SIMBOLISMO DA LUZ


 

A Luz possui um significado simbólico bastante claro. Até mesmo quando dizemos que ele é “claro”, estamos usando o símbolo da luz/claridade para explicá-la. Isso por que a luz é o símbolo da divindade por excelência, e o símbolo de tudo o que é superior, claro, nítido, verdadeiro por si mesmo.

A luz ilumina e clareia, ela nos ajuda a perceber melhor as coisas como elas são. A luz é a base do ver, do reconhecer, do enxergar. A luz se relaciona com a consciência e a visão de tudo, assim como ao conhecimento e a sabedoria, mas não é apenas isso. Onde tudo está escuro, a luz se impõe e traz um caráter revelador, do oculto para o revelado.

Todo sinal de luz em nossa vida é uma bênção que vem do Alto, é centelha Divina que chega até nós como um recado, para nos dizer que não estamos sozinhos e sempre haverá luz para afagar nossa Alma, acalmar nosso coração e iluminar nossos caminhos.

Sejamos sempre a luz no caminho, deixando por onde passarmos a ternura da boa palavra e o amor em todas as ações. Não haverá luz em nossa vida se fizermos dela um caldeirão de lamentos e tristeza, por isso, devemos em todas as circunstâncias agir com muita perseverança, coragem e fé, levando a harmonia e a paz a todos os lugares por onde a nossa caminhada nos levar.

O mais importante é que a luz representa a natureza de tudo o que é elevado e divino em todas as suas manifestações, como o sol, a lua, o relâmpago, o fogo etc. O nome de alguns Deuses são derivados da raiz dei, que significa “brilhar”, como Dyaus Pitar, Zeus e Júpiter. Os anjos são representados com uma auréola brilhante no topo da cabeça. No oriente, mais precisamente na Índia, a palavra devas (os Deuses) tem o sentido de “ser brilhante”. Ainda na Índia, os redentores e reformadores da humanidade são chamados de “iluminados”.

SIMBOLISMO DA LUZ MAÇONARIA

Em Maçonaria, a palavra Luz tem o significado de Verdade, Conhecimento, Ciência, Saber, instrução e prática de todas as virtudes. Diz-se que um profano ‘recebe a Luz’, quando é Iniciado.

Luz é uma palavra importante do sistema maçônico, transmitindo um sentido bem mais longínquo e oculto do que geralmente pensa a maior parte dos leitores. É, de fato, o primeiro de todos os Símbolos apresentados ao Neófito e que continua a ser-lhe apresentado na carreira maçônica.

“A Luz é elemento dissipador das trevas. É sinônimo de Verdade, Sabedoria, Liberdade, Conhecimento, Redenção. Quando um candidato ao ingressar na Instituição maçônica passa pela Iniciação e, adentrando no Templo, ‘recebe a Luz’, significa que os mistérios ser-lhe-ão revelados.”

José Castellani – Dicionário Etimológico Maçônico:

“Substantivo feminino (do latim: lux, lucis. Figuradamente, designa ilustração, esclarecimento, o que esclarece o espírito, claridade intelectual. A Luz, não a material, mas a do intelecto e da razão é a meta máxima do Iniciado Maçom, que vindo das trevas do Ocidente, caminha em direção ao Oriente. Graças a essa busca da Verdade, do Conhecimento e da Razão é que os Maçons autodenominam-se Filhos da Luz; e talvez não tenha sido por acaso que a Maçonaria, em sua forma atual, a dos Aceitos, nasceu no ‘Século das Luzes’, o século XVIII.”

Assim, naquele momento da cerimônia, após o juramento, a retirada da venda e acendimento da luz material não é a Luz que o Iniciado, às vezes, inconscientemente, pede ainda com os olhos vendados, a Luz que ele deseja em seu íntimo é a Luz da Sabedoria, do Conhecimento, dos Segredos e Mistérios da Ordem Maçônica, que ainda lhe serão revelados no decorrer da cerimônia, com a apresentação dos instrumentos de trabalho, as outras Luzes emblemáticas, sinal, toque e palavra do grau, e por fim a investidura da insígnia distintiva de um maçom (Avental).

Portanto, “receber a Luz”, não se refere a pura e simples Luz material, mas sim da emblemática, como assim aqui referida. Pois esta é a verdadeira luz da maçonaria, e como disseram os autores compilados, esta Luz se propaga ao longo da jornada maçônica, na evolução do Irmão na Ordem.

Assim, entendo que o ponto alto da cerimônia é o recebimento do sinal, toque e palavra do grau. Neste ponto ele recebe a Luz dos conhecimentos e mistérios maçônicos, somente revelados aos Iniciados.

O Buda Amitabha é o Buda dos céus, cujo significado é “Luz Infinita

Amitābha é o principal Buda do Budismo Terra Pura, um ramo do Budismo do Leste Asiático. No Budismo Vajrayana, Amitābha é conhecido por seu atributo de longevidade, magnetizando atributos ocidentais de discernimento, percepção pura e purificação dos agregados com uma profunda consciência da vacuidade de todos os fenômenos. 

De acordo com essas escrituras, Amitābha possui mérito infinito resultante de boas ações em incontáveis ​​vidas passadas como um bodhisattva chamado Dharmākara. Amitābha significa "Luz Infinita" e Amitāyus significa "Vida Infinita", então Amitābha também é chamado de "O Buda da Luz e Vida Imensuráveis".

LUZ DE VELA

As velas são símbolos de iluminação e transformação. O fogo que nelas se acende representa o mundo espiritual e um canal de comunicação com a Fonte Divina, deuses, anjos e seres celestiais. O ato de acender velas é uma forma de enviar nossa intenção para o plano superior.

A vela acesa simboliza luz da alma e a vida espiritual. Não é à toa estarem presentes em cerimônias, rituais, práticas espirituais de ordens, seitas, igrejas de diversos segmentos religiosos e filosóficos.

Simbolicamente, acender uma vela é representar a transmutação de nossas orações ou intenções através de sua chama. Devotos, místicos, religiosos e espiritualistas, utilizam a vela como uma forma de consagração e ligação com a Luz do Amor Divino.

Conforme a igreja ou a religião, a vela acesa pode ser dedicada a um Santo, Mestre, Anjo da Guarda, Guia Espiritual ou, simplesmente, à Luz e à Força Criadora.

A LUZ DA VIDA

“A LUZ DA VIDA – Um dia quando achar que não há mais a luz do dia lembre-se que haverá o cair da noite com as estrelas a brilhar dando a todos a celestial energia de Deus a acalentar todos os corações entristecidos e assim acontecerá a renovação do espírito para continuar a prosseguir.

São muitas as vezes que a luz falta para todos que estão na escuridão dos pensamentos negativos e do pessimismo diante da vida, mas a Luz se faz presente sempre que há disposição para contemplar o quanto a vida ensina e o quanto a vida pode ser transformada, desde que as portas do coração estejam abertas para receber esta oportunidade.

Não pense que Deus se esqueceu de aquecer sua vida, só porque neste momento não pode ver a luz aquecida do sol, procure resgatar a força, a perseverança e verá que tudo se modifica no momento exato em que houver a coragem para continuar e não esmorecer. Diante de toda escuridão que se fizer presente na vida, dê uma chance para que as estrelas de Deus possam iluminar todos os caminhos e desta forma a luz voltará a aquecer e a acariciar a vida.”

SOB A LUZ DA VIDA

Nos momentos em que a vida nos chama ao aprendizado, somos colocados à prova diante da fé que construímos durante a nossa caminhada. É esta fé que ditará o quanto evoluímos e o quanto ainda temos a progredir na evolução do espírito.

A luz da vida que nos acolhe dá-nos o aquecimento do coração para que tenhamos a real noção de onde estamos e para onde devemos caminhar, as escolhas são individuais por isso a importância de darmos a oportunidade a nós para podermos mesmos com as dificuldades jamais deixar que a nossa luz se apague. Permitir o aprendizado e o conhecimento é parte fundamenta para que possamos atingir os nossos reais objetivos, tendo sempre a certeza que a luz da vida jamais é apagada porque esta luz é eterna.

A LUZ DO CONHECIMENTO

A luz é, normalmente, considerada como se aplicando à iluminação física. O que torna possível a percepção ao olho humano, bem como as outras formas de vida. Como tantas palavras de idiomas modernos, a luz tem um significado mais amplo do que o de uma energia ou força física. 

Pensamos na luz no sentido de iluminação física e também no sentido de iluminação mental. Usamos expressões coloquiais como a luz que iluminou a mente referindo-nos à percepção como se tornou mais clara em nosso pensamento.

A palavra “luz” em alguns idiomas é usada como nome próprio, usualmente para mulheres. Parece que, pelo nosso uso livre da palavra, reconhecemos depender da luz como energia e como condição abstrata, pela qual somos afetados.

No romance histórico do escritor canadense Thomas B. Constain “O Cálice de Prata”, o autor descreve um acontecimento em que três pessoas vêem o cálice, ou taça, em que se supõe haver o Mestre Jesus bebido por ocasião da última ceia.

 A visão teve lugar num recinto escuro e, dos indivíduos que a experimentaram, dois declararam que o cálice era auto iluminado, que emitia uma luz facilmente perceptível. O terceiro, não esteve sequer consciente da existência do cálice, até que se manifestou a iluminação de outra fonte.

A ideia apresentada na história era a de que os dois que puderam perceber o cálice no escuro, tinham familiaridade com os princípios do Cristianismo primitivo e foram capazes de perceber a aura que estava ligada ao cálice. Isto, naturalmente, é apenas uma história, porém ilustra a ideia de que a luz é transmitida àqueles que têm a capacidade de percebê-la. 

Do mesmo modo que um cego não pode perceber a luz que emana de uma fonte de iluminação física, também não podem aqueles que são mentalmente cegos, intolerantes ou que estão cheios de preconceitos, perceberem a luz do conhecimento.

O que dá verdade ao conhecimento e o poder do conhecimento do sábio, é aquilo que vem através do canal do Eu Interior. Pelo alvorecer da luz interior, o Homem é capaz de iluminar toda a sua existência, toda a sua vida, que deve se tornar um processo evolutivo, inspirado pela luz interior que se relaciona com a força vital e sua origem.

ELEMENTO FOGO

O elemento Fogo é encontrado na Natureza nas fogueiras, queimadas, lavas vulcânicas, explosões e no calor do Sol. Em nós, encontramos o elemento Fogo no calor do nosso corpo. Além disso, o fogo sempre causou fascinação em nós; ele tem uma energia sedutora que nos atrai.

Você encontra o elemento fogo na chama de uma vela, no fogo da lareira de uma casa, no centro da Terra, na lava do vulcão - ou seja, onde tem calor, o elemento Fogo está se manifestando.

Quando o homem da pré-história descobriu o fogo, transformou sua vida. Passou a se aquecer nas épocas frias, iluminou sua caverna para sair da imensa escuridão e conseguiu andar à noite sem dificuldade. Com o fogo, ele também conseguiu cozinhar os alimentos, deixando-os mais saborosos e fáceis de digerir.

Conseguiu forjar metais para produção de armas de caça, objetos de adornos como colares, pulseiras, anéis, brasões, além de uma série de outros objetos importantes e úteis, como panelas, portões, elmos, armaduras de guerra e até o vidro.

Fogo é calor e luz e sua importância em nossa vida é evidente.

Além do físico, o fogo é representado em nós em forma de coragem, ação, transformação, atitude, impulso, paixão, vigor e vitalidade. Um corpo físico morto não produz calor. Se sentir vivo, empolgado, excitado, eletrizado, "cheio de gás" é tudo obra do elemento Fogo. Ele é pura energia!

LUZ DO SOL

A luz natural que ilumina nosso planeta é produzida pelo astro chamado de sol, que está localizado a cerca de 150 milhões de quilômetros da Terra. A luz produzida pelo Sol viaja através do universo a uma velocidade de aproximadamente 300 000 km/s (quilômetros por segundo) chegando a Terra cerca de 8 minutos após ser liberada pelas explosões ocorridas.

Por que a luz do Sol é tão importante para a vida?A luz do Sol é muito importante para manter a vida no planeta Terra. Ela é a nossa fonte primária. Todos os seres vivos dependem da luz do Sol para sobreviver. Os vegetais, por exemplo, só conseguem realizar a Fotossíntese através do Sol (da luz). Nós humanos, os ossos precisam da vitamina D para que fiquem fortes. E essa vitamina é ativada somente se nós tivermos exposição ao sol.

O Sol simboliza a luz, o amor, a paixão, a vitalidade, o conhecimento, a juventude, o fogo, o poder, a realeza, a força, a perfeição, o nascimento, a morte, a ressurreição, a imortalidade.

MITO DA CAVERNA

A Alegoria da Caverna é uma metáfora, ou como o próprio nome diz uma alegoria. O que está escrito no texto não deve ser interpretado literalmente, pois Platão não quis apenas contar uma história sobre homens presos em uma caverna, mas quis passar uma mensagem com isso.

Inúmeros elementos metafóricos aparecem na alegoria. Os principais elementos estão dispostos abaixo:

Prisioneiros: os prisioneiros da caverna somos nós mesmos, os cidadãos comuns.

Caverna: é o nosso corpo, que segundo Platão, seria fonte de engano e dúvida, pois ele nos ilude na forma como apreendemos as aparências das coisas, nos fazendo acreditar que essas são as próprias coisas.

Sombras e ecos: as sombras que os prisioneiros vêem e os ecos que eles escutam são as opiniões e os preconceitos que trazemos do senso comum e da vida costumeira. Eles são segundo Platão, conhecimentos errados que adquirimos através dos sentidos de nosso corpo e da vida cotidiana.

Sair da caverna: a libertação do prisioneiro e a sua fuga da caverna simboliza a busca pelo conhecimento verdadeiro.

A luz do Sol: a luz solar no exterior da caverna simboliza o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia. Quando o prisioneiro sai da caverna, ele sente-se perturbado pela luz intensa, elemento natural que ele nunca havia vivenciado.

No início, há uma dificuldade de aceitação dessa luz pelas retinas, até que ele adapta-se e percebe toda a realidade exterior. Metaforicamente, isso simboliza a zona de conforto que as sombras e a caverna representam, pois o engano da vida comum pode ser confortável, enquanto a verdade pode ser ao menos, inicialmente, dolorosa e sacrificante. Sair da ignorância significa sair da zona de conforto.

 Luiz Antônio, Sandro Pinheiro e Jarice Braga

A MAÇONARIA “RESTRITIVA E SELETIVA”


 

Li recentemente o seguinte comentário: «é por certo o grande mal da Maçonaria, ser tão restritiva e seletiva na escolha dos seus “Irmãos”».

Este comentário traduz bem a ideia muito difundida de que a Maçonaria é só para alguns muito poucos, que está cheia de “personalidades” que não se misturam com o comum dos mortais, e que os critérios de admissão passam, essencialmente, pelo posicionamento econômico, social ou político do candidato. Não é verdade; a Maçonaria não é isso.

Por outro lado, não poderia dizer que a Maçonaria não seleciona os candidatos, não exerce qualquer controle sobre as admissões, nem coloca às mesmas qualquer obstáculo. Claro que exerce controle claro que seleciona claro que coloca obstáculos. Os critérios de admissão, porém, são públicos e ao alcance de todos quantos pretendam, eventualmente, juntar-se à nossa Ordem.

O principal critério advém do cumprimento dos Landmarks da Maçonaria, que ditam muitas das restrições à admissão, como sendo a exclusividade de membros masculinos, a obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto Do Universo, ou a de dever ser o candidato uma pessoa honrada e de boa reputação. Os Landmarks são como disse, públicos, apesar de não serem universais – há Obediências que aceitam uns e rejeitam outros.

Outros critérios de seleção advêm da própria natureza e propósito da Maçonaria, que se aprende na Instrução de Aprendiz:

– O que é um Maçom?

– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.

– Que significa nascer livre?

– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.

– Quais são os deveres de um Maçom?

– Evitar o vício e praticar a virtude.

– Como deve um Maçom praticar a virtude?

– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

Só alguém que se identifique com estes preceitos pode ser admitido na Maçonaria. Senão, não se iria sentir enquadrado – e não só perderia o seu tempo, como faria os demais perder o deles. Porque a adesão à Maçonaria implica um esforço e empenho não só pessoais como de toda a Loja que admite o neófito, esforço esse que se prolonga por vários anos, não é de ânimo leve que se aceita qualquer um.

Os erros de casting saem caros a todos. Por isso, a imagem que se passa para fora deve ser essa mesma: a de que ser aceito maçom não é algo que possa ou deva ser feito com leviandade.

Não creio que seja bom, contudo, cair-se no extremo oposto, propalando-se uma imagem de tamanha exigência que leve a que praticamente ninguém sinta – pelo menos até que alguém lho pergunte – que poderá, querendo, pertencer a esta grande Fraternidade. Receio que seja este o maior obstáculo a que a Maçonaria seja e se torne mais numerosa.

Deveras, quantos não sentirão que não encontram quem partilhe dos princípios por que regem a sua vida – que, por acaso, até podem ser os princípios de tolerância, diversidade, paz e fraternidade que a Maçonaria defende e acarinha? Quantos não descobriram já, até, que se identificam com os ideais da Maçonaria, mas acreditam que a Maçonaria é só para “Vips”, e que nunca lhes abriria a porta?

A esses só posso dizer que ainda hoje se aplica um princípio simples e antigo: quem quer entrar tem que começar por bater à porta. Pode ser que tenha uma surpresa e – certamente ao fim de algum tempo – em vez de um polegar para baixo, receba um caloroso abraço de boas vindas…

Paulo M.

 

COMPORTAMENTO RITUALÍSTICO EM LOJA NO ENTENDIMENTO DO APRENDIZ MAÇOM


 I. Introdução

O primeiro trabalho do Aprendiz

Antes de abordar o tema propriamente dito, cabe por primeiro acercar-se de qual é, sob o ponto de vista autêntico, a definição mais aceita pertinente à Moderna Maçonaria na sua vertente latina.

Moderna e especulativa por excelência, ela teve o seu sistema organizado a partir de 1717 com a fundação em Londres da “Premier Grand Lodge” que inaugurava assim o primeiro sistema obediencial do mundo.

No conceito latino, a Moderna Maçonaria geralmente tem sido definida por autores autênticos como:

“uma associação de homens esclarecidos e virtuosos, que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se uns aos outros na prática da virtude”.

“É um sistema iniciático de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos” (Theobaldo Varolli Filho in Ritual de Capa Vermelha – 1974).

Não obstante a definição acima, a Maçonaria é uma escola de moral e de filosofia social/espiritual revelada por alegorias e símbolos que compõe a sua liturgia. Assim o ritual é o guia e a ritualística é o meio e o procedimento com que se desenvolvem os trabalhos na Loja. É a ação, a maneira e a ordenação que disciplina o trabalho que executa uma obra perfeita e durável.

Nesse sentido e atendendo a finalidade desse arrazoado segue então o desenvolvimento dessa peça de arquitetura que objetivo abordar o comportamento ritualístico do Aprendiz Maçom praticante do Rito Escocês Antigo e Aceito no Grande Oriente do Brasil.

II. Primeiras considerações

Em se tratando de ritual e comportamento ritualístico maçônico do Primeiro Grau, cabe expressar algumas definições correlatas ao título desse trabalho.

Antes, porém, é importante destacar que Rituais escritos tais como os que hoje se conhece não existiam primitivamente na Maçonaria, já que em tempos antigos a prática ritualística era transmitida por via oral. Os registros ritualísticos escritos em forma de catecismos e reguladores, em linhas gerais somente apareceriam em época bem mais recente da Ordem – a partir do século XVIII com a profusão dos Ritos na Moderna Maçonaria.

Por assim ser, seguem então algumas definições genéricas dentro da prática maçônica inerente a alguns termos que constituem a divisa desse trabalho – Ritual Ritualística e Comportamento.

Ritual: adjetivo (do latim ritual is) menciona o que é relativo a Ritos. Em se tratando de substantivo masculino ele designa os escritos que ordenam e dão forma com palavras que devem acompanhar uma cerimônia. É o cerimonial que contem um conjunto de regras a seguir. Em Maçonaria, o cerimonial de cada Rito é seu Ritual.

Ritualística (neologismo [1] maçônico): adjetivo, menciona o que se relaciona com o Ritual. Como substantivo feminino designa a ciência da exegese das práticas contidas no Ritual. É um neologismo muito usado em Maçonaria para designar tudo aquilo que é referente ao Ritual, ao Rito ou ao Ritualista.

Comportamento: substantivo masculino. É a maneira de se comportar; procedimento, conduta. Designa o conjunto de atitudes e reações do indivíduo em face do meio social. Em Maçonaria é a conduta do obreiro atendendo as normas ritualísticas do Rito.

III. Comportamento ritualístico no R:. E:. A:. A:.

A Moderna Maçonaria é uma escola de moral e ética ordenada pelos seus Ritos e Rituais, cujos quais determinam o cerimonial que arranja os trabalhos da Loja. É nesse particular que aqui se apresenta a expressão “comportamento ritualístico”, expressão essa que é o objetivo dessas alegações.

A Ordem Maçônica com o desiderato de uniformizar as práticas das suas cerimônias litúrgicas adota rituais que determinam à ritualística (ordem das ações) do Rito instituindo regras comportamentais para os maçons na execução das sessões maçônicas.

Nesse sentido, o aprendiz de maçonaria precisa compreender que cada símbolo, cada movimento, cada detalhe litúrgico, cada composição alegórica, tem ali a sua razão de ser. Nada daquilo que compõe a ritualística fora ali colocada por acaso.

Se bem compreendida essa lição o maçom jamais será um mero elemento que só se consagra pela repetição. Aliás, o maçom que adotar o salutar comportamento de antes compreender os fatos e a razão dos elementos que compõem a liturgia maçônica, jamais será alguém comparado a um elemento sem raciocínio e sem vontade própria.

O comportamento ritualístico do maçom não se resume só em aprender e cumprir o que está determinado pela ritualística, mas também está em se compreender a razão e o porquê das práticas ritualísticas. É esse o comportamento segundo as exigências da “arte”.

Insiste-se então que a Maçonaria Simbólica, por ser uma Instituição iniciática, prima pela compreensão de cada prática ordenada segundo as regras litúrgicas (é o porquê das coisas). Portanto ideias e hábitos contrários e escusos à doutrina de um Rito devem ser severamente combatidos e erradicados.

Também faz parte do “comportamento” do maçom, não inventar práticas ao seu gosto e nem adotar costumes comuns a outros ritos (enxertos). Em resumo, sempre se comportar conforme o seu ritual e as suas regras ritualísticas.

Regras de “comportamento ritualístico” devem ser observadas por se entender que invenções e enxertos são elementos indisciplinados e nocivos à absorção do conhecimento. Tudo em ritualística iniciática deve existir conforme a estrutura doutrinária do Rito. Nele não se adotam práticas estranhas ao seu conteúdo.

Para ilustrar o parágrafo acima, seguem algumas condutas ritualísticas próprias do REAA\ e que lhe dão característica própria conforme o Ritual de Aprendiz em vigência no GOB. Observe-se que condutas e práticas ritualísticas merecem exegese, entretanto essas interpretações, por não serem oportunas, não serão aqui abordadas. Interpretação ritualística gera conduta ritualística e esse é um tema para ser abordado amiúde em outro trabalho.

Assim, seguem então algumas características que o maçom do escocesismo simbólico deve adotar como conduta. Destas, destacam-se algumas próprias de um grau, enquanto que outras abrangem todos os graus do simbolismo.

Normas de comportamento ritualístico para o R:. E:. A:. A:.:

Não proferir preces e orações no Átrio quando da preparação para se ingressar no Templo (independente do grau);

Deve sempre circular no sentido horário quando dos deslocamentos de uma para outra Coluna em Loja aberta (independente do grau);

Em Loja aberta, estando em pé e parado deve ficar à Ordem (independente do grau);

Exceto os Vigilantes, no Ocidente em Loja aberta quem usar da palavra, fala à Ordem (independente do grau);

Ninguém faz Sinal utilizando-se de um instrumento de trabalho para fazê-lo (independente do grau);

Não deve sugerir e nem proferir preces e orações durante a formação da Cadeia de União. No escocesismo a Cadeia de União só é formada para a transmissão da Palavra Semestral (independente do grau);

Como Aprendiz, deve ocupar o topo da Coluna do Norte junto às seis primeiras Colunas Zodiacais. Elas representam a caminhada iniciática do Primeiro Grau – inicia em Áries e termina em Virgem;

Se Aprendiz ou Companheiro Maçom não ingressar no Oriente. Nesse espaço só adentram Mestres Maçons;

Salvo na Marcha do Grau, o maçom em deslocamento não anda com o Sinal composto (independente do grau);

Como maçom retardatário, só ingressar no Templo com formalidade ritualística e, ao pedir ingresso nessa condição, fazê-lo sempre pela bateria de Aprendiz (independente do grau);

Somente utilizar a palavra quando inquirido ou devidamente autorizado pelo Vigilante da Coluna ou pelo Venerável Mestre (independente do grau);

Aprendizes e Companheiros somente argúem, ou se manifestam em discussões sobre assuntos que o grau lhes permita.

Essas são então algumas regras que ilustram o modo ou a maneira de se comportar ritualisticamente em Loja. Por óbvio, existem muitas outras delas, mas que pelo espaço exíguo aqui disponível não há como mencioná-las por completo. Registre-se, entretanto, que para essas regras não existe escala de importância, pois todas constituem a estrutura que dá feição ao comportamento ritualístico do maçom na Loja.

A importância da liturgia maçônica está nos rituais que ordenam a cerimônia dos ritos e destacam a essência do ensinamento maçônico. Pela prática disciplinada da ritualística é que se ordenam os trabalhos inerentes à liturgia maçônica. Esotericamente eles disciplinam o maçom, tanto como condição de convivência no seio da Loja, assim como condição de convivência perante a sociedade ao seu redor.

O comportamento ritualístico ideal é aquele resultante do trabalho moral e intelectual realizado com perseverança pelo maçon.

O comportamento ideal é aquele que, além de se conduzir conforme as regras e as exigências da Arte também as compreendem na sua essência.

Assim, sinais, toques, palavras e outros afins que constituem a liturgia de um Rito, são igualmente elementos estruturais que dão ao maçom a capacidade para ele mesmo construir o seu comportamento ritualístico – cada um colhe conforme a sua semeadura.

É oportuno ainda mencionar que no caso do GOB-PR existe um excelente instrumento para auxiliar o maçom a desenvolver o seu próprio comportamento dentro da liturgia maçônica do REAA. Trata-se da edição dos Procedimentos Ritualísticos de 2016 em três volumes e pertinentes aos Rituais do escocesismo em vigência no GOB. Esses Manuais de Procedimentos trazem toda a orientação para o bom desenvolvimento do cerimonial dos trabalhos maçônicos, destacando-se os contidos na página 133 e seguintes, item 4.3.1. do volume destinado ao Primeiro Grau onde trata das Normas Gerais de Comportamento Ritualístico.

IV. Conclusão

A disciplina é uma das vigas mestras da Instituição maçônica. Destarte outras considerações que indubitavelmente também são importantes, a Ritualística Maçônica tem sido a chave do caráter iniciático pertinente à Arte Real.

O comportamento ritualístico conexo ao Ritual edifica e conduz o maçom pelo caminho do aperfeiçoamento. Como foi dito, nada existe por acaso na ritualística maçônica. Ela tem sido ao longo dos tempos um dos artifícios que a faz diferente perante as comunidades humanas.

A mecânica litúrgica maçônica parece ter sido idealizada para despertar no maçom o verdadeiro sentimento daquele que, na medida das suas forças, deseja levar o bem aos necessitados. É pelo comportamento em Loja que o obreiro aprende com disciplina a adquirir ânimo e força para sempre se fazer presente na construção de um mundo melhor.

Assim, para que se evite o desvirtuamento dos sublimes fins da Maçonaria, sobretudo no plano social e moral, ela constrói um novo homem e exige dele um comportamento inspirado nos seus mais altos ideais.

Morretes, Abril de 2018.

Pedro Juk

Observação

Peça de Arquitetura elaborada para a apresentação dos Aprendizes e Companheiros da Loja Estrela de Morretes, 3159 – GOB/PR no XXXVI ERAC da Região Metropolitana de Curitiba. Acompanharam esta elaboração os Irmãos Aprendizes Marcy Pinto e Ivan Matsuzawa.

Apresentado no Encontro em 27/04/2018.

Notas

[1] Neologismo – substantivo masculino. Menciona o significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. No caso do termo “ritualística”, ele só se apresenta expresso na língua portuguesa no gênero masculino – “ritualístico”. Já em Maçonaria, na sua relação com o substantivo Rito ele é adotado também no gênero feminino.

Bibliografia

GOB, Ritual de Aprendiz para o REAA – Edição 2009, Brasília, 2009.

GOB-PR, Procedimentos Ritualísticos 1º Grau REAA, Curitiba, 2016.

VAROLLI F.º, Theobaldo – Ritual de Aprendiz Maçom REAA, GLESP, S. Paulo, 1974.

PARANÁ, Grande Oriente do – Ritual do Aprendiz REAA, Curitiba, 1990.

CASTELLANI, José – Dicionário Etimológico Maçônico, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1993.

JUK, Pedro, Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2007.

JUK, Pedro – Blog do Pedro Juk – Diversos, http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL


 

Meu Irmão, de onde vens?

De uma loja de S. João, Venerável Mestre.

Que se faz lá?

Exalta-se a virtude e combate-se o vício.

Que vens aqui fazer?

Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e realizar novos progressos na Maçonaria.

Devo então presumir que és maçom?

OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

Logo na cerimônia de Iniciação o novo Maçom é instruído sobre a forma de reconhecer e de ser reconhecido Maçon.

Aprende assim um determinado SINAL, um específico TOQUE, que representa o pedido da PALAVRA SAGRADA, como responder a esse pedido e que palavra é essa.

Uma razoável memória permitirá que, a partir daí, saiba como proceder para que os seus Irmãos Maçons o reconheçam como tal.

Mas esta é a mais básica das básicas noções que o novel Maçom recebe então quanto a esta matéria. Com efeito, mui fraco Maçom seria aquele que se limitasse a confiar em tais atos externos para que o reconhecessem como tal. Atrevo-me mesmo a dizer que só quem se tivesse limitado a passar pela cerimônia de iniciação, e mesmo assim de forma desatenta, poderia admiti-lo.

Na verdade, todos sabem que em Maçonaria tudo é simbolicamente transmitido, o que vale por dizer que através de um translúcido véu, para que quem o receba, entrevendo, medite e, meditando, conclua e, concluindo, aprenda.

Todos sabem que, em bom rigor, em Maçonaria nada se ensina, apenas se coloca os ensinamentos à disposição, para que quem quer saber, observe, pense e aprenda. É por isso que costumo dizer, em iconoclasta simplificação, que a Maçonaria se aprende por osmose…

Assim, aquele que quer ser reconhecido como Maçom pelos Maçons não deve limitar-se ao que explicitamente lhe foi ensinado na instrução incluída na sua iniciação.

Melhor será que não esqueça que, recém-iniciado, ainda está aprendendo a aprender e só por isso lhe deram clara e diretamente o que pomposamente quem desconhece a essência da Maçonaria considera “profundos segredos”.

Assim ficará, por breves momentos o novel Maçom convencido que ficou sabendo “excelso segredo” mas, aprendendo a aprender, em breve aprenderá que, como já há pouco exclamei, tal “excelso segredo” não passa de uma muito básica de entre as básicas noções que deverá apreender e que irá apreendendo.

Ao invés, o que deve um Maçom fazer para que seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos, foi-lhe transmitido, sim, na sua iniciação, mas como tudo o resto que merece ser retido em Maçonaria, de forma encoberta, indireta, para que, em devido tempo, medite e aprenda por si, bem melhor do que se lhe fosse diretamente ensinado, pois dessa forma mais trabalhosa e difícil de aprender sempre resulta que não apenas se sabe ou memoriza, antes se interioriza e compreende e só aquilo que é adequadamente interiorizado e compreendido é digno de ser tido como vero Conhecimento.

Então, que aprendi eu sobre a forma de ser reconhecido Maçom pelos meus Irmãos?

Aprendi que, para me ser dado acesso ao Templo onde meus Irmãos estavam reunidos, necessário foi que alguém em quem todos confiavam, o Irmão Experto, a todos garantisse que eu era “livre e de bons costumes”.

Livre sou e livres somos sem grande mérito nosso, com muito mérito daqueles que nos antecederam , pois de há muito que a escravatura foi abolida em nossas terras.

Mas “de bons costumes” tive de ser para merecer entrada no Templo e consequentemente de bons costumes tenho de continuar sendo, se nele quero permanecer.

Primeira conclusão pude então tirar: para ser reconhecido como Maçom pelos meus Irmãos necessário é que permaneça de bons costumes, isto é, íntegro, honesto e de modo geral cumpridor das minhas obrigações perante Deus, eu próprio, a minha família e a sociedade.

Mas se tal é condição necessária para ser reconhecido maçom pelos meus Irmãos, não é, porém, condição suficiente – mesmo conhecendo eu o SINAL, o TOQUE e a PALAVRA SAGRADA…

Importa assim continuar buscando este pequeno Graal, pomposa forma de referir à busca do Conhecimento que vale a pena conhecer!

E recordo então que, a dado passo, ouvi mesmo alguém dizer-me que o que estava diante de meus olhos era o símbolo da cegueira em que se acha o homem dominado pelas paixões e mergulhado na ignorância.

Meditando, pude então a segunda conclusão chegar. Para além de ser livre e de bons costumes, para ser reconhecido como maçom pelos meus Irmãos haverei que dominar minhas paixões, e não por elas ser dominado, e procurar sair da profana ignorância, isto é, utilizar os instrumentos que a Maçonaria, a Loja, o Venerável Mestre, cada um dos meus Irmãos, me vão proporcionando, para ir aprendendo, conhecendo e, sobretudo, CONHECENDO-ME, nas minhas forças, sempre poucas, e fraquezas, sempre demais.

Mais um passo avancei, mas ainda não tenho a tarefa terminada, mais caminho tenho para caminhar!

Mais adiante, ouvi ser-me dito que o homem justo era corajoso e, tendo-me sido perguntado em quem depositava minha confiança me ter sido sussurrada a resposta de que essa era depositada em Deus.

Pensando, conclui então minha terceira conclusão: para ser reconhecido maçom pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, e crente.

Mas, atenção!, Ser justo não é ser justiceiro, ser corajoso não é ser temerário, ser crente não é ser beato. É necessário, como mais adiante ouvi ser-me dito, “o justo equilíbrio de força e sensibilidade que constitui a sabedoria, isto é, a ciência da própria vida”.

Finalmente, já reconhecido como maçom, foi-me chamada a atenção para os deveres de beneficência de um maçom, mais uma vez temperados pelo justo equilíbrio, pois “a caridade deixa de ser uma virtude quando é praticada em prejuízo dos deveres mais sagrados e mais prementes: uma família a sustentar, filhos para educar, pais velhos a manter, compromissos civis a preencher”.

Meditando sobre estas noções de fraternidade e solidariedade, pude assim chegar à quarta conclusão, que tive por final: para ser reconhecido maçom pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, crente, fraternal e solidário.

E tendo chegado a esta putativamente definitiva conclusão, preparei-me, para, satisfeito, descansar. Porém, ocorreu-me então que, tendo Deus descansado apenas ao sétimo dia, grande prosápia minha seria pretender poder fazê-lo após apenas quatro conclusões!

E então pensei mais, e espero que melhor, e cheguei a mais outra conclusão (que será assim a quinta…), a de que estava cometendo o pecado do orgulho ao pensar que destas meditações alguma pólvora de particular valor descobrira, pois, afinal, mais bem escrito do que eu escrevera, mais simples do que eu arrazoara, tudo está no texto por onde começamos e por onde, completando o círculo e o ciclo da busca, é asado concluir (e esta será portanto a sexta e última conclusão, a que finalmente me habilitará a descansar, sem remorso superior ao que deriva da minha reincidente prosápia de, pela segunda vez em apenas dois parágrafos, ousar comparar-me ao Criador…).

Devo, então, presumir que é Maçom?

Os meus Irmãos reconhecem-me como tal.

O que é um Maçom?

É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.

Que significa nascer livre?

O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.

Quais são os deveres de um Maçom?

Evitar o vício e praticar a virtude.

Como deve um Maçom praticar a virtude?

Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

Como poderei reconhecer que és Maçom?

Pelos meus sinais, palavras e toques.

Como interpretas essa resposta?

Um Maçom é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta para com todos os que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

Termino com a esperança de que os meus Irmãos não necessitem de se certificar que eu conheço os sinais, palavras e toques, para que me reconheçam como Maçon. Mas, se algum desejar interrogar-me sobre eles, que a minha memória me permita sempre responder satisfatoriamente.

E, se porventura a memória me trair e eu falhar essa prova, que aquele Irmão que me interroga, em face do que conheça de mim … apesar disso me reconheça como Maçom, pois que espero merecer sempre poder dizer que:

OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!

In Blog “A Partir Pedra” – texto de Rui Bandeira (23.01.08)

 

PLENITUDE MAÇÔNICA


 

O Maçom prega a tolerância, pratica a caridade sem distinção de raças, crenças ou opiniões e luta contra a hipocrisia e fanatismos (sabedoria maçônica)

A Cerimônia Magna de Exaltação se realiza quando o obreiro, após o privilégio de ser acolhido na Ordem, cumprir com denodo os trabalhos como Aprendiz e Companheiro, e mostrar-se um líder, faz jus ao reconhecimento do Grau de Mestre Maçom, considerado a conquista do ápice do simbolismo da Maçonaria, como o coroamento de um período de estágio.

Com a exaltação, o Mestre adquire a tão esperada Plenitude Maçônica, que enseja um forte significado e não se traduz em pavonear-se ao exibir a boniteza do seu novo avental.

Implica ser, a partir de então, protagonista, proativo e estar sintonizado com todos os movimentos da Maçonaria Universal, fazendo-se respeitado e reconhecido como Mestre, na Ordem e na Sociedade.

Deve assumir a responsabilidade pelos trabalhos da sua Oficina, com o direito de ser votado, ocupar cargos e estar inclusive comprometido a ajudar nos trabalhos em qualquer outra Loja regular nos Graus Simbólicos, quando solicitado, sempre com foco no aprimoramento.

Ao refletir sobre o simbolismo da sua caminhada, o Mestre precisa reconhecer que no Grau de Aprendiz Maçom (germinação – o grão que brota: estuda, pratica e observa) desenvolveu-se no aspecto material, trabalhou na Pedra Bruta e venceu a luta contra inimigos como as paixões, hipocrisias, fanatismos, ambições, abraçou o ideal da liberdade, praticou o socrático “conhece-te a ti mesmo”, e está apto a discernir entre o vício e a virtude e entre o erro e a verdade.

Já como Companheiro Maçom (crescimento – a planta que floresce: analisa e compara) laborou a Pedra Cúbica, tendo como aspiração a igualdade e os sentimentos de fraternidade.

Na esfera intelectual, reavaliou e ponderou os conhecimentos adquiridos, duvidando e questionando paradigmas e fazendo novas descobertas ao aprofundar os conceitos sobre as capacidades do pensamento, da consciência, da inteligência, da vontade e do livre-arbítrio.

Com uma visão mais ampla, preparou seu dinamismo cerebral e desenvolveu competências para interpretar os elementos fundamentais do simbolismo. Reconheceu a relevância do Grau de Companheiro, que não consiste em trampolim para o Mestrado, mas um indispensável e aprofundado estágio entre o autoconhecimento do Aprendiz Maçom e o espiritual que será objeto de aprimoramento no Grau seguinte.

Agora os horizontes se ampliam. Sobrepondo-se a si mesmo, o campo de atuação do Mestre é o espiritual (produção – a planta que frutifica: aplica o que observou na primeira etapa e analisou na segunda), com a missão de reunir o que está disperso, através da síntese para a conclusão da obra de construção social, de modo a tornar a fraternidade humana mais forte, e difundir a Luz do conhecimento, progresso e ciência, sobre as trevas da ignorância, por meio da educação, decifrando as realidades, consagrando-se à firmeza de caráter e à Moral que não transige com o dever.

Ao transpor a metamorfose dos três degraus iniciáticos, representando o homem que se esculpiu e mostrou-se apto para ser o Mestre de si mesmo, vem o imperativo de aprofundar estudos e pesquisas, com o compromisso de retribuir o que conquistou e de ser um facilitador para os novos Aprendizes e Companheiros, para que os mesmos se superem e, quando esses discípulos estiverem prontos, se tornem também Mestres, em “buscadores da verdade”, realimentando o círculo virtuoso, com o ensino e os conceitos sempre se renovando.

Dentro do simbolismo e alegorias maçônicas, claros para os verdadeiramente iniciados, a Acácia – a Obra, como o Mestre, jamais apodrece, pois é o símbolo de uma vida indestrutível, representando a sobrevivência de energias que a morte não pode destruir face o reconhecimento pelos esforços feitos em prol do desenvolvimento da Ordem.

A alegoria da lenda do Construtor do Templo é um constante alerta, quando a Virtude e a Sabedoria são postas em perigo pela ignorância, pelo fanatismo e pela ambição. Cabe aos verdadeiros Maçons compreender a finalidade da Maçonaria e não usá-la como meio para escalada social ou busca de algum proveito material.

Assim, conquistar o Mestrado Maçônico, conhecer as ferramentas, receber as primeiras noções do Grau, as responsabilidades que o mesmo comporta não se caracteriza o fim de um processo, pois ainda falta o principal, a vivência, o trilhar do caminho, o que ocorre à medida que se fizer novos progressos.

Para isso deve compreender o simbolismo do traçar e delinear os trabalhos de construção na Prancheta da Loja. O que se espera de um Mestre, portanto, é que absorva e vivencie conscientemente os desafios do grau e continue a ser assíduo, estudioso, participativo, fraterno, se fazendo necessário e compartilhando seus saberes, empenhando-se para o fortalecimento da Loja e da Maçonaria Universal.

No Grau de Mestre, o Espírito prevalece sobre a Matéria, ou seja, esta opera como um instrumento físico compatível com o mundo e serve àquele para sua jornada evolutiva. Com a compreensão desse sutil mistério é que o verdadeiro trabalho começa, pois o legítimo Maçom, um filósofo na sua essência, está sempre em busca do seu crescimento espiritual, da sua regeneração, da sua vitória sobre a vaidade e os vícios, visando incansavelmente ao bem de seus semelhantes, em prol de uma sociedade mais justa.

Apesar da conquista do mestrado, esse obreiro qualificado precisa ter consciência de que continua a ser Pedra Bruta e a lapidação interna não termina neste estágio material do espírito, o que se verifica, apenas e tão somente, com o derradeiro e solitário ato de passagem ao Oriente eterno.

O Mestre é o artífice da Pedra Filosofal, o alquimista do eu interior, cujo segredo é desenvolver o poder que eleva no homem a capacidade de se transformar e realizar. Portanto, compreender a dimensão do Mestre é praticar a tolerância, o perdão, a partilha, o entendimento e o equilíbrio entre os ensinamentos da razão e os sentimentos do coração.

O Mestre é a referência, o alicerce, semelhante à Pedra Angular base das construções antigas, sobre a qual se apóia a sociedade justa e perfeita, devendo, portanto, saber ouvir, mediar, aconselhar, inspirar, agir de forma colaborativa e servir de exemplo a ser seguido, empenhando-se em ajudar os outros irmãos na caminhada, tornando-se cada vez mais útil e indispensável.

Ao decifrar o enigma da existência e da morte, a condição de exaltado representa um recomeço um renascimento em plano mais elevado, um novo ciclo. Muito mais há pela frente, desta feita impondo-se o comprometido com a busca permanente da Verdade, agora que detém as chaves para abrir novos portais de conhecimento.

Entretanto, é importante ter em mente que o verdadeiro trabalho maçônico é fora da Loja e se dá na interação com o mundo que o cerca.

As reuniões em Loja se constituem em um meditar constante, que permitem revigorar o ânimo, além da salutar troca experiências e informações necessários à consolidação de um arcabouço moral e intelectual.

O perigo é deixar que a plenitude maçônica alcançada com o Grau de Mestre leve à acomodação, à falsa sensação de infalibilidade e segurança, à indiferença e apatia em relação aos trabalhos da Loja.

Infelizmente, para alguns, a caminhada cessa ou é praticamente interrompida quando se chega ao Grau de Mestre. Quando isso acontece, pode-se dizer que o suposto Mestre foi mal exaltado e está investido de falsa plenitude. Isso pode ser constatado ainda com atitudes de desdém ou de arrogância.

Estas invariavelmente reconhecidas naqueles que passam a se comportar como gurus, pretensos detentores de um saber transcendental, com ares de mistério e cheios de invencionices, achismos e mimimis.

A determinação, a perseverança, o “pegar pra fazer”, é o exemplo fundamental do Mestre, sendo motivo de repreensão a postura de se restringir a dar “ordens” ou “ideias” para os outros, como se dono da Loja o fora. Muitos, quando questionados por um Aprendiz ou Companheiro sobre alguma questão específica, respondem com ar triunfalista que ainda não chegou a hora do consulente saber, pois na realidade não sabem exatamente como responder.

Não raramente dão interpretações distorcidas aos rituais e simbolismos, relutam em aceitar os próprios erros, à míngua de estudos, passando atestado de insofismável e total desconhecimento dos fundamentos da Ordem.

Na realidade, são esses “Mestres” os verdadeiros responsáveis pelas críticas em geral e pela evasão de obreiros em muitas situações.

Por outro lado, a senda do autêntico Mestre não é um mar de rosas e os desafios são variados. Atropelos existem e, por vezes, os trabalhos não recebem o apoio e reconhecimento de alguns irmãos, em especial nas suas próprias Lojas ou Potências, mostrando-se sempre atual a reflexão do nosso Mestre Maior quando disse que “um profeta só é desprezado em sua terra e em sua própria casa “(Mt 13,57), o popular “santo de casa não faz milagre”.

Já ouvimos falar também sobre a valorização do “estrangeiro” em detrimento da prata da casa. Mas, é preciso acreditar, ter força de vontade, entusiasmo, vencer as próprias deficiências e limitações, e prosseguir lançando as sementes do bem, construindo o caminho no hoje e não deixando para um incerto amanhã. Nesse sentido, não podemos deixar de registrar os exemplos edificantes e inspiradores de Mestres com mais de meio século em franca atividade na Ordem e que se superam a cada dia.

O campo de crescimento na Maçonaria é vasto. Vislumbram-se ainda novos níveis além do Grau de Mestre, que no Rito Escocês Antigo e Aceito são 33, além de outros Ritos. Porém, as graduações superiores não são exigidas, apenas recomendadas, pois o 3º Grau confere a plenitude da qualidade de Maçom. Jules Boucher (2015) comenta: “Os altos graus não lhe trarão nada de novo, pois nada mais são do que desenvolvimento, ampliações do terceiro grau”. E aduz: “Poderíamos mesmo dizer que, em certos casos, eles podem representar uma diminuição, caso desenvolvam em quem os recebe – mas que não os possui – um sentimento de vaidade”.

Enfim, o mestrado maçônico não pode se reduzir à sua titularidade e à obtenção de diplomas e porte de insígnias, estando à grandeza da Plenitude Maçônica na ressignificação da existência, na construção de um legado, no despertar de uma vocação direcionada no sentido de tornar feliz a humanidade, cabendo ao Mestre manter-se firme no propósito de transformar-se em uma pessoa melhor e mais instruída a cada dia e ter a certeza de contar nessa caminhada sempre com os seus irmãos, que não se furtarão ao compromisso sagrado a que estão submetidos.

“O Mestre está entre o Esquadro e o Compasso, isto é, entre a Terra e o Céu – no Meio, no Centro, ou seja, é o ‘homem verdadeiro’, é a conclusão dos pequenos Mistérios.” (René Guénon).

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Academia Mineira Maçônica de Letras.

 

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