segunda-feira, 10 de novembro de 2025

INSTRUÇÃO DA INSTRUÇÃO

  • Instrução – ação de instruir, ensino; lição; explicação ou esclarecimentos dados para uso especial; apontamento, regimento, ordem, explicação que se dá a alguém encarregado de alguma função.
  • Instruir – ensinar, dar instrução a doutrinar; informar, esclarecer; adquirir conhecimentos novos, desenvolver os conhecimentos adquiridos; tornar-se sabedor.

Quando falamos em instrução na Ordem Maçônica, o que compreendemos como instrução? Considero como uma diretriz importante e fundamental para que tenhamos um rumo temporário para os nossos estudos. Temporário, pois, a compreensão pessoal do que estudamos ao longo dos graus, a nossa experiência pelo tempo de Loja e o que entendemos com isto, acabamos por elaborar o nosso próprio entendimento sobre os conhecimentos recebidos.

A nossa instrução pode ser histórica, repleta de dados armazenados ao longo do tempo e que estão à disposição através da literatura histórica concernente ao que desejamos, abrangendo a própria Loja, outras Lojas, Orientes e ou literatura maçónica internacional.

O desenrolar maçônico ao longo do tempo firma as suas origens pelos dados compilados através dos anais das diversas Lojas espalhadas pelo mundo, que por sua vez armazenou informações de um passado em que as descobertas eram resguardadas como segredos que foram repassados com interessantes anotações no contexto temporal dentro dos diversos períodos históricos. É fonte de conhecimento inesgotável e interessante. Proporciona o conhecimento da luta da Maçonaria por um mundo melhor e mais esclarecido.

A instrução ritualística que trata sempre dos procedimentos dinâmicos em que trabalhamos, visa aprofundar a compreensão destes procedimentos que produzem determinadas ações e alterando determinados comportamentos.

Os ritos pouco se alteraram ao longo do tempo. São sempre adequados às suas próprias épocas e sofrem pequenas alterações ocasionadas pela dinâmica do tempo e das consciências (às vezes por conveniência). Só que observamos que estas alterações podem produzir um desvio do sentido original quando da sua criação, pois, na época da sua elaboração, procuraram representar e firmar um conceito importante para o homem da sua época preservando-o para o futuro. Não podem ser desprezados ou alterados sem que as razões que provocaram essa criação possam ser compreendidas na sua integridade. Faz-se necessário a prudência ao rever os nossos rituais.

A instrução que visa o comportamento moral [1] procura ensinar, lembrar, ou reforçar toda aquela experiência milenar que a humanidade vem acumulando em forma de normas e preceitos eficazes para a realização da pessoa humana em busca da perfeição. Podemos dizer que são as regras da convivência social. Revela-se como uma ciência normativa, não especulativa.

Devemos lembrar que todos os membros da nossa Ordem são cidadãos consolidados numa sociedade em constante mutação e reorganização, portando educação e comportamento diferentes e por vezes conflituantes que necessita desbaste e melhor adequação, assim sendo, toda liberdade usada por qualquer Irmão como forma de ação ou no nível da consciência postula um risco pessoal implicando na responsabilidade moral do seu uso.

A instrução sobre a nossa simbologia [2] reveste-se de grande importância para o Maçom, pois, o símbolo tem a função de provocar certos estados de consciência intelectuais e emotivos proporcionando uma compreensão e significado mais profundo do objeto observado, sedimentando conceitos abstratos através de uma simples visualização.

O símbolo manifesta-se e revela-se no interior de cada um e a sua riqueza transparece pelo significado que ele representa para aquele que o procura compreender, pois, cada um enriquece o conceito de determinado símbolo com a sua experiência de vida, revelando assim múltiplos significados de um mesmo conteúdo ampliando o seu horizonte de conhecimento. O símbolo transcende o conhecimento objetivo e histórico formal, proporcionando uma visão psíquica que pode ultrapassar o espaço-tempo.

Avançando sobre o mais profundo objetivo da nossa ordem, deparamos com a instrução espiritual [3]. Podemos falar em instrução espiritual? Sim, precisamos preparar-nos e enfrentar este desafio que tem dificultado o processo maçónico que trabalha com o ser humano e a humanidade como um todo.

Temos na Constituição do GOB, Art.1º, parágrafo I – “proclama a prevalência do espírito sobre a matéria” e no Art. 2º como 1º postulado da nossa Instituição “a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo”, e mais, no RGF, Capítulo I falando da Admissão, no seu Art.1º item IX: “aceitar a existência de um Princípio Criador” e no seu Art. 2º: “a falta de qualquer dos requisitos do artigo anterior, ou a sua insuficiência, impede a admissão”. O próprio texto dos nossos regulamentos enfatiza o caráter espiritual do homem, e como poderemos espiritualizar o homem sem lhe dar a consciência da sua natureza espiritual?

Assim exposto, será necessário abordar o horizonte espiritual do ser humano que não deve e não pode ser confundido com as práticas abordadas pelos sistemas religiosos que se apresentam como dogmas indiscutíveis.

Ou essas obrigações são meras formalidades, com as quais não nos devemos preocupar?

Mesmo com os dogmas ou as regras de comportamento como as constituições que defendem o Homem no seu caminho evolutivo dentro ou fora da nossa Ordem, à orientação que deve prevalecer é a reflexão pelo conhecimento, pois, as circunstâncias estão em constante mutação acompanhando a dinâmica de cada período. E mais, a ciência e a tecnologia com os seus avanços na pesquisa fundamentada têm demonstrado e firmado que muito do que era tido como fantasia, crendice ou superstição tem uma base científica e como toda organização humana é feita de convenções, e quando estas são contrariadas, surge o inevitável conflito que pode ser contornado e ser recuperada a harmonia quando as consciências são elevadas.

Os homens – a Humanidade – têm melhorado as suas relações sociais e progredido na relação ao respeito, a responsabilidade, a consideração, a aceitação do próximo, o amor filial (ou melhor, responsabilidade filial), a amizade e a fraternidade, e, como Maçons e membros da família humana corremos atrás desses conceitos pelo estudo, compreensão e dedicação procurando entendê-los e conscientizá-los como património pessoal útil para uma vida em sociedade.

Como Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçons, pedreiros construtores do edifício social, é preciso refletir, tornar clara as ideias, comparando-as, e como consequência formando os nossos próprios juízos de valor.

Perguntamos: entendendo a maçonaria também como uma escola de comportamento, estamos inseridos num processo evolutivo ou ainda nos preocupamos por alcançar a condição de um “status” maçônico (que nos forneça projeção pessoal) que nos confere a Ordem? Claro é que não é este o objetivo, mas esta condição maçônica proporciona esse destaque e “seduz” uma grande maioria de Irmãos que procuram projeção pessoal e reconhecimento, sendo assim inevitável, pois, temos vaidades e paixões ainda não controladas.

Mas, o que vindes aqui fazer?

Ensinam os nossos rituais que é necessário vencer as nossas paixões e submeter a nossa vontade. Como edificar templos à virtude e enterrar os vícios se somos levados pela turbulência das paixões e lutamos ainda por fazer prevalecer as nossas vontades?

Na nossa aprendizagem maçônica, de aprendiz à mestre Maçom, é extremamente relevante que isso pese no nosso comportamento. Quando alcançamos o domínio das nossas paixões e da nossa vontade, já não fazemos parte das batalhas profanas, não é mais necessário o conflito. Isto não significa omissão, desleixo ou fraqueza de caráter, simplesmente não é mais necessário, pois, compreendemos o Todo e com essa certeza e verdade sedimentada podemos sutilmente alterar e redirecionar atitudes profanas incorretas e insuficientes.

Para que todas estas considerações sejam alcançadas, as nossas instruções precisam ser objetivas e direcionadas a todos nós que aqui estamos em busca de mais luzes. Todo trabalho ou instrução nunca é desperdiçado pelo fato de que acendemos luzes no nosso interior promovendo novas ideias, preenchendo lacunas e gerando a vontade de progredir sempre.

Será sempre possível e é necessário organizarmos as nossas instruções para auxílio de todos que participam dessa Arte. É responsabilidade dos Mestres facilitarem e auxiliarem os Aprendizes e Companheiros na compreensão dos trabalhos maçônicos e a sua dinâmica. Se não nos transformamos, como queremos que os que aqui chegam aprofundem a sua maneira de pensar e agir? Que exemplo esperamos dar?

Enaltecemos sempre a Ordem Maçônica e os trabalhos maçónicos, os seus princípios e os seus objetivos. O nosso ritual esclarece com perfeição e transparência que “a Maçonaria no grau de Mestre é o laboratório espiritual, onde os iniciados de todas as partes do mundo se reconhecerão e trabalharão em comum, visando solucionar a crise moral da Humanidade, assegurando ainda os direitos e deveres do Espírito”.

José Eduardo Stamato, M I – ARLS Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de São Paulo) – Brasil

Notas:

[1] Moral (da raiz latina “mores” como costumes, conduta, comportamento, modo de agir) – é o conjunto sistemático das normas que orientam o homem para a realização do seu fim pelo exercício da sua responsabilidade.

[2] Simbologia – estudo dos símbolos, o entendimento de uma imagem empregada para significar um conceito facilitando a sua compreensão.

[3] Espiritual – que tem a natureza do espírito. Espírito – identifica-se com o que chamamos alma; também a sede das atividades superiores do ser inteligente (os conhecimentos, a erudição, o poder lógico, a capacidade intuitiva, o senso artístico, a reflexão transcendente).

 

 

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