É uma situação que
ocorre com frequência na Maçonaria brasileira e quiçá na mundial. O que vem a
ser esta situação?
Simplesmente, conforme
o titulo do trabalho já sugere, é um Irmão que exerceu sua gestão como
venerável de uma loja e que seu desempenho pode ter sido muito bom ou muito
mau, mas seu mandato se esgotou, e ele esquecendo que já passou o seu momento
como principal gestor da loja e que deveria ficar quieto no seu canto, insiste
em se intrometer nos trabalhos da nova liderança que democraticamente surgiu na
sua loja através do voto.
Apegado ao
poder, chega aos limites da hipocrisia que como se sabe é o ato de fingir
qualidades, ideias ou sentimentos que em realidade ele não tem e isso às vezes
se torna uma verdade para ele ainda que falsa, um verdadeiro sofisma, e ele
acreditando ser o que sabe tudo, que sabe mais que os outros, em fim é o dono
da verdade.
Ele não sabe se
conter, não consegue ficar sem dar palpites, ou dar ordens ao novo venerável,
ou criticar o novo líder, não somando as suas forças com as da nova gestão,
pelo contrário, atrapalhando-a. Se o novo venerável não for um líder
pragmático, pulso forte, que não saiba se impor, ficará a mercê do antecessor,
não podendo exercer a sua gestão a contento como planejou.
Todavia, numa loja
democrática, não faltarão Irmãos que com coerência e bom senso, tomarão partido
do novo líder e os mais habilidosos, chegam ao ex e com muito jeito, com
parcimônia tentam fazê-lo compreender a nova situação, o que às vezes não conseguem
havendo até em certos casos uma cisão na loja. Muitas novas lojas foram
fundadas por ex-veneráveis que não souberam respeitar a nova liderança. Este é
um fato inconteste.
Este apego ao poder é
algo que o ex-venerável às vezes não pode se controlar, porque ele não estava
preparado quando exerceu seu mandato para um dia deixa-lo como soe acontecer
nos regimes democráticos e uma loja maçônica não tem dono justamente por ser
uma democracia. Ele se achou venerável, e não entendeu que apenas estava venerável.
Acha que continua venerável.
Este tema abre um
leque mais profundo em relação a analise do poder nas lojas e como ele é
manipulado.
Este tipo de dono da
loja não é o pior entrave para uma loja. O pior ex-venerável é aquele tipo de
irmão matreiro, político, de fala mansa, que sorri para todo mundo, abraça a
todos três vezes e que se derrete em falsos elogios aos Irmãos do quadro e
procede assim porque é uma das suas estratégias para se manter no poder
eternamente.
Ele se vale de bonecos ou títeres para cobrir uma gestão que por
imposições das constituições das potências ele não pode se reeleger mais de uma
ou duas vezes.
Em seguida ele volta gloriosamente na próxima. Mas durante a
gestão de seu preposto, quem dirigirá a loja de fato, será ele. Não de direito,
mas de fato. Ele tomará todas as decisões e o venerável de plantão cumprirá
rigorosamente o que o seu chefe determinar.
Geralmente ele tem o
seu grupo, formado por comparsas que são coniventes que antecipadamente já
decidiu quem será o venerável para os próximos seis ou oito anos, mas sempre
ele voltando após as gestões de seus substitutos arranjados ou então apenas
preferirá ser o chefe por trás, nos bastidores, mandando em tudo e por muito
tempo.
No fundo a sede de
poder, nada mais que uma autoafirmação, insegurança, incapacidade de ser
transparente com seus semelhantes e com o meio em que vive vaidoso mentiroso
geralmente tendo uma visão unilateral dos processos de interação entres os
Irmãos, tornando sua personalidade a de um verdadeiro psicopata social. Não
sabe mais discernir os seus limites. Não tem sentimentos. Chega a ser uma
doença um desvio de personalidade, e de comportamento.
Isto não é bazofia ou
piada. Isto realmente acontece na Maçonaria brasileira num índice maior do que
se pode imaginar, mas não como rotina. Infelizmente esta situação vem ocorrendo
e muitos irmãos fingem não vê-la ou senti-la, porque os membros das lojas com
exceção de verdadeiros maçons agem passivamente como cordeiros, esquecendo que
uma loja aberta em sessão é uma tribuna livre onde ideias são criadas, sonhos
são idealizados que podem mover o mundo, um verdadeiro laboratório social que
pode mudar tudo para melhor e por isso todos os problemas devem ser discutidos
e todos devem participar.
Uma situação esdrúxula
aconteceu em uma loja que será omitido o nome da cidade, onde isso ocorreu. Um
Irmão destes tipos de donos da sua loja, fez a sua loja votar o título de
“venerável perpétuo” para ele. Até aí, nada de mais, a loja votou, está votado.
Mas ele exigia que a loja só abrisse os trabalhos em suas sessões normais
quando ele estivesse presente. E ele atrasava sempre cerca cinco a dez minutos.
E aí a sessão começava. Isso é o cúmulo da hipocrisia, tanto deste sociopata
ex-venerável como da loja que aceitava tal situação. Pasmem! Parece uma estória
inventada, mas não é. Isto é verídico!
Mas é bom que se frise
que a maioria dos ex-veneráveis não se enquadram nesta descrição. Existem ainda
muitos bons maçons na Ordem. Felizmente a maioria. São. Irmãos excelentes,
preparados, humildes, sabem qual é o seu lugar dentro de uma loja, bons
conselheiros, conhecem o peso de um malhete, porque já o manejaram quando foram
veneráveis. Aprenderam mais ouvir que falar.
A Maçonaria valoriza a
Dialética, que é a arte do dialogo, ou a discussão, como força de argumentação
permite que se contrariem ideias, que elas sejam discutidas em todos os
sentidos e que dessa situação nasça um ideia concreta, inteligente, e perfeita,
uma verdadeira síntese de tudo o que foi tratado, desde que venha em favor da
Ordem e da humanidade. Ela prega a igualdade e a liberdade de pensamento entre
seus adeptos.
Esta situação de dono
de loja é uma das causas maiores do afastamento de muitos honrados irmãos da
Ordem. Se um irmão, sem medo, com coragem falar em nome da democracia e dos
verdadeiros princípios da Ordem, e isto ferir os desígnios destes déspotas,
este será marcado, perseguido e descriminado.
Considerando-se que
temos cerca de seis ou sete mil lojas no Brasil, imagine-se o número de Irmãos
que agem desta forma, considerando-se que a natureza humana é complexa e
estranha, que muitos homens possuem a síndrome do poder em função de seu DNA
animalesco onde um quer ser o dominante sobre o outro, ou sobre os outros.
Geralmente estas pessoas são inseguras, não são felizes, não estão de bem com a
vida e esta forma de querer exercer um suposto poder sobre os outros é sua
maneira de tentar equilibrar seus próprios defeitos.
A
síndrome do poder também chamada de síndrome do pequeno poder é uma atitude de
autoritarismo por parte de um individuo que recebeu um poder e tenta usa-lo de
forma absoluta e imperativa sem se preocupar com os problemas dicotomizados que
possam vir a ocasionar. A síndrome do pequeno poder pode se tornar uma
patologia, quando se torna crônica. Existem aqueles Irmãos que mesmo longe do
poder pensam que o possui. Quando a realidade lhe é mostrada, entram em
depressão.
Mas a Maçonaria prega
justamente o contrário. Ela é democrática. Quando se fala em vencer as paixões
significa que o maçom deve fazer prevalecer em seu consciente racional sobre as
programações erradas de seu subconsciente, ou seja, sobre a parte ruim que o
ser humano tem dentro de si. Segundo São Francisco de Assis, é o “burro” ou a
“besta” que o ser humano carrega dentro de sua consciência. Uma das condições
mais exigidas pelos princípios maçônicos é justamente você fazer prevalecer seu
lado bom, vencendo o seu lado mau.
A condição para
um irmão ser venerável em primeiro lugar é que ele tenha merecimentos pessoais
e que tenha um conhecimento profundo da ciência maçônica em todos os seus
segmentos, tais como história da Ordem, ritualística, simbologia,
administração, legislação e justiça sendo tudo isso associado à sua capacidade
de liderança.
Evidentemente a
Maçonaria terá que renovar seus líderes, para que novas ideias, novos
postulados, novos rumos e até novos paradigmas sejam estudados, adotados e
postos em ação.
Todavia correrá o
famoso risco: VOCÊ QUER CONHECER UM MAÇOM? DÊ-LHE PODER.
Por fim, enfatiza-se
que este trabalho foi escrito para uma minoria de Irmãos, que são gananciosos
do poder. Ressalve-se aqueles Irmãos ex-veneráveis pessoas intocáveis que não
se enquadram neste contexto. Felizmente, a maioria. Estes são os sustentáculos
da Ordem.
Hercule
Spoladore - Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil”- Londrina-PR.