonaria, em outras palavras, optou pela essência a aparência, o real ao maquiado.

Infelizmente, vivemos numa Maçonaria e sociedade desgastada, onde cada maçom/cidadão constitui a parte de um todo sem reconhecer-se como indivíduo (singularidade). Sofremos, infelizmente, a interferência de séculos de “verdades” estabelecidas, mas não motivadas, refletivas e fundamentadas, em especial, por cada maçom em sua interioridade. Muitos maçons, atualmente, acreditam e obedecem apenas por acreditar que é a “verdade”. E para tanto, basta verificar os “trabalhos”, “peças de arquiteturas” e os ensinamentos ministrados em algumas lojas, a educação maçônica de nossa época é uma educação que em tese, torna todos os maçons aptos apenas para assumirem cargos em Loja, a obedecerem e repetirem “formulas tradicionais”, não os tornam críticos, pensadores livres e aptos a compreenderem o quanto estão robotizados, imitadores e integrados a uma linha de produção maçônica, com reflexos não virtuosos nas instituições, Poderes e órgãos maçônicos e na sociedade como um todo. Perdemos a habilidade artística de Schröder e de outras figuras importantes de nossa Ordem.

Acredito que na visão de Schröder a Loja deveria funcionar como: um “palco da filosofia”: um espaço epistémico, um “palco da filosofia”: um espaço heterotópico, um “palco da filosofia”: “um lugar seguro para os que buscam a verdade”.

Nesse sentido, faz indispensável relembrar que todo maçom é um ser humano, inclusive na percepção etimológica da palavra “humano”, que tem origem no radical húmus, do latim “terra fértil”, em outras palavras, o humano/maçom é, ou deveria ser portador de uma fertilidade/produtividade a partir de si mesmo, um ser fecundo, capaz criar-se novo a partir da autorreflexão, do autoconhecimento e da autoprodução propiciada pela Maçonaria, e para tanto, faz-se necessária uma rebeldia disciplinada, nas palavras Oscar Wilde que ensinou que a rebeldia é a virtude original do ser humano.

Precisamos todos nos unir para defender e revigorar a Maçonaria como fizeram nossos irmãos no passado. O legado de nossa Instituição e de Schröder transmitidos, continuamente, de geração a geração, aqueles que buscam a verdade no palco da vida, não podem ser ofuscados pelo holofote da vaidade e da ilusão. Por fim, lembro-me da advertência de Machado de Assis, para acrescentar que não é só tempo que caleja a sensibilidade, a maquiagem também.

OBS: Texto sem revisão.

C.A.M. e TFA

Ir.´. Marcelo Artilheiro

Joinville (SC), 03 de fevereiro de 2023



 

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