Os únicos valores pessoais que a
Maçonaria reconhece como de alta valia no homem são os sentimentos nobres e as
ações altruísticas. De fato, são os mais valorosos e que devem preocupar todas
as mentes aclaradas.
Esta
concepção traduz o grande ensinamento que ocorre logo às indagações filosóficas
do profano, quando este se encontra na Câmara das Reflexões.
Não
é difícil de ser percebido, pois, se tais investigações sejam fixadas nos
símbolos nela existentes.
Acontecendo
que o candidato não chegue a, descobrir isso naqueles instantes em que lá
permanecer, o mesmo não se verificará mais tarde, quando já maçom regular e
ativo.
Somente
em sua nova situação, dentro do Templo da Loja, ele se entregará a julgar bem o
que lhe diga respeito, mesmo porque, até o ponto do seu recolhimento ao Quarto
das Meditações, nenhuma obrigação terá a Oficina por ele preferida, de lhe
dispensar tácita acolhida.
Uma
vez recolhido à Câmara das Reflexões, cumpre, como de praxe, ao postulante da
iniciação traçar o seu testamento filosófico. Esta medida constitui a primeira
obrigação ritualística imposta ao candidato.
Para
isso executar, recebe ele, das mãos do Irmão Experto, trazida do recinto do
Templo, uma fórmula apropriada. Muito maior é a feitura do mencionado
testamento do propósito simbólico, do que o modo comum de considerá-lo,
geralmente aplicado de relance.
Portanto,
para começar, antes de ser conduzido para o Templo, ainda na Câmara de
Preparação, o profano é solicitado, peremptoriamente, a responder àquelas
questões enunciadas na citada fórmula, que lhe sujeitam ao seu espírito.
Naquele
lugar funéreo, rodeado de objetos mortuários, a sua meditação acerca das coisas
deste mundo material é suscitada para intuí-lo a fixar sua atenção, com mais apuro,
nas cogitações do mundo espiritual Em tal Gabinete , que mais parece uma gruta
ou caverna sombria, ele pode testar, se, com segurança absoluta, manifestando,
caso o queira, até sua derradeira vontade.
Depois
de ter sido deixado sozinho, ele se definirá, então, com letra legível, emanada
do seu próprio punho, a respeito dos deveres sociais, particulares, patrióticos
e religiosos. Exporá, de modo documental, como entende o significado de tais
deveres e, se sente realmente disposto a cumpri-los na, prática.
A
Ordem Maçônica, ao solicitar-lhe suas soluções ao questionário ritualístico,
procede a uma sondagem preliminar a respeito do seu grau intelectual, da
intimidade dos seus sentimentos e da intensidade das suas inclinações, que o
abonarão como seu futuro iniciado.
Redigindo
livremente, num ambiente isolado do mundo das relações, a sua maneira de
entender, o prognosticado maçam manda à apreciação dos obreiros que o aguardam
as condições que o caracterizam na vida profana, no lar, no terreno religioso e
nas vibrações de patriotismo. O que, destarte, esteja porventura resguardado no
âmago do seu coração de profano é manifestado, de maneira categórica, naquela
folha de papel tarjado.
Pelos
conceitos que forem emitidos, a Loja homologará ou não, através do seu Orador,
a sua pretensão, julgando-o em caráter definitivo. Sim, proferirá a decisão
final sobre o seu caso.
Para
aduzir argumentos às questões enumeradas no testamento filosófico, urge que o
aspirante à iniciação exponha a verdade em que firma seu pensamento, expresse a
maneira como entende as obrigações peculiares a um homem correto tanto na
situação civil como na de iniciado na "verdadeira luz".
Tudo
isso deve conjugar-se com o aspecto que apresenta o Quarto de Preparação, que
deixa entrever a realidade em que se enquadra a vida humana e seu término.
Qualquer
indivíduo de mediana cultura pode aquilatar, com vantagem, a inutilidade dos
egoísmos, a enganosidade das vaidades, a fatuidade dos preconceitos vulgares e
a precariedade da existência terrena. Tudo isso supõe-se predominar nos
pensamentos do concorrente à iniciação, tão rápido como um raio de luz
quebrando a treva que antes existia onde este se reflete.
Nenhum
candidato poderá deixar-se absorver pela hipocrisia e nem reforçar nenhum apego
às coisas mundanas, quando naquele cômodo que simboliza o centro da Terra,
donde todos procedem e para onde todos irão.
Maçonicamente
falando, a introdução de um profano naquele sítio de meditação, representa um
convite para aprender a lição de que o homem deve morrer simbolicamente
naquele lugar, a fim de que, purificando-se, possa desfrutar, depois, de uma
nova vida. É, portanto, uma espécie de purificação por meio do elemento terra,
tomada dos mistérios egípcios. Na iniciação destes mistérios, o candidato era
deixado só, rodeado de múmias e de emblemas fúnebres para que refletisse bem
sobre o passo que tencionava dar. Se por acaso não conseguisse sair vitorioso
nas provas, teria que perder, para sempre, a liberdade.
Assim
é que, findo o aprendizado do Gabinete das Meditações, o pretendente à
iniciação deverá moldar seus atos e impulsos por ele, tomando por dever, desde
que iniciado, cimentar em seu coração o másculo mandamento da Ordem:
"Levantar templos à Virtude e cavar masmorras aos vícios."
Muitos
maçons que foram profanos continuaram crendo, por motivos que não se
justificam, que, ao serem introduzidos na Câmara das Reflexões, o fim principal
daquele proceder fora o de intimidá-los. Mas, se lá só existe coisa que se
presta a infundir respeito e provocar meditação, como poderão os candidatos
nutrir essa interpretação errônea?
O
Irmão Experto, com o título temporário de Irmão Terrível, é quem, na função de
preparador, encaminha o profano na redação do seu pensamento filosófico. A esse
Irmão está também afeta e adita a tarefa de transmitir ao candidato a
verdadeira ideia de tudo que posteriormente acontecer, e do que tenha em vista
executar durante o processo iniciático.
A
iniciação deve ser comparada a um novo nascimento no mundo das realidades. É o
renascimento ideal do postulante, significando, nada mais nada menos, que uma
nova maneira de encarar a vida em todos os seus aspectos.
O
cunho filosófico e a forma expressa da iniciação nos augustos mistérios
maçônicos transmitem, por outras palavras, o que foi gravado por ele na folha
do testamento que subscreveu.
Tal
documento, um atestado solene e formal da confissão de deveres reconhecidos, é
fundamental ao reconhecimento que o signatário resolve declarar aceito
imediatamente.
Trata-se,
é verdade, de um testamento iniciático. Por isso é que difere dos testamentos
comuns, no estilo e sentido. Enquanto estes dos quais se trata aqui são
tratados de preparação para um vida melhor, aqueles que são apresentados à
justiça profana não passam de providências para modular bens depois da morte.
É
de se notar uma circunstância singular nas questões que nele são formuladas.
Não se pergunta se o candidato crê ou não em Deus, nem qual seja seu credo
religioso ou filosófico. Isso acontece, porque para a Maçonaria todas as
crenças são equivalentes e as indagações permitidas constituem matéria de
iniciação propriamente dita.
Na
relação dos quesitos, indagam-se quais os deveres do homem para com o
Altíssimo. Respondendo, o postulante reconhece no íntimo do seu próprio ser um
Princípio Universal de Vida, um Criador digno de veneração, do qual tudo procede
inclusive a luz que ilumina, e ao qual deve ser tributada, acima de tudo, toda
atenção.
Quando
dá explicação à segunda questão, quais os deveres do homem consigo mesmo, o
postulante faz crer, segundo as leis divinas, como sua vida exterior se acha
ligada com o mesmo Criador, devendo pautar-se pelo desvelo moral e vigilância
espiritual, a fim de não cair em erros ou faltas irremissíveis.
E
quanto aos deveres pesquisados nas suas últimas questões, para com a humanidade
e a família, subentende como complementos necessários dos dois primeiros. O
postulante não somente poderá declarar, através de conceituaç5es positivas,
não serem tais deveres outra coisa senão a prática da fraternidade e do amor,
mas também a solidariedade ilimitada e a condescendência para com seus
familiares e os semelhantes, em todas as oportunidades possíveis.
Então,
uma vez terminado e assinado o testamento filosófico, passa a ser o personagem
do princípio da iniciação, o galardoado com o início efetivo da nova vida,
legando a si mesmo o ônus da preparação consciente e determinativa da vida
templária.
Quando
o assina, demonstra estar afirmando, de forma implícita, sua preparação e disposição
para enfrentar as provas sequentes que o esperam.
O
bom maçom sabe, pois, respeitar, desde a Sala do Testamento Filosófico, as três
verdades tradicionalizadas pela sublime Ordem a que pertence. Assim procede em
benefício da sua própria evolução.
Essas
verdades são as seguintes:
"A
alma humana é imortal, e o seu futuro é o futuro de uma coisa cujo crescimento
e esplendor não tem limites."
"O
princípio que dá à vida reside fora e dentro de nós: é eterno e eternamente
benéfico; não se pode ouvir, ver, e cheirar, mas é aprendido pelo homem que o
quiser aprender."
"Cada
homem é o seu próprio legislador absoluto, o dispensador de glórias ou trevas a
si mesmo, o decretador da sua vida e recompensa ou da sua morte e castigo. . .
"
Do
livro Roteiro maçônico para quarto de hora de estudo – Luiz Prado.