I. Introdução
O primeiro trabalho do Aprendiz
Antes de abordar o tema propriamente dito, cabe por primeiro
acercar-se de qual é, sob o ponto de vista autêntico, a definição mais aceita pertinente
à Moderna Maçonaria na sua vertente latina.
Moderna e especulativa por excelência, ela teve o seu sistema
organizado a partir de 1717 com a fundação em Londres da “Premier Grand Lodge”
que inaugurava assim o primeiro sistema obediencial do mundo.
No conceito latino, a Moderna Maçonaria geralmente tem sido
definida por autores autênticos como:
“uma associação de homens esclarecidos e virtuosos, que se
consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade,
intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade,
estimulando-se uns aos outros na prática da virtude”.
“É um sistema iniciático de moral, velado por alegorias e
ilustrado por símbolos” (Theobaldo Varolli Filho in Ritual de
Capa Vermelha – 1974).
Não obstante a definição acima, a Maçonaria é uma escola de
moral e de filosofia social/espiritual revelada por alegorias e símbolos que
compõe a sua liturgia. Assim o ritual é o guia e a ritualística é o meio e o
procedimento com que se desenvolvem os trabalhos na Loja. É a ação, a maneira e
a ordenação que disciplina o trabalho que executa uma obra perfeita e durável.
Nesse sentido e atendendo a finalidade desse arrazoado segue
então o desenvolvimento dessa peça de arquitetura que objetivo abordar o
comportamento ritualístico do Aprendiz Maçom praticante do Rito Escocês Antigo
e Aceito no Grande Oriente do Brasil.
II. Primeiras considerações
Em se tratando de ritual e comportamento ritualístico maçônico
do Primeiro Grau, cabe expressar algumas definições correlatas ao título desse
trabalho.
Antes, porém, é importante destacar que Rituais escritos tais
como os que hoje se conhece não existiam primitivamente na Maçonaria, já que em
tempos antigos a prática ritualística era transmitida por via oral. Os
registros ritualísticos escritos em forma de catecismos e reguladores, em
linhas gerais somente apareceriam em época bem mais recente da Ordem – a partir
do século XVIII com a profusão dos Ritos na Moderna Maçonaria.
Por assim ser, seguem então algumas definições genéricas dentro
da prática maçônica inerente a alguns termos que constituem a divisa desse
trabalho – Ritual Ritualística e Comportamento.
Ritual: adjetivo (do latim ritual is) menciona o que é relativo
a Ritos. Em se tratando de substantivo masculino ele designa os escritos que
ordenam e dão forma com palavras que devem acompanhar uma cerimônia. É o
cerimonial que contem um conjunto de regras a seguir. Em Maçonaria, o cerimonial
de cada Rito é seu Ritual.
Ritualística (neologismo [1] maçônico): adjetivo,
menciona o que se relaciona com o Ritual. Como substantivo feminino designa a
ciência da exegese das práticas contidas no Ritual. É um neologismo muito usado
em Maçonaria para designar tudo aquilo que é referente ao Ritual, ao Rito ou ao
Ritualista.
Comportamento: substantivo masculino. É a maneira de se
comportar; procedimento, conduta. Designa o conjunto de atitudes e reações do
indivíduo em face do meio social. Em Maçonaria é a conduta do obreiro atendendo
as normas ritualísticas do Rito.
III. Comportamento ritualístico no R:. E:. A:. A:.
A Moderna Maçonaria é uma escola de moral e ética ordenada pelos
seus Ritos e Rituais, cujos quais determinam o cerimonial que arranja os trabalhos
da Loja. É nesse particular que aqui se apresenta a expressão “comportamento
ritualístico”, expressão essa que é o objetivo dessas alegações.
A Ordem Maçônica com o desiderato de uniformizar as práticas das
suas cerimônias litúrgicas adota rituais que determinam à ritualística (ordem
das ações) do Rito instituindo regras comportamentais para os maçons na
execução das sessões maçônicas.
Nesse sentido, o aprendiz de maçonaria precisa compreender que
cada símbolo, cada movimento, cada detalhe litúrgico, cada composição
alegórica, tem ali a sua razão de ser. Nada daquilo que compõe a ritualística
fora ali colocada por acaso.
Se bem compreendida essa lição o maçom jamais será um mero
elemento que só se consagra pela repetição. Aliás, o maçom que adotar o
salutar comportamento de antes compreender os fatos e a razão dos
elementos que compõem a liturgia maçônica, jamais será alguém comparado a um
elemento sem raciocínio e sem vontade própria.
O comportamento ritualístico do maçom não se resume só em aprender
e cumprir o que está determinado pela ritualística, mas também está em se
compreender a razão e o porquê das práticas ritualísticas. É esse o
comportamento segundo as exigências da “arte”.
Insiste-se então que a Maçonaria Simbólica, por ser uma Instituição
iniciática, prima pela compreensão de cada prática ordenada segundo as regras
litúrgicas (é o porquê das coisas). Portanto ideias e hábitos contrários e
escusos à doutrina de um Rito devem ser severamente combatidos e erradicados.
Também faz parte do “comportamento” do maçom, não inventar
práticas ao seu gosto e nem adotar costumes comuns a outros ritos (enxertos).
Em resumo, sempre se comportar conforme o seu ritual e as suas regras
ritualísticas.
Regras de “comportamento ritualístico” devem ser observadas por
se entender que invenções e enxertos são elementos indisciplinados e nocivos à
absorção do conhecimento. Tudo em ritualística iniciática deve existir conforme
a estrutura doutrinária do Rito. Nele não se adotam práticas estranhas ao seu
conteúdo.
Para ilustrar o parágrafo acima, seguem algumas condutas
ritualísticas próprias do REAA\ e que lhe dão característica própria conforme o
Ritual de Aprendiz em vigência no GOB. Observe-se que condutas e práticas
ritualísticas merecem exegese, entretanto essas interpretações, por não serem
oportunas, não serão aqui abordadas. Interpretação ritualística gera conduta
ritualística e esse é um tema para ser abordado amiúde em outro trabalho.
Assim, seguem então algumas características que o maçom do
escocesismo simbólico deve adotar como conduta. Destas, destacam-se algumas
próprias de um grau, enquanto que outras abrangem todos os graus do simbolismo.
Normas de comportamento ritualístico para o R:. E:. A:. A:.:
Não proferir preces e orações no Átrio quando da preparação para
se ingressar no Templo (independente do grau);
Deve sempre circular no sentido horário quando dos deslocamentos
de uma para outra Coluna em Loja aberta (independente do grau);
Em Loja aberta, estando em pé e parado deve ficar à Ordem (independente
do grau);
Exceto os Vigilantes, no Ocidente em Loja aberta quem usar da
palavra, fala à Ordem (independente do grau);
Ninguém faz Sinal utilizando-se de um instrumento de trabalho
para fazê-lo (independente do grau);
Não deve sugerir e nem proferir preces e orações durante a
formação da Cadeia de União. No escocesismo a Cadeia de União só é formada para
a transmissão da Palavra Semestral (independente do grau);
Como Aprendiz, deve ocupar o topo da Coluna do Norte junto às
seis primeiras Colunas Zodiacais. Elas representam a caminhada iniciática do
Primeiro Grau – inicia em Áries e termina em Virgem;
Se Aprendiz ou Companheiro Maçom não ingressar no Oriente. Nesse
espaço só adentram Mestres Maçons;
Salvo na Marcha do Grau, o maçom em deslocamento não anda com o
Sinal composto (independente do grau);
Como maçom retardatário, só ingressar no Templo com formalidade
ritualística e, ao pedir ingresso nessa condição, fazê-lo sempre pela bateria
de Aprendiz (independente do grau);
Somente utilizar a palavra quando inquirido ou devidamente
autorizado pelo Vigilante da Coluna ou pelo Venerável Mestre (independente do
grau);
Aprendizes e Companheiros somente argúem, ou se manifestam em
discussões sobre assuntos que o grau lhes permita.
Essas são então algumas regras que ilustram o modo ou a maneira
de se comportar ritualisticamente em Loja. Por óbvio, existem muitas outras
delas, mas que pelo espaço exíguo aqui disponível não há como mencioná-las por
completo. Registre-se, entretanto, que para essas regras não existe escala de
importância, pois todas constituem a estrutura que dá feição ao comportamento
ritualístico do maçom na Loja.
A importância da liturgia maçônica está nos rituais que ordenam
a cerimônia dos ritos e destacam a essência do ensinamento maçônico. Pela
prática disciplinada da ritualística é que se ordenam os trabalhos inerentes à
liturgia maçônica. Esotericamente eles disciplinam o maçom, tanto como condição
de convivência no seio da Loja, assim como condição de convivência perante a
sociedade ao seu redor.
O comportamento ritualístico ideal é aquele resultante do
trabalho moral e intelectual realizado com perseverança pelo maçon.
O comportamento ideal é aquele que, além de se conduzir conforme
as regras e as exigências da Arte também as compreendem na sua essência.
Assim, sinais, toques, palavras e outros afins que constituem a
liturgia de um Rito, são igualmente elementos estruturais que dão ao maçom a
capacidade para ele mesmo construir o seu comportamento ritualístico – cada um
colhe conforme a sua semeadura.
É oportuno ainda mencionar que no caso do GOB-PR existe um
excelente instrumento para auxiliar o maçom a desenvolver o seu próprio
comportamento dentro da liturgia maçônica do REAA. Trata-se da edição dos Procedimentos
Ritualísticos de 2016 em três volumes e pertinentes aos Rituais do escocesismo
em vigência no GOB. Esses Manuais de Procedimentos trazem toda a orientação
para o bom desenvolvimento do cerimonial dos trabalhos maçônicos, destacando-se
os contidos na página 133 e seguintes, item 4.3.1. do volume destinado ao
Primeiro Grau onde trata das Normas Gerais de Comportamento Ritualístico.
IV. Conclusão
A disciplina é uma das vigas mestras da Instituição maçônica.
Destarte outras considerações que indubitavelmente também são importantes, a
Ritualística Maçônica tem sido a chave do caráter iniciático pertinente à Arte
Real.
O comportamento ritualístico conexo ao Ritual edifica e conduz o
maçom pelo caminho do aperfeiçoamento. Como foi dito, nada existe por acaso na
ritualística maçônica. Ela tem sido ao longo dos tempos um dos artifícios que a
faz diferente perante as comunidades humanas.
A mecânica litúrgica maçônica parece ter sido idealizada para
despertar no maçom o verdadeiro sentimento daquele que, na medida das suas
forças, deseja levar o bem aos necessitados. É pelo comportamento em Loja que o
obreiro aprende com disciplina a adquirir ânimo e força para sempre se fazer
presente na construção de um mundo melhor.
Assim, para que se evite o desvirtuamento dos sublimes fins da
Maçonaria, sobretudo no plano social e moral, ela constrói um novo homem e
exige dele um comportamento inspirado nos seus mais altos ideais.
Morretes, Abril de 2018.
Pedro Juk
Observação
Peça de Arquitetura elaborada para a apresentação dos Aprendizes
e Companheiros da Loja Estrela de Morretes, 3159 – GOB/PR no XXXVI ERAC da
Região Metropolitana de Curitiba. Acompanharam esta elaboração os Irmãos
Aprendizes Marcy Pinto e Ivan Matsuzawa.
Apresentado no Encontro em 27/04/2018.
Notas
[1] Neologismo – substantivo masculino. Menciona o
significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. No
caso do termo “ritualística”, ele só se apresenta expresso na língua portuguesa
no gênero masculino – “ritualístico”. Já em Maçonaria, na sua relação com o
substantivo Rito ele é adotado também no gênero feminino.
Bibliografia
GOB, Ritual de Aprendiz para o REAA – Edição 2009,
Brasília, 2009.
GOB-PR, Procedimentos Ritualísticos 1º Grau REAA, Curitiba,
2016.
VAROLLI F.º, Theobaldo – Ritual de Aprendiz Maçom REAA,
GLESP, S. Paulo, 1974.
PARANÁ, Grande Oriente do – Ritual do Aprendiz REAA,
Curitiba, 1990.
CASTELLANI, José – Dicionário Etimológico Maçônico, Editora
Maçônica A Trolha, Londrina, 1993.
JUK, Pedro, Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom,
Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2007.
JUK, Pedro – Blog do Pedro Juk – Diversos, http://pedro-juk.blogspot.com.br
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