É comum ouvirmos designar as
três formas geométricas que decoram o corrente avental de Mestre Instalado por
"Taus". Tau é a décima nona letra do alfabeto grego, graficamente
muito semelhante ao latino "T".
É claro que já tinha notado que
as ditas formas geométricas no avental de Mestre Instalado estavam invertidas
em relação à forma gráfica do Tau, apresentando o elemento vertical sobre o
elemento horizontal, enquanto que na dita letra do alfabeto grego o elemento
horizontal está sobre o elemento vertical.
Mas confesso que não dei grande
importância ao assunto e não procurei aprofundar a razão da notada
discrepância. Até que recentemente li um excelente texto de um não menos
excelente e conhecedor maçom brasileiro, Kennio Ismail, publicado, já desde outubro de 2011, no seu
muito elucidativo blog No Esquadro, com o
título Desvendando o "Triplo Tau".
A tese exposta nesse texto pelo
Irmão Kennio Ismail é que, afinal, as ditas formas geométricas não são Taus,
não têm nada que ver com essa letra do alfabeto grego, antes reproduzem algo
que tem diretamente muito mais que ver com a Maçonaria, uma ferramenta
utilizada pelos maçons operativos, especificamente o Esquadro T (em inglês:
T-square), também designado por Régua T, ferramenta que, além de se utilizar
para desenhar ângulos retos, é útil para desenhar retas paralelas.
Como se vê pela imagem de duas
réguas T, também há diferença em relação à representação no avental de Mestre
Instalado, não em relação à disposição dos elementos horizontal e vertical (já
que, a régua T pode ser posicionada em qualquer sentido), mas em relação à
dimensão e proporção do elemento vertical, sensivelmente maior na régua T que
na representação no avental.
Mas o raciocínio exposto pelo
Irmão Kennio Ismail parece-me lógico: uma vez que a simbologia maçônica é
inspirada na Maçonaria Operativa e nas suas ferramentas, tem mais cabimento que
se considere que no avental está triplamente representada uma ferramenta do que
uma letra grega...
Pontua seguidamente o referido
Irmão que também o vulgarmente designado Triplo Tau do Arco Real
não é afinal um Triplo Tau, mas
sim um "T" sobre um "H", sigla de "Templum
Hierosolymae", que em latim significa "Templo de Jerusalém", ou
seja, o Templo de Salomão.
Esta hipótese parece-me um pouco
mais rebuscada. Ou seja, considero-a possível, mas não beneficiando da
simplicidade da referência direta a uma ferramenta operativa que, e a meu ver com
muito peso, suporta o argumento anterior. Com efeito, entre várias explicações
possíveis, a experiência mostra-nos que, na maior parte das vezes, a mais
simples é a correta.
É isso que me faz propender para
a aceitação da tese de que as formas geométricas no avental de Mestre Instalado
possivelmente representam réguas T e não Taus. Já no caso do Arco Real, a
hipótese alternativa não só não tem a vantagem da simplicidade como apresenta a
dificuldade de o pretenso "H" estar muito deformado, demasiado largo...
Não sou particularmente versado
no Arco Real (a minha praia é o Rito Escocês Antigo e Aceito...) e assim
abstenho-me de dar opinião definitiva sobre esta segunda situação. A meu ver, a
melhor explanação sobre o assunto (ainda assim não conclusiva) é a que se
encontra no artigo "1868 Sterling Silver Mark Master Keystone",
que encontrei no também muito interessante síte http://www.phoenixmasonry.org/,
(administrado pelo ilustríssimo maçom Frederic L. Milliken) e de que traduzo a
passagem mais relevante, no meu entendimento:
A Cruz de Taus, ou Cruz de Santo
António, é uma cruz na forma de um Tau grego. O Triplo Tau é uma figura formada
por três destas cruzes unidas pelas bases, assim se assemelhando à letra
"T" sobreposta na barra transversal de um "H". Este
símbolo, colocado no centro de um triângulo inscrito num círculo - ambos
símbolos da Divindade - constitui a jóia do Arco Real, tal como praticado em
Inglaterra, onde é tão estimado que é considerado o "símbolo de todos os
símbolos" e "o grande símbolo da maçonaria do Arco Real".
Foi adotado nessa forma como
emblema do Arco Real pelo Grande Capítulo Geral dos Estados Unidos em 1859. O
significado original deste símbolo tem tido variadas explicações. Alguns supõem
que ele inclui as iniciais do Templo de Jerusalém, "T" e
"H", Templum Hierosolymae; outros que é um símbolo da união mística
do Pai e do Filho, "H" significando Jehovah e "T", ou a
Cruz, o Filho. Um autor no Moore's Magazine engenhosamente considera-o ser uma
representação de 3 Réguas T, aludindo às três joias dos três Grão-Mestres (da Lenda
da construção do Templo de Salomão: Salomão, Hiram, rei de Tiro, e Hiram Abif). Também
tem sido dito ser o monograma de Hiram de Tiro; e outros sustentam que é apenas
a modificação da letra hebraica shin, que é uma das abreviaturas judaicas do Nome
Sagrado.
Como se vê, interpretações há
muitas... Quais são, nas duas situações, os significados corretos? No meu
entendimento, também aqui se aplica o que eu considero dever ser a regra básica
da interpretação simbólica em Maçonaria: não há significados obrigatoriamente
corretos. Cada um analisará, tirará as suas conclusões, atribuirá a cada
símbolo o significado que entender mais adequado. O significado correto para si
é esse.
O que não impede que o
significado correto para outro Irmão seja outro, total ou parcialmente
diferente. Nos casos referenciados neste texto, para o Irmão Kennio Ismail, os
significados corretos são os que ele indica, a régua T no avental e
"T" sobre "H" no símbolo do Arco Real. Quanto a mim, e no
meu atual entendimento (em matéria de interpretação simbólica
considero estar permanentemente em work in progress), no avental
concordo estar representada triplamente a régua T, mas, quanto ao símbolo do
Arco Real, ainda me mantenho ao lado da interpretação mais difundida, do triplo
Tau. E daí não vem qualquer mal ao Mundo: a interpretação do Irmão Kennio
Ismail é a correta para ele, a minha é a que eu acho correta para mim.
E ambos, ora aqui concordando,
ali debatendo, vamos percorrendo os nossos caminhos que, sendo diferentes, vão
na mesma direção e têm muitos trechos comuns.
Rui Bandeira