NÃO TEM QUE SER ASSIM!


Tente isto e veja como se encaixa. Os Maçons pertencem a uma organização que deve ser dedicada ao autoconhecimento, à natureza do ser, amor, tolerância, à fraternidade entre os homens, liberdade de consciência e, sim, talvez uma conexão com a Divindade no meio.

Mas nós ficamos atolados em sistemas que parecem uma hierarquia, obsessão com promoção a graus superiores, discussões sobre precedência, noções confusas sobre Deus, os méritos relativos deste ou daquele local para o jantar e um papaguear sem sentido sobre o que é, em si mesmo, um ritual significativo.

Talvez, o pior de tudo é nós nos acharmos uma organização caritativa, quando o que nós somos é, primariamente, uma organização com todos os atributos que eu mencionei, em adição, alguns filantrópicos.

Na noite em que eu fui iniciado, um dos Mestres Instalados apertou-­me a mão dizendo: “Bem, rapaz, de agora em diante você não necessita de outros passatempos!” Eu, no mesmo momento, senti isso ofensivo, percebendo (corretamente) que a Maçonaria é uma profissão ou uma vocação, não um passatempo. Minha impressão, formada tão precocemente, foi, logo em seguida, reforçada por visitas às lojas na Alemanha, onde eles levam essas coisas muito mais a sério do que nós, na Inglaterra.

Onde está a espiritualidade, a tentativa de auto melhoramento, as incursões no simbolismo, as incursões, por assim dizer, no inexplicado, tanto externa como internamente? Se nós examinarmos onde a Maçonaria está, na Inglaterra, neste momento, para dizer o mínimo, nós estamos engajados em iniciar cada vez mais homens na confraria e conferir-­lhes o segundo e o terceiro graus, de modo que eles possam, por sua vez, ser designados como oficiais, numa loja, no devido tempo tornando-­se Veneráveis Mestres. Com que finalidade? A finalidade, infelizmente, é tal que eles possam iniciar mais homens, de modo que esses homens possam fazer o mesmo a outros homens, busque ad infinitum.

Parece que nós fazemos isso com a justificativa de “um avanço diário no conhecimento maçônico”. Seria muito perguntar que avanço? O que aconteceu com eles? Como a Maçonaria moldou suas vidas, afinal? Cresceram eles e, se afirmativo, de que maneira? O que aprenderam eles?

Estas não são perguntas teóricas, porque, para alguns desses irmãos, algo aconteceu; a Maçonaria modificou suas vidas, mesmo que em uma maneira limitada; eles podem, realmente, terem crescido sem o perceber; eles, quase certamente, aprenderam alguma coisa, nem que seja algum ritual obrigatório. Mas, para muitos de nós, eu desconfio que a concessão de graus muito cedo se tornou um fim em si mesmo.

É fácil esquecer que a Maçonaria no séc. XVIII era um movimento radical, frequentemente posicionando-­se contra os abusos do poder de parte do Establishment. O seu desenvolvimento e crescimento foram uma parte vital da Era do Iluminismo. Ela foi, para muitos, uma rota para o conhecimento que lhes era negado por um sistema religioso ou político opressivo.

Assim, depois de uma recente palestra sobre educação na Maçonaria, quando eu perguntei ao palestrante se seria possível incluir palestras sobre assuntos históricos ou filosóficos como uma característica normal dos trabalhos de loja (tal como são costumeiros em muitas lojas continentais [1]), a resposta foi que “isto não serviria para a maioria – afinal, as pessoas usufruem a sua Maçonaria em muitos níveis diferentes”, uma regra de maçom de garfo-­e­-faca, se é que exista uma.

A boa notícia é que isso não tem que ser assim. Como Collin Dyer indicou o modo apropriado de instruir nossos jovens maçons não é pela repetição das cerimônias de grau, mas pelos vários sistemas de palestras maçônicas. No final do séc. XVIII e início do séc. XIX, as lojas de instrução não ensinavam cerimônias de graus, pois estavam muito mais engajadas em debates morais e filosóficos.

Os Maçons eram frequentemente, feitos fora da loja, juntos e, então, trazidos para a loja onde o seu real trabalho começava, na busca moral, intelectual e espiritual. Cerimônias de grau, em contraste, são os únicos meios (apesar de enfeitados) de fazer maçons e adiantá-­los aos outros graus assim que tenham aprendido alguma coisa. Graus de quê? Para atingir um grau mais elevado, certamente você tem, antes, que estudar aprender, ganhar proficiência.

Este é o princípio de uma progressão acadêmica e o método progressivo empregado por qualquer instituto merecedor do nome; por que as exigências da Maçonaria deveriam ser menores? As questões perfunctórias que nós exigimos, hoje em dia, dos nossos candidatos para avanço são meramente os restos de um intricado sistema de palestras morais que, no séc. XVIII tinham que ser ministradas verbalmente (uma vez que nada era escrito) e aprendido de cor antes que um candidato pudesse avançar para um grau superior.

Hoje em dia, até mesmo um mínimo que tenha sobrado disso não se constitui num teste real, de modo algum, uma vez que qualquer quantidade de ajuda pelo Diácono, por seu lado, é permitida [2]. Comparo isso com as lojas alemãs que eu visitei, onde, em cada reunião, o Mestre encarregava um de seus irmãos mais novos de preparar e de realizar, na sessão seguinte, uma palestra sobre um assunto filosófico à sua escolha e ficar preparado para responder questões sobre ele. Ou a loja francesa que eu visitei, onde um candidato à iniciação não foi aceito depois de meses de pesquisas sobre as suas atitudes morais e filosóficas.

Quando eu escrevi este texto pela primeira vez, eu tinha em mente as experiências de um ou dois de nossos irmãos mais novos, cujos segundo e terceiro graus vieram bem depois de suas iniciações. Eles se mostraram surpresos de que não se esperava deles um avanço mais significativo no conhecimento maçônico e pareciam aborrecidos pela falta de atividade; em resumo: eles se sentiram abandonados. Eu tenho a nítida impressão que eles tinham o direito de se sentirem assim.

Então, e daí? Qual é o nosso avanço diário no conhecimento maçônico e como nós tratamos desse negócio de autoconhecimento, crescimento interno? Ou são todas elas, apenas palavras vazias?

Autor: Julian Rees

Notas
[1] – Lojas continentais – referência às lojas europeias fora da Inglaterra, situadas no continente, vai dizer, outros países fora da ilha britânica. (N. T.)
[2] – Referência ao fato de que o 1.º Diácono, muitas vezes, “assopra” partes do texto aos irmãos que estão sendo submetidos a questionário ou telhamento. (N. T.)



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