Normalmente colocadas sobre os
capitéis das duas colunas que marcam a entrada do Templo - do espaço onde
ocorre uma sessão ritual maçônica - estão seis romãs, três sobre cada um dos
capitéis.
Este número já é uma
simplificação. O Templo de Salomão (que muitos dos símbolos maçônicos evocam)
teria representado, sobre as suas colunas de entrada nada mais, nada menos do
que quatrocentas romãs! Com efeito, podem ler-se no segundo livro dos Reis, capítulo
7, versículos 18 a 20: "Fez também
romãs em duas fileiras por cima de uma das obras de rede para cobrir o capitel
no alto da coluna; o mesmo fez com o outro capitel. Os capitéis que estavam no
alto das colunas eram de obra de lírios, como na Sala do Trono, e de quatro
côvados. Perto do bojo, próximo à obra de rede, os capitéis que estavam no alto
das duas colunas tinham duzentas romãs, dispostas em fileiras em redor, sobre
um e outro capitel."
E, no segundo
livro de Crônicas, capítulo 4, versículo 13, encontramos: "Há
quatrocentas romãs para as duas redes, isto é, duas fileiras de romãs para cada
rede, para cobrirem os dois globos dos capitéis que estavam no alto da
coluna."
Para além da representação
simbólica de elemento decorativo do Templo de Salomão, as romãs simbolizam a
união entre os maçons, a igualdade essencial de todos combinada com a
individualidade de cada um.
A observação do fruto
elucida-nos rapidamente da razão de ser destas representações simbólicas. Uma
romã tem uma casca dura e resistente, que representa o espaço físico da Loja:
uma e outro abrigam as infrutescências (os obreiros), mantendo-os a coberto de
elementos exteriores (pragas; profanos). As infrutescências (as
"sementes", "bagas" ou "grãos") representam os
obreiros da Loja. Tal como as infrutescências da romã são todas diferentes umas
das outras, havendo leves variações de formato e de tamanho, também os obreiros
de uma Loja mantêm a sua individualidade própria. Mas, se comermos as
infrutescências da romã, verificamos que todas elas têm exatamente o mesmo
sabor, o mesmo grau de doçura em função do amadurecimento do fruto,
independentemente da forma e do tamanho delas.
Assim também os obreiros de uma
Loja pese embora as inevitáveis diferenças decorrentes da sua individualidade,
estão unidos na mesma essencial igualdade.
Tal como as bagas de uma romã
estão unidas por uma pele branca, que torna difícil e trabalhoso a sua
separação, assim também os obreiros de uma Loja se unem por laços de
fraternidade, auxiliando-se mutuamente nas adversidades, cooperando nos seus
estudos ou projetos.
Os grãos da romã estão
firmemente unidos e apertados uns contra os outros. Se abstrairmos da cor
granada (romã em castelhano), assemelham-se a um favo de mel, lembrando as
abelhas, que, tal como os maçons, trabalham incessantemente, aquelas colhendo o
néctar nos campos para fabricar o mel, estes recolhendo da Loja e de seus
Irmãos os ensinamentos, os exemplos, que lhes são úteis para o sempre desejado
aperfeiçoamento pessoal.
Enquanto que na Maçonaria latina
e no Rito Escocês Antigo e Aceite se utiliza a simbologia da romã, ela não é
usada na Maçonaria anglo-saxônica, no Rito de York ou no Ritual de Emulação.
Estes, pelo contrário, utilizam o símbolo da colmeia.
Uns e outros procuram enfatizar
o mesmo: a união entre os maçons. Mas uns fazem-no com recurso à romã, outros
através da colmeia.
A meu ver, esta diferença é
essencialmente cultural. A sociedade latina, mediterrânica é essencialmente
gregária. O gregarismo meridional acentua a importância do estar junto,
sendo essa união que gera a força grupal que protege o indivíduo e potencia as
suas capacidades. Já as sociedades anglo-saxônicas e nórdicas privilegiam a
iniciativa, a ação e, assim, enfatizam a organização da
colmeia como forma de potenciar as capacidades de cada abelha para o bem comum.
Os símbolos maçônicos não nascem
do nada e não são interpretados no limbo. Resultam das sociedades onde os
maçons se inserem. Esta diferenciação é exemplo disso, na minha ótica.
Rui Bandeira