POR QUE NÃO TENHO VONTADE DE IR À LOJA


Há algum tempo se é questionado nas reuniões semanais de muitas Lojas o motivo da ausência, da baixa frequência dos irmãos do quadro, rapidamente inúmeras respostas aparecem quase todas convergindo para a questão da monotonia das sessões, no entanto lembro-me que escrevi uma peça de arquitetura intitulada “A Falta de Compreensão e a Mácula ao Ideal de Fraternidade”, na qual encerro lançando no último parágrafo o seguinte, antes de questionarmos a Ordem e seus puros métodos de ensinamento, devemos aprender a nos respeitarmos, ensinarmos aos aprendizes mais valores e moral maçônica, ao invés de tentarmos passar teorias que sabemos de ouvirmos falar, contaminando assim a pureza de nossas instruções.

Para que no futuro não digamos que não valeu a pena e que nada tem a se aprender. Eis que surgem novos questionamentos, como por exemplo, como poderá um mestre ensinar um Aprendiz ou Companheiro se ele mesmo não sabe a razão de fazer o que faz? Se ele mesmo não adquiriu o mínimo de conhecimento sobre a doutrina Maçônica, não por sua culpa e sim devido a um sistema falho decorrente do momento imediatista que se encontra a sociedade como um todo, não conseguindo, portanto multiplicar de madeira adequada os ensinamentos outrora recebidos.

Diante de tal dilema inicia-se a reflexão de como agir e assim reverter ou amenizar situações que possam trazer prejuízo para as atividades da ordem.

Estudando a obra PORQUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS, aflições vitais sobre trabalho, carreira e realizações, de Mário Sérgio Cortella, voltado para a vida profissional, vislumbrei uma possível aplicação prática para entender, ou fomentar a discussão sobre a necessidade de incentivar maçons a serem mais atuantes nas atividades em Loja, sem, no entanto permitir a ação de um daninho espírito inovador, perigoso aos pilares da pura maçonaria.

A tônica, porque fazemos o que fazemos, transmuta para, por que não tenho vontade de ir à Loja, e assim tentar fomentar a discussão filosófica sobre uma questão que pode afligir algumas oficinas.

Por que não tenho vontade de ir à Loja?

a) Sinal evidente de cansaço: decorrente das atividades exercidas no mundo profano, inúmeros compromissos e atividades que ao final do dia resultam na fadiga do indivíduo;

b) Não enxergar mais a razão de estar em Loja; evidente sinal de estresse, decorrente do excesso de compromissos e do imediatismo cobrador de resultados, o que por si só fere os princípios dos ensinamentos maçônicos em especial o da Tolerância.

É necessário ainda evitar levar uma vida banal, onde o agir se dá de modo automático, robotizado. Temos de ter a consciência do motivo de estarmos ali, entender a filosofia por trás da Ritualística.

Como disse o Barão de Itararé: A única coisa que você leva da vida é a vida que você leva”. Neste sentido, deve o agente questionar sobre qual o propósito ele deve colocar diante de si mesmo, pois infelizmente muitos iniciados desejam encontrar na instituição algo que ultrapasse o conhecimento filosófico e moldador (aperfeiçoamento) do caráter.

É na verdade a ação alienada do iniciado, dentro de um conceito estipulado por Hegel, em uma interpretação de Cortella, tudo aquilo que eu produzo, mas não compreendo a razão, um bom exemplo, o maçom, independente de seu grau, receba as devidas instruções, elabore seus trabalhos entretanto o faz de modo automatizado, sem entender o porquê faz; isto é, os trabalhos e instruções, são ferramentas de um sistema que faz a atividade em Loja acontecer, sendo incapaz no entanto de decidir o destino da própria ação.

Esse trabalho constante, repetitivo, autômato, sem o entendimento filosófico do sistema empregado, ainda citando Hegel, alienado, acarretará em desconforto no iniciado, que por vezes não possui o suporte de seus mestres, ocasionando em consequências funestas para a Ordem como um todo.

Uma boa ferramenta, dentro de um conceito simbólico, para o trabalho é o sextante, que nos permite fracionar e assim medir, ou guiar nossas ações, adquirindo um conhecimento mais lento, porém mais profundo daquilo que fazemos. Ou seja, como nos ensina Cortella reconhecimento é uma questão-chave nessa busca por sentido.

Eu preciso reconhecer nas atividades que exerço, usando um termo de Hegel, isto é, devo objetivas a minha subjetividade. Devo fazer uso da Régua de 24 polegadas, para medir meu tempo e assim, sendo minha vida subjetiva um grande mapa para uma viajem, portanto não afastando-me um pouco da figura do construtor, utilizarei do sextante, fracionando esse mapa e assim esmiuçar cada trecho dessa viajem chamada de lapidação da Pedra Bruta, de modo a melhor aproveitar minha capacidade e assim não ser só mais um autômato.

O trabalho repetitivo em nossos rituais não nos torna ou nos obriga a sermos autômatos, ao contrário, força-nos à busca pelo entendimento e aplicação do absorvido em nossas práticas diárias.

O filme de Charles Chaplin TEMPOS MODERNOS, ensina exatamente esse aspecto; Chaplin está em uma linha de produção e acaba por ser enveredar por entre as engrenagens da máquina.

Ocorre que, ele não é esmagado pelas engrenagens, ao contrário, se contorce e passa livremente concluindo seu ofício; a máquina aqui é o trabalho, em qualquer área; as engrenagens são a rotina que sempre estão ali, ajudam a desenvolver o produto; sobre outro prisma, isso bem diverso do exposto na visão de Cortella, comparo a máquina com a Maçonaria Universal, as engrenagens são os diversos Ritos e Graus, Chaplin é o Aprendiz, Companheiro ou Mestre, que se instrui, suas ferramentas são os instrumentos de trabalho e pesquisa.

Ele não é um autômato, pois passa, se envereda pela Máquina, a Maçonaria Universal, desliza entre suas engrenagens, seus diversos Ritos, porém não se deixa esmagar, como um homem livre e de bons costumes percorre e conclui sua missão, o trabalho sai a contento.

Ainda na análise da obra de Charlie Chaplin, mesmo em um momento crítico, quando a esteira da linha de produção para, ele continua a produzir, nesse momento mais similar a um autômato, porém como dito, não se deixa vencer pelo sistema, se esforça, contorce-se entre as engrenagens para superar os revezes e concluir a obra. Claro que tal alegoria pode e deve ser vista sob óticas diversas.

Porque devemos manter a tradição

É incontestável que a modernidade, o avanço tecnológico, é algo sem volta e como não poderia deixar de ser, atinge a nós maçons. Mas até que ponto as inovações tecnológicas irão afetar a vida em Loja sem estar desrespeitando ao 2º landmarks?

Não sabemos, no entanto devemos ter a consciência de que a pureza da transmissão do conhecimento não pode ser manchada pelo daninho espírito inovador.

Muitos ainda, talvez por não tiverem compreendido a essência, tecem comentários infelizes sobre a prática ritualística, em especial no R.˙.E.˙.A.˙.A.˙., alegando ser demasiadamente repetitivo, enfadonho, confundindo com monotonia. Então, devem os mais experimentados intervirem, pois rotina é diferente de monotonia.

Segundo Cortella, a rotina é libertadora, pois permite organizar uma atividade, e assim utilizar de modo inteligente o tempo. Mas uma vez, é fazer o uso da alegoria trazida na Régua de 24 Polegadas, ou quando da utilização da palavra, aproveitar para treinar a síntese, expressarmos as opiniões no tempo regulamentar de nossos rituais, sendo claro, preciso e conciso.

Tal prática nos ajudará sem dúvidas na resolução rápida dos conflitos diários, nas tomadas de decisões; compreender e praticar isso fará do homem maçom se tornar o que deve ser, um destaque positivo na sociedade que integra, pela objetividade e capacidade de se ver como um solucionador de problemas em sua vida profana, sem dúvida entender essa dinâmica fará valer a máxima tempo é dinheiro.

Imaginem, em uma reunião de negócios, você poder demonstrar em curto espaço de tempo seu produto ao cliente e este diante da clareza e objetividade se convencer e fechar o negócio.

E assim, a pedra bruta e disforme, irá, sob o golpe do maço e do cinzel, ganhar formas esplendorosas.

Para os irmãos que integram a carreira das armas, é o exato instante, as frações de segundos, onde decide sobre atirar ou não em um agressor. De modo a avaliar se sua ação acarretará, ou não, em consequências nefastas à sociedade e a ele mesmo.

Conclui-se, portanto, que a rotina não é monotonia, ao ser laçado pela monotonia você será desviado de seu foco. Desse modo entende-se que a monotonia é o principal adversário da motivação.

Do Reconhecimento

Para falarmos sobre o reconhecimento devemos continuar estudando a motivação, ou melhor, seu inverso, a desmotivação.

Entenda por desmotivação a perda de um potencial para realizar algo, por acreditar ser indiferente fazer ou não fazer algo. A pessoa ao se encontrar nesse estágio necessita de uma injeção motivadora, principalmente se essa pessoa sempre foi proativa, colaboradora, cumpridora de seus deveres, necessita de urgente reconhecimento pelos bons serviços prestados.

Afinal, é de extrema satisfação receber reconhecimento, seja ele qual for, pois a distinção, ainda que singela, materializa a gratidão do grupo social a qual se insere o homenageado em relação àqueles que o aplaudem.

Organizações que valorizam seu material humano usam de maneira habitual atos de reconhecimento público. Nesta seara as instituições militares se sobressaem, basta observarmos as diversas solenidades de outorga de condecorações.

Mas atento que, a falta de reconhecimento é um mal, porém seu excesso poderá também agir de modo a corromper aquele que recebe as salvas.

CONCLUSÃO

O Universo Maçônico é recheado de meandros, seja pela vasta simbologia, seja pela variedade de Ritos existentes. No entanto, o objetivo da Maçonaria Universal é uno trabalhar o homem, torná-lo útil à sociedade a qual se insere, sem necessariamente aparecer, sendo seu maior reconhecimento a certeza de que durante a sua existência buscou fazer feliz a humanidade. Um ideal aparentemente utópico, mas para o homem maçom é um objetivo, pois o homem maçom deve amar o desafio.

Atinente ao lapidar da pedra bruta, os mestres devem reconhecer de modo a incentivar, não deve o mestre se melindrar em dar bons conceitos, mas quando fizer, questionar aos aprendizes, ou companheiros, se estes são capazes de serem ainda melhores.

Não permitindo que caiam na zona de conforto, ao contrário devem sempre instigar os obreiros mais novos, principalmente os neófitos, para que esses façam o melhor a cada vez que forem submetidos a uma prova.

Estudo, dedicação, motivação e reconhecimento, máximas guiadoras da vida em Loja, mantenedoras da chama da Pura Maçonaria, assim responderemos para os que não sabem o que fazemos, o real motivo deles não terem vontade de estar em Loja, ou seja, o motivo de não terem compreendido a essência maçônica. Apenas adentraram na Maçonaria, sem permitir que a Maçonaria entrasse no coração e na mente de cada um.

TEXTO :EUCLIDES CACHIOLI DE LIMA MI - ARLS Cavaleiros do Hermon 335 Del.'.7º Dist.'.– 7ª Região GLESP
Fonte: Grupo Memórias e Reflexões Maçônicas
Adm. Ir.´. Rogério Romani
P/GOU/Rimmôn


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