terça-feira, 19 de agosto de 2025

VELHOS IRMÃOS, FORTES COLUNAS.


Essa crônica é uma homenagem viva aos fundadores da nossa Loja e aos Irmãos mais experientes que, com sabedoria e perseverança, nos legaram o que hoje temos o privilégio de continuar.

A pressa moderna por vezes não combina com quem já viveu mais. E é justamente essa incompatibilidade que alimenta um dos preconceitos mais ignorados da atualidade: o etarismo.

O incômodo com os mais experientes vem, em parte, da nossa dificuldade em aceitar a passagem do tempo. “Eles naturalmente ficaram mais lentos, não andam tão rápido, falam mais devagar — e isso as vezes incomoda a alguns”. Por vezes de forma consciente e desrespeitosa, outras inconscientemente. O que parece apenas falta de paciência esconde uma intolerância real com quem envelheceu e agora é visto como estorvo em uma sociedade que, em 99% das situações, valoriza apenas o desempenho.

O etarismo não é algo perceptível e gritante. Ele acontece quase sempre em pequenos gestos e detalhes: cortando uma fala, suspirando com impaciência, ignorando uma opinião. E tudo isso vai minando o espaço social dos idosos sem que percebamos. Dentro e fora da nossa Ordem. O resultado é um ambiente onde o Irmão idoso precisa se adaptar ou se esconder. Não há espaço para desacelerar, refletir ou simplesmente ocupar o tempo com o próprio ritmo. O Irmão excluído acaba se afastando e deixando de ir às reuniões. É preciso acolhimento.

No mundo profano e na Maçonaria, essa exclusão vem disfarçada de eficiência: “Você anda devagar na rua e o outro já buzinou atrás. Virou um incômodo”. O mundo não está mais preparado para quem caminha fora do ritmo da pressa coletiva. Essa lógica é cruel porque desumaniza. Deixa de ver o idoso como pessoa para tratá-lo como obstáculo. Como se sua presença prejudicasse o andamento da vida dos outros, e da Loja que ajudaram a erguer e manter de pé.

Fingimos que nunca vamos envelhecer. E esse medo se transforma, frequentemente, em desprezo por quem já chegou lá. “Os Irmãos mais jovens acham que não vão envelhecer. Mas vão”.

Esse tipo de pensamento pode criar distância entre gerações e alimentar o ciclo do preconceito. Ignoramos os idosos para não confrontar o próprio futuro e, com isso, normalizamos a exclusão. A rejeição ao idoso é, muitas vezes, uma recusa simbólica ao tempo. E isso compromete a possibilidade de construir uma sociedade mais acolhedora, mais justa e preparada para o envelhecimento populacional.

Na Maçonaria, cada Irmão é um pilar. Alguns são alicerces que sustentam o Templo desde sua fundação. Honrá-los não é apenas justo — é essencial. Afinal, o Compasso e o Esquadro não distinguem a idade da pedra, apenas a sua firmeza e retidão.

Na simbologia do Templo, a Coluna da Sabedoria representa justamente a experiência, o discernimento e o conhecimento acumulado — qualidades encarnadas por nossos Irmãos mais velhos. Ignorar sua presença é fragilizar nossa própria estrutura.

E se a Fraternidade é o cimento da Maçonaria, que sentido teria deixarmos que nossos Irmãos mais experientes se sintam alheios ao convívio da Loja que ajudaram a construir?

“Vamos ter que nos preparar para viver numa sociedade mais velha.” Os dados mostram que nossa população está envelhecendo, mas as atitudes ainda parecem presas ao passado. Incluir os mais velhos exige mudar o olhar. Isso envolve escutar mais, julgar menos e entender que a vivência acumulada é uma riqueza, e não um peso.

Valorizar o idoso é, acima de tudo, valorizar a própria humanidade. Porque envelhecer é um privilégio. E a forma como tratamos os outros agora define como seremos tratados depois. Na vida profana e na caminhada Maçônica.

Como cantava Renato Russo, no clássico "Pais e Filhos":

“Você culpa seus pais por tudo, e isso é absurdo. São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?”

Na Bíblia, nosso livro da sabedoria, salmo 71:9 está escrito: "Não me rejeites na minha velhice; não me abandones quando se esgotar a minha força."

É nosso dever ter carinho e respeito com nossos Irmãos mais experientes, que carregam a sabedoria dos dias vividos e a história de nossa Oficina.

Um dia, se o GADU assim nos permitir, seremos nós os "velhinhos da Loja". E o que plantarmos hoje em acolhimento será o que colheremos amanhã.

Que esta pequena reflexão inspire respeito, inclusão e consciência — dentro e fora do Templo.

Autor: Cristiano de Lima Aguiar

*Cristiano é Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG.

 

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