O RITO DE INICIAÇÃO: UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA


O presente trabalho busca estabelecer alguns conceitos antropológicos para se analisar, em seguida, o rito de iniciação maçônico no R.’.E.’.A.’.A.’. como uma busca de apaziguamento da ânsia do sagrado que a humanidade vem procurando nos últimos tempos.

A Função Social do Rito
Um dos componentes fundamentais dos grupos e das sociedades humanas é o processo ritual. Os ritos e as cerimônias permeiam todo o grupamento social, desde as sociedades primitivas até as modernas sociedades pós-industriais.

Os antropólogos contemporâneos afirmam que temos um comportamento ritual quando amamos e fuzilamos, quando nascemos e morremos, quando noivamos ou casamos, quando ordenamos e oramos.

Os rituais revelam os valores mais profundos do comportamento humano e o estudo dos ritos tornou-se a chave para compreender-se a constituição essencial das sociedades humanas.

Se o processo ritual é tão remoto quanto a própria criação do Homem, o estudo sistemático e científico dos ritos advém com a formação da antropologia no século XIX.

Estudam-se hoje os ritos como um fenômeno social que possui um espaço independente, isto é, como um objeto dotado de uma autonomia relativa em termos de outros domínios do mundo social, e não mais como um dado secundário, uma espécie de apêndice ou agente específico e nobre dos atos classificados como mágicos pelos estudiosos.

Essa autonomia relativa da antropologia foi conseguida a duras penas no processo de formação da própria antropologia. Os antropólogos ingleses, da época vitoriana, evolucionistas e etnocêntricos, estudavam os fenômenos mágicos e ritualísticos das sociedades primitivas como um meio, no fundo, de provar a superioridade biológica e cultural do europeu de então.

Para os estudiosos da época, o ritual não surgia como algo socialmente relevante, pois nem mesmo o fato social existia conceitualmente como algo socialmente independente, como viria a ser descoberto pela sociologia de Durkheim posteriormente.

Para os antropólogos vitorianos, por desconhecerem o fato social, reduzia-se o mesmo às suas componentes biológica, psicológica ou geográfica.

Para os reducionistas biológicos, os fenômenos sociais ou antropológicos eram explicados como resultantes de tensões e caracteres raciais. O social submergia no biológico do mesmo modo que o diferente, o outro, desaparecia na sua história natural.

Na outra vertente, a do reducionismo psicológico do século XIX, o social se liquefaz na vontade dos agentes individuais, vontade, depois projetada, por meio de um fiat obscuro para toda a sociedade. Segundo o antropólogo brasileiro Roberto da Matta, na apresentação do livro clássico de Van Gennep, Os Ritos de Passagem, “Tylor é um excelente exemplo desta posição (psicológica). Ele (Tylor) explica a origem da religião como uma especulação na crença da alma, especulação que nasce dos sonhos dos primitivos.

Sonhando com tudo e principalmente com os mortos, os homens primitivos descobrem diz Tylor a noção de alma, de imagem, de duplo e assim constroem o domínio do ‘outro mundo’, o domínio do sagrado e do sobrenatural. Descobrem também, segundo o mesmo estudioso, que pode haver uma relação entre os dois domínios e procuram então controlar um pelo outro.

Estaria agora fundada a estrutura mais elementar da religião: a crença em espírito e em almas e a condição necessária a esta crença, a divisão entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Daí, como sabemos o nome ‘animismo’ para designar a religiosidade básica e enganada do primitivo. Nesta perspectiva psicológica, que engloba estudiosos de Tylor e Frazer, o interesse é discutir o religioso em suas formas mais primitivas, fazendo um corte evidente entre as religiões com tradição escrita (do Ocidente e, às vezes, das grandes civilizações) e a magia, forma de religiosidade vigente nos grupos tribais, selvagens e primitivos” (pg. 13).

A terceira variante explicativa era a do reducionismo geográfico ou ecológico. Reduzia-se, mais uma vez, o social à dinâmica dos climas, dos solos, das vegetações, do regime de chuvas e ventos. Presume-se que até mesmo o escritor brasileiro Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, sofreu este reducionismo geográfico ao explicar o comportamento do sertanejo.

Todos esses três reducionismos biológico, psicológico e geográfico liquidam o social como um fenômeno específico de estudo. Contudo, a tomada do fato social como um fenômeno não explicável nem pela biologia, nem pela psicologia e muito menos pela geografia, nasce da tradição francesa de Comte e, sobretudo pela sociologia de Émile Durkheim.

Já não se trata aqui de subdividir o social para estudá-lo, fazendo dele um fenômeno individualizado e redutível a uma de suas partes, mas tomar o estudo da sociedade, partindo de sua totalidade.

O social adquire então a sua feição contemporânea: são fatos capazes de coagir e, sobretudo de não serem redutíveis a seus componentes geográficos, psicológicos, etc.

Não se negam estes aspectos biológico, psicológico e geográfico do fato social ou cultural, mas não é isso que os faz socialmente significativos. Pela sociologia de Durkheim, somente quando se tornam socialmente significativos é que são levados em consideração.

O modelo a ser apresentado para a análise do ritual de iniciação maçônico não será, contudo o de Durkheim, que escreveu sobre a magia e a religião, por ser o seu foco centrado na religião elementar, nas formas mais simples da vida religiosa, como também por apresentar uma polaridade rígida entre o sagrado e o profano.

O modelo escolhido será então o de Van Gennep, no seu famoso “Ritos de Passagem”. Esse autor não toma mais o rito como um apêndice do mundo mágico ou religioso, mas como algo em si mesmo.

Como um fenômeno dotado de certos mecanismos recorrentes (no tempo e no espaço) e também de certos conjuntos de significados, o principal deles sendo o de realizar uma espécie de costura entre posições e domínios sociais, pois a sociedade é concebida em Van Gennep como uma totalidade dividida internamente.

Se Durkheim percebe a sociedade composta de um sistema coercitivo de regras, sobretudo as regras penais e religiosas, com uma divisão interna entre o sagrado e o profano, Van Gennep concebe o sistema social como estando departamentalizado, como uma casa, com os rituais sempre ajudando e demarcando os quartos e as salas, os corredores e as varandas, por onde circulam as pessoas e os grupos na sua trajetória social.

Concebendo a sociedade como internamente dividida, Van Gennep introduz um dinamismo no mundo social que nem vitorianos nem durkheimianos foram capazes de reconhecer. Se a divisão clássica entre o sagrado e o profano é vista como cerne e raiz do mundo social, Durkheim trabalha numa perspectiva dualista do mundo, com um jogo do sagrado ao profano, do mecânico ao orgânico, como domínios fixos e mutuamente exclusivos. Em suma, Durkheim é um evolucionista de sequências duais e também um sociólogo dos pontos polares, jamais das margens e das posições mais confusas, quando a totalidade social não se encontra nem no pólo do sagrado nem do profano.

Em Van Gennep, o sagrado e o profano são totalmente relativos, pois sempre haverá um lado mais sagrado dentro da própria esfera tomada como sagrada, o mesmo sendo válido para o profano. O sentido não estará equacionado a uma essência do sagrado (ou profano), mas na sua posição relativa dentro de um contexto de relações.

Van Gennep no seu “Ritos de Passagem” estuda diversos ritos, tais como: da porta e da soleira, da hospitalidade, da adoção, da gravidez e parto, do nascimento, da infância, da puberdade, da iniciação (que nos interessará mais de perto), da ordenação, do noivado, do casamento, dos funerais, das estações, etc.

Ele separa antologicamente os ritos em três grandes subdivisões: ritos de separação, ritos de margem e ritos de agregação. Segundo Van Gennep (1978, pg.31) “essas três categorias secundárias não são igualmente desenvolvidas em uma mesma população nem em um mesmo conjunto cerimonial. 

Os ritos de separação são mais desenvolvidos nas cerimônias dos funerais, os ritos de agregação nas do casamento. Quanto aos ritos de margem, podem constituir uma seção importante, na gravidez, no noivado, na iniciação, ou se reduziriam ao mínimo na adoção, no segundo parto, no novo casamento, na passagem da segunda para a terceira classe de idade etc. 

Se, por conseguinte, o esquema completo dos ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares (separação), liminares (margem), e pós liminares (agregação), na prática estamos longe de encontrar a equivalência dos três grupos, quer no que diz respeito à importância deles quer no grau de elaboração que apresentam.

Além disso, em certos casos, o esquema se desdobra, o que acontece quando a margem é bastante desenvolvida para constituir uma etapa autônoma. Assim é que o noivado constitui realmente um período de margem entre a adolescência e o casamento.

Mas, a passagem da adolescência ao noivado comporta uma série especial de ritos de separação, de margem e de agregação à margem. A passagem do noivado ao casamento supõe uma série de ritos de separação da margem, de margem e de agregação ao casamento.

Esta mistura é também verificada no conjunto constituído pelos ritos de gravidez, do parto e do nascimento. “Embora procure agrupar todos esses ritos com maior clareza possível, não escondo que, tratando-se de atividades, não se poderia chegar nestas matérias a uma classificação tão rígida quanto a dos botânicos, por exemplo”.

Antes de terminar esta parte teórica convém tecer algumas considerações sobre o sagrado e o profano. Segundo ainda Van Gennep (pg.25) “toda sociedade contem várias sociedades especiais, que são tanto mais autônomas e possuem contornos tanto mais definidos quanto menor o grau de civilização em que se encontra a sociedade geral.

Em nossas sociedades modernas só há separação um pouco nítida entre a sociedade leiga e a sociedade religiosa, entre o profano e o sagrado... Entre o mundo profano e o sagrado há incompatibilidade, a tal ponto que a passagem de um ao outro não pode ser feita sem um estágio intermediário...

À medida que descemos na série das civilizações, sendo esta palavra tomada no sentido mais amplo, constatamos a maior predominância do mundo sagrado sobre o mundo profano, o qual nas sociedades menos evoluídas que conhecemos, engloba praticamente tudo. Nascer, parir, caçar etc. são então atos que se prendem ao sagrado pela maioria de seus aspectos...

Se em nossas sociedades a solidariedade sexual é reduzida ao mínimo teórico, entre os semi-civilizados desempenha considerável papel em consequência da separação dos sexos nas questões econômicas, políticas, e sobretudo mágico-religiosas... A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade a outra e de uma ocupação a outra.

Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações, esta passagem é acompanhada por atos especiais que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios a aprendizagem, e que entre os semi-civilizados consistem em cerimônias, por que entre eles nenhum ato é absolutamente independente do sagrado.

“Toda alteração na situação de um indivíduo implica ai ações e reações entre o profano e o sagrado, ações e reações que devem ser regulamentadas e vigiadas, afim de a sociedade geral não sofrer nenhum constrangimento ou dano”.

Mircea Eliade (1958, pg.9), por sua vez, afirma que “a originalidade do homem moderno, sua novidade com respeito às sociedades tradicionais, está precisamente na vontade de considerar-se como um ser unicamente histórico, no desejo de viver em um Cosmos radicalmente dessacralizado...

Em certo sentido, podemos dizer que, para o homem das sociedades arcaicas, a História está fechada, esgotadas em uns quantos acontecimentos grandiosos do começo. Ao revelar aos polinésios, in illo tempore, as modalidades da pesca em alto mar, o herói mítico esgotou de uma só vez as possíveis formas desta atividade; desde então, cada vez que vão pescar, os polinésios repetem o gesto exemplar do herói mítico: imitam um modelo transumano”.

O homem moderno perdeu o contato com o sagrado em muitas ações diárias. Frequentemente, viajamos dentro do país e ao exterior como fatos absolutamente corriqueiros. Nas sociedades arcaicas, as viagens eram raras, e antes de viajar realizavam-se cerimônias de purificação (rito de separação) para que o viandante não se poluísse ao entrar em contato com o estrangeiro. Ao chegar ao destino, o viajor poderia ou não ser recepcionado com um banquete (rito de agregação) que significava o seu ingresso em outra dependência do sagrado.

Contudo, por mais profanos que sejamos no mundo moderno, ainda mantemos os rituais, na maioria das vezes de forma inconsciente. Observe-se, por exemplo, as despedidas dos astronautas em Cabo Kennedy, momentos antes de partir em viagem de exploração. A cerimônia de despedida não deixa de ser um rito de separação, o tensionamento da viagem está inserido num rito de margem e quando a viagem é bem sucedida o retorno triunfal se insere num rito de agregação.

Visto esta parte mais conceitual, tenta-se agora aplicar tais conceitos vangennepianos ao rito de iniciação.

Análise do Rito de Iniciação

A ânsia do sagrado no mundo moderno também faz parte do ideário do maçom que busca sair do profano em direção ao sagrado.

Uma vez iniciado, o aprendiz evade-se um pouco de um mundo essencialmente profano e ingressa numa área um pouco mais sagrada, buscando alcançar o grau de companheiro, para finalmente atingir a plenitude maçônica. A senda em busca de apaziguar esta ânsia do sagrado prossegue nos altos graus e por que não dizer só termina com a morte.

Todo este período, que vai da iniciação até a morte terrena, pode ser chamado de um rito de margem ou de liminaridade, pois o processo de aprendizagem e maturação só encontrará o seu final, para efeito de análise, na morte terrena. Dentro desse período de margem de longo prazo, assistir-se-á aos mais diversos ritos de passagem de um grau para o outro.

Esta análise somente levará em conta o período de iniciação propriamente dito. A cerimônia de iniciação será, assim, o rito de passagem do mundo profano ao mundo sagrado.

Vejamos a introdução e a preparação do neófito. Denota-se já aqui um rito de separação, pois o mesmo não é separado dos metais, talvez simbolizando o despojamento de suas riquezas do mundo profano? Nem nu nem vestido simbolizando o desnudamento das vestes profanas, como num ritual de separação, pedindo humildemente o ingresso no sagrado.

A venda dos olhos simboliza a morte de um órgão vital estratégico que deverá renascer em um novo estágio de consciência compatível com um recinto mais sacralizado. A Câmara, o testamento, a prova da Terra seriam, mais uma vez, a morte do profano para um renascimento mais consciente em outra esfera do sagrado. Simbolicamente esta descida aos infernos ou pelo menos às profundezas da terra, como nos antigos mistérios greco orientais, seria rito de separação para uma longa viagem.

As outras três provas, já no interior do templo, podem ser vistas como ritos de aprofundamento de passagem, de purificação crescente, agora defronte os altares da Beleza, da Força e da Sabedoria. Podem ser analisadas como ritos de margem neste vestibular espiritual para uma esfera mais sagrada. Neste processo de alquimia mental e espiritual estaria se matando, homeopaticamente, o profano para o renascer, simbolicamente doloroso e ao mesmo tempo glorioso, do aprendiz tateante.

E aqui nos socorremos de Mircea Eliade (1958, pg. 12) quando diz que “a maior parte das provas iniciáticas implicam de maneira mais ou menos transparente, uma morte ritual se seguiria uma ressurreição ou novo nascimento. O momento central de toda iniciação vem representado pela cerimônia que simboliza a morte do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas o que volta à vida é um homem novo, assumindo um modo de ser distinto. A morte iniciática significa ao mesmo tempo o fim da infância, da ignorância e da condição profana”.

O batismo de sangue significaria o começo de um ritual de agregação, algo que na Igreja Católica se chama de Comunhão dos Santos, isto é, o iniciante depois de purificado pelas provas começaria a participar, a ser agregado simbolicamente à comunhão de todos os maçons.

O juramento teria algo do rito de margem, pois o iniciante, já agora menos poluído pelo profano e mais ciente do sagrado, teria então os pré-requisitos mínimos para um juramento mais consciente.

O nascimento o fiat lux pode ser analisado como o nascer biológico do novo ser, um rito de agregação ao mundo da Luz e da comunidade dos irmãos, que, em seguida, é batizado pelo ritual de iniciação propriamente dito. Nasce-se e imediatamente se é iniciado, sem perda de tempo, em suma, um rito sumário de agregação, a culminância do processo iniciático.

A passagem dos segredos de reconhecimento pode ser entendida como um reforço do ritual de agregação, um modo e um processo de comunicação rápido e instantâneo para melhor agregar a comunidade dos eleitos. Os aventais seriam, então, a nova vestimenta do sagrado para cobrir a nudez simbólica do ex-profano.

E por último, mas não menos importante, o banquete, que não fazendo parte direta da cerimônia do templo, insere-se num contexto de um ritual de reagregação. Aqui, já se está de volta ao mundo profano, mas como alguém que circulou pela esfera do sagrado e volta ao mundo profano aureolado pela sacralidade. É como uma espiral; deu-se um giro de 360º, mas num outro nível, outro patamar; está-se no mundo profano mas como um ser consagrado.

 Conclusão

A sociedade moderna assiste, cada vez mais, ao crescimento da onda avassaladora do profano em relação ao sagrado. Os núcleos de sacralidade são como pequenas ilhas no imenso oceano do profano. Tem razão Mircea Eliade (1958, pg. 9) quando afirma que “uma das características do mundo moderno é o desaparecimento da iniciação. De capital importância nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente inexistente na sociedade ocidental de nossos dias.

É bem verdade que as diferentes confissões cristãs conservam, em diferentes graus, vestígios de um Mistério iniciático. O batismo é essencialmente um rito iniciático; o sacerdócio implica uma iniciação.

Não se deve esquecer que o cristianismo triunfou precisamente e chegou a ser uma religião universal senão por ter se liberado dos Mistérios Greco orientais, proclamando ser uma religião de salvação acessível a todos”.

Essa tendência secular de profanização da sociedade tem encontrado, contudo, nos últimos tempos, uma busca, por parte de alguns homens, de uma volta ao sagrado, ou um revolta contra o monopólio do profano, o que talvez tenha contribuído para que L. Kolakowski escrevesse o seu famoso ensaio em 1973: “A Revanche do Sagrado na Cultura Profana”.

Talvez se assista, no limiar do século XXI, a uma revivescência espiritual. As grandes religiões, que sempre foram matrizes de moralidade exotérica, estão em crise neste final do milênio, e estão sofrendo um processo crescente de profanização de sua cultura religiosa.

A luta frenética de alguns fundamentalismos, principalmente os de base muçulmana, para barrar o processo de modernização, inevitável no mundo atual, é prova cabal. 

Na faixa esotérica, considera-se a Maçonaria como uma das mais poderosas alavancas do sagrado no mundo laico, que avidamente necessita dos eternos valores maçônicos.

A resultante da crise deverá ser, não a negação das ciências e das liberdades humanas mais fundamentais, não uma volta ao passado preconceituoso, supersticioso e retrógrado, mas a busca de uma nova moralidade, que incorpore as raízes profundas da Verdadeira Tradição, compatibilizando-a com a Liberdade e a Ciência.

E, neste momento, cremos profundamente que a maçonaria terá um papel de escol a desempenhar.
Pelo Ven.’. Ir.'. William Almeida de Carvalho 33

Bibliografia
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TURNER, Victor, O Processo Ritual, ed. Vozes, Petrópolis, 1974. 
VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem, ed. Vozes, Petrópolis, 1978.


O SIMBOLISMO NA MAÇONARIA E O TRABALHO



AS FUNÇÕES INTELECTUAL SUPERIOR E EMOCIONAL SUPERIOR DO SISTEMA DE GURDJIEFF

A Maçonaria tem sido definida ao longo do tempo por vários modos, entre eles como um “sistema de Moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”.

Nas instruções ministradas na Ordem, aspectos essenciais deste sistema são expostos paulatinamente, a partir da observância de rituais que remontam às “Escolas de Mistérios da Antiguidade”.

Alguns autores que escrevem sobre a “Arte Real” ensinam que “quando a Maçonaria Livre e Aceita começou a ter uma vida própria, separada da Maçonaria Operativa, ela usava símbolos e emblemas para lembrar a seus membros os princípios morais e espirituais inerentes á sociedade. Ao longo do período em que se deu esse desenvolvimento, (...) o uso geral dos símbolos era uma prática comum e de uso cotidiano; assim, a sua incorporação em qualquer instituição esmerada, tal como a dos Maçons Especulativos, não seria nada extraordinária”.

Esses são os sistemas que, no passado, eram chamados de “Mistérios”, entre eles os do Egito, os da Pérsia, os de Elêusis, na Grécia e outros na Babilônia, Roma e nos grandes centros da alta antiguidade.

A esse respeito, na “Introdução sobre a Doutrina Esotérica” que abre a grande obra do Sr. Èdouard Schuré em português (“Os Grandes Iniciados”), enfatiza-se que “todas as religiões têm uma história exterior e uma história interior; uma aparente, outra oculta.

Por história exterior entendo os dogmas e os mitos ensinados publicamente nos templos e nas escolas, reconhecidos no culto, e as superstições populares.

Por história interior entendo a ciência profunda, a doutrina secreta, a ação oculta dos grandes iniciados, profetas ou reformadores que criaram, sustentaram, propagaram estas mesmas religiões.

Esta é a “tradição esotérica ou doutrina dos mistérios, é bastante difícil de discernir, pois ela se passa no fundo dos templos, nas confrarias secretas, e seus dramas mais surpreendentes se desenrolaram inteiramente no mais profundo das almas dos grandes profetas, os quais não confiaram suas crises supremas ou seus êxtases divinos a nenhum pergaminho e também a nenhum de seus discípulos”.

Estes círculos exotéricos e esotéricos delimitam a fronteira entre a humanidade mecânica e o trabalho isto é, entre a "Torre de Babel" ou o "Reino da Confusão das Línguas" e a busca através de "sofrimentos intencionais e esforços conscientes" do conhecimento de si.

Podem ser visualizados nas esferas concêntricas que demonstram as dimensões exotérica, mesotérica e esotérica da vida. A passagem de uma a outra compreende uma fase "transicional" de tomada de decisão, de rompimento da dualidade e formação da tríade no ser humano, isto é, a criação de uma linha contínua de resultados.

Com toda a sua sagacidade, o filósofo Greco-armênio, Georges Ivanovitch Gurdjieff, expressava sua interpretação das escolas de conhecimento e de mistérios como meios de transmissão de verdades arcanas que não poderiam ser traduzidas nos marcos da linguagem convencional. Segundo ele deveria haver uma “ciência objetiva”, uma unidade de todas as coisas e “procurava-se, pois, colocá-la em formas capazes de assegurar sua transmissão adequada, sem risco de deformá-las ou corrompê-las”.

Assim, “dando-se conta da imperfeição e da fraqueza da linguagem usual, os homens que possuíam a ciência objetiva tentaram exprimir a ideia da unidade sob a forma de ‘mitos’, “símbolos” e ‘aforismos’ particulares que, tendo sido transmitidos sem alteração, levaram essa ideia de uma escola a outra, freqüentemente de uma época à outra”.

Estas ideias não atuavam sobre os estados convencionais, normais de consciência do homem, mas sobre níveis superiores, o que ele denominava “centro emocional superior” e o “centro intelectual superior”. Ao primeiro, o “centro emocional superior”, destinavam-se os mitos, ao segundo, o “centro intelectual superior”, os símbolos.

A Maçonaria, portanto, elegeu como meio por excelência de aprendizagem a simbologia herdada tradições do passado que permeiam as instruções dos seus graus e seu Manual de Ritualística. Resultante da confluência mais recente das velhas Oficinas operativas de Roma e da Itália em seus albores, das corporações de ofício medievais e das contribuições dos filósofos herméticos e mestres da "Arte Real, esta nobre Ordem é a guardiã no Ocidente de um corpo de verdades que são incorporadas pelo Obr.'. através do trabalho consciente em Loj.'.. Isso significa que na verdadeira Maçonaria, assim como no "Trabalho", nenhuma transformação pode se operar sem que haja uma "harmonização" do Templo interno e do externo, do físico, do emocional e do intelectual. Tal como no "Quarto Caminho" nada é possível sem que os centros sejam harmonizados, tanto é que ao entrar no Temp.'. físico o cortejo de MM.'. deve, conduzido pelo M.'. de Cer.'., entrar em um "oceano de tranquilidade".

Na Maç.'., mais que em outras ordens, prerrogativas fundamentais do trabalho estão presentes. Em primeiro lugar, a necessidade de ser um bom "Chefe de Família", alguém que tenha responsabilidades e as cumpra. Ao contrário das falsas "ordens" de adolescentes (bruxaria, satanismo, simulacros da "Golden Dawn" e Thelema e mesmo da "Rosa Cruz" mercadológica) a Maçonaria exige que o M.'. seja trabalhador, tenha renda e seja fiel às suas obrigações no casamento e com a família.

Gurdjieff advertia que nenhum lunático ou vagabundo poderia ingressar no trabalho. Nenhum lunático ou vagabundo pode ser iniciado na Maçonaria.

Outras exigências da condição maçônica também são similares às do Trabalho. É indispensável uma vida sexual saudável e sem aberrações. Também é preciso tempo e recursos para cumprir obrigações maçônicas e socorrer aos homens.

È fundamental a humildade porque no trabalho das oficinas todos os Obr.'. são iguais e regidos pelo nível. Em uma Loj.'. mesmo o Ven.'. M.'., caso transgrida os rituais ou a Lei Maçônica pode ser corrigido pelos IIr.'. O objetivo da Maçonaria, assim como no Grupo do Quarto Caminho ou a "Sangha" budista é escapar da "prisão do mundo material" e esse ato não se executa sem ajuda mútua. Por isso, equivocadamente, a Ordem foi confundida por tanto tempo como uma Sociedade de Socorro Mútuo. De certa forma não deixa de sê-lo.

Porém, ser Maçom não significa que se está no Trabalho Real.. No Trabalho Real de um Grupo Gurdjieff é preciso sempre estar trabalhando não apenas exteriormente, mas, sobretudo interiormente. Nas Loj.'. se diz um Ir.'. que está indisposto com outro Ir.'. não deve comparecer a suas reuniões para não comprometer a Egrégora.

Porém, nem sempre este mandamento é levado a sério na prática. Em sentido amplo, no Trabalho, as coisas não são vistas tão "formalmente" e o mestre de um Grupo pode tomar decisões mais ou menos duras que soem como destempero ou demasiadamente violentas.

Nesse sentido, o "Trabalho" transcende todo o resto e penetrar nele, como diria Nicoll, é submeter-se a mais Leis ainda que o comum dos mortais na Terra. É preciso estar ciente disso antes de tomar qualquer decisão preliminar sobre ele.

Autor não identificado.


OS DEGRAUS DO TEMPLO MAÇÔNICO


INTRODUÇÃO
Nos Templos onde as Lojas trabalham sob a égide do REAA existem DEZ degraus que expressam uma hierarquia e, nós maçons, devemos procurar entender o significado da sua escalada, pois, eles nos conduzem a uma liderança e quando galgado por irmãos não preparados levam a Loja à desarmonia.   

Por unanimidade dos autores da literatura maçônica os degraus  dos Vigilantes não têm nomes, os demais, segundo a maioria dos autores, possuem nomes com seus respectivos significativos.

DESENVOLVIMENTO         

No Ocidente
Temos um degrau na mesa do segundo vigilante: e dois na do primeiro vigilante significando, portanto, uma hierarquia existente.                     

No Oriente  
Temos separando o Ocidente do Oriente quatro degraus.

É o Oriente o lugar dos Mestres Instalados que ali chegaram através de estudo, experiências e vivência maçônica.              

O primeiro o da FORÇA corresponde a todo o Ocidente da Loja e representa o conjunto da força física e espiritual dos irmãos, em torno do Venerável, e, quanto mais unidos estiverem todos, mais forte será esse degrau.
Seguem-se os três degraus seguintes entre as duas grades, pelos quais subimos para o Oriente.        

O segundo degrau é o do TRABALHO que corresponde simbolicamente o desbastar pedra bruta, o desbastar das nossas imperfeições no nosso caminho em busca da evolução.  Significa também trabalho de saber conduzir uma Loja mantendo todos os obreiros em harmonia. Significa ainda o exercício do honesto trabalho das oito horas diárias, para garantia do sustento digno para a nossa família.        

O terceiro degrau é o da CIÊNCIA, que se consegue através do estudo. O aprendizado constante que leva à Sapiência ou à Sabedoria. É o conhecimento das coisas e das causas, que libera o nosso espírito para entender a filosofia que cultivamos (combate incessante a Intolerância, a Ignorância e ao Fanatismo). 

É através da ciência que  Deus se manifesta onde o homem é seu instrumento.       

O quarto degrau é o das VIRTUDES, que habita o Ocidente e os quatro cantos da Loja, cuja prática é indispensável para a subida da Escada de Jacó, essa noção emblemática da nossa escola de Regeneração.       

Nesse momento atingimos o Oriente e para chegarmos ao Santo dos Santos, que está por baixo do dossel, necessitamos ascender mais três degraus, antes de sentarmos na Cadeira de Salomão.

O primeiro degrau é o da PUREZA de sentimentos e de conduta diante do próximo, sem subterfúgios, calúnias, agindo com sinceridade e transparência, em todos os momentos da nossa vida. É o agir sem preconceitos e evitar a prática do mal.    

O  segundo degrau é a LUZ, a nossa opção contra as TREVAS. O caminho do bem, sempre pronto a combater o mal. A compreensão da sua existência sobre a Terra. A abertura da Inteligência a um nível mais alto. A iluminação do espírito e da consciência, o momento esperado quando vemos a Estrela Flamígera, apanágio de poucos. 

A Luz que nos invade o corpo e nos enche de alegria que nós conduz à presença do Criador.     

O terceiro degrau é o da VERDADE, de onde julgaremos e onde seremos julgados por todos, e se passarmos sem mácula, e através de um procedimento justo, exemplar e reto, faremos a Loja progredir e brilhar. Neste patamar da escalada evolutiva mereceremos então receber o título de Venerável, aquele que deve ser honrado por sua Loja.

 CONCLUSÃO
Concluo refletindo que o Oriente DEVE ser constituído de destacados e virtuoses Obreiros. Se a qualidade moral, cultural e ética das pessoas que compõem a Loja é ruim, de que adianta o mais sábio dos homens em sua presidência?

Quem faz uma Loja, quem dá luz ao espetáculo, quem brilha de fato, não é o venerável, o Grão-Mestre, são todos os membros Unidos na oficina e abençoados pelo Incriado. Aquele que sobe o último degrau e já introjetou s filosofia dos demais serve aos que estão em degraus inferiores.

Na ordem maçônica, o mestre maçom está empenhado em um processo de melhoria interminável onde não deve ser visto o poder pelo poder, mas pelo servir. Para obter sucesso o não servir coloca em cheque o que os degraus nos orientam, e quanto mais nós subirmos na hierarquia da Loja, mais se empenhados deveremos ser em servir e isto nos proporcionará verdadeiro e natural poder e Capacidade de refletir a sabedoria gerada nos demais Quadrantes do Templo.

Autor: José Geraldo da Cruz Oliveira


SOMOS PEDRA


Ademais a Maçonaria, construindo-se em um Centro de União, bem se sabe, deixa aos cuidados de cada Ir.’., religião ou filosofia. Contudo de modo genuinamente maçônico, sem sair do campo bíblico, deve ser dito que melhor nos identificamos com a pedra.
As corporações da Idade Média, que construíram as grandes catedrais, de sua arte tiveram valores morais e espirituais que ainda servem de fundamento a doutrina maçônica.
Análogas, a Arquitetura ( ou arte de construir ) e a nossa sublime ORDEM. Construindo de modo Real; outra, construindo simbolicamente de modo ideal, filosófico.
Os maçons de hoje não mais operários, mas sim aceitos ou especulativos, propõem-se a erguer edifícios abstratos, quais sejam templos a virtude.
Não nos negamos, aceitar significados mais espiritualizados, como sermos participantes na construção de um Grande Templo que existe projetado no interior do coração de cada um.
A origem etimológica do vocábulo maçom, o substantivo “makjo” do verbo “makòn” – “fazer ou preparar argila para a construção”, deduz-se o de formas vocabulares sem documentação, reconstituído pelo latim medieval “machio” e o Frances “maçon” (com o final (N) no português onde finalizamos com um (M) , maçonaria é a arte de construir do pedreiro. Somos pedreiros.
A interpretação de símbolos nos permite dizer que o maçom tanto é “pedreiro” como é “pedra”. No 2° livro de Reis; 6° capítulo e narrado a construção do Templo de Jerusalém, tem servidos de notáveis lições maçônicas desde a Idade Média.
Os operários de Salomão e os de Hiram seu aliado, Rei de Tiro, e os Giblitas (da cidade fenícia de Gebal que os gregos chamavam de Biblos) cortaram e prepararam as madeiras e as pedras para a construção.
Registra a Bíblia: “O Templo foi construído com pedras já talhadas; de modo que não se ouviu barulho de martelo, de cinzel, nem qualquer outro instrumento de ferro no Templo, durante sua construção. (II Reis 6.7). As pedras e madeiras são lavradas. Aquelas pedras bem preparadas e levadas por operários mais hábeis ao lugar devidamente projetado na Grande Construção.
Este os destinos que tiveram mortes capazes de nos ensinarem a viver.
Enfim somos pedras. Embora saibamos que o corpo físico tornará ao pó e nos sentimos esmigalhados pela pedra de mestres, prosseguimos no trabalho de preparar a pedra (que somos nós mesmos), pois possuímos um Templo delineado pelo S.A.D.U. em nossos corações.


Laquito Leães


O TEMPLO DEVE SER RESPEITADO



Sinopse: Cada um se dá o valor que acha valer.

O templo não é local exclusivo para fazer ordem-unida, marchar, bater continência, apresentar armas, formar fileira, ler a ordem do dia e cumprir ritual de forma impecável. É local sagrado! Sim! É o espaço tridimensional físico mais sagrado que o maçom possui: ele mesmo! O templo é o local onde ele se percebe em união com o Todo.

É inaceitável comportamento inadequado dentro do templo que representa o homem símbolo no universo. Não se trata do templo físico feito de cimento, areia e tijolos: isso é matéria. O templo é outro. Feito de carne, ossos, nervos, e, principalmente, intelecto e espírito.

A loja representa o homem. Feita para o homem. Simbolicamente é um homem deitado de costas com a cabeça no oriente. Adentrar ao templo significa que se está penetrando o local mais recôndito de si mesmo: representação viva do que cada um é.

O maçom esclarecido e espiritualizado entra no templo consciente que está caminhando dentro em si mesmo. Local onde prospecta por virtudes, valores e mudanças em todas as dimensões.

É na aparência externa que o outro reconhece imediatamente aquele que já se iniciou maçom. Uma coisa é iniciar alguém, isso é simbólico, outra é iniciar a si mesmo, isso é sublime, real!

A iniciação simbólica é trabalhada no grau de Aprendiz Maçom; a iniciação real acontece depois, em surdina, no íntimo de cada um. Inicialmente burila-se o lado externo da pedra: mundo da aparência, da fantasia, dos sentidos, daquilo que parece ser.

Subsequentemente trabalha-se o interior da pedra, da realidade, daquilo que os outros não vêem: que representa o maçom no universo. Este é o maçom de fato e em sentido lato.

Aquele que já se iluminou enxerga dentro de si mesmo, vê dentro da pedra. O que passou pela cerimônia da iniciação pode até camuflar sua aparência externa que os outros vêem, mas é impossível camuflar de si o que ele é por dentro.

A transposição das colunas vestibulares separa dois universos: macro e microcosmo; no macrocosmo está o homem que parece ser: corresponde à sala dos passos perdidos, átrio etc.; no microcosmo o homem real, que é: sua essência, existência, realidade, consciência, alma, templo, etc.

Tudo no universo é energia. O homem é energia. O pensamento é energia.

A Mecânica Quântica já caminha em direção da obtenção de explicações razoáveis desta manifestação. Místicos reportam-se a algo denominado por eles como Egrégora, uma força coletiva que se manifesta em condições especiais de colaboração e fusão espiritual. Até associam a manifestação do espírito de pessoas mortas na criação desta manifestação etérea.

Mesmo ao incrédulo da manifestação energética dos mortos em tais ocasiões há de considerar, no mínimo, a presença das pessoas vivas que colaboram com a criação de um campo energético concentrado. É física! O homem já está quase lá!

Por ora apenas intuímos e percebemos tal possibilidade sentida, mas em futuro próximo haverá comprovação científica desta manifestação energética.

Isto dá sustentação para a necessidade de preparar o templo material de pedra, de modo a tornar-se eficiente para concentrar energias. Entrar no templo antes do que se definiu por consenso, ritualística e regulamentação é uma forma de conspurcar um local sagrado preparado para lidar com variadas formas de energia.

Entrar antes de o ambiente estar preparado é desobediência, rebeldia, brutalidade. Pode-se até entrar antes do permitido! Quem impede ao embrutecido de fazer estragos? Apenas ele mesmo! Desobedecer ao acordado a priori certamente altera o espaço físico onde se formará o homem-símbolo espiritual que cada um é; respeitar tal dispositivo no mínimo acata o direito dos demais usuários do local.

A falta de respeito ao local sagrado altera a essência espiritual coletiva dos irmãos reunidos em assembleia. Por empatia, com sentimento fraterno deve-se reverenciar o sentimento dos irmãos recolhidos dentro de si mesmos em presença do Grande Arquiteto do Universo! Maçonaria não é religião, o templo maçônico não é local de adoração, mas o mais sagrado dos templos que cada um é.

Este local é sagrado, inefável, deve ser tratado com respeito porque assim cada um respeita a si mesmo. O templo de pedra é apenas a sua representação simbólica, mas quem o desrespeita e o conspurca com sua presença ao entrar antes da hora está desrespeitando primeiro a si próprio, depois a todos os outros irmãos que compartilham do mesmo espaço.

Entrar no templo é entrar no lugar mais sagrado do Universo para cada um: é adentrar em si mesmo. E nesta ocasião cada um se dá o respeito que acha que deve; se dá a importância que acha pertinente.

Cada um entra em seu local mais sagrado trajando-se interna e externamente da forma em que se dá importância. Toda sessão em loja é magna para aquele que se respeita. Certo seria trajar-se sempre para evento de importante envergadura, ocasião magna.

O ritual recomenda: terno, gravata, sapato, cinto, meias pretas e camisa branca. Qualquer diferença é apenas aceitável, tolerável, afinal cada um se dá o valor que acha possuir.

Como falar de amor com alguém que nunca foi amado?

Como poderá amar a si mesmo aquele que nunca foi amado?

O bruto que não respeita a si mesmo nunca foi amado.

Se o maçom em formação ainda não despertou e não se dá valor, pode entrar de forma contumaz, com a indumentária com que se sente melhor trajado para comparecer diante de si mesmo, dentro de si mesmo, diante do universo, perante o Grande Arquiteto do Universo: isto é pessoal, é intransferível. Cada um se dá o valor que acha que deve.

O templo é lugar sagrado que recebe a cada um naquilo que é em sentido lato, não tem como escamotear a própria percepção de realidade de si mesmo, da sua consciência e memória.

À glória do Grande Arquiteto do Universo, o templo deve ser respeitado!

Charles Evaldo Boller

Bibliografia:

  1. CAPRA, Fritjof, O Ponto de Mutação, A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente, título original: The Turning Point, tradução: Álvaro Cabral, Newton Roberval Eichemberg, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 448 páginas, São Paulo, 1982;
  2. GOSWAMI, Amit, O Universo Autoconsciente, como a Consciência Cria o Mundo Material, tradução: Ruy Jungmann, ISBN 85-01-05184-5, segunda edição, Editora Rosa dos Tempos, 358 páginas, Rio de Janeiro, 1993;
  3. KEATING, Kathleen, A Terapia do Amor, título original: The Love Therapy Book, tradução: Terezinha Batista dos Santos, ISBN 85-315-0797-9, 11ª edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 98 páginas, São Paulo, 1999;
  4. ZOHAR, Danah, O Ser Quântico, Uma Visão Revolucionária da Natureza Humana e da Consciência, Baseada na Nova Física, tradução: Maria Antônia van Acker, primeira edição, Editora Best Seller, 186 páginas, 1990.


O VENERÁVEL MESTRE MAÇOM NÃO PODE SER UM FROUXO

Uma pessoa jamais deve falar sobre aquilo que ignora e em relação às instituições terrenas ligadas à espiritualidade a maçonaria é a instituição onde isto é mais gritante.

A ciência sobre uma instituição terrena ligada à espiritualidade que tornaria alguém apto a discorrer sobre ela não é necessariamente decorrente da participação efetiva na mesma – não é necessário ser ou ter sido de uma religião para falar sobre ela -, mas em relação à maçonaria sim.

Quem não é um maçom de uma loja reconhecida pela Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI) não tem condição alguma de falar sobre a maçonaria, pois não fazendo parte da egrégora espiritual maçônica que age no plano terreno não faz parte da egrégora espiritual maçônica e assim não sabe o que é maçonaria, pois, não recebe o influxo espiritual necessário para tirar o véu.

Os conspiracionistas que propagam pelo mundo uma pretensa trama de dominação global pela maçonaria não são maçons de uma loja reconhecida pela GLUI e consequentemente não sabem o que é a maçonaria para poder falar sobre o que ela é, fez, faz e pretende.

Toda a ideia que os conspiracionistas têm sobre a maçonaria é apenas produto de repetição cega e vazio e raso por sua falta de essência.

Basta que uma pessoa tenha uma simples faísca da centelha divina vibrando em seu coração para que, com tal consciência, não se deixe levar pelas besteiras que dizem sobre a maçonaria, principalmente sobre as pretensas tramas de dominação global.

Enquanto os conspiracionistas acreditam que os maçons passam o tempo tramando sobre a dominação do mundo os maçons estão debatendo sobre comer peixe assado na brasa ou churrasco de frango em um evento social.

Os conspiracionistas e todos aqueles que vêem na maçonaria uma instituição com força e intenção voltada ao domínio do mundo apenas superestimam a maçonaria vendo nela forças que ela não tem. Tais pessoas, por não serem maçons de uma loja reconhecida pela GLUI e não saberem o que é a maçonaria imaginam que a maçonaria tem planos para o mundo inteiro inclusive para as próximas décadas, enquanto que lojas maçônicas penam para aprovar o calendário das sessões do ano e imaginam que a maçonaria se infiltra na política para aumentar a sua teia de poder, enquanto que a discussão política é de fato proibida e a consciência política dos maçons não é melhor do que a dos não maçons, pois impera o “todo partido político é igual”.

Todo este superestimar que os não maçons têm em relação à maçonaria não é aproveitado de forma instigativa pelos maçons. Se os conspiracionistas e outras pessoas acreditam que a maçonaria tem poder para controlar o mundo é isto que a maçonaria deve fazer, pois, considerando o que é necessário que um homem seja para ser maçom, não há pessoas melhores para controlar o mundo do que os maçons.

O mundo atual, no atual estado de consciência da humanidade, necessariamente é controlado por alguém e o mundo deve escolher quem quer que o controle. Não adianta as pessoas de bem se omitirem do controle do mundo, pois se elas não tomarem as rédeas outras pessoas tomarão.

Desconsiderando a choradeira de que todo controle é “opressão”, que “as coisas devem ser feitas por amor” e “por consciência”, que “controle é coisa de gente do mal” e toda uma infinidade de chororôs, o fato é que o mundo atual no atual estado de evolução da humanidade terá controle por alguém e se não for por uns será por outros.

Há pessoas que simplesmente não pretendem ver o mundo sendo controlado por pessoas que são completamente opostas aos ideais maçônicos, principalmente no que tange à sua falta de moral e à sua falta de ética.

Há pessoas que preferem ver o mundo sendo controlado por homens que não traiam suas esposas a homens que tenham amantes e sejam sustentados por uma propaganda de que o que importa são suas decisões políticas.

Há pessoas que preferem ver o mundo sendo controlado por pessoas inteligentes, cultas e sábias a analfabetos funcionais que louvem a própria ignorância e transformem sua ignorância em virtude sendo sustentados por uma propaganda de que pessoas ignorantes têm um coração mais puro.

Há pessoas que preferem ver o mundo sendo controlado por pessoas que acreditam em Deus e o reconhecem como todo poderoso submetendo-se a ele e às suas leis a pessoas que não acreditam em Deus e por isto ignoram e rejeitam suas leis, mas que são sustentadas pela propaganda de que uma pessoa não é melhor que outra por não acreditar em Deus.

Há pessoas que preferem ver o mundo sendo controlado por pessoas plenamente conscientes o tempo todo a pessoas viciadas em maconha, cocaína, crack e outros entorpecentes, mas que são sustentadas por propagandas insanas em defesa do uso das drogas. O mundo atual em seu atual estado de evolução coloca tais escolhas a todos.

O maçom não é perfeito, mas busca ser e este é o seu trabalho. É através desta boa vontade, de reconhecer-se como ser imperfeito e que necessita ser alguém melhor, que as portas dos céus são abertas ao maçom. O maçom olha para cima e vê Deus como um ser perfeito, por isto se reconhece imperfeito.

O exemplo do maçom é Deus e é nele que o maçom se espelha. Toda a consciência sobre Deus que a maçonaria entrega aos maçons não adiantará se os maçons aceitarem ser controlados por pessoas que não acreditam em Deus.

A geometria na vida do maçom deve ser aplicada em seu pensamento e consequentemente em suas ações. Se o maçom sabe o que está de um lado na busca por Deus deve também saber o que está do outro lado onde há a negação e a rejeição a Deus. Se o maçom sabe o que pode esperar de um homem que maçom busca a perfeição do Supremo Arquiteto do Universo deve também saber o que esperar de alguém que nega e rejeita a Deus.

O maçom não pode ser egoísta e se ele quer Deus para si e sua família deve querer também para os outros de forma a não aceitar que os outros sejam controlados por quem nega e rejeita a Deus. O maçom não pode aceitar que o mundo seja controlado pelo oposto do que ele busca.


É incoerente que o maçom, que busca a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre os povos, que vive pela fé, a esperança e a caridade, que sabe o que é ser maçom e sabe o que é a maçonaria e o que a maçonaria quer para o mundo, aceite que o mundo seja controlado por pessoas que são o oposto da maçonaria e do ser maçom.

Se os conspiracionistas e outros acreditam que a maçonaria tem poder para controlar o mundo é exatamente isto que a maçonaria deve fazer; ou, quem os maçons querem ver controlando o mundo?

Os que negam e rejeitam a Deus?

Os usuários de drogas?

Os que traem suas esposas?

Os analfabetos funcionais?

Os que no futuro vão querer casar com um pepino porque sentem atração física por pepinos?

Os que clamam pela morte de fetos humanos?

Se a maçonaria não se importa que tais pessoas controlem o mundo também não deve se preocupar em protestar contra os resultados das ações de tais pessoas. Uma pessoa que vive por e para Deus agirá neste sentido, enquanto que a que vive contra Deus agirá contrariamente a Deus.

Um maçom verdadeiro sabe o que é a maçonaria e sabe quem são seus irmãos e não precisa pensar muito para constatar o que é melhor para o mundo.

Controle é poder, o poder é para ser usado e para ser usado é preciso ter coragem. Muitas pessoas ambicionam o poder, mas não têm força interior e poder de espírito para mandar o cachorro fazer cocô fora de casa.

O cargo de venerável mestre maçom de uma loja é ambicionado por muitos maçons, mas a maioria não têm pulso para ser um venerável mestre maçom de uma loja. O ser que existe foi criado para existir assim como o poder que foi institucionalizado foi criado para ser usado.

Não adianta desejar ser venerável de uma loja e não ter coragem de usar os poderes inerentes ao cargo de venerável. Se alguém não tem coragem para exercer as atribuições inerentes ao cargo que exerce deve deixar que outro o faça. A sustentação espiritual de uma loja é o seu venerável e a maçonaria a nível global se faz com a conduta – de ação ou omissão – do venerável de sua loja.

O venerável faz a sua loja e a prepara para aquilo que ela fará para o mundo maçônico e para o mundo profano. Não se trata de “ego”, “escravidão” ou “opressão”, mas de cumprir a função que se exerce.

O venerável deve ter coragem de ser venerável; não pode ter medo de fazer o seu dever por medo de ferir os sentimentos de um irmão ao contrariá-lo em sua opinião.

A maçonaria, à luz da Grande Obra de Deus, é piramidal e consequentemente hierárquica. Quem não tem condições de compreender e aceitar um sistema hierárquico e obedecer a regras não pode ser maçom. Uma pessoa que leva para o lado negativo – principalmente o da ofensa pessoal – uma decisão hierárquica tomada por seu superior na mais completa e absoluta imparcialidade e com lealdade e boa-fé não pode ser maçom.

O venerável de uma loja deve confiar em seus irmãos a ponto de ter a confiança de que suas decisões, tomadas quando necessárias e para o bem da loja, não serão levadas para o lado negativo, o lado do vitimismo.

O maçom, além de não poder ser vitimista, deve tanto ser maduro para não levar a decisão do venerável como uma afronta pessoal quanto deve confiar em seu irmão exercendo o cargo de venerável. A vida é feita de fases e para alcançar uma nova é preciso transcender a fase em que se encontra e se uma loja não consegue aprovar o cardápio de um evento social quanto mais conseguirá construir o seu próprio templo. Quando as questões ordinárias e pequenas de uma loja começam a procrastinar indefinidamente cabe ao venerável usar o malhete para que a loja possa evoluir.

Fora da maçonaria existe um mundo que não para e enquanto maçons perdem tempo discutindo se vão comer peixe ou frango em um evento social existem pessoas moral e eticamente abomináveis que trabalham constantemente para controlar o mundo para fins abomináveis. A maçonaria deve otimizar o seu tempo para que os maçons possam trabalhar aquilo que realmente precisa ser feito no mundo e que diz respeito não só à loja ou aos maçons, mas a todos.

As questões ordinárias e pequenas de uma loja devem ser resolvidas, mas não se deve perder tempo com isto e cabe ao venerável da loja fazer com que a loja resolva logo tais questões sem deixar que coisas assim procrastinem-se eternamente a ponto de comprometer o tempo dos maçons dentro da maçonaria.

A maçonaria não está no mundo para perder tempo discutindo cardápios, locais de festa, se a festa vai ter banda ou DJ e coisas que não têm importância alguma à humanidade. Para que a maçonaria cumpra o seu dever no mundo ela terá que ir ao mundo e para isto ela terá que ter feito o seu dever de casa, terá que ter resolvido as questões ordinárias e pequenas da loja. É dever do venerável ser venerável ao ver que a loja insiste em não seguir em frente.

Entre a maçonaria que controla o mundo e a maçonaria que não consegue decidir se vai comer peixe ou frango certamente o mundo precisa mais da maçonaria que controla o mundo, mas para que a maçonaria controle o mundo é necessário que já tenha decidido se vai comer peixe ou frango e quando os maçons demoram mais que o necessário para decidir se vão comer peixe ou frango cabe ao venerável mestre maçom da loja agir como venerável mestre maçom da loja.

Para alcançar as grandes coisas é necessário transcender as pequenas. Uma loja que não consegue resolver suas questões ordinárias e pequenas não está pronta para sair ao mundo e agir como maçonaria. O venerável mestre maçom não pode ser um frouxo, não pode ter medo de usar o poder que lhe foi investido, pois se não houvesse necessidade de ter tal poder tal poder não lhe seria dado.

O venerável de uma loja é responsável pela loja e é seu dever levá-la ao mundo, pois o mundo precisa disto. Atualmente a maçonaria é superestimada e muitos pensam que a maçonaria é muito mais do que é, mas poderá chegar o tempo em que ao invés de os não maçons acreditarem que a maçonaria pode tudo acreditarão que ela não pode coisa alguma.

Rudy Rafael


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