A INTERPRETAÇÃO E O ENTENDIMENTO DOS SÍMBOLOS



A Ordem Maçônica baseia os seus muitos princípios e os seus diversos ensinamentos em símbolos e rituais. Podemos afirmar que uma das principais características da Maçonaria, seja, justamente, aquela de procurar velar e proteger os seus muitos segredos dos olhos daqueles que, ainda, sejam considerados profanos.

A maneira encontrada pela Ordem Maçônica para ministrar os seus muitos segredos e ensinamentos aos seus Iniciados é procurar, sempre, fazê-lo utilizando-se de símbolos e metáforas (CAMPANHA, 2003, p.38).

Esta Simbologia Maçônica, sua interpretação e o seu entendimento são as ferramentas utilizadas pelos maçons para o seu constante escavar de masmorras ao vício e no seu permanente edificar e levantar de templos às virtudes: “Para tornar sua doutrina mais facilmente assimilável, como também, para inspirar conceitos mais amplos, a Maçonaria transmite seus ensinamentos por meio de símbolos.

Cada maçom vê nestes símbolos conforme o seu grau de evolução, sem, contudo, afastar-se dos fundamentos da doutrina (“...)” (GRANDE LOJA DO PARANÁ, 2000, p.3). Em seu “Dicionário de Maçonaria”, uma obra que consideramos fundamental, Joaquim Gervásio de Figueiredo, coloca-nos uma interessante definição da Ordem Maçônica, em que procura destacar a importância da utilização de símbolos para a difusão dos princípios maçônicos: “A Maçonaria é um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo visível, consistente em seu cerimonial, doutrinas e símbolos, e acessível, somente, ao maçom que haja aprendido a usar sua imaginação espiritual e seja capaz de apreciar a realidade velada pelo símbolo externo (...)” (FIGUEIREDO, 1998, p.231).

Na Maçonaria a maior parte dos símbolos e metáforas, que são utilizados, provém da antiga atividade profissional e corporativa dos pedreiros medievais. Construtores que eram, principalmente, de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e fortalezas, os pedreiros medievais organizam uma Corporação, constituíam a Maçonaria Operativa que evoluiu para as Organizações Maçônicas Simbólicas e Especulativas contemporâneas.

A linguagem simbólica ou metafórica é característica das sociedades iniciáticas, pois exigisse do interprete dos símbolos, na maioria das vezes, um conhecimento que, somente, será possível existir, se este já for um iniciado naqueles mistérios, cujos símbolos se pretendem analisar.

Este contato possibilita uma maior familiaridade e um convívio mais profundo e significativo. E este é, ao nosso ver o caso da Maçonaria. “Herdeira espiritual das Sociedades iniciáticas da Antiguidade, a Maçonaria perpetua o tradicional método iniciático na ensinança de suas doutrinas.

Por este sistema que se funda no simbolismo, isto é, na interpretação intuitiva dos símbolos, o ensino maçônico torna-se muito pessoal e praticamente auto didático. É, com efeito, como tão bem explicou o eminente escritor maçom J. Cornelup: “O próprio de um símbolo é de poder ser entendido de várias maneiras, segundo o ângulo sob o qual ele é considerado, de modo que `um símbolo admitindo, apenas, uma única interpretação não será verdadeiro símbolo (...)”.(ASLAN, 2000, p.5).

Os símbolos aliados às metáforas e a prática da analogia, sempre, foram utilizados na transmissão de informações e mensagens, principalmente aquelas que são consideradas religiosas ou até mesmo esotéricas.

 Assim foi com o cristianismo ao longo de sua evolução, e, também, com a imensa maioria das religiões que existem na atualidade ou que já existiram. Uma cerimônia religiosa ou ritual é um exemplo prático da riqueza representada pelos símbolos, bem como da sua utilização, assunto a que fazemos referência neste trabalho. 

“(...) A cerimônia religiosa desempenha um papel importante em todas as religiões (...) invoca-se ou louva-se um deus ou vários deuses, ou, ainda, manifesta-se gratidão a ele ou a eles. Tais cerimônias religiosas, ou ritos, tendem a seguir um padrão bem distinto, ou ritual (...).” (HELLERN, op. cit., p. 25). 

Sobre a interpretação e o correto entendimento dos símbolos, bem como dos próprios ritos ou rituais, quer sejam eles religiosos ou mesmo filosóficos, Fernando Pessoa teceu algumas poucas, mas mesmo assim muito importantes considerações.

Cabe, no entanto, ressaltar, antes de qualquer outra consideração, que Fernando Pessoa é um dos mais importantes escritores da língua portuguesa de todo o século XX. Segundo ele próprio, que por diversas vezes claramente destacou, nunca pertenceu a Maçonaria, apesar de nutrir por esta instituição um profundo respeito, consideração e apreço.

Em um artigo jornalístico, intitulado “Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa a Um Projeto de Lei Apresentado ao Parlamento”, e publicado no Diário de Lisboa no início do ano de 1935, Fernando Pessoa faz uma defesa e uma apologia muito bem fundamentada da Maçonaria e dos direitos do homem.

Porém ele procura enfatizar de maneira bastante clara a sua condição de não maçom, destacando as dificuldades advindas de tal condição. Ele destaca as barreiras e limitações naturais que são encontradas por aqueles que não pertencem à Ordem Maçônica, para pesquisar sobre os seus conteúdos e os seus muitos mistérios: “(...) 

Não sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. 

Não sou, porém, anti-maçom, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da Ordem Maçônica (...) assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora (...)” (PESSOA, 1935, passim).

Roberto Bondarik

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