“Senhor, se meu Irmão pecar
contra mim, quantas vezes eu deverei perdoar-lhe? Até sete vezes? – Disse-lhe
Jesus: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mat. l8:21-22)
É sabido que só os Irmãos de
sangue possuem características comuns que conduzem ao afeto sólido e
desinteressado, cultivando o amor familiar.
A Maçonaria resolveu sugerir aos
seus iniciados o tratamento cordial e afetuoso de “irmão”, que o receberam com
todo o agrado, sem nenhuma restrição, passando a ser uma norma obrigatória nos
diversos Corpos da Instituição.
Já no Poema Regius, também
chamado de “Manuscrito de Halliwell’ do ano de 1390, o mais antigo que se
conhece, recomenda o tratamento de “caro irmão” entre os maçons. Por isso o
tratamento de Irmão dado por um Maçom a outro, significa reconhecimento
fraternal, como pertencente à mesma família.
De fato, traduz uma maneira de
proceder muito afetiva e agradável a todos os corações dos que militam em seus
augustos Templos. Assim passaram os iniciados ao uso desse tratamento em todas
as horas, quer no mundo profano, quer no maçônico.
Há certo grau de satisfação
quando nas Lojas maçônicas, partilhamos de momentos gratificantes de bem estar
espiritual para o convívio em união. É na verdade uma extensão da nossa própria
família e os laços de amizade e fraternidade ali estabelecidos, só poderão ser
comparados aos do mesmo sangue.
A essência da Fraternidade é o
amor; os maçons dedicam muito amor uns para com os outros; é essa prática que
funde o sangue para que haja no grupo uma só criatura.
O bem-querer, a tolerância e a
Fraternidade dentro da Loja transformam o homem em criatura dócil, espontânea e
fiel, apta a desempenhar a cidadania no mundo profano.
A rigor, o amor fraternal
deveria estender-se a toda a humanidade; no entanto, ainda não estamos
preparados para isso.
Fisiologicamente, os Irmãos
provindos dos mesmos pais são denominados de “germanos”, que em latim significa
“do mesmo germe”. Na Maçonaria não há esse aspecto; porém, a Fraternidade harmoniza
os seres por meio da parte espiritual; diz-se que os maçons são Irmãos porque
provêm da mesma Iniciação, os mesmos modos de reconhecimento e foram instruídos
no mesmo sistema de moralidade; morrem na Câmara da Reflexão para renascerem
produzidos ou procriados por meio do germe filosófico que transforma
integralmente a criatura, refletindo-se no comportamento posterior.
Os Maçons, qualquer que seja o
seu grau, dão-se o tratamento de Irmão. Este tratamento existe em todas as
sociedades iniciáticas e nas confrarias, onde o seu significado é a condição
adquirida com a participação de um mesmo ideal baseado na amizade. É o
tratamento que se davam entre si os Maçons operativos.
Além da amizade fraternal que
deve uni-los, os Maçons consideram-se irmãos por serem, simbolicamente, filhos
da mesma mãe, a Mãe-Terra, simbolizada pela deusa egípcia Ísis, viúva de
Osíris, o Sol, e a mãe de Hórus. Assim os Maçons são, também, simbolicamente,
irmãos de Horus e se autodenominam Filhos da Viúva.
Os membros de nossa Ordem são
estimulados a praticarem um modo de vida que produza um nível elevado em suas
relações com seus Irmãos, assim como, com toda a humanidade.
Em outras palavras, é preciso
não perder o significado e emprestar dignidade à expressão IRMÃO, desprezando as
futilidades mundanas e amando o próximo; que cada um de nós se torne útil
segundo as capacidades e os meios que o Grande Arquiteto do Universo nos
colocou nas mãos para nos provar; que o forte e o poderoso devem apoio e
proteção ao fraco, pois aquele que abusa de sua força e de seu poder para
oprimir seu semelhante faz desaparecer o sentimento da personalidade.
Quando os homens tiverem se
libertado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, não se fazendo nenhum
mal, ajudando-se mutuamente pelo sentimento natural da solidariedade; então o
forte será o apoio e não opressor do fraco, e não se verão mais homens
desprovidos do indispensável para viver, porque todos praticarão a lei da
justiça.
Para melhor descrevermos a
importância do tratamento “Irmão”, é preciso mencionar a egrégora, atuação da
força-pensamento coletiva de pessoas reunidas num local, emitindo vibrações
fortes e idênticas, pensamentos da mesma natureza, animado de força boa ou má,
conforme o gênero dos pensamentos emitidos. Cada Loja possui a sua egrégora. Em
muitas Lojas se forma uma antiegrégora. É quando os Irmãos lá vão para
aparecer, disputar primazia, brigar, discutir cargos, assumir a postura divina
de donos da verdade, etc.
Membro ativo é o maçom que
frequenta assiduamente a Loja e cumpre com as obrigações estatutárias. A Loja
conta com a presença assídua de seus associados. É dever de o maçom dar
assistência à sua associação, sob pena de enfraquecê-la e até adormecê-la.
Membro adormecido é o maçom que
deixa de frequentar a Loja, licenciado ou eliminado, com a chance de sempre
poder retornar à frequência.
Outro elemento de vida e valor
que deve ser observado e ocorre com muitos Maçons em Lojas e Potências podemos
chamá-lo “chorão”. É o que vê a vida como um terremoto: o chão ameaçando a
abrir, o mundo caindo sobre ele. Corre desesperado para lugar algum ao encontro
do nada. Não devemos receber esses estados depressivos, com a ideia de que
estaremos ajudando o Irmão a carregar seu fardo.
A rigor, o amor fraternal
deveria estender-se a toda a humanidade; no entanto, ainda não estamos
preparados para isso.
Há, também, o “desagregador”,
criador da discórdia e do sofrimento. Sua atmosfera mental fica carregada de
uma força destruidora. Vai à Loja dominado por sentimento de angústia, de obrigação
institucional, com ódio, melindres e ressentimentos para gerar culpa ou
acusações ou tentar criar tensões nos demais e jamais se entender com os que
divergem de suas opiniões.
Planta a semente da
desintegração nos que são suscetíveis às suas influências. Sua mente se torna
como que uma nuvem escura que encobre a luz e o poder da verdade. Ele abafa sua
alma com pensamentos maus. Regozija-se com o mal de seus irmãos, pois, no seu
orgulho, imagina que o não afetará.
Aqueles que se deixam fascinar
pelas suas falsidades, não podem ver a verdade e são levados a crer que o falso
é justo, que só a vontade egoísta triunfa. Suportar este tipo de Irmão em Loja
não é aconselhável, pois ele está tirando o valor da vida dos Irmãos e impondo
a sua. Não os condenem, esses por si se destroem.
Outro problema na Loja maçônica
são Irmãos “Cometas” com aparições inesperadas, trocam a festa, a TV, o
passeio, a viagem, pela tarefa que assumiram livremente.
Quando o Venerável lhes cobra
comportamento responsável, zangam-se. O argumento usado é que eles dão a sua
colaboração à Loja e têm o direito de comparecer quando lhes convier. Afinal,
trabalham de graça e têm seus compromissos particulares para atender.
Se o dirigente for rigoroso, é
comum que se afastem da Oficina, procurando abrigo no pedido de licença ou até
do quite placet. É da máxima importância que todos aprendamos a conhecer o
poder dos que podem causar males, assim como para fazer o bem.
Estamos todos sujeitos a cometer
erros. Ninguém alcançou a alta posição em que se ache tão livre do erro, que
possa julgar com retidão todas as causas que levaram seu Irmão ao erro, e
quando alguém chega a esse estado, não condena; compadece-se das condições
limitadas de seu Irmão e procura fazer-lhe mais fácil a vida pela alegria e a
bondade. Perdoemos nossos erros, pois até o direito de errar é sagrado, desde
que corresponda ao intransferível dever de assumir a consequência do que se
praticou.
Saibamos reconhecer os nossos
defeitos para vencê-los. É ao estudarmos o que nos desagrada em nossos Irmãos
que chegaremos a eliminar os nossos defeitos, que são muitas vezes semelhantes.
Isto nos incitará à benevolência. Sejamos tolerantes para com as opiniões e os
atos dos nossos semelhantes. Aprendamos a perdoar as ofensas que nos são
feitas. Não tenhamos senão sentimentos, atos e pensamentos positivos.
Esqueçamos nossas desavenças,
nossas dificuldades, passemos ao entendimento mútuo, e nos irmanemos em torno
do bem e da tolerância.
Denilson Forato