O SIMBOLISMO DO AVENTAL NO PRIMEIRO GRAU


Em toda instituição organizada e hierarquizada a fácil identificação dos seus membros e dos seus graus de subordinação é algo desejável para manter a ordem e facilitar a coordenação das atividades. A uniformização dos membros cumpre exatamente com esse objetivo. Esta deve ter sido a motivação inicial para o uso da vestimenta maçônica, sobretudo o avental.

Nele consegue se identificar o maçom, assim como sua posição hierárquica e em alguns casos o cargo ocupado. O avental é a insígnia do maçom. Porém, para a identificação dos cargos ocupados existem os colares e as joias que cumprem melhor com essa função. Este artigo restringe-se ao estudo do avental maçônico, objetivando dissertar sobre o seu simbolismo no grau de aprendiz.

O avental é utilizado por muitos trabalhadores de diversas áreas como forma de proteção de suas vestimentas contra possíveis substâncias que possam manchar ou sujar e até lesar o obreiro. Com isso, seu uso fica associado ao trabalho e a proteção. E os maçons operativos o utilizavam durante suas atividades mercantis.

Este utensílio foi levado para a maçonaria especulativa, assim como muitos outros símbolos, do dia a dia dos maçons operativos (Dyer, 2010). Desta forma, “o avental é o símbolo do trabalho e vos lembrará que um maçom deve ter sempre uma vida ativa e laboriosa” (GOP, p87).

Com isso, segundo Varo Jr., (2010), antes da padronização de 1813 feita após a união das duas grandes potências inglesas, os maçons ingleses, sobretudo os antigos irmãos do Grande Loja dos Modernos, habitualmente acrescentavam adornos nos seus aventais seguindo a sua criatividade e gosto.

Utilizavam de pinturas e enfeites. Isso estaria relacionado a uma ostentação da vaidade pessoal, oriunda de um movimento que objetivava a dignificação do avental, do trabalho por ele simbolizado e o enobrecimento da maçonaria idealizado pelo Cavaleiro Miguel André de Ramsay, codificador do Rito Escocês.

Com isso, os maçons da Grande Loja dos Modernos costumavam passear pelas ruas de Londres, após as sessões, com os aventais como adornos. Já os irmãos da Grande Loja dos Antigos eram mais conservadores e utilizavam os aventais durante as sessões, e eram brancos geralmente em couro de cordeiro.

Portanto, após esta criação da Grande Loja Unida da Inglaterra, viu-se a necessidade de uniformizar as vestimentas dos maçons especulativos, criando-se padrões a serem seguidos para a indumentária maçônica em 1813 (DYER, 2010), visando coibir excessos, sendo que o avental utilizado no rito de York teve pouca alteração desde então (VARO Jr., 2010). No rito escocês essa normatização aconteceu em 1875, no Congresso Mundial dos Supremos Conselhos em Lausane. Segundo Miranda (2014),ficou assim definido nesta ocasião:

1. O avental terá dimensão variável de 30/35 cm. por 40/45 cm. ;
2. O avental do Aprendiz Maçom é branco, de pele de carneiro, com abeta triangular levantada e sem nenhum enfeite;
3. O avental do Companheiro Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada, podendo ter uma orla vermelha;
4. O avental do Mestre Maçom é branco, com a abeta triangular abaixada, orlado e forrado de vermelho, tendo, no meio, também em vermelho, as letras M e B;
5. O avental é o símbolo do trabalho e lembra, ao obreiro, que ele deve ter uma vida laboriosa;
6. A cor do Rito Escocês Antigo e Aceito é a vermelha.(*)

Assim como para outros símbolos maçônicos, existem divergências quanto a seu significado simbólico. Isso se deve em grande parte às diversas influências (cristã, judaica, antigos mistérios, entre outros) que contribuíram para o desenvolvimento da maçonaria e pela falta de registro (propositada, como forma de sigilo) nos primórdios da maçonaria especulativa.

Dependendo da base teórica usada há várias especulações sobre as diversas características do avental. Por exemplo, Dyer (2010) cita que alguns pensadores advogam que o avental teria sua origem ligada às Sagradas Escrituras, relacionada aos éfodes usados pelos sacerdotes hebreus.

Do mesmo modo, a cor branca do avental do aprendiz teria sido escolhida porque os antigos também tinham o costume de vestir uma roupa branca na pessoa batizada, como sinal de ter abandonado as ambições e luxúrias da carne, tendo o seu ser purificado de seus pecados passados e que se obrigou a manter uma vida de imaculada inocência (DYER, 2010, p. 169).

O branco, portanto, representaria a pureza e inocência que o maçom deve interiorizar para guiar seus pensamentos e atos.

Entretanto, Leadbeater (2013) relata que outros autores pregam que a cor branca representaria também uma alma ainda não evoluída, por isso nos graus de aprendiz e companheiro o branco é a cor exclusiva; já nos graus de mestre é inserida a cor azul nas rosetas e orla (rito York), representado que o conhecimento começa a substituir a inocência. Isso representa a evolução do aprendiz nos ensinamentos, e sua progressão nos graus é simbolizada pelos adornos adicionados ao avental.

Leadbeater (2013) também faz referência ao formato do avental. Idealizando que o quadrado representa o corpo ou matéria física e o triângulo o espírito. Desse modo, o aprendiz tem a abeta levantada porque o espírito está planando sobre corpo, mas este último não é influencia pelo primeiro.

Com o desbastar da pedra bruta, o companheiro já tem o espírito agindo ou coordenando o corpo; isso sendo representado pela abeta abaixada sobre o quadrado. Analogamente, a abeta para cima serviria para lembrar ao aprendiz a superioridade do espírito e das virtudes sobre o corpo e o material. E o companheiro, com a assimilação dos ensinamentos já não precisaria desse lembrete. Entretanto, Varo Jr. (2010) relata que em 1717 existe registro do Grão Mestre Antony Sayer trajando o avental com abeta levantada, contrariando essa interpretação, pelo menos naquela época.

Segundo de Souza (2009), numa interpretação esotérica, a abeta do avental representaria uma proteção do plexo solar do aprendiz, considerada a sede das emoções. Ou seja, o aprendiz não dominando ainda os ensinamentos do seu grau, não conseguiria ainda dominar as emoções e as energias. Com isso, poderia influenciar a formação da egrégora e a espiritualidades nas sessões. Passando ao grau de companheiro, já tendo recebido as instruções iniciais, a abeta é abaixada.

Alguns autores pregam que a maçonaria atual seria uma contínua evolução dos antigos mistérios, sobretudo dos Egípcios. Dyer (2010), entretanto, relata que tal origem não foi devidamente documentada. Mas também relata que no século XVIII, o século da razão, os irmãos estudavam, e muitos até foram iniciados nos antigos mistérios.

Com isso, a maçonaria especulativa pode ter absorvido muito da doutrina e simbolismo dos Egípcios. Porém, correlacionar a origem do avental maçônico ao avental utilizado nos rituais egípcios parece um tanto precipitado, tendo em vista as diferenças entre eles, como cita Leadbeater:

O antigo avental egípcio, segundo o indicam a Figura II e a Figura XXI, era triangular, com a cúspide para cima, e seus adornos diferiam, em vários aspectos, dos que agora se usam. Mas a mudança mais importante consiste em que hoje predomina a ideia de que o avental em si é tudo, e que a faixa cingida ao redor do corpo só serve para melhor segurá-lo.

Antigamente, o cinto do avental era a sua característica mais importante e algo mais que um símbolo, pois estava intensamente magnetizado e disposto de modo que encerrasse em si um disco de matéria etérea, para separar a parte sutil do corpo físico da parte densa, e isolar inteiramente desta última as formidáveis forças atualizadas pelo cerimonial maçônico. (Leadbeater, 2013, p. 113)

Enfim, assim como outros símbolos maçônicos, o avental traz muitos ensinamentos e funções, cabendo ao maçom utilizá-lo para sua evolução no desbastar da sua pedra bruta. Na humilde opinião deste autor aprendiz, o avental representaria o dever maçônico de trabalhar em prol do desenvolvimento tanto pessoal quanto da fraternidade e da humanidade, de estar sempre pronto e disposto à prestação de serviço a quem dela necessite.

Fisicamente, seu uso é obrigatório durante as reuniões em loja, porém moralmente ele deve estar sempre presente na vida profana do maçom.

Henrique Yoshio Shirozaki
Ir.’. Aprendiz Maçom

(*) NR: Nas Lojas na jurisdição do GOB e GL'S, a cor utilizada é a azul.

BIBLIOGRAFIA
DYER, Colin F. W. O Simbolismo na Maçonaria, tradução Sérgio Cernea. São Paulo: Masdras, 2010.
LEADBEATER, C. W. (1928). A Vida Oculta na Maçonaria, tradução de J. Gervásio de Figueiredo. 19. Ed. São Paulo: Pensamento, 2013.
MIRANDA, A. J. O rito escocês antigo e aceito. Disponível em:<http://fraternalshop.com.br/blog/?p=288>. Acesso em: 02 de outubro de 2014 .
VARO JR. et al. O avental. Disponível em: <http://www.revistauniversomaconico.com.br/simbologia/o-avental/>. Acesso em: 30 de Agosto de 2014.
O AVENTAL MAÇÔNICO. Disponível em: <http://fraternalshop.com.br/blog/?p=439>. Acesso em: 02 de outubro de 2014.
DE SOUZA, G. S. A Vestimenta Obrigatória do Maçom. Disponível em: <http://amaconariarevelada.blogspot.com.br/2009/09/vestimenta-obrigatoria-do-macom.html>. Acesso em 06 de outubro de 2014.


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