As idéias prevalentes e obsoletas da Idade Média,
conhecida como “A Noite dos Dez Séculos”, levaram no início do Século XVII o
surgimento na Europa de um movimento renovador de toda cultura da época, como
reação ao considerado atraso de quase todo conhecimento então existente.
Essa plêiade de novos pensadores espalhada por quase todo
continente europeu, voltava-se contra o tradicionalismo que viera da então Era
Medieval e grilhões do absolutismo da realeza, como também os benefícios que
eram outorgados aos membros do clero e nobreza.
Os freios para evolução da inteligência precisavam ser
arredados, por que o Homem deveria pensar e governar-se pela Razão; livrar-se
das restrições impostas pela Inquisição e buscar seu próprio destino livre de
opressão.
Poderia acreditar naquilo que sua inteligência explicasse
independentemente de religiosidade ou mesmo fé. Teria liberdade de desacreditar
naquilo que lhe foi imposto outrora, ou, simplesmente, questioná-lo.
A Razão seria a bússola de sua vida, substituindo toda
crença religiosa para abrir caminho a uma Nova Era de intelectualidade, gerando
progresso material e moral, em oposição aos mesquinhos tempos da Idade Média.
Toda essa evolução filosófica, científica, artística, moral
e religiosa, tomou o nome de Iluminismo, ou, “Século das Luzes”, como
contestação “A Noite dos Dez Séculos” (476-1476), face à pobreza cultural
daqueles tristonhos tempos.
Iluminismo, porque concedia luz à escuridão, marca do
atraso de mentalidade da Idade Média. A doutrina iluminista preconizava que o
Homem nasce puro, com bondade, e é a própria sociedade que o corrompe.
Se houver Justiça Social, pouca desigualdade na comunidade,
econômica, moral e de costumes, a paz virá, como conseqüência, e a felicidade
aflorará para o bem de todos.
A liberdade seria exercida com responsabilidade para o bem
comum. Eram, em linhas gerais, os postulados do Iluminismo. Filósofos,
políticos e cientistas, integravam esse cenário, surgindo, daí, várias
correntes ou vertentes dessa política social que se instalou, em última
análise, em nome da liberdade de pensar, com o propósito de progresso cultural
e de espírito. Aliás, esses ideais de avanço cultural já vinham sendo
desenvolvidos desde a Renascença que mais tarde também contribuiu para
deflagrar a Revolução Francesa de 1789.
O filósofo René Descartes prestou significativa
contribuição a esse empreendimento intelectual, com seu adágio – cogito ergo
sum – (penso, logo existo), pensamento puramente racionalista.
Outras importantes figuras intelectuais do Século XVII
foram iluministas, como Galileu Galilei, Francis Bacon, Thomas Hobbes, René
Descartes, Baruch Spinoza, John Locke, Isaac Newton, Voltaire, Montesquieu,
Rousseau, Kant, Adam Smith e tantos outros do mesmo quilate.
Esse movimento, entretanto, começou a perder força, mais ou
menos, no começo do Século XIX, com o advento de novas doutrinas e ao tempo das
guerras napoleônicas 1804-1815.
Embora uma parte dos iluministas pregasse o ateísmo, a
maioria acreditava na existência de um Ser Supremo do Universo, princípio
admitido pela Maçonaria que foi muito influenciada por essa elite erudita.
A religião poderia ser cultivada por cada um, sendo mera
faculdade, e, sendo aceita, como efeito, a vida espiritual continuaria após a
morte do corpo físico.
Era o que a maioria entendia do aspecto divino. E foi nesse
ambiente de sabedoria que começou a surgir a Franco-Maçonaria no começo do
Século XVII, cujos maçons vieram das fileiras do Iluminismo trazendo doutrinas
daquele momento histórico para oxigenar a Maçonaria Tradicional ou Simbólica,
as chamadas Lojas Azuis.
Registra a História que as dificuldades da Ordem Operativa
em meados do Século XVII, em especial na Inglaterra, ensejaram sérias conseqüências
para as guildas, chegando à decadência ou mesmo à extinção.
Como medida de sobrevivência, o sistema maçônico daqueles
tempos passou a recrutar membros da intelectualidade, nobreza e de posses
econômicas, sem que antes tivessem integrado o artesanato, ou seja, a maçonaria
primitiva.
Consolidou-se, assim, no Século XVIII (1717-1724), a
Franco-Maçonaria composta por cérebros que não faziam parte da Instituição do
Artesanato, porém eram dotados de requisitos morais, intelectuais e econômicos,
sendo aceitos pelos IIr.'. operativos que simbolizavam o passado maçônico.
Esses IIr. foram chamados de “aceitos”, que mais tarde o
REAA acolheu essa nomenclatura. Estabeleceu-se, entretanto, que seria a mesma
maçonaria, apenas com departamentos próprios, mas com a mesma substância, como
sendo frente e verso de uma mesma moeda.
Estava, pois, implantado o departamento especulativo ao
lado do outro operativo. Mas a unidade da Ordem foi preservada em todos os
sentidos.
Pois bem, com o ingresso desse IIr.’. “aceitos”, oriundos
em grande parte do Iluminismo, a influência era mesmo de se esperar na
Instituição, especialmente no âmbito especulativo, geomântico ou ainda teórico.
Não demorou muito e nasceram os Altos Graus, de 4 a 33 no
REAA, sendo que para alguns especialistas o Grau três (Mestre-Maçonaria Azul)
foi criado em 1725, pouco depois da Constituição do Bispo Anglicano James
Anderson de 17 de janeiro de 1723.
Os Landmarks, por sua vez, foram estudados, classificados e
ordenados por diversos estudiosos maçônicos, até que em meados do Século XIX,
Albert Galletin Mackey – 1807-1881, compilou-os, formando uma
Super-Constituição Maçônica Universal, no nosso modesto entendimento. É, sem
dúvida, a codificação mais aceita pelas diversas Obediências com os 25
princípios imutáveis e inalteráveis.
A influência do Iluminismo na Maçonaria é evidente,
principalmente, quando examinamos os artigos 6′ ao 8′, que versam sobre as
prerrogativas do Grão-Mestrado.
Trata-se de matéria atinente a Administração da Entidade
que, em caso excepcional, pode o Grão-Mestrado autorizar a proposta e recepção
do candidato ali mencionado. Essa prerrogativa emana da experiência dos
políticos de Iluminismo que ingressaram na Ordem, objetivando, em tempos
conturbados, que a direção tenha instrumentos eficazes para debelar, ou pelo
menos, minimizar as dificuldades momentâneas.
A faculdade de representação (art. 12) é outro avanço da
época iluminista, conferindo ao obreiro esse direito quando necessitar de
auxílio técnico ou para outros fins de seu interesse. O direito recursal (art.
13) foi inspirado no modelo profano e visa eventual correção da decisão
impugnada a ser reexaminada pelo órgão superior.
Em última análise, é resquício da doutrina contra o
despotismo de que tratamos no início desta dissertação e a igualdade de todos
os maçons no interior da Loja (art.22) origina-se do sentimento democrático,
defendido pelo movimento iluminista de combater a descriminação.
O princípio da Separação dos Poderes na Instituição
Maçônica é cópia do modelo de Montesquieu, renomado iluminista. – “Esprit des
Lois”. Criou esse sistema de Poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e
Judiciário – arts. 35, 70 e 97 – da Constituição do Grande Oriente do Brasil,
dentre outros diplomas das várias Potências, cada um com atribuições previstas
em lei.
Mas de todas as influências iluministas na Ordem Maçônica,
a que mais se destaca é seu Departamento Especulativo. Introduziu-se o estudo
profundo filosófico, simbólico, esotérico, metafísico, espiritual e histórico,
além de outros ramos do conhecimento humano.
A maçonaria tradicional ou clássica ficou limitada ao
simbolismo básico e o início de alegoria da lenda de Hiran Abiff. Esses são apenas
alguns enfoques iluministas adotados pela Instituição. O certo é que o
Iluminismo trouxe grande contribuição para o progresso maçônico, intelectual,
espiritual material. É o que se conclui do exame do tema em foco!
Enviado pelo Ir.’. José Geraldo de Lucena Soares
ARLS – Fraternidade Judiciária Nº 36l4 – GOSP/GOB
Capítulo “Integração e Prudência” – SP
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Capítulo “Integração e Prudência” – SP