Todo o ser humano, mais tarde ou mais cedo, mais ou menos
frequentemente, se interroga sobre o sentido da vida. As religiões resultam, em
última análise, dessa primordial interrogação, procurando cada uma delas dar
resposta à mesma.
Confrontado com a crença religiosa que a sua cultura lhe
disponibiliza, o indivíduo tem, basicamente, uma de três reações. Ou aceita
essa doutrina, ou a rejeita ou aceita elementos, ainda que modificando-os,
dessa tradição, mas busca ir mais além e mais fundo.
Se o indivíduo aceita a doutrina da crença religiosa que a sua
cultura lhe disponibiliza, o seu problema está resolvido: o sentido da sua vida
contém-se nos princípios dessa doutrina, cumpre, ou procura cumprir, os
preceitos dessa religião e busca a Salvação ou a Evolução que a doutrina da sua
religião preconiza. Sabe qual é o seu lugar e a sua função no mundo e na vida.
Não precisa de se questionar mais.
Se o indivíduo rejeita a crença religiosa que a sua cultura lhe
disponibiliza, das duas, uma: ou fá-lo porque se identifica com outra doutrina
religiosa, a que se converte, ou, pura e simplesmente não crê. Na primeira
hipótese, o seu problema de responder à interrogação primordial sobre o sentido
da vida fica resolvido, em termos semelhantes à situação anterior.
Se a rejeição da crença religiosa ocorre porque, pura e
simplesmente, não crê, o seu problema fica também resolvido, mas com outra
resposta: não existe qualquer sentido na vida, a vida, como o Universo, resulta
de uma combinação de fatores físicos e químicos, tudo se resume ao mundo
material, onde se nasce, vive-se o melhor que se pode e um belo dia morre-se e
nada de nada resta, para além do que se enterra ou é cremado, para dar lugar a
outros que, sucessivamente, nascerão, viverão e morrerão, sem que deles nada
reste também, para além do que se enterra ou é cremado, até que um dia uma
qualquer combinação de fatores físicos e químicos a tudo ponha fim – do começo
ao final nada faz sentido, tudo sucede, sucedeu e sucederá por acaso, por mecânica
combinação de uma miríade de fatores físicos e químicos.
Se o indivíduo, confrontado com a crença religiosa da sua cultura,
aceita, ainda que modificando-os, elementos dessa tradição, mas busca ir mais
além e mais fundo, esse é o que mais longa e persistentemente se debate com a
interrogação sobre o sentido da vida.
A resposta institucional não o satisfaz, a opção no ateísmo
materialista também não. Esse rejeita que tudo sucedeu por acaso, por mera
consequência de fatores físicos e químicos e que a vida não tenha sentido.
Esse considera que existe, sim, um sentido na vida, ainda que ele o
desconheça, mas entende que existe um Propósito, um Objetivo, na existência do
Universo e, principalmente, da Vida. O que materialmente vê e sente é apenas
uma parte do quadro da Vida. Acredita que outros planos de existência ocorrem,
que a passagem por este plano material tem um propósito, simplesmente não se
satisfaz plenamente com as respostas dadas pela religião da sua cultura – nem
com as respostas dadas pelas demais religiões.
Esse, ou se conforma com o desconhecimento e vive segundo os
preceitos da sociedade em que se insere, ainda que porventura os não aceitando
plenamente, ou busca, por si, com a sua Razão, resposta ou caminhos para
resposta suscetível de o satisfazer. É crente, mas não se identifica com
nenhuma religião em concreto. É crente porque a sua Razão o conduz a que o
seja, mas, por isso mesmo, procura as respostas por si mesmo. É o que se
denomina de deísta.
Há ainda os que – talvez a maioria – vão evoluindo ao longo da sua
vida, em resultado do seu crescimento, das suas experiências, dos seus
encontros e desencontros com pessoas, ideias e ideais. O mesmo indivíduo pode,
ao longo da sua vida, passar por mais do que um – no limite, até por todos –
dos estádios acima referidos.
Cada um é como cada qual. A pergunta – qual o sentido da vida? – é
a mesma, impõe-se a todos, mas cada um dá-lhe a resposta que entende ou que
pode dar e, se muda os termos dessa resposta, uma ou várias vezes, é porque a
sua natureza o impele a assim fazer.
Muitos, a maioria, interrogam-se sobre o sentido da vida na solidão
do diálogo consigo próprio ou podem apenas obter as respostas
institucionalizadas da sua tradição religiosa. Outros confrontam a sua
interrogação com as similares interrogações de outrem, e daí resultam
apostasias, conversões, mas também lutas, por vezes ferozes, ou indiferenças
perante as diferenças.
Há uns quantos, porém, que têm a possibilidade de colocar essa
interrogação em conjunto com outros, sem confrontos, com aceitação das
respostas de cada um, com partilha de pontos de vista e de experiências, pondo
todos em comum o que cada um tem, de forma a que cada um retire do todo posto
em comum o que necessite para ir mais além e mais fundo, na sua busca pessoal de
resposta à interrogação primordial que o venha a satisfazer.
Esses são os maçons!
Rui Bandeira
Publicado no Blog “A partir pedra”