Essa crônica é uma homenagem viva aos fundadores da nossa Loja e aos Irmãos mais experientes que, com sabedoria e perseverança, nos legaram o que hoje temos o privilégio de continuar.
A pressa
moderna por vezes não combina com quem já viveu mais. E é justamente essa
incompatibilidade que alimenta um dos preconceitos mais ignorados da
atualidade: o etarismo.
O incômodo
com os mais experientes vem, em parte, da nossa dificuldade em aceitar a
passagem do tempo. “Eles naturalmente ficaram mais lentos, não andam tão
rápido, falam mais devagar — e isso as vezes incomoda a alguns”. Por vezes de
forma consciente e desrespeitosa, outras inconscientemente. O que parece apenas
falta de paciência esconde uma intolerância real com quem envelheceu e agora é
visto como estorvo em uma sociedade que, em 99% das situações, valoriza apenas
o desempenho.
O etarismo
não é algo perceptível e gritante. Ele acontece quase sempre em pequenos gestos
e detalhes: cortando uma fala, suspirando com impaciência, ignorando uma
opinião. E tudo isso vai minando o espaço social dos idosos sem que percebamos.
Dentro e fora da nossa Ordem. O resultado é um ambiente onde o Irmão idoso
precisa se adaptar ou se esconder. Não há espaço para desacelerar, refletir ou
simplesmente ocupar o tempo com o próprio ritmo. O Irmão excluído acaba se
afastando e deixando de ir às reuniões. É preciso acolhimento.
No mundo
profano e na Maçonaria, essa exclusão vem disfarçada de eficiência: “Você anda
devagar na rua e o outro já buzinou atrás. Virou um incômodo”. O mundo não está
mais preparado para quem caminha fora do ritmo da pressa coletiva. Essa lógica
é cruel porque desumaniza. Deixa de ver o idoso como pessoa para tratá-lo como
obstáculo. Como se sua presença prejudicasse o andamento da vida dos outros, e
da Loja que ajudaram a erguer e manter de pé.
Fingimos que
nunca vamos envelhecer. E esse medo se transforma, frequentemente, em desprezo
por quem já chegou lá. “Os Irmãos mais jovens acham que não vão envelhecer. Mas
vão”.
Esse tipo de
pensamento pode criar distância entre gerações e alimentar o ciclo do
preconceito. Ignoramos os idosos para não confrontar o próprio futuro e, com
isso, normalizamos a exclusão. A rejeição ao idoso é, muitas vezes, uma recusa
simbólica ao tempo. E isso compromete a possibilidade de construir uma
sociedade mais acolhedora, mais justa e preparada para o envelhecimento
populacional.
Na
Maçonaria, cada Irmão é um pilar. Alguns são alicerces que sustentam o Templo
desde sua fundação. Honrá-los não é apenas justo — é essencial. Afinal, o
Compasso e o Esquadro não distinguem a idade da pedra, apenas a sua firmeza e
retidão.
Na
simbologia do Templo, a Coluna da Sabedoria representa justamente a
experiência, o discernimento e o conhecimento acumulado — qualidades encarnadas
por nossos Irmãos mais velhos. Ignorar sua presença é fragilizar nossa própria
estrutura.
E se a
Fraternidade é o cimento da Maçonaria, que sentido teria deixarmos que nossos
Irmãos mais experientes se sintam alheios ao convívio da Loja que ajudaram a
construir?
“Vamos ter
que nos preparar para viver numa sociedade mais velha.” Os dados mostram que
nossa população está envelhecendo, mas as atitudes ainda parecem presas ao
passado. Incluir os mais velhos exige mudar o olhar. Isso envolve escutar mais,
julgar menos e entender que a vivência acumulada é uma riqueza, e não um peso.
Valorizar o
idoso é, acima de tudo, valorizar a própria humanidade. Porque envelhecer é um
privilégio. E a forma como tratamos os outros agora define como seremos
tratados depois. Na vida profana e na caminhada Maçônica.
Como cantava
Renato Russo, no clássico "Pais e Filhos":
“Você culpa
seus pais por tudo, e isso é absurdo. São crianças como você, o que você vai
ser quando você crescer?”
Na Bíblia,
nosso livro da sabedoria, salmo 71:9 está escrito: "Não me rejeites na
minha velhice; não me abandones quando se esgotar a minha força."
É nosso
dever ter carinho e respeito com nossos Irmãos mais experientes, que carregam a
sabedoria dos dias vividos e a história de nossa Oficina.
Um dia, se o
GADU assim nos permitir, seremos nós os "velhinhos da Loja". E o que
plantarmos hoje em acolhimento será o que colheremos amanhã.
Que esta
pequena reflexão inspire respeito, inclusão e consciência — dentro e fora do
Templo.
Autor:
Cristiano de Lima Aguiar
*Cristiano é
Mestre Maçom da A.R.L.S. Deus Pátria e Família – Oriente de Corinto/MG – GLMMG.
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