“Disse Deus: Faça-se a
Luz, e a Luz se fez”
Ao abordar, ainda que
timidamente, o tema do poder da palavra, deparo-me com a história da Criação,
com os muitos mistérios contidos nos símbolos, passo pela abordagem ocultista
dos campos de vibração e simultaneamente com a eficácia dos rituais, meto-me na
tradição do longínquo Oriente e suas formas manifestas através dos mantras,
vindo pouco a pouco a entender um pouco mais das palavras sagradas na Maçonaria
Cósmica.
Talvez seja
impossível, para nós Ocidentais, iniciar um pequeno estudo que seja sobre o
poder da palavra sem nos remetermos imediatamente ao “Fiat Lux” contido no Gênesis.
E começo pelo Fiat Lux, porém não posso parar por aí. Para aqueles, fiéis ou
estudiosos do Antigo Testamento, o Gêneses, do início ao fim, trata de um
diálogo, conversa, entre o Deus Manifesto (GADU) e os seus agentes.
A Obra da Criação, de
forma alguma é realizada no silêncio absoluto, senão que este silêncio
primordial, é o pano de fundo que possibilita ouvir a Voz do Criador, do Geômetra.
Note que, a única Voz é a de Deus sendo que Ele manifesta a criação através de
algo (Elohim) além dele próprio, senão que sentido haveria em dizer: Faça-se a
Luz, Ele simplesmente pensaria a criação e ela estaria criada. E não haveria
ruído algum…
Posso tentar entender
isto da seguinte forma:
O pensamento (vibração
potencial) necessita ser Verbalizado (vibração dinâmica) caso contrário não
existe a Manifestação.
A verbalização, para
que possa ser entendida, necessita de quem A Escute. A Primeira atitude do
Criado, portanto, é Escutar.
No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Nesta passagem retrata-se
a possibilidade, o potencial, porém, efetivamente nada tinha sido realizado. O
Verbo só pode manifestar-se no momento da Diferenciação Divina, onde o Um
torna-se Dois e neste instante materializa-se. Concluo que, a verbalização é o
ato de Criar e nele, neste processo, existe um Emissor e um Receptor. Sem os
Dois, o Um não Verbaliza e, portanto nada Cria.
Seguindo pelos campos
da Vibração, rememoro o poder contido nos símbolos sagrados.
Os antigos, sabedores
que eram do imenso poder contido na Palavra e, a fim de, por um lado, levar aos
profanos a Sabedoria Divina e, por outro, velar as palavras para que não
pudessem ser utilizadas de maneira leviana, criaram os símbolos.
Em linhas gerais, os
símbolos são representações (vibração) de grandes verdades e possuem um poder
oculto (vibração) que é manifestado pelo Iniciado através do uso de palavras
adequadas. Todo e qualquer Rito, utiliza-se dos símbolos, formas brandas do
verdadeiro conhecimento e mais, se mantiveram mais ou menos intactos o porquê
deste uso dos símbolos, utilizam-se das palavras e tons adequados gerando
grande energia e Poder.
Muito comum, por
exemplo, o uso do tom “Fá” nas Orações e Preces.
Os rituais, símbolos e
signos que são do Poder do Mais Alto, têm a sua eficácia garantida quando,
através de postura adequada, palavras certas e tom apropriado revivem à luz do
dia. Aliás, talvez existam poucos exemplos mais belos e antigos do que os
mantras do hinduísmo ou bramanismo. Estes se constituem em verdadeira chave de
poder, induzindo à um estado de consciência em particular e desenvolvendo
características no estudante ou devoto.
Os Mantras, fórmulas
repetitivas, justamente unem em si 3 elementos formidáveis: a vibração, a
repetição da vibração e a atitude mental. Com eles, pode o ser humano
retrabalhar inclusive traços do que considera “o seu jeito de ser” e que na
verdade se trata apenas da sua personalidade corrente.
Atualmente, os mantras
são utilizados largamente em muitas escolas e/ou religiões, com outras palavras
diferentes. Não obstante, o uso de palavras antigas terem uma eficácia
fantástica, podemos utilizar, por exemplo, uma curta oração que atinja o nosso
coração e enleve a nossa alma e repeti-la, bem baixinho, na nota “Fá” durante
algum tempo. O efeito ao longo do tempo será sem dúvida maravilhoso.
A Maçonaria, talvez
mais do que qualquer outra Ordem, possui na sua essência e formação a Palavra e
a Divina Vibração oriunda dela.
Na História que conta
a morte do Mestre Hiram, os assassinos, os profanadores, tentaram tomar-lhe, à
todo custo, a Palavra. Mestre Hiram morreu ao que parece sem revelá-la. Notemos
aqui o Poder de quem detém a Palavra e, a angústia daqueles que fracos de caráter,
nunca poderão obtê-la. E não podendo obtê-la (pois na verdade não sabem onde
procurá-la) desejam matar quem a detém. Morre porem o detentor da Palavra, mas
nunca a Palavra!
Nesta história, o
Mestre de Todos os Maçons, cioso do poder da Palavra, deu-a como Perdida e
recria o Mito de posse de outras palavras, mais humanas, mais comuns. Lembremos
que, a nossa mística missão é recuperar a Palavra Perdida e dá-la, neste novo
ciclo que ora inicia-se à verdadeira Humanidade.
Outro exemplo da cerimônia
que encerra a Palavra na real Ordem é o Ritual de Instalação da Loja que
antecede todas as nossas sessões. Do Venerável, guardião do Delta Luminoso,
emana a Palavra que, de Irmão em Irmão, por ele designado, chega até o Segundo
Vigilante que retorna aclamando: “Tudo esta Justo e Perfeito”. Só após isto é
que o Venerável invoca o Grande Arquiteto do Universo, pois a Palavra criou “o
pano de fundo” apropriado à um trabalho de Ordem Superior.
O uso dos malhetes e a
sua peculiar vibração também é exemplo de Palavra e Poder. Desta feita, a
palavra não é dita com os lábios, mas sim, vibradas nos ritmos apropriados do
“bater dos martelos”.
A Palavra de Passe do
Grau 2, por outro lado, cumpre 2 funções, sendo a primeira e mais importante, a
de criar, sonoramente, certa predisposição mental no Irmão que a profere e, em
segundo lugar pela sua peculiar forma de ser pronunciada remete-nos ao Livro
dos Juízes, no Velho Testamento, na Batalha entre os Efraimitas e os
Galeaditas.
Inúmeros são os
exemplos que aqui poderíamos colocar, porém exigem outro espaço noutro momento.
O importante e
fundamental é termos claro que a vibração tornada palavra torna o Mundo que
conhecemos tal qual ele é. Vejam só a nossa imensa responsabilidade. Sem
dúvida, por isto mesmo, é que a primeira Lei Oculta seja: Calar e Escutar.
Marcelo Marsiglia
Sidoti