ORIGEM DO TEMPLO MAÇÔNICO

O templo maçônico, como é hoje conhecido, é relativamente recente.

Na realidade, o primeiro templo maçônico, que foi o da Grande Loja de Londres, teve lançada a sua pedra fundamental no dia 1º de Maio de 1775, sendo inaugurado e consagrado a 23 de Maio de 1776.

Antes disso, as lojas maçónicas reuniam-se em tabernas, ou nos adros das igrejas, numa prática herdada de lojas de maçons de ofício, ou operativos. As tabernas europeias, nos séculos XVII e XVIII, possuíam uma função social muito importante e tinham uma fama bem diferente das cervejarias e bares das épocas posteriores; elas serviam para descontraídas reuniões de entidades associativas e de intelectuais, que possuíam, assim, centros de reunião para a troca de ideias e para aperfeiçoamento, numa atividade social e cultural muito semelhante à desenvolvida, nas primeiras décadas do século XX, nos “cafés”, que chegaram, devido a isso, a ser chamados de “cafés literários” e que tanto incrementaram o desenvolvimento da. literatura, pelas trocas de experiências e de ideias entre os literatos e entre o público leitor.

A primeira Obediência maçônica do mundo, a Grande Loja de Londres, criada a 24 de Junho de 1717, foi formada, inicialmente, por quatro lojas, que tomavam, como título distintivo, os nomes das tabernas em que se reuniam: “The Goose and Gridiron” (O Ganso e a Grelha), “The Apple Tree” ( A Macieira), “The Crown” (A Coroa) e “The Rummer and Grapes” (O Copo e as Uvas).

A Loja da taberna O Ganso e a Grelha era, também, chamada de Loja São Paulo, porque celebrava as suas reuniões no pátio da igreja de São Paulo. Esta Loja, que, posteriormente, adotaria o título de “Antiquity”, teria sido fundada em 1691 e, já a partir dos primeiros anos do século XVIII, começava a promover modificações estruturais, que iriam redundar na moderna forma da Maçonaria, ou seja, a dos maçons aceitos, ou “especulativos”. Formada, inicialmente, apenas por maçons de ofício, ou operativos, ela começaria, a partir de 1702, a admitir homens não ligados à arte de construir.

Esta Loja viria a ter fundamental importância para a criação da Grande Loja de Londres, pois foi por intermédio do reverendo Desaguliers, iniciado em 1709, no pátio da igreja de São Paulo, que se conseguiu, em fevereiro de 1717, a reunião, na taberna “The Apple Tree”, das quatro Lojas citadas, da qual surgiria a convocação de todos os membros das Lojas, para o dia 24 de junho, quando seria, então, fundada a primeira Obediência do mundo. Graças a isso, como também, à proeminência dos seus membros (Payne, Anderson, Desaguliers, Calvert, Elliot, Luniden etc.) e ao grande número de maçons aceitos, a Loja da taberna O Ganso e a Grelha, ou de São Paulo, ir-se-ia colocar à testa do movimento de transformação da Maçonaria.

A recém fundada Obediência – que não contou, inicialmente, com o apoio dos demais maçons ingleses – continuou a realizar as suas reuniões nos pátios das igrejas ou nas tabernas das quais as Lojas fundadoras tomavam os nomes, até a inauguração do Templo, em 1776; os símbolos maçónicos, então, eram traçados no chão, ou sobre um painel.

A 1º de Maio de 1775, na presença de numerosos grupos de maçons, era lançada a pedra fundamental do “Freemasons’ Hall“, a qual continha uma placa, com a seguinte inscrição:

“ANNO REGNI GEORGII TERTII QUINDECIMO, SALUTIS HUMANAE, MDCCLXXV, MENSIS MAU DIE PRIMO, HUNC PRIMUM LAPIDEM, AULAE LATOMORUM (ANGLICE, FREE AND ACCEPTED MASONS) POSUERIT HONORATISSIMUS ROB. EDV. DOM. PETRE, BARO PETRE, DE WRITTLE, SUMMUS LATOMORUM ANGLIAE MAGISTER; ASSIDENTIBUS VIRO ORNATISSIMO ROWLANDO HOLT, ARMIGERO, SUMMI MAGISTRI DEPUTATO; VIRIS ORNATISSIMIS JOH. HATCH ET HEN. DAGGE, SUMMIS GUBERNATORIBUS; PLENOOUE CORAM FRATRUM CONCURSU; QUO ETIAM TEMPORE REGUM, PRINCIPIUMQUE VIRORUM FAVORE, STUDIOQUE SUSTENTATUM MÁXIMOS PER EUROPAM HONORES OCCUPAVERAT NOMEM LATOMORUM, CUI INSUPER NOMINI SUMMUM ANGLIAE CONVENTUM PRAEESSE FECERAT UNIVERSA FRATRUM PER ORBEM MULTITUDO E COELO DESCENDIT”.

Após a cerimônia de lançamento, a companhia seguiu, em carruagens, até ao “Leatherfellers’ Hall”, onde houve uma festiva recepção, ocasião em que foi instituído o cargo de Grande Capelão (Grand Chaplain).

A construção do edifício foi bastante rápida e ele foi concluído em pouco mais de um ano. A 23 de Maio de 1776, ele foi inaugurado e dedicado à Maçonaria, à Virtude, à Caridade Universal e à Benevolência, na presença de uma brilhante assembleia de maçons.

Uma Ode, escrita por um membro da “Alfred Lodge”, de Oxford, e musicada por um Maçom conhecido como Dr. Fisher, foi executada, na ocasião, perante muitas senhoras, que, nesse dia, honraram a Sociedade com a sua companhia.

Uma instrutiva explicação sobre a instituição maçônica foi transmitida pelo Grande Secretário, seguindo-se uma magnífica oração desenvolvida pelo Grande Capelão. Em comemoração ao evento, tão importante e feliz para a Ordem, ficou acertado que o aniversário da cerimônia deveria ser sempre comemorado.

No prédio da Great Queen-Street passaram a ser realizadas as assembleias anuais e as comunicações trimestrais da fraternidade; e, para o aperfeiçoamento de quaisquer Lojas, assim como de maçons, individualmente, ele foi liberalmente franqueado.

Os Irmãos da “St. John’s Lodge”, de Newcastle, animados pelo exemplo dado pela metrópole, abriram uma subscrição entre eles, com o propósito de construir, na cidade, um templo para os seus trabalhos; e, a 23 de setembro de 1776, foi lançada, por Francis Peacock, então Venerável Mestre da Loja, a pedra fundamental da construção. Daí em diante, aquele primeiro exemplo foi frutificando.

É claro que o templo maçônico, como é hoje conhecido, não surgiu de uma só vez. Serviu-lhe, inicialmente, de modelo arquitetônico, o templo de Jerusalém, que já servira de modelo para as igrejas; isso não é, na realidade, de se estranhar, pois tendo, a Maçonaria de Ofício, ou operativa, crescido e frutificado à sombra da Igreja, reunindo-se nos adros das igrejas, ou nelas próprias, era natural que, ao construir o seu templo, embora já na fase dos maçons aceitos, a Maçonaria procurasse o modelo que lhe era mais conhecido.

O conceito de que havia, aí, uma influência da Ordem dos Templários, cujos estatutos consideravam o templo de Jerusalém como o símbolo das obras perfeitas dedicadas a Deus, é posterior; esses estatutos foram redigidos pelo abade Clairvaux (São Bernardo), quando a ordem templária foi fundada, em 1118, o que mostra, mais uma vez, que, em qualquer caso, a Maçonaria baseou-se na Igreja, ou em conceitos eclesiásticos, para concretizar o seu templo.

A orientação e a divisão dos templos maçônicos, assim como das igrejas, têm, indisfarçavelmente, a sua origem no templo de Jerusalém, da mesma maneira que alguns objetos da decoração e as duas colunas vestibulares.

Existem, entretanto, outras influências, não só das antigas civilizações, mas, também do misticismo medieval e de costumes originários da Inglaterra, que, aos poucos, motivaram a complementação da decoração dos templos. Não é, entretanto, apenas nos templos que essas influências são palpáveis, mas, também, na doutrina, na ritualística, na filosofia e no misticismo da Maçonaria.

No tocante ao templo, as maiores contribuições foram:

1 – Das antigas civilizações, que, a partir do quinto milênio a.C., começaram a se sedentarizar e a se aglomerar em centros urbanos, entre os rios Tigre e Eufrates (a Mesopotâmia, “terra entre rios”), em torno deles, às margens do rio Nilo e em torno dos mares Mediterrâneo e Adriático, atingindo, portanto, a Asia Menor, o norte da África e a Europa Oriental. Nessas regiões, encontravam-se sumerianos, acadianos, babilônios, persas, hebreus, egípcios e gregos.

A maior contribuição, neste terreno, é, evidentemente, a hebraica, já que é o templo hebraico de Jerusalém o modelo do templo maçônico, embora não seja, este, uma cópia exata daquele, como pretendem alguns.

Além da orientação, da divisão e das colunas vestibulares Booz e Jachin, encontram-se, num templo maçônico, dependendo do grau e do rito em que a Loja funciona, outros elementos do templo hebraico, como: Altar dos Perfumes, Mesa dos Pães Propiciais (ou Altar dos Pães da Proposição), Candelabro de Sete Braços (o menorá hebraico), Estrela de Seis Pontas (a Magsen David, do judaísmo e a Blazing Star, do Rito de York), Mar de Bronze, Ouro, Cedro do Líbano, Pedra, além do Altar, com o Trono, que fica no Oriente e corresponde ao Altar-mor das igrejas e ao Santo dos Santos do templo de Jerusalém.

A contribuição grega está presente nas três colunas, dórica, jônica e coríntia, que, simbolicamente, sustentam a Loja de Aprendiz e na Estrela de Cinco Pontas, ou Estrela Pentagonal (ou Pentáculo, ou Pentagrama), que é a estrela hominal das escolas pitagóricas (e que foi introduzida na decoração do templo maçônico pelo barão de Tschoudy, no século XVIII).

A contribuição egípcia é encontrada na decoração estelar do teto do templo; os antigos templos egípcios eram a representação da Terra, de onde brotavam as colunas, como gigantescos papiros, em direção ao firmamento estrelado. Além disso, todavia, há outra contribuição importante: embora as colunas do pórtico, ou vestibulares, tenham a sua origem no templo de Jerusalém, elas não são, no templo maçônico, iguais às hebraicas; são, sim, egípcias (com influências babilônicas), simbolizando folhas de papiro e flores de lótus, que eram as duas plantas sagradas do antigo Egito (muitos templos maçônicos possuem colunas vestibulares da ordem coríntia, o que é um grave erro).

A contribuição sumeriana está presente no Pavimento Mosaico, que, entretanto, nem todos os ritos possuem; o pavimento, que tem origem sumeriana, era, para os sumerianos, terreno sagrado, mas para os gregos e cretenses era um simples elemento decorativo.

2 – Dos agrupamentos e seitas místicas medievais, como os rosa-cruzes, os alquimistas e os ligados à astrologia (embora a astrologia fosse muito antiga, existindo desde a época dos sumerianos, foi na Idade Média que, graças aos árabes, ela se expandiu e se consolidou).

A contribuição da Astrologia está presente nas Colunas Zodiacais (que não estão presentes em todos os ritos), meias colunas jônicas encimadas pelos Pentáculos, que simbolizam o planeta e o elemento correspondente a cada signo do zodíaco; como cada signo representa uma passagem iniciática, desde a entrada do candidato na Câmara de Reflexão até ao acme da exaltação ao grau de Mestre Maçom, todo o zodíaco mostra a escalada iniciática, associada às cíclicas mortes e ressurreições da natureza.

A contribuição da Alquimia é encontrada em muitos símbolos, principalmente os alusivos aos quatro elementos da antiguidade (ar, água, fogo e terra), mas a sua presença é mais importante num anexo do templo, a Câmara de Reflexão, onde, em muitos ritos, estão presentes os três elementos alquímicos, sal, enxofre e mercúrio, necessários à concretização da Grande Obra, ou Obra do Sol, ou Arte Real – a transmutação dos metais inferiores em ouro – da alquimia.

A contribuição do rosacrucianismo encontra-se mais na decoração dos Altos Graus, através de vários símbolos, dos quais o máximo é a rosa na intersecção dos braços da cruz.

3 – Da igreja medieval e da do início da era moderna. A contribuição, aí é patente, pois, como já foi salientado, a Maçonaria cresceu à sombra da Igreja e dela copiou os templos, os quais, por sua vez, têm base no templo de Jerusalém. As antigas igrejas, inclusive, possuíam as duas colunas na entrada e um triângulo equilátero (Delta) na fachada; isso, modernamente, tem sido abandonado, mas a divisão e a orientação continuam tendo o templo hebraico como arquétipo.

4 – Do Parlamento inglês, existente desde 1296. Os lugares dos maçons, no templo, imitam a disposição existente no parlamento britânico; neste, o presidente tem assento na Great Chair (um cadeirão de encosto alto), sendo ladeado pelos líderes do governo e da oposição, um a cada lado, enquanto os demais parlamentares sentam-se frente a frente, situação de um lado e oposição do outro, em bancadas de vários níveis.

Esta mesma disposição existe no templo maçônico, com o Venerável no Trono e os maçons das Colunas do Norte e do Sul sentados frente a frente; e isso não é de se estranhar, pois sendo, o primeiro templo, originário da Inglaterra, tomou os modelos mais próximos: o Parlamento e as igrejas. Também a Sala dos Passos Perdidos, que é um anexo do Parlamento inglês, foi colocada como anexo do templo maçônico.

Os templos maçônicos não são exatamente iguais em todos os ritos, pois existem aqueles que são mais simples e aqueles que são mais complexos, dependendo do rito em que a Loja trabalha; existem, todavia, entre todos eles, mais pontos em comum do que divergências, pois existe um arquétipo do templo, do qual nenhum rito pode fugir.

Assim, independentemente de ritos, qualquer Maçom, em qualquer parte do mundo, reconhece um templo maçônico pelas colunas do pórtico, pela orientação, pela divisão e pelos símbolos presentes na decoração.

José Castellani

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É livre a postagem de comentários, os mesmos estarão sujeitos a moderação.
Procurem sempre se identificarem.

Postagem em destaque

BEM-VINDOS À MAÇONARIA- SIMBOLISMO MAÇÔNICO

  Ninguém ama aquilo que não conhece bem e nem se esquece daquilo que ama. Ninguém dá o que não tem. O símbolo é imagem, é pensamento... E...