Eu acredito que existam muitos maçons que são desconhecedores
dos princípios da maçonaria, assim como há homens de todas as classes que estão
sujeitos a ignorância na sua própria profissão.
Não existe um relojoeiro que não saiba sobre os elementos de
relojoaria, nem um ferreiro que não esteja totalmente familiarizado com as
propriedades do ferro em brasa.
Subindo para os mais altos caminhos da ciência, eu ficaria muito
surpreendido se encontrasse um advogado que fosse ignorante nos elementos da
jurisprudência, ou um médico que nunca tenha lido um tratado sobre uma
patologia, ou um clérigo que não saiba absolutamente nada de teologia.
Entretanto, nada é tão comum como encontrarmos maçons que estão
na mais completa escuridão a respeito de tudo o que se refere à Maçonaria.
Eles são ignorantes acerca da sua história, não sabem se algo é
de origem recente ou se vem de eras remotas, da sua origem. Eles não
compreendem o significado esotérico dos seus símbolos ou cerimônias e
dificilmente entendem os modos de reconhecimento.
No entanto é muito comum encontrar esses “sociais” na posse de
graus elevados e, por vezes, sendo homenageados por altos membros da Ordem,
estando presentes nas reuniões de lojas e capítulos, intrometendo-se nos
procedimentos, tomando parte ativa em todas as discussões e persistindo na
manutenção de opiniões heterodoxas em oposição ao julgamento de irmãos com
muito maior conhecimento.
Por que razão acontece tais coisas? Por que motivo deva existir
na maçonaria tanta ignorância e tanta presunção? Se eu pedir a um sapateiro
para me fazer um par de botas, ele diz-me que só corrige e remenda, e que não
aprendeu os ramos mais altos do seu ofício, e então honestamente nega o
trabalho oferecido.
Se eu pedir um relojoeiro para construir um motor para o meu cronometro,
ele responde que não pode fazê-lo porque nunca aprendeu a fazer motores e que
isso pertence a um nível mais elevado do ofício, mas que se eu trouxer uma mola
pronta, ele pode inseri-la no meu relógio, porque sabe como o fazer.
Se eu for a um artista para me pintar um quadro histórico, ele
irá dizer-me que está para além da sua capacidade, já que nunca estudou ou
praticou este tipo de detalhes, limitando-se à pintura de retratos. Se ele
fosse desonesto ou presunçoso, iria aceitar a minha encomenda, mas em vez de
uma imagem, dar-me-ia uma pintura tosca.
É exclusivo do maçom esta falta de modéstia. Ele está muito apto
a pensar que o compromisso não só faz dele um maçom, mas também um maçom sábio,
ao mesmo tempo. Ele também imagina muitas vezes que as cerimônias místicas que
ocorrem na ordem são todo o que é necessário para torná-lo conhecedor dos seus
princípios.
Há algumas seitas cristãs que acreditam que a água do batismo
lava de uma só vez todos os pecados, do passado e do futuro. Portanto, há
alguns maçons que pensam que o simples ato de iniciação é de uma só vez seguido
por um fluxo de todo o conhecimento maçônico; não precisam de mais estudo ou
pesquisa. Tudo o que eles possam querer conhecer, é recebido por um tipo de
processo intuitivo e pouco trabalhoso.
A grande sociedade dos maçons pode ser dividida em três classes:
A primeira é composta por aqueles que não aderiram com um
desejo de conhecimento, mas por algum outro motivo acidental, nem sempre
honrado.
Tais homens são levados a procurar a admissão ou porque
provavelmente, em sua opinião, isso irá facilitar os seus negócios, ou fazer
avançar as suas perspectivas políticas, ou de qualquer outra forma,
beneficiá-los pessoalmente.
No início de uma guerra, centenas migram para as lojas na esperança
de obter o “sinal místico”, que irá ajudá-los na hora do perigo. Tendo o seu objetivo
sido alcançado ou não, estes homens tornam-se indiferentes e, com o tempo,
enquadram-se na categoria de irregulares.
Não há esperança para esses maçons; são árvores mortas com
nenhuma promessa de frutos. Deixe que eles passem como totalmente inútil e
incapaz de melhoria.
Há uma segunda classe que consiste de homens que são a
moral maçônica e totalmente opostos dos da primeira classe. Estes fazem o seu
pedido de admissão, acompanhado, como o ritual requer, “de um parecer favorável
da Instituição e um desejo de conhecimento”. Assim que são iniciados, veem nas cerimônias
pelo qual passam um significado filosófico digno de trabalho de pesquisa.
Elas dedicam-se a essa pesquisa. Obtêm livros maçônicos, leem
jornais maçônicos e conversam com irmãos bem informados. Procuram
familiarizar-se com a história da maçonaria; investigam a sua origem e o seu
formato atual, exploram o sentido oculto dos seus símbolos e absorvem a respectiva
interpretação. Tais maçons são sempre membros úteis e honrados da Ordem e
frequentemente tornam-se as suas luzes mais brilhantes.
A sua lâmpada queima para a iluminação dos outros e para eles,
estão em dívida com a Instituição por qualquer que seja a posição elevada que
tenham alcançado. Não é para eles que este artigo é escrito.
Mas entre estas duas classes que acabamos de descrever existe um
nível intermediário, não tão mau como o primeiro, mas muito abaixo do segundo,
que infelizmente, está incluído no conjunto da Fraternidade.
Esta terceira classe consiste de maçons que se
juntaram à maçonaria sem objetivos e talvez com a melhor das intenções. Mas
eles não conseguiram realizar essas intenções. Eles cometeram um erro grave: supõe
que a iniciação é tudo o que é necessário para torná-los maçons e que estudo
adicional é totalmente desnecessário; assim sendo, nunca leem um livro maçônico.
Fale-lhes sobre as publicações dos autores maçônicos mais
famosos e a sua resposta será que “não têm tempo para ler”. Mostre-lhes uma
revista maçônica de reputação reconhecida e peça-lhe para a subscreverem.
Responderão que não podem pagar que os tempos são difíceis e o dinheiro
escasso.
E, no entanto, o que não falta é ambição maçônica a muitos
destes homens. Mas a sua ambição não é na direção certa. Eles não têm sede de
conhecimento, mas sim uma grande sede de cargos e graus. Eles não podem gastar
dinheiro ou tempo para a compra ou leitura de livros maçônicos, mas têm o
suficiente de ambos para gastar na aquisição de graus maçônicos.
É surpreendente como alguns maçons que não entendem as mais
simples noções da arte, e que falharam na compreensão do alcance e significado
da Maçonaria simbólica, se agarram às honras vazias dos altos graus.
O Mestre Maçom que sabe muito pouco do grau de aprendiz maçom,
deseja ser um Cavaleiro Templário. Ele não sabe nada e não pretende saber
qualquer coisa sobre a história dos templários ou como e por que estes cruzados
foram incorporados na irmandade maçônica.
A sua ambição é usar a cruz templária sobre o peito. Se entrou
no Rito Escocês, a Loja de Perfeição não lhe vai dar conteúdo, embora este grau
forneça material para meses de estudo. Ele sobe com prazer, cada vez mais alto
na escala de classificação e por esforços perseverantes, pode chegar a alcançar
o topo do rito e ser investido com o grau 33, mas pouco absorveu de qualquer
conhecimento da organização do Rito ou das lições sublimes que ele ensina. Ele
atingiu o máximo da sua ambição e está autorizado a usar a águia de duas cabeças.
Tais maçons não se distinguem pela quantidade de conhecimento
que possuem, mas pelo número das joias que usam. Eles dão cinquenta dólares por
uma condecoração, mas não dão cinquenta centavos para um livro.
Estes homens causam prejuízo à Maçonaria. Eles podem ser
chamados de meros “zumbidos”, mas na prática, são mais do que isso. Eles são as
vespas, o inimigo mortal de abelhas laboriosas. Eles dão um mau exemplo para os
maçons mais jovens, desencorajam o crescimento da literatura maçônica, afastam
homens intelectuais que estariam dispostos a disseminar a ciência maçônica,
para outros campos, deprimem as energias dos nossos escritores, e rebaixam o caráter
da Maçonaria especulativa como um ramo da filosofia mental e moral.
Quando profanos veem homens que possuem altos graus e cargos na
Ordem, que são quase tão ignorantes como eles mesmos sobre os princípios da
Maçonaria e que, se solicitado, diriam que eles a encaram apenas como uma
instituição social, esses profanos naturalmente concluem que há não qualquer
coisa de grande valor num sistema cujas posições mais altas são ocupadas por
homens que professam não ter conhecimento do seu desenvolvimento.
Não se deve concluir que todos os maçons devam ser maçons
instruídos ou que a todo homem que é iniciado, seja obrigatório dedicar-se ao
estudo da ciência e literatura maçônica. Tal expectativa seria insensata e
irracional. Os homens não são igualmente competentes para captar e reter a
mesma quantidade de conhecimento. Ordem, diz o Papa, a Ordem é a primeira lei
do paraíso e alguns são, e devem ser maiores do que os restantes, mais ricos e
mais sábios.
Tudo o que eu afirmo é que, quando um candidato entra na
Maçonaria, deve sentir que há algo melhor do que meros toques e sinais, e que
deve esforçar-se com toda a sua capacidade para atingir algum conhecimento. É
este o seu melhor objetivo.
Ele não deve procurar avançar para graus mais elevados até que
saiba alguma coisa dos inferiores, nem se agarrar a cargos, a menos que já
tenha adquirido com reputação algum conhecimento maçônico, no desempenho de um
cargo inferior. Certa vez conheci um irmão cuja ganância para cargos levou-o a
ocupar os cargos de direção da sua loja, depois foi Grão-Mestre da jurisdição e
durante todo esse período nunca leu um livro maçônico nem tentou compreender o
significado de um único símbolo.
No ano em que foi
presidente da sua loja, achou sempre oportuno ter uma desculpa para a sua
ausência da loja nas sessões que eram para conferir graus. No entanto, pelas
suas influências pessoais e sociais, ele tinha conseguido se elevar na
hierarquia, acima daqueles que estavam acima dele em conhecimento maçônico.
Eles estavam realmente muito acima dele, porque todos sabiam
alguma coisa, e ele não sabia nada. Se tivesse permanecido na retaguarda, ninguém
se teria queixado. Mas, onde estava, e valendo-se da sua posição, ele não tinha
o direito de ser ignorante. A sua presunção constituía uma ofensa.
Um exemplo mais marcante é o seguinte: Alguns anos atrás,
durante a edição de uma revista maçônica, recebi uma carta de um assinante que
era o Grande Orador de certa Grande Loja, e que desejava interromper a sua
assinatura. Ao mencionar uma razão, ele referiu
“embora o trabalho contenha muita informação valiosa, não tenho
tempo para ler, pois dedicarei todo o presente ano ao ensino”
Não posso deixar de imaginar o que um professor como este homem
deve ensinar e que alunos deve instruir.
Este artigo é maior do que eu pretendia que fosse. Mas eu sinto
a importância do assunto. Existem nos Estados Unidos mais de quatrocentos mil
maçons ativos. Quantos deles são leitores ativos? Metade ou um décimo?
Se apenas um quarto dos membros que estão na Ordem lessem um
pouco e não dependessem somente das visitas às suas lojas para obter
conhecimento, teriam certamente noções mais elevadas. Através deles, simpáticos
estudiosos sentir-se-iam encorajados a discutir os seus conhecimentos e a dar
ao público os resultados dos seus pensamentos e boas revistas maçônicas
desfrutariam de uma existência próspera.
Na atualidade, pelo motivo de existirem tão poucos maçons que leem
os livros maçônicos dificilmente fazem mais do que pagar às editoras as
despesas de impressão, enquanto que os autores não recebem nada e as revistas maçônicas
estão sendo ano após ano, levadas para o Museu literário, onde os cadáveres de
publicações defuntas são depositados, e pior de tudo, a Maçonaria resiste a
golpes deprimentes.
Um Maçom que lê, mesmo que pouco, mesmo que sejam apenas as
páginas da revista mensal de que é assinante, irá obter perspectivas mais altas
da Instituição e desfrutar de novos prazeres na posse desses pontos de vista.
Os maçons que não leem, nunca vão saber nada da beleza interior
da Maçonaria especulativa, e ficarão contentes por supor que seja algo como
“Odd Fellowship”, ou a Ordem dos Cavaleiros de Phytias, mas mais antiga. Tal maçom
é um indiferente. Ele não tem paixão estabelecida.
Se essa indiferença, em vez de ser refreada, vier a ser mais
amplamente difundida, o resultado é muito evidente. A Maçonaria deixará de ter
uma posição mais elevada, como tem duramente tentado manter, através dos
esforços de seus estudiosos, e as nossas lojas, ao invés de serem fontes de
pensamento especulativo e filosófico, transformar-se-ão em clubes sociais ou
sociedades com fins lucrativos. Com tantos rivais nesses campos, a sua luta por
uma vida próspera será muito dura.
O sucesso final da Maçonaria depende da inteligência dos seus
membros.
Escrito por Albert G. Mackey
Publicado em 1875 e reimpresso no “The Master Mason” em Outubro de 1924