O MAÇOM E A VAIDADE COMO FORÇA ESOTÉRICA NEGATIVA


“Deus nunca deu as costas ao homem e nunca o enviou para novos caminhos salvo quando ascende a divinas especulações ou trabalha numa confusa ou desordenada maneira e quando se junta à lábios profanos ou pés imundos. Pois para os relaxados, o progresso é imperfeito, os impulsos vãos e os caminhos negros.” (Zoroastro)

 Eu solenemente avisara ao mundo que, enquanto a coragem é a primeira das virtudes do Iniciado, presunção e imprudência não possuem conexão com ela, mais do que uma caricatura do ex-Kaiser com Julius Cæsar ou daquele que se acha acima de todos em sua arrogância e orgulho.

Tais arrogâncias são compostas em parte pelo falso orgulho vindo do amor próprio e da insegurança, parte pelo impulso desmedido que o medo extremo provoca. Existem soldados que ganharam a cruz em batalha por não por “valor”, mas pela pura falta de autocontrole numa crise de covardia.

Disciplina automática faz com que a deserção seja impossível; a única saída é avançar e fazer aquilo que o instinto manda. Eu conheço dois oficiais que não se lembram do ato que os fizeram ganhar a cruz de honra. Pensamento similar frequentemente faz com que jovens Iniciados esqueçam que o OUSAR ESOTERICO deve ser precedido pela vontade e conhecimento, todos os três regidos pelo SILÊNCIO. Este último significa várias coisas, porém a maioria delas guarda relação com controlar-se fazendo com que cada ato seja silencioso, toda perturbação significando desajeitamento ou ânsia.

O soldado pode ou não conseguir carregar o seu companheiro ferido em meio a um bombardeio, porém não existe sorte em Maçonaria e em seu princípio místico/esotérico de suas oficinas. Nós trabalhamos num mundo fluido onde cada ação é compensada imediatamente. Luz, som e eletricidade podem ser usados e assim os efeitos sobre pensamento, fala e ação redirecionar ou retardar qualquer movimento, mas em esoterismo, como a força da gravidade, não conhece obstáculos.

É verdade que se pode impedir a queda de uma flor mantendo-a em cima de uma mesa; mas as forças ainda estão agindo e a ação foi compensada pela redistribuição do stress em cada objeto por todo o universo pelo deslocamento do centro de gravidade do cosmos, do mesmo modo que meus músculos vão de um estado de equilíbrio para outro, a flor manifesta suas energias no mogno em vez de fazê-lo no carpete.

Assim, a presunção em qualquer ação esotérica, sem dúvida, é punida, pronta e merecidamente. O erro é um dos piores, pois atrai todas essas forças que, por serem destrutivas esotericamente, tornam-se negativas pela dor e encontram seu principal consolo em tira-las de dentro dos desavisados. Pior ainda, a expansão histérica do Ego leva a um profundo afastamento da verdade, embora muitas vezes não seja percebido pelo desavisado profano de avental que acredita sinceramente estar vencendo os degraus da senda, ao se pavonear para si e para os outros.

O orgulho, a vaidade, a hipocrisia, tão comuns não apenas na Sublime Ordem, favorecem obsessões demoníacas. Eles inflam o orgulho do tolo; eles lisonjeiam cada fraqueza levando-o a atos dos mais ridículos, induzindo-o a falar as mais delirantes bobagens e fazendo se achar o maior dos homens – homem não, um deus. Ele toma cada fiasco como sucesso, cada insignificância como um sinal de sua sacrossanta soberania ou da malícia do inferno cujas ações o martirizam.

Todo o sucesso que alcança é visto como uma força mágica de seu poder pessoal e todo fracasso é culpa dos outros, ciumentos de suas vitórias.

Sua megalomania oscila da exaltação maníaca a melancolia como ilusões sobre perseguições. Já vi vários casos assim ocorrerem por erros triviais como falta de cuidado em consagrar em afinar-se corretamente com uma Egrégora positiva (desviando o pensamento em banalidades; má-postura; quebra do juramento de silêncio; brincadeiras e conversas e joguinhos ou falas em celular – o que é uma aberração, pois o isolamento no Templo é um princípio místico ESSENCIAL etc.), ou ainda assumir um Grau na Ordem sem ter a certeza do merecimento e sucesso nas provações do caminho; instruir um Iniciando sem ter passado antes a ser verdadeiramente um Neófito; descumprir abertamente os Landmarks e ridicularizar IIr.’. que apontam respeitosamente essas falhas; omitir pontos importantes de rituais achando serem formalidades incômodas e banais; e até fazer apologia a erros pelos quais um homem se convence de que suas falhas são punições causadas pelo excesso de méritos próprios.

Eu me lembro de um homem que atribuiu suas falhas em realizar Asana corretamente a sua excepcional energia física. Seu corpo, dizia ele, possuía tamanha força interna que ele tinha que se mexer – mesmo sendo algo característico do ser humano comum tentar ficar desse modo, para ele era algo que não tinha nada haver com a sua natureza.

Cinco anos mais tarde ele me disse que se tornou o homem mais forte do planeta e pediu para que eu descarregasse meu revolver no seu peito e não me importasse em ter minhas janelas destruídas pelo ricochetear das balas.

Eu resolvi poupar minhas janelas e, além disso, odiaria ter que limpar a minha arma. Ele então se ofereceu para vê-lo carregar um motor de carro nos ombros e acompanhá-lo na estrada. Disse que não queria e não o insultaria pedindo provas do que afirmava. Ele então foi embora, cheio de si e resmungando. Um mês depois soube que ele sofreu uma paralisia devido a insanidade. O homem que se gabava do esplendor de sua força agora não podia mover um músculo. O homem que se ostentava agora nem falava; ele apenas urrava.

Casos assim que me mantiveram numa constante vigília contra o “muito orgulhoso em lutar” – ou varrer o chão, caso necessário fosse. A Humildade e a Coerência são as principais forças mágicas do verdadeiro Maçom. Nenhum grau é superior ao outro se não devidamente introjectado e vivenciado, destruindo a cativante Mosca Azul da Vaidade como atividade real no dia a dia.

 Nenhuma consecução pessoal pode ocorrer sem passos sinceros em cada estágio de crescimento. Existem incontáveis iniciados, especialmente na Ásia, que alcançaram o sucesso espiritual. Mesmo os melhores resultados devem satisfação a nossas aspirações, e estas podem ensandecer o Aspirante, caso não possua “senso de humor e também bom senso” pra conseguir vencer tanto as derrotas quanto, principalmente, as aparentes vitórias.

Assim, pra encerrar, cito o poeta, alpinista e magista Alesteir Crowley, no qual este texto é baseado (enquanto interpretação livre):

“Eu nunca me deixei esquecer das rochas que me atrapalharam [ao escalar]: o Coolin Crack em Beachy Head (maldito seja!) o a altura do Pilar Deep Ghyll (horrível!) a face leste do Dent Blanche (exploda-se!). Eu raramente me pavoneio, até mesmo as minhas poesias, a menos que esteja muito deprimido. Prefiro tagarelar sobre minha ignorância num assunto – uma lista extensa, e sobre a superficialidade de meu conhecimento do pouco que sei fazer. Eu medito em minhas falhas da conduta que ocorrem com a humanidade, minha inocência em muitas características óbvias que ela possui. Minha simplicidade é tamanha que, frequentemente, eu me pego pensando se eu não entendi determinado assunto realmente. Assuntos nos quais outros compreendem com muito menos esforços do que os meus [...]. De fato eu temo tudo aquilo que é característico dos acanhados, sentimentais, vaidosos, escravos que se deixam prender pelas grossas coleiras e braçadeiras de linho nas salas de escritório realizando trabalhos mentais monótonos, conversando futilidades e também terminar meus dias num reformatório ou asilo. E novamente digo: eu pareço capaz de fazer, sem qualquer excitação ou medo, coisas que até o mais bravo e mais poderoso e livre dos homens acharia terríveis, coisas as quais nem sonhariam em fazer ou temeriam mais do que a morte.”

SABER, QUERER, OUSAR, CALAR-SE é bom caminho e ação do verdadeiro INICIADO MAÇOM. Erguendo Templos à Virtude e profundas masmorras ao Vício. Sem alarde, sem superficialidade, sem orgulho e principalmente, sem hipocrisia.
Obrigado! TFA.


ADAPTADO LIVREMENTE DO LIBER 418 A visão e a Voz (Aleister Crowley): O Maçom e a Vaidade como força esotérica negativa



Fernando Guilherme S. Ayres, MM (pVM da. A. R. L. S. Amor e Justiça n. 02 - GLOMEAL)

TOLERÂNCIA E HUMILDADE


Era uma vez, um maçom muito austero consigo mesmo, dedicado à causa da Arte Real, não perdia um momento do seu tempo que não fosse para debruçar-se sobre os livros maçônicos e sugar-lhe a seiva do conhecimento impresso em suas páginas, procurando compensar o tempo perdido, pois fora iniciado já em idade provecta.

A presença dele em loja era um terror, abusava da sua idade para exercer o poder de crítica em todos os trabalhos que comparecia e assim ditar cátedra aos mais novos, afinal o seu acervo de conhecimentos, “pensava ele”, dava-lhe esse direito.

Até que um dia, após ter comparecido a uma sessão magna, onde foram iniciados três novos obreiros, no desenrolar da cerimônia, ele não perdeu oportunidade, ficava atento para observar a mínima falha na ritualística cometida pela equipe de trabalho para chamar à atenção do Venerável Mestre, e exigia a correção de pronto, naturalmente o que em muito atrapalhava a cerimônia iniciática, pois nesse momento, a sessão era interrompida, dava-se a retirada dos iniciandos, para que ele desse a sua interpretação e exigia que a correção fosse feita.

O Venerável Mestre, a contra gosto, em respeito aos cabelos brancos do irmão, e não querendo ser agressivo, aceitava as investidas do importunador. Ao término da sessão, nas manifestações dos irmãos, ele se fez ouvir, e numa linguagem imprópria e ácida para um maçom, chamou a atenção do irmão experto e dos auxiliares pelo deslizes por ele observado, ocorridos durante o cerimonial iniciático.

Após a sua manifestação, que ao seu julgamento, fora irrepreensível sob todas as formas, pois se considerava um alto conhecedor da filosofia e dos mistérios da nobre arte dos edificadores do templo. Satisfeito, deixou a companhia dos irmãos, recusou o convite para participar da ágape, onde estariam reunidos todos os irmãos da Loja com seus familiares.

Assim, despediu-se dos demais, e dirigiu-se para a sua residência. No caminho dizia para si mesmo: “... fui ótimo, dei mais uma lição àqueles maçons que não estudam, além do que, não sabem trabalhar com a ritualística; a ignorância com que tratam as coisas sagradas da maçonaria é um despautério despropositado”...  

O interessante é que não comentava a sessão como um todo, em tudo aquilo que fora realizado com esmero e prontidão, embelezando a sessão iniciática, sem uma observação sequer. Após ter percorrido alguns quilômetros, viu-se diante da sua residência, estacionou o seu veiculo, e dirigiu-se para a porta com a chave na mão, abriu-a e entrou, fechou a porta, parou a um passo e sorridente olhou para o interior, viu a sua companheira que se aproximava para cumprimentá-lo.

Entre eles estabeleceu-se o seguinte diálogo. - Então, como foi a sessão? - Como todas as outras que tenho comparecido, sempre sou obrigado a intervir de quando em quando, para corrigir as falhas gritantes que aqueles maçons despreparados cometem.

- Naturalmente, sou alvo de admiração dos presentes, pelo grande conhecimento ritualístico que possuo. - Interrompo a todo instante, para exigir a pronta correção, afinal, eu sou colado no grau trinta e três, o que me dá a condição de ser um Inspetor da Ordem, e me cobre com a autoridade necessária.

- E...? Como os demais maçons recebem as interrupções? Você não se torna inoportuno com essas atitudes?

- Não! Exasperado, grita: - Esse fato não lhe diz respeito! Assim foi interrompido o dialogo entre marido e esposa. Ela constrangida, afastou-se, deixando o marido a sós, com o seu azedume.

Assim que ela se afastou, já recomposto, disse pára si próprio: enfim poderei desfrutar alguns minutos de satisfação, ou talvez horas em completo silêncio e aproveitar para estudar mais e fazer uma reflexão sobre s minha atuação de hoje e verificar se não deixei passar alguma incongruência durante a cerimônia.

Dirigiu-se à sala de estudos sentou-se na sua cadeira predileta tendo antes tomado na estante um livro maçônico, intitulado “A TOLERÂNCIA E HUMILDADE DO MAÇOM”.

Abriu em suas páginas iniciais, e posse a ler. Já de início, discordou do autor, quando no prefácio observou os elogios feitos pelo apresentador da obra, classificando-o como “maçom erudito”, inteligente e ícone da maçonaria.

- Que blasfêmia! Classificar esse autor como ícone da maçonaria!!

- Se ele é um ícone, então como serei reconhecido entre os meus pares? - Com a bagagem maçônica que possuo se até agora não escrevi nada não é opor falta de conhecimento ou capacidade e sim por falta de tempo.

- Gostaria que neste momento, estivesse algum irmão aqui em casa para poder ensinar-lhe o verdadeiro sentido da maçonaria.

- Como eu poderia ser útil a quem quisesse escutar-me, e deixar-me derramar a luz sobre esses inúmeros irmãos que só sabem martelar sem entender o significado esotérico dessa respeitável atitude maçônica.

Arrogantemente, especulava mentalmente, tendo cerrado os olhos fazia seus vôos condoreiros deixando para trás a racionalidade dos efeitos de um perfeito maçom, seguro de sua pequenez, não ele.  

Julgava a si próprio, e valorava-se de tal forma, que parecia somente ele o conhecedor dos mistérios da edificação do Templo de Salomão, e que Hiram Abiff, nada representava dentro da filosofia desenvolvida pelos obreiros da Arte Real. Ouviu um riso gaiato. - Hi!...hi! ...hi!... - Ainda com os olhos semicerrados, pareceu-lhe ter escutado um riso zombeteiro, de início não deu importância ao fato.

Continuou a dar guarida aos seus volteios imaginativos, via-se como o maçom de maior conhecimento e merecedor de todo o respeito pela sua postura, podia até ser tido como um censor dos trabalhos realizados sem loja. - Hi!... hi! ...hi!...

Voltou a escutar com toda a clareza o mesmo riso zombeteiro, o que lhe assustou, fazendo-o abrir os olhos, e perscrutar ao seu redor. Espantado e já sentindo um arrepio a correr-lhe pelo corpo com atitude nervosa, percebeu que ficara temeroso com o que estava acontecendo.

Encheu-se de coragem, procurando acalmar-se, disse para si mesmo:

- “É produto da minha imaginação! Não devo temer, pois nada me atemoriza neste mundo” Assim, uma vez mais, deixou-se levar pela sua mente, novamente se fez ouvir o riso como se alguém presente, estivesse a ouvir-lhe os pensamentos e os desdenhasse condenando a sua arrogância.

- Há!... Há!... Há!...; Abriu rapidamente os olhos, olhou para todos os lados, e intrigado, asperamente, vociferou: - Quem está aí? Não obteve resposta. Novamente, exclamou: - “Quem está aí, quem está tentando brincar comigo?” Após uns segundos de silêncio mortificador, ouviu em resposta.

- Você não queria que alguém estivesse aqui para aprender maçonaria? - Pois eu estou aqui. - Quem é você? Exclamou o maçom. Uma voz soturna, respondeu.

- Eu sou o seu “PENSAMENTO”! Sou o seu julgador, sou aquele que pode contestar as suas atitudes, aquele que levado pelo censo de justiça poderá desafiá-lo em conhecimentos, aquele que poderá discutir com você neste momento, no campo da filosofia maçônica e num desafio entre nós, verificaremos se você aprendeu a fazer uso do maço e do cinzel, no desbastar de suas próprias asperezas.

- Sou aquele que aparece antes que suas ações sejam realizadas; primeiro eu me manifesto, depois você realiza, mesmo às vezes me contrariando, pois antevejo que a ação resultante será nefasta.

- Aceita o desafio? Ora, pensou o maçom, eu ser desafiado pelo meu próprio pensamento, afinal eu que o domino, não poderei perder para ele.

Eu conheço tudo de maçonaria; no Rito Escocês, não me é desconhecido, caminho com segurança dentro da estrada de Aprendiz ao Inspetor Geral, pois já fui colado ao grau trinta e três e percorri todo esse grande trajeto. Os demais ritos, como York, Adoniramita, Schroeder, Francês ou moderno, Egípcio (de adoção), Iluminado de Avinhão, Kilwining, Swemborg, Misrain, etc. outros tantos, não me são desconhecidos. Presunçosamente, exclamou:

- Pois bem, aceito o desafio! E continuou: - Façamos um pequeno debate, um pergunta e o outro responde, está certo? Disse o presunçoso. - Sim, respondeu o seu PENSAMENTO.

Dou-lhe a prioridade para fazer-me a primeira pergunta. - Não, respondeu o maçom, faça-me você a primeira que me disponho a respondê-la.

- Está bem, se assim você quer, então vejamos, far-lhe-ei uma pergunta bastante fácil para iniciarmos. - Diga-me, “o que é maçonaria?” O pretensioso sorriu, e pensou consigo mesmo, “ora essa é pergunta que me faça logo eu que de maçonaria tudo sei, nada me é desconhecido”.

‘Há alguns anos, venho escutando os Veneráveis, na abertura dos trabalhos perguntarem aos irmãos que desempenham o cargo de chanceler: “Que é maçonaria, irmão chanceler?

E a resposta, incontinente do chanceler se faz ouvir em alto e bom tom “... é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e a crença de cada um”.

E complementou o raciocínio. - “É uma instituição Universal e suas oficinas espalham-se por todos os recantos da terra sem preconceito de fronteira ou de raça”.

O maçom, num tom jocoso, verbalizou a sua resposta como vinha escutando há anos, todavia, sem analisar o conteúdo. Enquanto desfrutava o sabor dos seus conhecimentos, verificou que o seu interlocutor pesaroso sacudia negativamente a cabeça.

Essa atitude pegou de surpresa o maçom, ruborizou-se, quase entrando em estado apoplético levado pela irritação que o acometera, pois jamais esperava ter chamada a sua atenção pelas suas afirmações, por considerá-las corretas, sem contestação alguma, e, agora estava sendo chamada atenção pelo próprio pensamento!

- Ora bolas, isso jamais tinha ocorrido em sua vida de maçom!

- Sempre fora tido como um maçom estudioso, inteligente, culto, e ninguém jamais se encorajaram em chamar-lhe atenção ou dizer-lhe que “ele” estava errado em suas afirmações. Pois sempre merecera o respeito dos maçons, em todas as oficinas que teve o prazer de visitar.

O seu interlocutor, pesaroso, disse-lhe:

- Se você não sabe o que é maçonaria como deseja discuti-la, em sua história, em seus ensinamentos, em sua filosofia, em seus princípios?

- Você não acha muita pretensão?

- Se não sei o que seja maçonaria, como você ousa afirmar, diga-me, então o que é a maçonaria, meu pobre pensamento! Que vou contestá-lo e mostrarei que estou com a razão, ou melhor, sempre estive de braços dados com ela, essa é a fórmula inserta em nossos rituais e os seguimos à risca os seus pensamentos.

- Vá lá, o que é maçonaria?

O pensamento refletiu por um momento e disse:

- O que você acaba de mencionar, nada mais representa que os objetivos da maçonaria e não a definição desta ciência para uns, e arte para outros. Várias são as definições de maçonaria, mais a que mais me agrada e esta: “Ordem maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos que se consideram Irmãos por laços de recíproca estima, confiança entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados pela amizade, estimulando-se uns aos outros na prática das virtudes”.

“Em fim é um sistema de moral, velado por alegoria e ilustrado por símbolos.” Embora imperfeitas essas definições sejam suficientes para nos convencer de que a Ordem Maçônica foi sempre, e deve continuar a ser, a UNIÃO CONSCIENTE de homens inteligentes, virtuosos, desinteressados, generosos devotados, irmãos livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade, para se prestarem mútua assistência e concorrerem, pelo exemplo e pela prática das virtudes, para esclarecer os homens e prepará-los para a emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

É, pois um sistema e uma escola, não só de moral como também de filosofia social e espiritual, revelada por alegorias e ensinada através de símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres de homem cidadão, patriota e soldado de bem.

Praticando o bem sobre o plano físico e moral, a maçonaria reúne todos os homens com irmãos, sem deles indagar a crença ou a fé. Por isso e para evitar o desvirtuamento seus nobres e sublimes fins, a MAÇONARIA exige que sejam iniciados em seus mistérios somente aqueles que, reconhecendo a existência do G.’. A.’.D.’.U.’., bem compreendem os deveres sociais e, alheios a elogios mútuos e inclinações contrárias aos rígidos princípios da moralidade.

Busquem-na em elevados sentimentos de Amor Fraternal. - A Maçonaria é, portanto, o progresso contínuo, por ensinamentos em uma série de graus visando por iniciações sucessivas, incutir no íntimo dos homens a LUZ ESPIRITUAL E DIVINA, que, afugentando os baixos sentimentos de materialidade e sensualidade e de mundanismo e invocando sempre o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, os tornem dignos de si mesmo, da Família, da Pátria e da Humanidade.

- Chega! Pare! Não diga mais nada! “Violentamente o velho maçom, gritou ao seu interlocutor”. Este ficou surpreso e interrompeu a dissertação! ...

Aos prantos, disse: - Como agradeço, ó meu pensamento!

- Vivi até agora na escuridão da VAIDADE e da IGNORÂNCIA, sempre tendo como medíocre os meus irmãos, quando na verdade o ignorante, sou eu.  

Como me envergonho das minhas atitudes posso até considerá-las nefastas, quantas vezes me tornei pedante e prepotente diante dos meus irmãos. Quantas intervenções inoportunas e quantas interrupções despropositadas nas sessões em que participei.

- Ainda hoje, tornei-me intolerante, é por isso que os meus irmãos, quando chego à loja, ficam incomodados com a minha presença.

- Muitas vezes, escutei palavras xistosas, com insinuações de ter chegado o professor de Hiram Habiff...

- Eu não entendia como dirigidas a mim!

- Agora entendo por que fugiam de mim. Agora entendo por que, nas sessões em que eu estava presente, os irmãos muitas vezes se encolhiam nas cadeiras situadas no oriente e no ocidente esperando que não me manifestasse.

Nesse instante, o Velho Maçom, pôs-se a chorar copiosamente, colocou carinhosamente, junto ao peito a obra que lhe trouxera tantas reflexões e declarou diante de si próprio, da sua consciência e do seu PENSAMENTO.

- Como eu estava errado, solenemente prometo corrigir-me e me transformar em um novo maçom; na verdade, somente posso fazer apenas uma afirmação, tudo o que eu pensei saber de maçonaria, é pouco, pois na verdade ouso afirmar convictamente:

 “TUDO O QUE SEI, É QUE NADA SEI SOU UM GRANDE IMPOSTOR” A partir de hoje o meu lugar em loja não será mais aquele que eu pensava ser merecedor por direito.

“O MEU LUGAR SERÁ NO TOPO DA COLUNA DO NORTE, COMO O MENOR DOS APRENDIZES DA ARTE REAL.”

Naquele instante nasceram em seu coração os mais nobres sentimentos de: “TOLERÂNCIA E HUMILDADE.”

Miranda Delgado.


O MAIS PROFUNDO SILÊNCIO


Silêncio do latim “silentiu” significa interrupção de ruído ou estado de quem cala.
Desde as primeiras civilizações, principalmente as que tinham sociedades iniciáticas, o silêncio é um importante elemento cultural, imposto drasticamente para salvaguardar seus segredos.
Podemos verificar como exemplo:
No antigo Egito existia o deus do silêncio, chamado Harpócrates.

Entre os magos e sacerdotes egípcios, os iniciados mantinham silêncio total, a fim de se manterem os segredos e iniciá-los à meditação.
Buda, em 500 anos a.C., valorizava o silêncio como condição para a contemplação.
Os Essênios tinham como principais símbolos um triângulo contendo uma orelha e outro contendo um olho, significando que tudo viam e ouviam, mas não podiam falar, por não terem boca.
Eurípides, no verso 470 de sua obra Os Bacantes dizia que verdadeiros são os mistérios submetidos à Lei do Segredo.
Pitágoras, quando criou a Escola Itálica, seus discípulos se distinguiam em 3 graus, o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. O primeiro grau era o “acústico”, assim chamado porque era destinado aos aprendizes que eram somente ouvintes e cumpriam um período de observação de três anos, durante os quais a regra era calar e pensar no que ouviam.
Para os Trabalhadores de Pedras, o segredo e o silêncio sobre sua arte eram uma questão de sobrevivência, constituindo-se, inclusive, num salvo conduto.
Como a Lei do Silêncio é a origem de todas as verdadeiras Iniciações é que podemos, por analogia, explicar o porquê do silêncio e do segredo impostos ao maçom. O segredo maçônico é, de fato, de ordem simbólica e iniciática.
Quando da iniciação do profano é dito pelo V.’. M.’. que a Maçonaria como toda associação tem Princípios e Leis Particulares e que todo associado, deveres a cumprir, além de enormes sacrifícios.Após o Irmão Orador diz:
“O primeiro dever é o mais absoluto silêncio acerca de tudo quanto ouvirdes e descobrirdes entre nós, bem como de tudo quanto, para com o futuro, chegardes a ouvir, ver e saber.” Aqui o Ir.’. Orador ensina ao profano uma Lição de discrição.
No juramento sobre a Taça Sagrada:
“Juro guardar o mais profundo silêncio sobre todas as provas a que for exposta minha coragem.”
Quando da entrada no Templo, o silêncio consiste no despimento de toda carga que é trazida do mundo profano, ou seja, dos assuntos que colidem com o Trabalho Maçônico.
Na abertura dos Trabalhos em Loja o Irmão 2º Diácono responde ao V.’. M.’. que deve velar para que os IIr.’. se conservem nas suas Colunas com o devido respeito, disciplina e ordem, ou seja, no mais profundo silêncio.
O silêncio em Loja só é obtido quando cessam as alterações das lutas emocionais e mentais dos membros do quadro. É quando todas as partes do organismo se subordinam à direção silenciosa do dono da consciência, ou seja, do Ego.
Calar não consiste em nada dizer, mas sim quando o coração está quieto, a inspiração aparece e a visão se aclara, pois o silêncio sempre é mais eloquente que a linguagem. Os que mais falam menos fazem, pois, é uma coisa comum conhecida por todo o observador da natureza humana, que os silêncios dos homens, com frequência, expressam muito mais que as palavras.
Quando do encerramento dos trabalhos o V.’.M.’. diz:
Meus Irmãos, os trabalhos estão encerrados e a Loja fechada. Antes de nos retirarmos, juremos o mais profundo silêncio sobre tudo quanto aqui se passou.”
Aqui é jurado segredo sobre o que se realizou dentro da Loja. Esse segredo representa o silêncio que antecede toda a nova atividade, e é comparada a toda a escuridão protetora, que favorece a germinação da semente nos seus primeiros estados até ter sido aberto o caminho para a Luz, pois a Voz dos sábios e dos complacentes não são ouvidas mais se não por aqueles que sabem se subtrair ao tumulto das palavras e das querelas humanas, para se colocarem no centro e esperar que soe a música do silêncio e aprender a sabedoria, a força e a beleza que fluem desse centro.
Encerrando deixo duas citações que encontrei sobre o silêncio:
Do Ir.’.Germam Mejia Martinez- “El silencio para un Mason”:
“Bazan era um príncipe. Saiu um dia pela floresta de seu palácio. A noite o surpreendeu em plena busca de presas voláteis. Sentou-se sob uma árvore para descansar, quando ouviu sair da folhagem um cantar de ave.
Levantou-se o príncipe e disparou uma flecha, matando-a. Diante da presa caída aos seus pés, meditou e logo disse para si mesmo: “Oh! Como é bom calar e cuidar da língua! Se esta ave não tivesse falado, não teria morrido”. Meus Irmãos, quando falardes, não abusai da palavra. Um silêncio mantido no seu devido tempo tem a eloquência do melhor dos discursos.
Do Ir.’.José Ramon Barragan Lopez, Orador da Loja Verdadeiro Cambio 1985 nº 99, Madeo, Tamaulipas, México:
“Dirijamos agora a nossa atenção para o aspecto interno da manutenção do silêncio maçônico. Muitas e valiosíssimas são as lições do silêncio, assim como de sua beleza e mistério. Do silêncio saímos e a ele deveremos voltar quando chegar a hora. 
Quando estamos em silêncio podemos nos afundar no significado dos mistérios da vida. No silêncio solitário dos nossos corações é onde descobrimos as grandes experiências da vida e o amor.”

Enviado pelo Ir.’.Fernando Pozza
ARLS Estrela Farroupilha Nº 204 • GLMERGS


O PRIMEIRO DEVER DE UM INICIADO



A Iniciação não é de ordem meramente intelectual e não tem por objeto satisfazer a curiosidade, graças à revelação de certos mistérios inacessíveis ao profano.

O que nos vem ser ensinado não é uma ciência mais ou menos oculta, nem uma filosofia que nos desse a solução de todos os problemas: é uma Arte, a Arte da Vida. Muito bem: a teoria pode ajudar-nos a compreender melhor uma arte, mas, sem a prática, não existe artista.

Da mesma maneira, não é realmente iniciado quem não possui verdadeiramente a arte iniciática, e é, portanto, de absoluta necessidade aproveitar todas as oportunidades para colocá-la em prática. De outra parte, como poderemos começar a praticar a arte de viver?

Muito simplesmente, procurando ajudar ao nosso próximo. A vida é um bem coletivo: não nos pertence particularmente; para desfrutá-la, devemos participar da vida dos demais, sofrer com os que sofrem e dar quanto de nós dependa para aliviar suas penas.

Quando, em uma Loja maçônica, o Irmão Hospitaleiro cumpre sua missão com respeito ao neófito, vem a recordar-lhe que seu primeiro dever é ajudar aos infelizes. 

Poderá ver mais adiante que nunca ficam esquecidos os que estão no infortúnio: em toda reunião maçônica é obrigação circular, antes do fechamento, o Tronco de Solidariedade.

Esse costume que se observa no mundo inteiro dá à Franco-Maçonaria um caráter humanamente religioso, que, jamais, terão as associações profanas que pretendam nos revelar os mistérios.

Em todos os tempos, têm existido charlatões pontífices e hierofantes: prometem dar-nos uma ciência infalível, um poder ilimitado, a riqueza neste mundo e a felicidade no outro.

Não pedem, em troca, mais do que a confiança absoluta em suas palavras e o serem reverenciados como semideuses. Inumeráveis são os que se deixam enganar e jactam-se de ser iniciados, depois de conseguirem assimilar algumas doutrinas e de aprenderem a contentar-se com as miragens de certos fenômenos, que mais pertencem à patologia.

As teorias que tudo explicam e os desequilíbrios psicofisiológicos nada têm a ver com a Verdadeira Iniciação. Esta, e nunca se o dirá bastante, é ativa. Torna-nos co-participantes em uma obra, a Obra por excelência, a Magna Obra dos Hermetistas.

A Iniciação não se busca para saber, senão que para obrar, para aprender a trabalhar. Segundo a linguagem simbólica empregada pelas escolas de iniciação, o trabalho tem por objetivo a transmutação do chumbo em ouro (Alquimia), ou a construção do Templo da Concórdia Universal (Franco-Maçonaria).

Em um caso como no outro, trata-se de um mesmo ideal de progresso moral. O que busca o Iniciado é o bem de todos, e não a satisfação de suas pequenas ambições particulares. Se não morreu para todas as mesquinharias, é prova de que, ainda, continua profano.

Se, verdadeiramente, passou pelas provas, seu único desejo será colocar-se a serviço do aperfeiçoamento geral, coletivo e, por conseguinte, correr em socorro do companheiro de fadigas, assoberbado pelo peso de sua tarefa.

Ajudar ao próximo: eis aí o primeiro dever do Iniciado. Sua ajuda espontânea irá a quem o chamar. Não se vai deter em buscar se o sofrimento é ou não merecido, se é consequência de um mau carma procedente de encarnações anteriores.

Os favorecidos deste mundo não estão autorizados a se acreditarem melhores do que os parias da existência. Uma doutrina que tendesse a sugerir sentimentos de tal natureza resultaria, eminentemente, anti-iniciática.

Quem suporta dignamente a dor é um aristocrata do espírito e é credor de nosso respeito, se a sorte foi mais clemente para conosco. Seus sofrimentos não são, necessariamente, expiação de algumas faltas que pudesse haver cometido, e sustentar semelhante tese equivalem a uma impiedade.

Todo esforço produz um sofrimento, que torna mais meritório nosso trabalho. A dor é santa e devemos honrar aos que sofrem. O melhor que podemos fazer é, desde logo, solidarizar- nos com eles, compartilhar suas penas e suas angústias e ajudá-los, do melhor modo que saibamos, material e moralmente.

Toda iniciação que não comece pela prática do amor ao próximo resulta falaz, por maior que seja o prestígio que se lhe queira dar. Pelo fruto se conhece a árvore. 

Ainda que não proporcione à humanidade um alimento de todo são e reconstituinte, a árvore pode, sem embargo, oferecer-lhe um abrigo sob seus ramos, por mais que tão-só seja utilizável sua madeira, uma vez cortada.

Para julgar uma instituição é, portanto, necessário ponderar os serviços que presta à humanidade. Se não inspirar aos indivíduos sentimentos mais humanos, se, graças à sua influência, não sentirem mais profundamente o amor, se não se tornarem mais serviçais uns aos outros, não terá direito a proclamar-se iniciática, porque a Iniciação se baseia sobre o desenvolvimento de tudo quanto contribui para elevar o homem acima da animalidade: pelo coração, bem mais que pela inteligência.

Podemos compreender assim toda a importância do rito que convida o neófito a contribuir para com a assistência das viúvas e órfãos, em cumprimento ao ser primeiro dever de Iniciado.


Matéria extraída do livro “O Ideal Iniciático”.

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