ANTROPOCENTRISMO MAÇÔNICO


Alguém, que não me lembro de quando nem quem, disse que, se fosse dado ao Homem o poder de viajar pelo de viajar pelo espaço cósmico com a velocidade da luz, ele, partindo da Terra em direção a Marte, em poucos minutos ali estaria, e, ali então, seria o centro do universo.

 Em um segundo momento, teria esse Homem o desejo de se deslocar em direção a  outro ponto ignoto no espaço cósmico, por mais distante que o fosse, a velocidade da luz e também ali estaria em tempo compatível com a relatividade espaço/tempo, e, lá chegando, também tal ponto seria o centro do universo, portanto, o centro do universo não se encontra em nenhum sistema planetário ou em galáxias, mas, o Homem que, graças a sua natureza evolucional constante e ininterrupta, é o elemento chave universal para se entender a obra do Gr.’. Arq.’. do Univ.’., uma vez criado que fora que fora para atingir o desiderato maior que vem a ser a Perfeição, conforme nos prometera o Cristo em suas palavras anotadas por Mateus, V: 44-48:

Absolutamente. A doutrina do Cristo é clara e cristalina e, se nos colocou diante de um exemplo de perfeição, é porque somos destinados a tal, sem sombras de dúvidas. Mas, como faremos.

Nós, simples seres humanos em estágio mediano de evolução, para alcançar tanta graça? É possível que a atinjamos em uma única existência, por mais profícua possa ela ter sido? Ou ainda, que a conseguiremos galgando os graus Maçônicos dos Ritos os mais diversos? Seria a Escada de Jacó uma alegoria relativa à ascensão a esses graus? Para todas as perguntas formuladas, a resposta é óbvia: não, não atingiremos a perfeição em uma única existência, e/ou galgando os graus e tampouco a Escada de Jacó representa tal disposição intima em atingi-la no menor ou maior espaço de tempo, porém, com certeza, teremos que voltar a este mundo várias vezes, vestindo roupagens novas para ninguém é dado o direito de descarregar sua carga nas costas de outrem.

A Maçonaria vem, através dos tempos, prodigalizando a seus adeptos a chave do grande mistério que é vida, mas para empunharmos esta chave, é necessária uma revolução intima que abale os alicerces de nosso acanhado conhecimento e promova uma mudança radical em nossas convicções, as quais, graças ao “aculturamento” a que fomos submetidos há milênios por religiões e religiosos descompromissados com a verdade eterna, acabaram por nos tornar em adoradores de ídolos e seguidores de deuses os mais estranhos, em detrimento ao Deus de Verdade e Amor, que nos foi mostrado em toda sua grandeza por seu filho unigênito.

William Shakespeare nos diz que a “a transformação é uma porta que só se abre por dentro”, e a Arte Real reside exatamente na condição dos ser humano em empunhar a chave e se decidir a abrir esta porta, contudo, não basta apenas a vontade de assim proceder.

Faz-se absolutamente necessário que a esta vontade se alie uma disposição resoluta e determinante de “gestar” o Homem Novo, qual Fênix a reviver das cinzas, e nascer novamente, mas, agora em uma ou mais reencarnações, mas, na presente vida e em cada vida, se faça uma ressurreição completa e total, deixando pós si os despojos do Homem Velho, qual indumentária gasta e rota pelo uso, molambos que o tempo se encarrega de esmaecer e reduzir a pó e ao pó voltará como dantes.

A ressurreição não ocorre da maneira como a entendem os teólogos defensores do retorno do espírito ao corpo que ocupara até a ocorrência da morte. O Gr.’. Arq.’. do Univ.’. não está à disposição do homem para derrocar Suas próprias leis naturais a fim de satisfazê-lo em devaneios e tolices respaldadas em uma teologia não compromissada com a Verdade Inefável.

Somos pó e ao pó voltaremos enquanto espíritos encarnados em corpos materiais apropriados ao nosso desenvolvimento moral, intelectual e físico, contudo, visando sempre à evolução do espírito, esse sim, imortal e criado a imagem e semelhança do Criador Incriado.

A ressurreição é o símbolo da morte do Homem-Ego e o parto do Homem-Cósmico, gestado a partir do próprio Homem, ou seja, ela ocorre diversas vezes durante suas vidas terrenas, sempre que atinge um patamar de sabedoria que o torne cada vez mais, um ponto luminoso em beneficio da humanidade.

Cada momento da Iniciação Maçônica, cada Instrução, cada símbolo, em todos os graus de qualquer Rito, é um canto de houzanas ao progresso infinito a que está destinado o Homem. Não existe superficialidade na Maçonaria, a não sermos nós, seus adeptos, que ali estamos exatamente para emergir dessa superficialidade e despontar em direção à luz Maior.

O antropocentrismo universal é lei de vida. Se nós, Homens, somos a mais perfeita obra do Senhor, lógico acreditar que estamos destinados a alçar patamares da evolução condizentes com a escalada perfeccional, apesar de nossas imperfeições morais, as quais, com o correr dos tempos, vão se depurando e transformando-se em aprimoramento do caráter humano.

Toda ocasião em que adquirimos um conhecimento a mais e o aplicamos em beneficio da sociedade como um todo, estaremos confirmando a condição de Homens voltados para o progresso e para a paz. A Maçonaria prodigaliza a seus adeptos todas as “ferramentas” necessárias à construção intima.

Quando ouvimos de qualquer obreiro que se faz necessário “modernizar” a Maçonaria, sentimos um estremecimento e uma angustia imensa, por não acreditar que ainda existam membros da Sublime Ordem com discursos tão retrógrados.

Como se faz para modernizar o que é sempre atualizado? É possível operar mudanças sensíveis em uma instituição cuja doutrina filosófica está há mais de mil anos à frente da humanidade? Nossa presunção é tamanha? Não seria mais lógico e salutar enxergarmos a imensa trave em nossos olhos, e, após retirá-la, descobrir, maravilhados, o quanto estávamos atrasados em relação à Ordem a qual pertencemos cuja disposição precípua é iluminar o caminho perfeccional para que o Homem evite os abismos eivados de vícios, de orgulho e egoísmo, de ódio e rancor, e passe a trilhá-lo não como um conduzido, mas, orientado e amparado pela Sabedoria que os faz distinguir o certo do errado; palmilhando o caminho com a Força da determinação em chegar a seu término e, por onde passe, ornamentando-o com a Beleza da Virtude e do Amor?

É dever de todo Homem procurar o caminho da perfeição. É dever de todo Homem se iluminar. É dever de todo Homem lutar pela Liberdade de Consciência. É dever de todo Homem promover a Igualdade entre os povos. É dever de todo Homem difundir a Fraternidade universal. É dever de todo Homem mudar o mundo, a começar por si mesmo.

Façamos, pois, com que a Luz Crística oculta em nosso mais recôndito íntimo se faça presente em todos os momentos de nossas vidas. Tornemo-nos pontos luminosos a espargir esta luminosidade pelos caminhos perfeccionais por onde caminha a humanidade, cabisbaixa e vencida pelas dificuldades, pelos abismos e escolhos originados da perplexidade com que o Homem encara sua vida na face da Terra.

Eis que são chegados os tempos de colher o que foi semeado. Preparemo-nos então condignamente para que a colheita seja farta e a messe repleta de bons resultados.

“Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem ao que vos tem ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam. Para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus; o qual faz nascer o sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos. Porque se vós façais também o mesmo? E se vós saudardes somente vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios? Sede vós logo perfeitos como também vosso Pai celestial é perfeito”.

Ora, se o Divino Amigo nos prometeu a perfeição, com certeza não estaria Ele brincando conosco e muito menos mentindo, visando assim ganhar novos adeptos. 

Walter de Oliveira Bariani e escritor, Past Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Rondônia, além de ser Membro da Academia Maçônica de Letras do Estado de Rondônia e Membro Correspondente da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas Universum, de Porto Alegre – RS, e da Loja Fraternidade Brazileira de Estudos e Pesquisas Maçônicas de Juiz de Fora – MG.


VAIDADE MAÇÔNICA


“Deus nunca deu as costas ao homem e nunca o enviou para novos caminhos salvo quando ascende a divinas especulações ou trabalha numa confusa ou desordenada maneira e quando se junta à lábios profanos ou pés imundos. Pois para os relaxados, o progresso é imperfeito, os impulsos vãos e os caminhos negros.” (Zoroastro)

 Eu solenemente avisara ao mundo que, enquanto a coragem é a primeira das virtudes do Iniciado, presunção e imprudência não possuem conexão com ela, mais do que uma caricatura do ex-Kaiser com Julius Cesar ou daquele que se acha acima de todos em sua arrogância e vaidade.

Tais arrogâncias são compostas em parte pelo falso orgulho vindo do amor próprio e da insegurança, parte pelo impulso desmedido que o medo extremo provoca.

Existem soldados que ganharam a cruz em batalha por não por “valor”, mas pela pura falta de autocontrole numa crise de covardia. Disciplina automática faz com que a deserção seja impossível; a única saída é avançar e fazer aquilo que o instinto manda. Eu conheço dois oficiais que não se lembram do ato que os fizeram ganhar a cruz de honra.

Pensamento similar frequentemente faz com que jovens Iniciados esqueçam que o OUSAR ESOTÉRICO deve ser precedido pela vontade e conhecimento, todos os três regidos pelo SILÊNCIO. Este último significa várias coisas, porém a maioria delas guarda relação com controlar-se fazendo com que cada ato seja silencioso, toda perturbação significando desajeitamento ou ânsia.

O soldado pode ou não conseguir carregar o seu companheiro ferido em meio a um bombardeio, porém não existe sorte em Maçonaria e em seu princípio místico/esotérico de suas oficinas. Nós trabalhamos num mundo fluido onde cada ação é compensada imediatamente. Luz, som e eletricidade podem ser usados e assim os efeitos sobre pensamento, fala e ação redirecionar ou retardar qualquer movimento, mas em esoterismo, como a força da gravidade, não conhece obstáculos.

É verdade que se pode impedir a queda de uma flor mantendo-a em cima de uma mesa; mas as forças ainda estão agindo e a ação foi compensada pela redistribuição do stress em cada objeto por todo o universo pelo deslocamento do centro de gravidade do cosmos, do mesmo modo que meus músculos vão de um estado de equilíbrio para outro, a flor manifesta suas energias no mogno em vez de fazê-lo no carpete.

Assim, a presunção em qualquer ação esotérica, sem dúvida, é punida, pronta e merecidamente. O erro é um dos piores, pois atrai todas essas forças que, por serem destrutivas, tornam-se negativas pela dor e encontram seu principal consolo em tirá-las de dentro dos desavisados.

Pior ainda, a expansão histérica do Ego leva a um profundo afastamento da verdade, embora muitas vezes não seja percebido pelo desavisado profano de avental que acredita sinceramente estar vencendo os degraus da senda, ao se pavonear para si e para os outros.

O orgulho, a vaidade, a hipocrisia, tão comuns, também encontram ecos na Sublime Ordem e favorecem obsessões “demoníacas”. Eles inflam o orgulho do tolo; eles lisonjeiam cada fraqueza levando-o a atos dos mais ridículos, induzindo-o a falar as mais delirantes bobagens e fazendo se achar o maior dos homens – homem não, um deus.

Ele toma cada fiasco como sucesso, cada insignificância como um sinal de sua sacrossanta soberania ou da malícia do inferno cujas ações o martirizam. Todo o sucesso que alcança é visto como uma força mágica de seu poder pessoal e todo fracasso é culpa dos outros, ciumentos de suas vitórias.

Sua megalomania oscila da exaltação maníaca a melancolia como ilusões sobre perseguições. Já vi vários casos assim ocorrerem por erros triviais como falta de cuidado em consagrar em afinar-se corretamente com uma Egrégora positiva (desviando o pensamento em banalidades; má-postura; quebra do juramento de silêncio; brincadeiras e conversas e joguinhos ou falas em celular – o que é uma aberração, pois o isolamento no Templo é um princípio místico ESSENCIAL etc.), ou ainda assumir um Grau na Ordem sem ter a certeza do merecimento e sucesso nas provações do caminho; instruir um Iniciando sem ter passado antes a ser verdadeiramente um Neófito; descumprir abertamente os Landmarks e ridicularizar IIr.'. que apontam respeitosamente essas falhas; omitir pontos importantes de rituais achando serem formalidades incômodas e banais; e até fazer apologia a erros pelos quais um homem se convence de que suas falhas são punições causadas pelo excesso de méritos próprios.

Eu me lembro de um homem que atribuiu suas falhas em realizar a corretamente a sua excepcional energia física. Seu corpo, dizia ele, possuía tamanha força interna que ele tinha que se mexer – mesmo sendo algo característico do ser humano comum tentar ficar desse modo, para ele era algo que não tinha nada haver com a sua natureza.

Cinco anos mais tarde ele me disse que se tornou o homem mais forte do planeta e pediu para que eu descarregasse meu revolver no seu peito e não me importasse em ter minhas janelas destruídas pelo ricochetear das balas.

Eu resolvi poupar minhas janelas e, além disso, odiaria ter que limpar a minha arma. Ele então se ofereceu para vê-lo carregar um motor de carro nos ombros e acompanhá-lo na estrada. Disse que não queria e não o insultaria pedindo provas do que afirmava. Ele então foi embora, cheio de si e resmungando. Um mês depois soube que ele sofreu uma paralisia devido a insanidade.

O homem que se gabava do esplendor de sua força agora não podia mover um músculo. O homem que se ostentava agora nem falava; ele apenas urrava.

Casos assim que me mantiveram numa constante vigília contra o “muito orgulhoso em lutar” – ou varrer o chão, caso necessário fosse. A Humildade e a Coerência são as principais forças mágicas do verdadeiro Maçom. Nenhum grau é superior ao outro se não devidamente introjetado e vivenciado, lutando contra a cativante Mosca Azul da Vaidade como atividade real no dia a dia.

 Nenhuma consecução pessoal pode ocorrer sem passos sinceros em cada estágio de crescimento. Existem incontáveis iniciados, especialmente na Ásia, que alcançaram o sucesso espiritual. E esses se mantem desconhecidos e humildes: são os chamados Mestres Secretos que caminham despercebidos entre nós. Porém, mesmo os melhores resultados devem satisfação a nossas aspirações, e estas podem ensandecer o Aspirante, caso não possua “senso de humor e também bom senso” pra conseguir vencer tanto as derrotas quanto, principalmente, as aparentes vitórias.

Assim, pra encerrar, cito ainda, textualmente, o poeta, alpinista e mestre Alesteir Crowley, no qual este texto é baseado (enquanto interpretação livre):
“Eu nunca me deixei esquecer das rochas que me atrapalharam [ao escalar]: o Coolin Crack em Beachy Head (maldito seja!), a altura do Pilar Deep Ghyll (horrível!) ou a face leste do Dent Blanche (exploda-se!). Eu raramente me pavoneio, até mesmo as minhas poesias, a menos que esteja muito deprimido.

Prefiro tagarelar sobre minha ignorância num assunto – uma lista extensa, e sobre a superficialidade de meu conhecimento do pouco que sei fazer. Eu medito em minhas falhas da conduta que ocorrem com a humanidade, minha inocência em muitas características óbvias que ela possui. Minha simplicidade é tamanha que, frequentemente, eu me pego pensando se eu não entendi determinado assunto realmente. Assuntos nos quais outros compreendem com muito menos esforços do que os meus [...].

De fato eu temo tudo aquilo que é característico dos acanhados, sentimentais, vaidosos, escravos que se deixam prender pelas grossas coleiras e braçadeiras de linho nas salas de escritório realizando trabalhos mentais monótonos, conversando futilidades e também terminar meus dias num reformatório ou asilo.

“E novamente digo: eu pareço capaz de fazer, sem qualquer excitação ou medo, coisas que até o mais bravo e mais poderoso e livre dos homens acharia terríveis, coisas as quais nem sonhariam em fazer ou temeriam mais do que a morte.”

SABER, QUERER, OUSAR, CALAR-SE é bom caminho e ação do verdadeiro INICIADO MAÇOM. Erguendo Templos à Virtude e profundas masmorras ao Vício. Sem alarde, sem superficialidade, sem orgulho e principalmente, sem hipocrisia.
Obrigado! TFA.

ADAPTADO DO LIBER 418 A visão e a Voz (Aleister Crowley) – releitura/interferência de Fernando G. S. Ayres, M. M, Grau 18.
Loja Amor e Justiça n 02 e Loja Salvador Mocoso de Graus Superiores


A MÍSTICA DO AVENTAL


O Avental é o típico símbolo do trabalhador. Desenvolvido inicialmente como elemento de proteção, logo se tornou um brasão de identificação da condição e da qualidade do obreiro. Quase todos os tipos de trabalhadores usam aventais, sendo o seu uso uma prática muito antiga, geratriz de uma simbologia cuja origem se perde na bruma dos tempos. 

Na maçonaria, o revestimento do iniciado maçom com o avental do grau significa a sua condição de obreiro e denuncia o seu grau hierárquico. Por isso, em cada grau da Loja simbólica o Irmão usa um avental de modo diferente, símbolo do grau ao qual ele está ascendendo. E essa prática ritualística continua pelos graus superiores, simbolizando em cada tipo de avental o  momento espiritual que o iniciado maçom está vivendo dentro da maçonaria.   

O avental branco do aprendiz simboliza o seu noviciado. É o estado de sua alma quando ele se inicia nos Mistérios maçônicos. Esvaziado do seu ego e purificado pelo ritual da iniciação, ele se apresenta "limpo e puro" na egrégora formada pelos Irmãos como se fosse uma “tabula rasa”, pronta para nela ser escrita os ensinamentos maçônicos. Assim também se apresentava o novato alquimista quando se iniciava nos trabalhos da Grande Obra, da mesma forma que nos canteiros de obras medievais, em que o tipo de avental usado denunciava a condição de iniciante do obreiro.

Os aventais nos quais o Irmão for revestido durante a sua progressão pela Escada de Jacó são os símbolos dessa escalada. Enquanto aprendiz e companheiro o avental é branco, liso, sem nenhuma ornamentação. A única diferença entre um e outro é o fato de o aprendiz usar o avental com a abeta levantada enquanto o companheiro baixa a abeta do seu avental. 

A abeta do avental maçom representa um triangulo isósceles, que nas suas três linhas simbolizam os três graus da Loja simbólica. Por isso é que, vencida a primeira etapa, o iniciado dobra a abeta do seu avental para dizer que ele já percorreu essa primeira linha, que é a do Aprendiz. A segunda linha é a do companheiro e a terceira é a do mestre. Mas quando o iniciado se torna mestre ele também atinge a plenitude dos graus simbólicos, e então o seu avental muda de conformação e nele se inscrevem as três rosáceas do maçom pleno, que representam a aquisição do perfeito equilíbrio, representado pelo triângulo completo. 

Há quem interprete as disposições do avental em Loja simbólica como uma representação das três etapas do aprendizado pelas quais o irmão deve passar: a etapa da pedra bruta, da pedra lavrada e da pedra angular.

Essa interpretação, provavelmente tem sua origem nos graus distintivos da maçonaria operativa, onde os artesãos usavam aventais de diferentes cores e conformações para distinguir os diversos níveis profissionais existentes entre os profissionais da construção. É, portanto, uma interpretação que reclama uma base histórica e nada tem a ver com o esoterismo que se quer enxergar nessa distinção.

Com o passar dos tempos e com os acréscimos simbólicos que foram acrescentados á pratica maçônica, também os aventais foram adquirindo caracteres de verdadeiros brasões representativos de cada conjunto de ensinamentos que se queria transmitir em cada bloco.

Assim é que nas Lojas de Perfeição e Capitulares os aventais foram desenhados para simbolizar as tradições que ali se cultivam, da mesma forma que nos graus filosóficos e administrativos, cada um deles teve a sua representação formulada nos motivos desenhados nos aventais.

Assim eles se tornaram verdadeiros estandartes, onde o conjunto das tradições cultivadas pela Arte Real são traduzidas em símbolos e metáforas, ricas em conteúdo esotérico, filosófico e histórico. Assim é que nos aventais dos graus capitulares, por exemplo, encontraremos muitos motivos evocativos ao crime dos Jubelos, da mesma forma que nas Lojas de Perfeição a ênfase será dada aos motivos referentes à reconstrução de Jerusalém, ao simbolismo da Rosa-Cruz (grau 18) etc. E assim, sucessivamente, até o grau 33, cada bloco de ensinamentos refletindo nos aventais os seus motivos filosóficos.(...)

DO LIVRO LENDAS DA ARTE REAL


A PACIÊNCIA NO DESBASTE DA PEDRA BRUTA



Devemos nos descobrir e caminhar da direção da Luz sem preconceitos, ilusões, vaidades e com a mente clara e imparcial e, sobretudo, paciente, pois há em cada ser humano uma ilimitada possibilidade de bem, de força e capacidade de desenvolver e manifestar as mais elevadas qualidades humanas.

A Paciência é o elemento fundamental para nossa jornada na busca da evolução. Esta evolução é uma meta que somente será atingida com perseverança, constância, sinceridade de propósitos e, muita, muita paciência.

Devemos, pois, Irmãos Aprendizes, desbastar a Pedra Bruta, que é a atual situação das nossas almas profanas para sermos instruídos nos mistérios da Ordem da Arte Real. Ela deve ser trabalhada com cuidado, com carinho e habilidade com o malho e o cinzel, para que chegue apresentar a forma de um paralelogramo. E este trabalho exige à virtude da paciência que por sua vez, está subordinada à fortaleza da alma, a retidão do caráter e ao controle dos vícios.

Esta paciência consiste também, na capacidade constante de encarar as adversidades, tolerando seus amargores. É a resignação de um lado, e perseverança tranquila, do outro.

A paciência é, sem dúvida, uma forma de persistência. É uma qualidade que, de modo geral, não associamos à vontade, mas é parte de uma vontade plenamente desenvolvida em nossa mente e em nossa alma, refletindo seus raios pelo nosso corpo.

A paciência, o tempo e a perseverança, com seus valores extremados, nos habilitam a realizar muitas coisas. Essa ideia, Irmãos, é semelhante aquela já dita por alguns filósofos, aos qual a visão hermética lhes possibilitava tais coisas: “O trabalho da Pedra Bruta é um trabalho de paciência, tendo em vista a duração do tempo, do labor e o capricho necessário para levá-la ao formato de um paralelogramo perfeito”.

Muitos abandonam este trabalho por cansaço e outros, desejando consegui-lo precipitadamente, nunca tiveram êxito.

Na verdade, como está explícito nas linhas acima, é um trabalho árduo e paciente e este é um dos objetivos mais importantes da nossa Ordem Maçônica, e, muito provavelmente, o principal. Os impacientes não conseguem realizar este trabalho. E, finalizando, fica no ar uma frase para pensarmos e refletirmos:

“A Paciência não é como uma flor que pode ser colhida. É como uma montanha, que passo a passo, deve ser escalada”.

Irm.'. Alfério Di Giaimo


O SALMO133 E O PODER DA EGRÉGORA


A primeira referência que um maçom encontra ao participar de uma seção em Loja Simbólica é o salmo 133.

Esse salmo, que é chamado “cântico de romagem de Davi” supostamente teria sido composto pelo famoso rei de Israel, quando se encontrava sitiado por tropas inimigas e precisava dar aos seus comandados uma âncora que os mantivesse unidos e lhes proporcionasse a confiança necessária para lutar pela sua pátria e a sua crença.

O fato de os maçons terem adotado essa oração para ancorar a abertura de seus trabalhos em Loja de Aprendizes se explica pelo fato de a Maçonaria estar centrada em três fundamentos básicos que lhe dão suporte e fundamento.

O primeiro é a ideia que está no núcleo central da sua própria existência como instituto cultural. Essa ideia é a de que uma ordem social perfeita só pode alcançada quando há pessoas com espíritos adequadamente preparados para implantá-la e, principalmente, para defendê-la e preservá-la.

Essa ideia só pode ser realizada através da união entre as pessoas mais preparadas e comprometidas com a ordem social. É uma união que se faz “interpares” e que se realiza através da estratégia da Confraria. É nesse sentido que a invocação ao Salmo 133 realiza esse propósito:

“Como é bom e agradável viverem Irmãos em harmonia. É como o óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, do qual escorrem gotas para sua barba, e daí para suas vestes. É como o orvalho do Hermon, que vem cair sobre as montanhas do Tsión, como bênçãos ordenadas pelo Eterno. Sejam elas perpetuadas em sua vida”.

Isso quer dizer que todos os maçons são iguais e entre eles deve reinar a harmonia. Por isso, a virtude da Confraria, que se traduz na congregação dos Irmãos reunidos em Loja se realiza no simbolismo desse salmo, que consagra a união fraternal. Na luta por um ideal, no respeito por uma crença, na confiança da realização de um objetivo.

A Cadeia da União O segundo fundamento é a prática que resulta da aplicação da Cadeia da União. Essa prática concita os membros da Confraria maçônica a se unir para servir a sociedade, como se esta fosse a sua própria família. Aqui está implícita a virtude da Fraternidade, que é outra divisa consagrada pela Ordem.

É esse espírito fraterno, simbolizado no próprio ambiente gerado pela Loja que resulta em uma egrégora, captando e distribuindo entre os Irmãos a energia que ali circula. Daí a oração final, de encerramento das seções, fechando a Loja Simbólica. ─ Ó Gra .·. Arq .·. do Univ.·., fonte fecunda de Luz, de Felicidade e Virtude, os OObr.·. da Arte Real, congregados neste Augusto Templo, cedendo aos movimentos de seus corações, Te rendem mil graças e reconhecem que a Ti é devido todo bem que fizeram. ─ Continua a nos prodigalizar os Teus benefícios e a aumentar a nossa força, enriquecendo as nossas CCl .·. com OObr.·. úteis e dedicados. ─ Concede-nos o auxílio das Tuas Luzes e dirige os nossos trabalhos á perfeição. Concede que a Paz, a Harmonia e a Concórdia sejam a tríplice argamassa com que se ligam as nossas obras.

 E por fim a instituição, que é a própria organização conhecida como Maçonaria, pessoa jurídica organizada a nível internacional, que congrega milhões de cidadãos em todas as partes do mundo, irmanados por uma promessa, um código de conduta, uma tradição mística e um ideal comum, que é a defesa da Liberdade, da Igualdade entre as pessoas e a Fraternidade entre os povos do mundo.

Essa proposta está consagrada nas palavras finais de encerramento dos trabalhos da Loja Simbólica do Aprendiz, através da pergunta feita pelo Venerável Mestre ao Primeiro Vigilante e da consequente resposta deste: ─ VEN.·. Para que nos reunimos aqui? ─ 1º VIG .·. Para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a Verdade e a Justiça. Para promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantando templos á virtude e cavando masmorras ao vício.

Essa tradição está fundamentada na Bíblia. Em Êxodo, 28, 1:2, encontramos a informação de que Moisés consagrou o Tabernáculo na forma como o Grande Arquiteto do Universo lhe havia ordenado, santificando depois a Aarão e seus filhos como primeiros Sumos Sacerdotes de Israel.

Depois espargiu sobre a cabeça de Aarão o óleo precioso, que escorreu para suas vestes, descendo ate ás orlas do seu vestido. Assim, na sagração do Tabernáculo e na unção do seu sacerdote, consumou-se a União que doravante deveria existir entre Jeová e seu povo, União essa que seria sacramentada toda vez que o povo eleito se reunisse em Assembleia.

Nesse cerimonial, presidido por Moisés no deserto, aconteceu, pois, a instituição da Loja israelita, com todo o sentido simbólico que ela representa. Os maçons, no simbolismo do seu ritual, nada mais fazem do que evocar a mística dessa cerimônia para consagrar a reunião da sua própria Loja.

A força da egregóra, essa é a disposição que também encontramos no estudo e na prática da Cabala. Como diz M. MacGregor Mathers, no preâmbulo da Kabbalah Revelada, de Von Rosenroth: “Grande importância é dada ao ideal de fraternidade.

A potência da fraternidade sempre foi um fato essencial em uma ordem oculta, separada do seu ideal altruísta; há também o espiritual e o físico. Qualquer quebra na harmonia de um círculo permitirá a entrada de uma força oposta. “Um espiritualista experiente testemunhará a favor da verdade desta afirmação.”

Quer dizer: tanto na Cabala, quanto na Maçonaria, é a força da egregóra que leva o grupo á consecução do seu objetivo. O processo assim o exige, pois como já anteriormente declarado, a lei que rege a formação do universo é a Lei da União.

A Cabala explica esse simbolismo da seguinte forma: a barba do Macroprosopo (Deus manifestado como realidade física) simboliza o fluxo de energia que nasce na primeira sefirá e percorre toda a Árvore da Vida (símbolo do universo), unificando a totalidade das realidades existentes no mundo.

Como se sabe, a Árvore Sefirótica, desenho mágico-filosófico com a qual os cabalistas explicam a formação do mundo é uma representação simbólica do universo como realidade macro e projeta o seu reflexo no homem como realidade micro.

Por outro lado, sabemos que a palavra barba, em hebraico se escreve Hachad. Por aplicação da técnica chamada guematria essa palavra, quando decomposta em suas letras, tem valor numérico igual a 13. (A=1, CH=8, d=4 = 13). 

Esses valores correspondem às partes da barba do Macroprosopo, também chamado de Andrógino Superior, Vasto Semblante e Adam Kadmon, imagem usada pelos mestres cabalistas para designar a Energia Divina que se espalha pelo espaço cósmico, gerando a realidade que nós conhecemos como Universo.

Na Siphra Dtzeniovtha, (O Livro do Mistério Oculto, parte do Sefer há Zhoar, Bíblia cabalista), se diz que “da barba, menciona-se que não é feita nem criada. Esta é o ornamento do todo. Ela procede dos ouvidos e tem o aspecto de uma circunferência que se expande constantemente pelo espaço aberto, enquanto seus caracóis sobem e descem. Está dividida em treze partes que pendem com treze adornos.”

 Nesse estranho e enigmático texto os mestres cabalistas querem dizer que a barba do Macroprosopo é a energia que unifica o total existente no Cosmo, fazendo dessa totalidade dispersa uma unidade, ou seja, um Universo.

 Ela procede do ouvido porque o universo é feito através das combinações das letras do alfabeto sagrado (o hebraico) e o Nome Inefável de Deus. Tem o aspecto de uma circunferência porque esta é a forma geométrica que o Grande Arquiteto do Universo escolheu para dar formato ao universo físico. Essa é uma das razões de a Maçonaria ter na Geometria um dos objetos do seu culto.

É circunferência que se expande pelo espaço aberto, exatamente como faz o universo físico em sua expansão. Caracóis que sobem e descem são as ondas e partículas, formas de energia com a qual a matéria universal é produzida. As treze partes são os doze signos do Zodíaco, pelos quais a ciência antiga dividia o universo, mais a parte sutil, o Pleroma, o espaço divino, de onde tudo emerge.

Sendo a energia que unifica ela (a barba do Macroprosopo) é a argamassa que dá liga ao mundo para que ele se torne um organismo único. É o símbolo da União. Para os antigos israelitas a invocação desse salmo designava o espírito de unidade e a fraternidade que devia imperar entre o povo de Deus.

Essa Irmandade era simbolizada pela barba de Aarão, cujo corpo era tido como uma imagem da Árvore da Vida, na qual o fluxo da energia divina percorria desde a cabeça (a sefirá Kether) até a orla dos seus vestidos, ou seja, os pés, representados pela sefirá Malkuth ( o universo físico ).

Assim, o Salmo 133, na verdade, é um simbolismo que está centrado em um segredo arcano de extraordinário significado e a Maçonaria, ao adotá-lo na abertura de suas Lojas não está apenas contemplando a ideia da Fraternidade pura e simples, mas realizando o objetivo cósmico de integração total de todas as emanações da energia divina.

Trata-se, na verdade, de um mantra poderoso, uma âncora fundamental para o eliciamento da energia cósmica necessária para a formação da egrégora maçônica. Que os Irmãos, ao ouvirem o Orador pronunciá-lo na abertura de suas reuniões tenham em mente essa informação, para melhor aproveitamento espiritual dessa invocação.

NOTAS.
A Loja Simbólica se refere ás seções previstas para os três primeiros graus, ou seja, os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre.
Texto conforme a Bíblia Hebraica, traduzida Por David Gorodovits e Jairo Fridlin- Editora e Livraria Sefer Ltda. São Paulo, 2015. Para uma interpretação mais pormenorizada do simbolismo do salmo 133, ver a nossa obra “ O Tesouro Arcano”, publicada pela Editora Madras, 2013.  
Egrégoros, do grego “egrêgorein” são esferas de energia, emanadas dos pensamentos emitidos pelos indivíduos agrupados e ligados mentalmente por um objetivo comum. Aqui o termo é usado como símbolo de corrente energética.
Cf. o Ritual do Aprendiz. As abreviações seguidas de três pontos se referem á Deus (O Grande Arquiteto do Universo) e á Colunas e Obreiros, que se referem á Maçonaria e seus membros, no jargão maçônico.
Idem, Ritual do Aprendiz.
A Kabbalah Revelada- Ed. Madras, 2004
Por isso o simbolismo da “Cadeia da União” que é renovada a cada seis meses, através da transmissão da palavra semestral.
As sefirots (no singular sefirá) são esferas de energia segundo a qual Deus se manifesta para formar o universo físico. São em número de dez e constituem o que, na Cabala, se chama a Árvore Sefirótica, ou Árvore da Vida. São várias as formas de escrever essa palavra em português.
Neste trabalho usamos a forma adotada no livro” Cabala e seu Simbolismo”, de Gerson G. Shollen, traduzido por Hans Borger e J.Guinbusrg, publicado pela Ed. Perspectiva, São Paulo 2015.  AKabbalah Revelada, citado, pg. 89.


Por João Anatalino

NOTA RECEBIDA PELO BLOG ARTE REAL – TRABALHOS MAÇÔNICOS


Gostaria de me desculpar por fugir um pouco da finalidade do blog, mas o motivo é para lá de justificável.

Foi com muito orgulho que recebemos, através de um e-mail, uma mensagem que nos foi enviada pelo Irmão Rui Bandeira, membro da Loja Mestre Affonso Domingues, Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, um dos administradores do blog maçônico “A Partir Pedra”. O motivo dessa felicidade é que o autor da mensagem pode ser considerado, como um dos maiores escritores maçônicos da língua portuguesa.

Segue, na íntegra, a nota recebida.  

“O blog Arte Real - Trabalhos Maçônicos é administrado pelo Irmão Paulo Edgar Melo, Mestre Instalado da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Cedros do Líbano, n.º 1688 do Grande Oriente do Brasil, que trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite, ao Oriente do Rio de Janeiro. 

Este blog foi, assumidamente, criado "para divulgar trabalhos Maçônicos de Irmãos". Publica, assim, textos de diversas proveniências e inéditos (não anteriormente publicados) de maçons que chegam ao conhecimento do seu administrador.

Publica-se há cinco anos (desde julho de 2011), com assinalável regularidade - 1.451 textos até a data de elaboração deste texto, à média de 290 textos por ano, ou seja, mais de cinco textos por semana, em média.

Com esta frequência e quantidade de textos, naturalmente que nem sempre há ópera, mas a qualidade média dos textos é muito interessante e a variedade dos temas abordados muito rica.

Como é natural, essencialmente os textos publicados são originários de maçons brasileiros, mas o administrador do blog, de quando em vez, também divulga alguns textos originalmente publicados aqui no A Partir Pedra.

Os textos dedicados a questões rituais permitem avaliar as especificades da ritualística brasileira, o que é particularmente interessante e instrutivo para os europeus que sigam o blog.

É um blog interessante de visitar e de espreitar. Por vezes - com agradável frequência - deparamos com textos muito interessantes de ler, analisar e, sobretudo, meditar sobre eles. Outras vezes encontramos textos mais simples, o que não é de admirar, por se tratar de blog que publica muitas pranchas de maçons de vários graus e destinadas à leitura em vários graus, por regra no grau de Aprendiz.

É um bom blog de divulgação, que regularmente publica algumas pérolas merecedoras de especial atenção.  

O trabalho de recolha e publicação do Irmão Paulo Edgar Melo é merecedor de encômios.

É um blog que, com gosto e interesse, acompanho regularmente e que recomendo seja acompanhado por quem se interessa pela Arte Real”.

Rui Bandeira

Paulo Edgar Melo


Membro da ARLS Cedros do Líbano, 1688 – Miguel Pereira/RJ - GOB 

O PAVIMENTO MOSAICO



Primeiramente, o que é mosaico? Ao contrário do que muitos já registraram mosaico não tem origem em Moisés. Conforme a etimologia dessa palavra já confirmou, sua origem é a mesma da palavra “museu”. Mosaico é o trabalho feito através da união de diferentes pedras.

Em Loja, diz-se que o Pavimento de Mosaico, constituído de pedras brancas e pretas, simboliza a diversidade do ser humano, mas sempre levado à dualidade das forças: bem e mal, rico e pobre, sábio e ignorante saudável e doente, virtude e vício, feliz e triste. Muitos autores concordaram sobre isso. Será que essa é a verdadeira interpretação? 

Também se diz que o Pavimento Mosaico está presente em nossos templos porque assim era o piso do Templo de Salomão. Será mesmo verdade? 

Outra importante questão sobre o Pavimento Mosaico é quanto ao seu formato. Qual é o correto? Aquele pequeno retângulo na área do Altar dos Juramentos, ou todo o piso da Loja? 

Para encontrar as respostas corretas para tais questionamentos, deve-se por um momento esquecer-se dos nossos Rituais atuais e voltar os olhos para a história: 

Mosaicos faziam parte da arte e da arquitetura romana. Tem-se no livro João, Capítulo 19, versículo 13, que os julgamentos do governante romano Pilatos ocorriam em um lugar chamado pelo termo grego de “Litóstrotos”, e em hebraico chamado de “Gabatah”. Litóstrotos significa calçado por pedras, e Gabatah significa pavimento. Plínio utilizava o termo Litóstrotos para se referir a um Pavimento Mosaico. 

Convencionou-se imaginar que o “Santo dos Santos” do Templo de Salomão, por também ser um local de juízo, possuía um Pavimento Mosaico.

Essa teoria não tem fundamentos na Bíblia, onde consta que todo o piso do Templo era de madeira de cedro, mas é baseada em uma breve passagem do Talmud, que permite uma interpretação de que os lugares mais sagrados dos templos tinham o Pavimento Mosaico. As escrituras e tradições também dão notícia de que o Santo dos Santos, mais alto do que o restante do Templo era delimitado por véus com franjas e borlas (almiazar). Franjas e borlas eram usadas em sinal de respeito e devoção na época. Por borlas, entende-se um adorno pendente. Uma herança dessa tradição ainda está presente, por exemplo, nos populares lenços palestinos. 

Até o final da Idade Média, não se sabia quais as cores desses antigos Pavimentos Mosaicos. Porém, no século XVI, o Rei Henrique VIII autorizou a confecção de um bíblia em inglês, surgindo então a chamada “Bíblia de Genebra”, por ter sido feita naquela cidade. Essa versão traduzida trazia como novidade diversas ilustrações. Entre elas, a do Templo de Salomão, que era ilustrado com um Pavimento Mosaico de quadrados intercalados em preto e branco.

É evidente que não havia outra forma de ilustrar um pavimento colorido, pois a impressão na época era apenas em preto e branco. Porém, com pouco tempo a visão do Pavimento Mosaico do Templo de Salomão em preto e branco firmou-se como realidade. Dessa forma, quando do surgimento dos templos maçônicos, inspirados no Templo de Salomão, o Pavimento Mosaico em preto e branco foi adotado. 

Enfim, as cores não tinham a simbologia da dualidade das forças. As cores eram apenas porque essa era a ideia que se tinha do piso do Templo de Salomão. O próprio Mackey, um dos maiores escritores sobre maçonaria de todos os tempos, confessou isso em sua Enciclopédia Maçônica, declarando que, apesar de equivocada, é adequada a interpretação do Pavimento Mosaico como a dualidade entre o bem e o mal. 

Você pode estar se perguntando: “E a Orla Dentada?” Essa é uma questão interessante. Quando do registro dos primeiros rituais em inglês, o que era uma orla (borda, margem) com franjas e borlas (adornos pendentes) nas extremidades… tornou-se simplesmente “indented tessel” que, em tradução livre, significa “orla dentada”. Mas o que seria então uma verdadeira “orla dentada”? Trata-se do que hoje vemos sobre o trono do Venerável Mestre, em que a borda da cobertura do trono possui “dentes” com franjas, sendo comum atualmente serem feitos de gesso. 

Como se sabe, os primeiros templos maçônicos eram planos e sua ornamentação precária. Por esse motivo, o retângulo onde se encontra o Altar dos Juramentos, o qual simbolicamente representa o Santo dos Santos, não era elevado, o que impedia de se ter uma Orla Dentada real.

Por isso, a Orla Dentada precisava ser desenhada ou pintada no chão, ao redor do Pavimento Mosaico. Com o tempo e a forte presença do triângulo na simbologia maçônica, convencionou-se desenhar os “dentes” da orla em formato de triângulos, e assim surgiu o que atualmente se vê na maioria dos templos maçônicos espalhados pelo mundo. 

Nos Ritos que adotam o Pavimento Mosaico como um retângulo central, os maçons não devem pisar no Pavimento, a não ser aquele que irá abrir e fechar o Livro da Lei, assim como ocorria no Santo dos Santos, onde apenas o Sumo Sacerdote podia ingressar e para realizar um fim específico relacionado ao GADU. A circulação então é feita em ângulo reto, tendo como parâmetro o Pavimento Mosaico.

Já no REAA, prevaleceu o entendimento de que todo o piso do Templo de Salomão era um Pavimento Mosaico, baseado nas ilustrações medievais. Por isso, todo o piso nos templos do REAA é em mosaico alvinegro, e a Orla Dentada, que circula todo o pavimento, está representada pela “Corda de 81 nós”, da qual pendem 04 borlas nos 04 cantos do Templo. Porém, com a perda de tal compreensão e do conhecimento da origem de tais símbolos, além da influência de outros Ritos, é comum encontrar templos do REAA no Brasil que possuem o Pavimento Mosaico restrito ao retângulo central, constituído também de Orla Dentada, ao mesmo tempo em que vemos a Corda de 81 nós sobre as colunas zodiacais, algo totalmente redundante. Onde se vê Orla Dentada não deveria existir Corda de 81 nós, e vice-versa. Dessa forma, não é de se surpreender com as dezenas de significados inventados para cada um desses símbolos: 

Rizzardo da Camino chegou a escrever que o Pavimento Mosaico representa a união das doze tribos de Israel, os dentes da Orla Dentada são os planetas que giram no Cosmos, e que a Corda de 81 nós absorve as vibrações negativas e as transforma em positivas. Castellani preferiu escrever que o Pavimento Mosaico representa a mistura de raças, a Orla Dentada é a união dos opostos, e a Corda de 81 nós representa a comunhão de ideias e objetivos de todos os maçons, tendo suas borlas o papel de representar que a Maçonaria é “dinâmica e progressista”. Não somente discordaram um do outro como suas suposições estavam erradas. 

Apesar de esses dois grandes autores discordarem um do outro em suas teorias, eles têm algo em comum: criatividade. 


Autor: Kennyo Ismail


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