Nasci
em 26 de setembro de 1918 e estou para completar 96 anos de vida.
Naquele
dia chovia torrencialmente e por isso muitos dos que presenciaram o meu
nascimento deixaram de assinar o livro de presenças, dando trabalho para um de
meus fundadores, que teve que procurá-los em seus locais de trabalho ou
residência, em bairros na época considerados distantes, como a “freguesia da
Gávea”.
Quando nasci, estávamos independentes de Portugal há quase um século (96 anos) e o Brasil era uma jovem República que estava para completar 29 anos. Todos os meus fundadores nasceram no Brasil Imperial e seus irmãos participaram ativamente desses dois acontecimentos históricos.
Por
ter nascido no mesmo mês do da Independência do Brasil, meus fundadores tiveram
a feliz idéia de me batizar com o nome da nossa pátria. Eu e meus filhos nos
orgulhamos do nome que me deram.
No ano do meu nascimento, o Presidente da República era o Dr. Venceslau Brás, que fora eleito 4 anos antes por um acordo entre os partidos predominantes de Minas Gerais e São Paulo, em plena política do "café com leite".
Na
época o Grão Mestre era o Dr. Nilo Peçanha, ex-presidente da República e então
Ministro do Exterior, pasta notabilizada por um seu irmão, o Dr. José Maria da
Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, que a ocupou durante 10 anos,
inclusive durante parte do mandato de Venceslau Brás.
No ano anterior, o Brasil declarara guerra à Alemanha, que havia afundado o navio brasileiro Macau. Era a Primeira Guerra Mundial.
Após
o torpedeamento de outros seus navios, no ano em que nasci o Brasil enviou uma
frota para a Europa, que retornou do porto africano de Dacar, capital do
Senegal, em virtude da morte de 156 tripulantes, vítimas da gripe espanhola.
Essa gripe, só no ano em que nasci, no Rio de Janeiro, então capital da
República, vitimou mais de 6 mil pessoas.
Nos
registros do meu nascimento consta, numa redação impecável e de um realismo
impressionante, o seguinte: "... uma epidemia desconhecida, uma gripe
pestífera, que o vulgo denominou Hespanhola, invadiu a nossa Capital, de uma
forma tão intensa, como jamais nenhuma outra moléstia o fez, ceifando uma tão
grande parte da população, de uma forma tão rápida, que os cadáveres ficavam
apinhados, como se fossem achas de lenha, sem caixões e sem covas para serem
enterrados, n'uma promiscuidade dantesca...".
Nasci no Rito de York, até então praticado unicamente em inglês, e tiveram que traduzir os rituais para o português para que eu pudesse iniciar os meus trabalhos. Admito que fui volúvel no passado: depois do Rito de York, trabalhei no Rito Adhoniramita, voltei para o Rito de York, mudei para o Rito Brasileiro e finalmente adotei o Rito Escocês Antigo e Aceito, nele trabalhando desde 1961.
Durante todos esses anos, dei a luz a muitos homens livres e de bons costumes, que me remoçam a cada ano. Continuo tão jovem, bonita e produtiva como quando nasci.
Aliás, sou
imortal. Além disso, como boa mãe, semanalmente recebo todos os meus filhos em
nossa casa, mesmo aqueles que já foram chamados pelo GADU, que obtêm Dele
licença especial, pois, juntos, promovemos o bem estar da humanidade,
levantando templos às virtudes e cavando masmorras aos vícios.
Sou a
Augusta, Respeitável, Grande Benfeitora e Estrela da Distinção Maçônica Loja
Simbólica Brasil, nº 953, jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil no Estado
do Rio de Janeiro e federada ao Grande Oriente do Brasil.
Irm.'.
Almir Sant'Anna Cruz, M.'.I.'. da Loja Brasil.