A
pesquisa sobre a participação de profissionais não artesãos nos agrupamentos
dos maçons, a partir do século XVII, revela que os aceitos constituíram núcleos
diversificados de obreiros nas Lojas operativas.
Algumas
dessas deixaram de ser convencionais para se tornarem formadoras de opiniões.
As Lojas frequentadas por intelectuais ganharam prestígio e marcou a figura do
livre pensador, um erudito que tinha salvo-conduto da realeza para divulgar
suas ideias e melhorar os conhecimentos da elite.
As
reuniões maçônicas, a partir dessa época, proporcionaram nova visão do homem e
do mundo e elevaram a complexidade dos conhecimentos à disposição da
comunidade.
Os
interesses das monarquias, das religiões dominantes e das ciências criaram
episódios relevantes, que colaboraram para a evolução organizacional e
funcional da maçonaria.
Foi o
caso que se verificou na difusão do movimento filosófico e cientificista
inglês, o iluminismo, a partir da Royal Society, que desempenhou papel
fundamental na criação e na consolidação da primeira Grande Loja maçônica, em
Londres.
Despontou
a liderança de John Theophilus Desaguliers, um francês que se mudou pequeno com
seus pais para a Inglaterra, onde anos mais tarde frequentou a Universidade de
Oxford e se doutorou em Lei Canônica.
A ciência
foi importante na vida de Desaguliers, principalmente a teoria das leis
mecânicas de Newton, com quem estreitou laços de amizade. Foi eleito para a
Royal Society em Londres e fez conferências em tavernas para divulgar a ciência
newtoniana.
Dedicou-se
a interpretar princípios do Deísmo, pois, para a sociedade de intelectuais
londrinos, Deus era a Causa Primeira e Final do mundo, responsável pela Segunda
razão da existência do Universo, a força da gravidade que ordena a relação
dinâmica de todos os corpos celestes, interpretada e descrita por Isaac Newton.
Desaguliers
estudou os conceitos filosóficos voltados para a importância do estudo da
matéria e seus movimentos como elementos constitutivos do Universo. Acreditou
que o Sábio e Todo-Poderoso Autor da Natureza iniciara Sua Obra divina pelo
átomo e que dotara a matéria de movimento e de propriedades de atração e
repulsão.
Como se
constata, o sentimento materialista religioso esteve sempre muito presente na
base das especulações científicas do iluminismo inglês, levado também para os
alicerces conceituais que sustentaram a criação da Grande Loja de Londres e o
novo modelo de Loja maçônica, apoiado na estrutura física do Parlamento e na
pedagogia da Sociedade Real.
Os
princípios da arquitetura clássica igualmente tiveram forte receptividade entre
os aristocratas britânicos no início do século dezoito. As características mais
valorizadas foram à simetria, os arcos, as colunas dóricas e jônicas e os
templos com domos.
Desaguliers
integrou o partido político Whig, que surgiu depois da revolução de 1688, que
pretendeu subordinar o poder da Coroa ao do Parlamento. As doutrinas que
compuseram a ideologia da oligarquia Whig endossavam a ideia de soberania
parlamentar com liberdades naturais, constituindo uma proposta de revolução
política, que fez surgir no século seguinte o Partido Liberal inglês.
Desaguliers
tornou-se Grão-Mestre eleito, dois anos depois da instalação da Grande Loja em
24 de junho de 1717, em Londres. Recrutou cientistas e outros pensadores para posições
de liderança no projeto maçônico organizado, visando fazê-lo florescer em
harmonia, reputação e número.
Criou a
figura do Deputado do Grão-Mestre, nomeado para representar o Grão-Mestre em
situações de impedimento ou de coincidência temporal de eventos. Trabalhou
estreitamente com o ministro presbiteriano James Anderson, membro da Royal
Society, na redação de uma Constituição para a novel Grande Loja. Juntos,
fizeram as primeiras analogias entre a antiga arquitetura e o moderno mundo da
maçonaria intelectualista, sustentando que os princípios da antiga maçonaria
possibilitaram a construção das pirâmides egípcias e o templo do Rei Salomão.
Desaguliers
e Anderson lançaram a ideia central que serviu de referência para a confecção
da Tábua de Delinear do primeiro grau da maçonaria inglesa, onde estão
desenhadas as colunas dos princípios dórico, jônico e coríntio, presentes nos
desenhos simétricos dos antigos edifícios e que refletem a harmonia com a
natureza.
Nas
Constituições da Grande Loja há especial menção aos direitos do Grão-Mestre,
investido nas funções de Poder Executivo, concebido como um Primeiro Ministro
da maçonaria.
O sistema
de graus foi idealizado pelos líderes da Grande Loja para servir ao propósito
de explicar as ideias da intelectualidade inglesa, a respeito do processo de
aperfeiçoamento moral, cultural e filosófico do ser humano, em que a escada
simboliza a ascensão individual e estimula a busca do conhecimento que
qualifica a caminhada existencial.
A Grande
Loja ajudou as Lojas locais a funcionarem como assembleias, elegendo os
dirigentes da sua entidade maior e mantendo encontros permanentes para
discutirem assuntos importantes para a comunidade, além de servirem como
centros ritualísticos, conferindo os graus aos candidatos admitidos.
As Lojas
promoviam ações filantrópicas, contribuíam para o Fundo de Caridade da Grande
Loja e prestavam assistência financeira aos maçons necessitados.
Nessas
condições, em que se observa a presença da Grande Loja como uma coordenação
centralizadora das principais iniciativas, houve a intensa promoção, entre 1719
e 1736, de atividades sociais e culturais nas Lojas e em toda a Londres, Lojas
que funcionavam em cafés, tavernas e hospedarias, promovendo a sociabilidade, a
expansão da cultura e a vida clubística.
Inegável
é que o sistema ritualístico, com sua pedagogia maçônica diferenciada, provou
ser um veículo efetivo para a explicação das ideias do século dezoito, dos
conceitos newtonianos aos princípios éticos do Deísmo.
O sistema
ritualístico funcionou também como uma religião civil e foi reconhecido como
uma importante fonte do anglofilismo. Os maçons ingleses entenderam que as leis
da mecânica newtoniana revelavam muito sobre o ordenamento da natureza e que a
doutrina deita, da mesma maneira, ajudavam a definir princípios apropriados
para a conduta moral da sociedade.
Fonte: Grande Loja Maçônica do Estado
do Rio Grande do Sul