OFICINA DE LUZ – O SEGREDO MAÇÔNICO


A observação atenta e cuidadosa da prática ritualística numa Sessão Maçônica só é possível em uma atmosfera de respeitoso silêncio, pois assim despertamos na alma o desejo de praticá-la também. E ao praticá-la em prol da coletividade de maçons presentes em Loja adquirimos afinidade com a Consciência Superior, nos afastando do ego humano e tornando-nos merecedores de continuar recebendo a Luz da Verdade e da Sabedoria, para a qual todo ser humano foi criado.

Este é o verdadeiro segredo maçônico: o desejo de receber é legítimo, pois foi para isso que encarnamos, mas desde que sejamos merecedores. A oração de São Francisco de Assis nos ensina que “é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna”.

Doar, perdoar e morrer. Verbos são palavras que exprimem ação. O ato de perdoar nada mais é que uma resistência aos sentimentos de cólera e vingança que associado a atitude de doar, no sentido de partilhar, proporciona ao indivíduo a condição de morrer para a uma vida imersa na materialidade e renascer para uma nova vida mais espiritualizada, permitindo-se, assim, se deixar iluminar. Depende apenas de nosso firme propósito de praticarmos pequenos gestos que nos conduzem a Luz. Temos basicamente dois caminhos a seguir:

Um em direção a Luz e outro em direção ao nosso próprio ego. “Faça se a Luz”. Fazer a Luz é “abrirmos as portas de nosso coração para a Luz do Céu entrar”. Estamos imersos neste oceano de intensa Luz Divina e, no entanto, nos comportamos como um ponto de escuridão que caminha pela vida sem deixar que Ela nos traspasse. Temos a chave nas mãos e não a utilizamos para abrir as portas do coração. Por que será que isso acontece?

Por que insistimos tanto em girar essa chave no sentido horário, cerrando ainda mais esta porta e impedindo que qualquer fresta de Luz possa alcançar nosso Santuário Interior? O mundo material no qual vivemos nos impõe uma existência sub-humana, predominando um modo de vida que super valoriza.

Valoriza os instintos de sobrevivência e reprodução, com uma educação formal que não consegue nem preparar o indivíduo adequadamente para o mercado de trabalho e nem garantir uma formação humanística a ele. Assim, o que acaba prevalecendo mesmo é a indecisão, favorecendo a difusão de idéias radicais que encarceram a alma em dogmas, ideologias e comportamentos consumistas, que conspiram contra a liberdade de ação, tão necessária para a realização no mundo profano das condutas retas e disciplinadoras depreendidas da ritualística praticada nos Templos Maçônicos.

Sem um norte seguro para prosseguir, preso a uma dinâmica fuga de si mesmo, o indivíduo vaga pelo mundo sem rumo e sem perceber que sua vida poderia ser bem diferente e muito melhor.

Em uma situação de quase caos em que vivemos hoje em dia, com um esgaçamento excessivo do tecido social, cabe ao homem, enquanto indivíduo dotado de raciocínio lógico, tomar todo cuidado para construir uma “forma-pensamento” dirigida para a doação, com a deliberada intenção de sintonizá-lo com a Luz Divina e ajudá-lo a construir valores que o deixem blindado contra as investidas do mal. “Pensamos, logo existimos”.

A forma correta ou incorreta de pensar é que nos determina uma existência próspera e produtiva ou cheia de privações e excluída do meio social. Ao mesmo tempo em que semelhante atrai semelhante, para se fazer cumprir a Lei de Causa e Efeito, se conseguirmos transmutar as farpas desferidas sobre nós por esses nossos semelhantes, primeiramente resistindo a elas e num segundo momento, quase simultâneo, partilhando e compartilhando afeto para exprimirmos gestos de boa vontade, estaremos tendo a coragem de sermos prudentes e criando assim as condições mínimas necessárias para abertura das portas de nosso santuário interior, permitindo que a Luz Divina entre e ocorra a plena integração entre Criador e criatura.

Esta é a iluminação e que todos vamos um dia alcançar, mais rapidamente ou mais devagar, dependendo exclusivamente de nós mesmos. Porém um irmão mais desavisado poderia perguntar o porquê de se perseguir a iluminação, já que uma vida material sem sobressaltos seria o suficiente para termos uma existência tranqüila aqui na terra?

Para que então a iluminação? Para o deleite do espírito. Assim como uma vida financeira estruturada é garantia de uma sobrevivência tranqüila para o corpo físico a iluminação é a realização total naquilo que todo mundo busca, consciente ou inconscientemente: uma vida plena.

Como nos lembra o poema de Fernando Pessoa: “... o segredo maçônico... é um espírito, um sopro posto na Alma, e, por conseguinte, pela sua natureza... incomunicável.” A vida é ação, mas somente a ação praticada com a disciplina de uma ritualística espiritualizada como a maçônica, tem o condão de por em nossa alma o entendimento que utilizaremos como uma espécie de Chave para decifrar não só o Simbolismo Maçônico, mas, também os impenetráveis desígnios de Deus para nossas vidas. Atingiremos a comunhão com a Consciência Superior e tornaremos um só com Ele.

Compreenderemos como pensa o Pai em relação ao seu filho e como a prática reiterada de um trabalho disciplinado em prol da sociedade é a mola propulsora do progresso material e espiritual dessa sociedade e, também, do próprio indivíduo que a realizou.

A busca da realização financeira e material através do trabalho honesto e dedicado em favor da sociedade em que vivemos nos proporciona a possibilidade de colocar em prática o legítimo direito de receber em troca uma recompensa: a compreensão do plano divino para nossas vidas.

Passamos a entender melhor qual o nosso lugar no mundo quando temos a oportunidade de produzir um trabalho que nos gratifica e realiza. É assim a vida. Ação disciplinada e produtiva em favor da libertação material e espiritual de todos.

E isso conseguimos aprender claramente dentro de um templo maçônico
através de sua ritualística. E, ao assimilarmos bem este conhecimento e o colocarmos em prática no mundo profano, estaremos dando uma enorme contribuição para nossa elevação moral e espiritual através da elevação moral e espiritual do outro.

Esse é o exercício correto da dualidade, mesmo que não tenhamos, ainda, consciência do que estamos fazendo, intuitivamente percebemos que estamos no caminho certo quando ao proporcionamos oportunidades materiais, educacionais e culturais a outros nos sentimos tomados de uma paz profunda e com a sensação do dever cumprido.

Se déssemos a devida atenção a esta profunda paz de espírito que sentimos toda vez que ajudamos alguém a galgar mais um degrau na escada de Jacó perceberíamos a Lei de Ação e Reação em curso nos devolvendo, com abundância, tudo aquilo que proporcionamos ao outro e seríamos muito mais cuidadosos com o que viermos a fazer ao próximo no futuro, pois poderemos impedir, com atitudes egoístas, a nossa própria evolução espiritual.

Assim meus irmãos, a prática deliberada do Bem em prol do outro, encerra o uso racional de todos os elementos da natureza que precisamos para colocar em prática os Dez Mandamentos, até que eles façam parte de nosso próprio ser.


Bráulio Castro Dutra

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