- Instrução –
ação de instruir, ensino; lição; explicação ou esclarecimentos dados para
uso especial; apontamento, regimento, ordem, explicação que se dá a alguém
encarregado de alguma função.
- Instruir –
ensinar, dar instrução a doutrinar; informar, esclarecer; adquirir
conhecimentos novos, desenvolver os conhecimentos adquiridos; tornar-se
sabedor.
Quando falamos em instrução na Ordem Maçônica, o que compreendemos como
instrução? Considero como uma diretriz importante e fundamental para que
tenhamos um rumo temporário para os nossos estudos. Temporário, pois, a
compreensão pessoal do que estudamos ao longo dos graus, a nossa experiência
pelo tempo de Loja e o que entendemos com isto, acabamos por elaborar o nosso
próprio entendimento sobre os conhecimentos recebidos.
A nossa instrução pode ser histórica, repleta de dados armazenados ao
longo do tempo e que estão à disposição através da literatura histórica
concernente ao que desejamos, abrangendo a própria Loja, outras Lojas, Orientes
e ou literatura maçónica internacional.
O desenrolar maçônico ao longo do tempo firma as suas origens pelos dados
compilados através dos anais das diversas Lojas espalhadas pelo mundo, que por
sua vez armazenou informações de um passado em que as descobertas eram
resguardadas como segredos que foram repassados com interessantes anotações no
contexto temporal dentro dos diversos períodos históricos. É fonte de
conhecimento inesgotável e interessante. Proporciona o conhecimento da luta da
Maçonaria por um mundo melhor e mais esclarecido.
A instrução ritualística que trata sempre dos procedimentos dinâmicos em
que trabalhamos, visa aprofundar a compreensão destes procedimentos que
produzem determinadas ações e alterando determinados comportamentos.
Os ritos pouco se alteraram ao longo do tempo. São sempre adequados às
suas próprias épocas e sofrem pequenas alterações ocasionadas pela dinâmica do
tempo e das consciências (às vezes por conveniência). Só que observamos que
estas alterações podem produzir um desvio do sentido original quando da sua
criação, pois, na época da sua elaboração, procuraram representar e firmar um
conceito importante para o homem da sua época preservando-o para o futuro. Não
podem ser desprezados ou alterados sem que as razões que provocaram essa
criação possam ser compreendidas na sua integridade. Faz-se necessário a
prudência ao rever os nossos rituais.
A instrução que visa o comportamento moral [1] procura ensinar,
lembrar, ou reforçar toda aquela experiência milenar que a humanidade vem
acumulando em forma de normas e preceitos eficazes para a realização da pessoa
humana em busca da perfeição. Podemos dizer que são as regras da convivência social.
Revela-se como uma ciência normativa, não especulativa.
Devemos lembrar que todos os membros da nossa Ordem são cidadãos
consolidados numa sociedade em constante mutação e reorganização, portando
educação e comportamento diferentes e por vezes conflituantes que necessita
desbaste e melhor adequação, assim sendo, toda liberdade usada por qualquer
Irmão como forma de ação ou no nível da consciência postula um risco pessoal
implicando na responsabilidade moral do seu uso.
A instrução sobre a nossa simbologia [2] reveste-se de grande
importância para o Maçom, pois, o símbolo tem a função de provocar certos
estados de consciência intelectuais e emotivos proporcionando uma compreensão e
significado mais profundo do objeto observado, sedimentando conceitos abstratos
através de uma simples visualização.
O símbolo manifesta-se e revela-se no interior de cada um e a sua riqueza
transparece pelo significado que ele representa para aquele que o procura
compreender, pois, cada um enriquece o conceito de determinado símbolo com a
sua experiência de vida, revelando assim múltiplos significados de um mesmo
conteúdo ampliando o seu horizonte de conhecimento. O símbolo transcende o
conhecimento objetivo e histórico formal, proporcionando uma visão psíquica que
pode ultrapassar o espaço-tempo.
Avançando sobre o mais profundo objetivo da nossa ordem, deparamos com a
instrução espiritual [3]. Podemos falar em instrução espiritual? Sim,
precisamos preparar-nos e enfrentar este desafio que tem dificultado o processo
maçónico que trabalha com o ser humano e a humanidade como um todo.
Temos na Constituição do GOB, Art.1º, parágrafo
I – “proclama a prevalência do espírito sobre a matéria” e no Art. 2º como 1º
postulado da nossa Instituição “a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto
do Universo”, e mais, no RGF, Capítulo I falando da Admissão, no seu Art.1º
item IX: “aceitar a existência de um Princípio Criador” e no seu Art. 2º: “a
falta de qualquer dos requisitos do artigo anterior, ou a sua insuficiência,
impede a admissão”. O próprio texto dos nossos regulamentos enfatiza o caráter
espiritual do homem, e como poderemos espiritualizar o homem sem lhe dar a
consciência da sua natureza espiritual?
Assim exposto, será necessário abordar o horizonte espiritual do ser
humano que não deve e não pode ser confundido com as práticas abordadas pelos
sistemas religiosos que se apresentam como dogmas indiscutíveis.
Ou essas obrigações são meras formalidades, com as quais não nos devemos
preocupar?
Mesmo com os dogmas ou as regras de comportamento como as constituições
que defendem o Homem no seu caminho evolutivo dentro ou fora da nossa Ordem, à
orientação que deve prevalecer é a reflexão pelo conhecimento, pois, as
circunstâncias estão em constante mutação acompanhando a dinâmica de cada
período. E mais, a ciência e a tecnologia com os seus avanços na pesquisa
fundamentada têm demonstrado e firmado que muito do que era tido como fantasia,
crendice ou superstição tem uma base científica e como toda organização humana
é feita de convenções, e quando estas são contrariadas, surge o inevitável
conflito que pode ser contornado e ser recuperada a harmonia quando as
consciências são elevadas.
Os homens – a Humanidade – têm melhorado as suas relações sociais e
progredido na relação ao respeito, a responsabilidade, a consideração, a
aceitação do próximo, o amor filial (ou melhor, responsabilidade filial), a
amizade e a fraternidade, e, como Maçons e membros da família humana corremos
atrás desses conceitos pelo estudo, compreensão e dedicação procurando entendê-los
e conscientizá-los como património pessoal útil para uma vida em sociedade.
Como Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçons, pedreiros construtores do
edifício social, é preciso refletir, tornar clara as ideias, comparando-as, e
como consequência formando os nossos próprios juízos de valor.
Perguntamos: entendendo a maçonaria também como uma escola de
comportamento, estamos inseridos num processo evolutivo ou ainda nos
preocupamos por alcançar a condição de um “status” maçônico (que nos forneça projeção
pessoal) que nos confere a Ordem? Claro é que não é este o objetivo, mas esta
condição maçônica proporciona esse destaque e “seduz” uma grande maioria de
Irmãos que procuram projeção pessoal e reconhecimento, sendo assim inevitável,
pois, temos vaidades e paixões ainda não controladas.
Mas, o que vindes aqui fazer?
Ensinam os nossos rituais que é necessário vencer as nossas paixões e
submeter a nossa vontade. Como edificar templos à virtude e enterrar os vícios
se somos levados pela turbulência das paixões e lutamos ainda por fazer
prevalecer as nossas vontades?
Na nossa aprendizagem maçônica, de aprendiz à mestre Maçom, é extremamente
relevante que isso pese no nosso comportamento. Quando alcançamos o domínio das
nossas paixões e da nossa vontade, já não fazemos parte das batalhas profanas,
não é mais necessário o conflito. Isto não significa omissão, desleixo ou
fraqueza de caráter, simplesmente não é mais necessário, pois, compreendemos o
Todo e com essa certeza e verdade sedimentada podemos sutilmente alterar e redirecionar
atitudes profanas incorretas e insuficientes.
Para que todas estas considerações sejam alcançadas, as nossas instruções
precisam ser objetivas e direcionadas a todos nós que aqui estamos em busca de
mais luzes. Todo trabalho ou instrução nunca é desperdiçado pelo fato de que
acendemos luzes no nosso interior promovendo novas ideias, preenchendo lacunas
e gerando a vontade de progredir sempre.
Será sempre possível e é necessário organizarmos as nossas instruções para
auxílio de todos que participam dessa Arte. É responsabilidade dos Mestres
facilitarem e auxiliarem os Aprendizes e Companheiros na compreensão dos
trabalhos maçônicos e a sua dinâmica. Se não nos transformamos, como queremos
que os que aqui chegam aprofundem a sua maneira de pensar e agir? Que exemplo
esperamos dar?
Enaltecemos sempre a Ordem Maçônica e os trabalhos maçónicos, os seus
princípios e os seus objetivos. O nosso ritual esclarece com perfeição e
transparência que “a Maçonaria no grau de Mestre é o laboratório espiritual,
onde os iniciados de todas as partes do mundo se reconhecerão e trabalharão em
comum, visando solucionar a crise moral da Humanidade, assegurando ainda os
direitos e deveres do Espírito”.
José Eduardo Stamato, M∴ I∴ – ARLS Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de
São Paulo) – Brasil
Notas:
[1] Moral (da raiz latina “mores” como costumes, conduta,
comportamento, modo de agir) – é o conjunto sistemático das normas que orientam
o homem para a realização do seu fim pelo exercício da sua responsabilidade.
[2] Simbologia – estudo dos símbolos, o entendimento de uma imagem
empregada para significar um conceito facilitando a sua compreensão.
[3] Espiritual – que tem a natureza do espírito. Espírito –
identifica-se com o que chamamos alma; também a sede das atividades superiores
do ser inteligente (os conhecimentos, a erudição, o poder lógico, a capacidade
intuitiva, o senso artístico, a reflexão transcendente).

Nenhum comentário:
Postar um comentário
É livre a postagem de comentários, os mesmos estarão sujeitos a moderação.
Procurem sempre se identificarem.