Temos ouvido e analisado alguns conceitos de
estudiosos da Maçonaria através dos anos. Alguns deles merecem ser citados.
Ouvimos de certa feita, que o modelo maçônico que nos legaram nossos Irmãos do
passado já não se adapta ao homem atual. Está anacrônico.
Um irmão místico mencionou que a Maçonaria atual tornou-se materialista, pois
dentro de seus templos ainda existem símbolos poderosos e mágicos, mas que os
maçons atuais não os respeitam como tais, pois não têm a noção de seus significados.
Por esta razão, a Maçonaria fragmentou-se, perdeu a sua força e confundiu-se.
Outro irmão referia que o maior objetivo político que acalentou e deu forças a
inúmeras gerações de maçons do século passado que era a República morreu com o
nascimento desta, ou seja, desde então os maçons não tiveram em termos de
Brasil um objetivo prioritário para lutar por ele.
Não criaram outra motivação cívica, a Maçonaria fragmentou-se em diversas
Potências , cada qual com sua orientação político social, sempre se
autodenominando representante de todas as opiniões da população maçônica e de
quando em vez, soltando na imprensa brasileira bisonhos pronunciamentos
políticos.
Entretanto, autores atuais afirmam que a Maçonaria visa apenas o homem em si,
como líder, como embrião, como uma célula dentro da sociedade.
À Maçonaria caberia tão somente preparar este
homem, mostrando-lhe os caminhos de seu autoconhecimento, e ensinando-o a ser
um construtor social para que atue na sociedade como um núcleo em torno do qual
estariam os demais segmentos dessa sociedade.
É provável que cada afirmação citada tenha a sua verdade.
Parece-nos que a última, sem menosprezar as demais, seria a mais atual e mais
apropriada ao nosso tempo.
Mas como andam as coisas na Ordem?
É claro que as nossas divagações não se aplicam a todos os maçons, mas elas
atingirão uma grande parte dos maçons brasileiros, bem como a muitas Lojas.
Se nos atentarmos para a realidade, pelo que poderemos observar no dia a dia,
e, acreditamos que ocorra em todo o país, tais são as semelhanças entre as
estruturas das cidades entre si, existem verdadeiros flagelos da Ordem, os
quais abordaremos apenas alguns, aleatoriamente.
Falta de instrução e conscientização do que vem a
ser Maçonaria. As sessões duram de duas a três horas e o período de estudos ou
de instrução duram apenas quinze minutos, isto quando algum irmão tem um
trabalho a apresentar.
Quanto à conscientização, com frequência não são
respondidas as perguntas básicas que um Aprendiz faz a um Mestre, porque geralmente
este não sabe respondê-las. Sempre existem as evasivas tradicionais, tais como:
“Isso eu não posso responder. Você chegará lá. Estude”.
Então como poderá um Irmão estar consciente do que
é a Maçonaria? Existem falhas severas desde o primeiro aprendizado ao se entrar
na Ordem. A maioria dos maçons cresce na Ordem do ponto de vista de graus, sem
saber ao certo o que estão fazendo ou aprendendo.
A pressa de muitos Irmãos em sessão para que esta acabe logo, para poderem nos
chamados “fundões” das Lojas, sorverem todo o tipo de pólvora que existe, e ao
mesmo tempo se alimenta exageradamente e neste estado de empanturramento
alimentar e de eflúvios etílicos tomarem decisões importantes.
Veneráveis fracos que não têm personalidade, dominados docilmente por verdadeiras
eminências pardas dentro de sua própria diretoria.
Carreirismo político maçônico, com falsa liderança.
Esvaziamento das Lojas por desmotivação.
Comportamento antimaçônico de Irmãos que são verdadeiros profanos de avental,
os quais querem, muitas das vezes, que seus defeitos se tornem regras morais
para os demais.
Candidatos não gabaritados para tal, serem indicados para serem Maçons. Os
poderes dentro de uma Potência estão desencontrados e comumente extrapolam seus
direitos, não respeitando, às vezes, o próprio Grão-Mestre, que é a maior
autoridade.
Várias Potências não se reconhecem entre si, mas se utilizam do mesmo Rito,
cada qual à sua maneira (vide Rito Escocês Antigo e Aceito, no Brasil).
A respeitável denominação “Grande Arquiteto do Universo” virou simplesmente
“Gadú”. Esta é uma nova palavra, que foi criada e muito pronunciada, por sinal.
Especialmente nas cidades de porte médio e grande, um Templo de propriedade de
uma Loja é usado por ela apenas um dia da semana, quando naquele mesmo Templo
poderiam funcionar pelo menos mais quatro Lojas. Falta de patriotismo com
desconhecimento total da história do Brasil e participação de maçons nos
eventos.
Se quiséssemos, enumeraríamos mais de cinquenta itens facilmente.
Citamos de passagem os Irmãos que não honram seus compromissos, valendo-se da
mal interpretada tolerância maçônica.
A maioria dos maçons não lê sobre a Ordem.
Fácil será prever o futuro, caso não se tente mudar imediatamente ou reciclar,
quer no campo administrativo, histórico, instrutivo, doutrinário ou moral.
Precisamos ter a ousadia e a coragem de citar os males que a assolam e a
prudência de sugerir alguma solução que possa melhorá-la.
Entretanto, tudo vai
bem na Ordem. Todos se chamam de Irmãos, fala-se muito em tolerância, todo mundo
é livre e de bons costumes.
Uma boa parte dos maçons brasileiros acredita realmente que tudo vai bem. São aqueles
Irmãos puros, bem intencionados, almas limpas. Nas Lojas, os famosos e prolixos
oradores continuam matraqueando desesperadamente, tecendo glórias e louvores ao
Grande Arquiteto do Universo e a todos os maçons espalhados pela Terra.
Quando um Irmão se diz justo e perfeito, porém não é nada disso, os outros
justos e perfeitos fingem não saber do que se trata, pois a Ordem é fraternal e
tolerante.
Estamos exagerando? Poderão argumentar que o autor é um pessimista, que os
maçons de sua cidade são maus, que Maçonaria não é bem isso, e que na sua Loja
não é assim.
Mas, estas afirmações têm muito de verdade. É só ter a coragem de enxergar as
coisas como elas são, sem ter a mente embaçada pelo conformismo.
Evidentemente o maior problema da Maçonaria é apenas uma questão de cultura e
falta de instrução racional. Se tivéssemos três sessões mensais, onde além de
se praticar uma boa ritualística, houvesse debates, conferências, cursos, mesas
redondas, etc., a respeito da filosofia, ritualística e história da Ordem, bem
como da Política como ciência, o preparo do Maçom seria outro.
Quanto às sessões administrativas, deveria haver apenas uma por mês.
Cada Potência deveria manter Encontros Semestrais de Aprendizes Companheiros e
Mestres para toda a jurisdição, onde fossem apresentados trabalhos e estudos
referentes a tudo o que diz respeito à Ordem.
Os Altos Corpos de cada Potência, especialmente nas simbólicas, deveriam manter
severa vigilância com relação às alterações que os responsáveis pela Liturgia e
Ritualística de cada Rito, costumam com frequência introduzir nos Rituais
vigentes, a maioria invenções, enxertos, “achismos” etc.
Este controle tem que ser constitucional, ou seja,
deverá constar na Constituição de cada Potência, e o “modificador” terá que
enfrentar estes altos poderes da Obediência e estes aprovarem. Esta seria uma
maneira de conter tanta alteração que pulula nos Rituais da Maçonaria brasileira,
em especial no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Como a unificação total da Maçonaria brasileira é uma utopia, a união,
entretanto, não é, e já está sendo realizada. As três principais Potências não
se reconhecem, mas nas Lojas-Bases está havendo uma intervisitação sistemática,
numa camaradagem própria de Maçons que seguem o axioma “se fomos Iniciados,
logo somos Irmãos” e as Lojas, mesmo de Potências diferentes, estão permitindo
o direito de visitação, e este contato entre Irmãos está trazendo resultados.
Os Grão-Mestres das principais Potências deveriam sentar-se em torno de uma
mesa e decidirem que, tratando-se de um mesmo Rito, todas deveriam ter somente
um Ritual, o qual seria organizado por uma Comissão de Irmãos destas Potências.
Igualmente deveria haver apenas uma Palavra Semestral e troca de
correspondências a respeito dos candidatos não desejáveis para serem Maçons.
Nas cidades onde hajam Lojas das diversas
Potências, deveria haver um Conselho de Veneráveis com rodízio na
administração, o qual, paralelamente, tratasse de filantropia, problemas
sociais, políticos (não partidários) de abrangência da comunidade.
Estas sugestões são fáceis e viáveis. Em algumas cidades já estão sendo
realidade, mas não foram sacramentadas pelas cúpulas das respectivas Potências.
Não há perigo de desestabilização do poder de cada Potência.
Administrativamente, continuarão sendo o que são. O que é necessário é que se
deixe a vaidade de lado e se doe de coração aberto à causa maçônica. É simples.
O Maçom brasileiro necessita com urgência encontrar uma nova vocação, uma meta
maior, um programa de alto alcance que até possa parecer impossível, porém
viável a longo prazo, que pudesse unir todos os Maçons em torno de uma idéia,
um pensamento único.
As Potências deveriam se reunir através de seus mais brilhantes Irmãos e, após
estudarem todos os detalhes, apresentarem um diagnóstico da Maçonaria
brasileira. Este diagnóstico terá que levar em conta o nosso passado,
analisando com muito cuidado o presente e estabelecendo metas para o próximo
século.
Este que está findando já o perdeu. Só não perdemos ainda o nosso coração de
Maçom e o amor à Ordem. Meditemos Irmãos!
Autor: Ir.’. Hercule Spoladore – Londrina – PR