É TEMPO DE ANALISAR A PEDRA BRUTA



Todo o tempo é um bom tempo! 

Para que façamos uma acurada análise da nossa própria Pedra Bruta.

O Natal está chegando e o ano novo está próximo, e nestes dias de expectativas, de planejamento para as merecidas férias, precisamos também, fazer uma sincera auto-critica, de tudo que vivemos, tanto na vida profana, como no viver maçônico.

Pessoalmente, vejo que, em vários momentos deixei de usar a régua de vinte e quatro polegadas, deixando de medir bem o entalhe da minha pedra, quando afrouxei o braço que impulsiona a força do maço, pois, instintivamente, receei o entalhe, deixando, postergando para mais tarde, para depois, o doloroso lapidar das minhas imperfeições, justamente aquelas que ficam no recôndito dos meus pensamentos, nos apegos à materialidade, os quais, nem sempre me dou conta, mas que me marcam internamente, através de atitudes permissivas ao meu ego que prefere tantas vezes o conforto, em lugar do sacrifício pessoal em prol da Grande Obra que visa à construção do Templo da Virtude. 

Também, porque, em outros momentos, quantas vezes deixei de praticar a temperança, sendo muito rigoroso comigo mesmo, não compreendendo que a minha pedra, ao ficar ao lado, junto de outras pedras, o meu esforço em dar exemplos, me faria incompreendido pelos irmãos maçons que me acompanharam no passado em minha Oficina de Trabalho.

Porém, de uma coisa eu tenho certeza, a cerviz da minha pedra jamais foi atingida, riscada, arranhada, quanto ao meu caráter e ao meu desejo de praticar e viver verdadeiramente os ensinos maçônicos.

Digo isto, porque, maçonicamente vivi em meio a grandes controvérsias.

Porque, pertencer a uma pequena Potência, fundar uma Loja e ter que pedir a quebra de interstícios, para compor os cargos que a ritualística exige, é algo muito temerário, quando a elevação e a exaltação de irmãos há pouco tempo iniciados, não têm, ou não tiveram o devido e insistentes esclarecimentos, quanto aos seus deveres perante a Maçonaria, e que a humildade, a disciplina, a obediência à hierarquia são fundamentos maçônicos, que se não observados, praticados e cumpridos, o futuro será incerto, pois as possibilidades de motins, de abalos das colunas do Templo serão sempre permanentes ameaças.

Estou aprendendo com meus próprios erros, porque o desbaste das imperfeições sempre acontece, independentemente da força intelectual, moral, espiritual, do meu maço, porque a Maçonaria é uma obra fraterna, iniciática, a verdadeira escola dos ensinos que conduzem à virtudes imprescindíveis ao progresso geral da humanidade.

O apóstolo Paulo em certa oportunidade falou, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim.

Infelizmente, não me atrevo a dizer que a Maçonaria vive em mim, porque se assim fosse eu já teria alcançado os desejos sinceros do meu coração, quanto aos trabalhos que até hoje realizei.

Porém, estou aprendendo através de duros e implacáveis desbastes, que o amor pela Arte Real aumenta cada vez mais, desde que eu esteja aberto ao entendimento das diferenças que permeiam o viver maçônico.

Estou aprendendo que o medo é a obscuridade do não saber.

Estou aprendendo que a raiva, o rancor e o ressentimento precisam da Trolha do Perdão.

Estou aprendendo que o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, são Luzes que o Grande Arquiteto do Universo prodigaliza a todos os maçons!

Recordo-me dos tempos vividos, dos irmãos gêmeos que foram iniciados comigo, dos irmãos maçons, muitos deles que os iniciei, recordo, enfim, de todos que conviveram comigo, e que hoje estão longe, porque o trilhar e o viver maçônico é uma decisão pessoal, individual.

Recordo, finalmente, do tempo que permaneci adormecido, tempo difícil de viver longe do contato dos irmãos que, - os guardo carinhosamente naquilo que o meu ser, tem de melhor.

Porém, hoje com a nossa Loja União Ordem e Progresso, juntamente nossos irmãos, vivemos  tempos de Paz, em Harmonioso Conjunto Igualitário Fraterno e Solidário, quando no encerramento de todas as sessões, conclamamos, - irmãos visíveis e invisíveis, velem por estes homens, pois sentimos a Egrégora com suas as energias salutares, que se forma naqueles preciosos momentos, em todos os Templos Consagrados ao Grande Arquiteto do Universo, espalhados em todos os continentes do mundo terreno.

Ir.'. Orlei Figueiredo Caldas M.'.I.'. 33º 


POR QUE EU SOU DEÍSTA



Eu acredito que há uma inteligência universal que não podemos entender.

Essa inteligência criadora é encontrada em toda parte e em toda a natureza.

A concepção de uma criança, a germinação de uma semente para uma árvore, o vento, as marés e as estrelas no céu são evidências de uma inteligência inconcebível e incompreensível ao homem.

Este é o meu Deus. Não um deus etnocentrista que escolheu uma turminha de pessoas e os guiou a uma terra prometida, que foi violentada pela guerra, como foi registrada pela história mundial.

Não um deus simplório que permitiu uma cobra, em um jardim, corromper a mulher para tentar o homem, e como resultado foram expulsos do jardim.

Não um deus inseguro que destruiu o planeta com uma inundação porque perdeu o controle do povo. Eu acredito que a inteligência que originou as criações do passado e as que ainda ocorrem, é evidenciada pela existência de uma divindade, um poder, e eu gosto de chamar de Eterno.

Outros não acreditam neste deus, mas acreditam no deus que é descrito na Bíblia, na Tora, no Alcorão ou outro livro sagrado. Acredito que o verbo e a mensagem de Deus se encontram na natureza e que se encontra também em nosso Ser Interior através da inteligência, da razão e na moralidade.

Durante alguns anos pensei que minha fé era fraca e que eu não era um bom cristão, precisava orar e ler minha bíblia. Na verdade a Oração ajudou, mas a Bíblia não.

A Bíblia acabou por lançar mais dúvidas, porque quando mais eu lia a Bíblia, mais contradições e coisas erradas, na minha concepção, eu encontrei.

Havia muitas coisas que desafiavam a razão, e o pior, havia muitas coisas na bíblia que retratam Deus como etnocêntrico, ambíguo, emocional, duvidoso e fraco. Isso é mais humano do que uma divindade. Isso não é meu Deus.

Também é confuso aceitar que Deus permitiria dividir seu poder com uma divindade poderosa e influente chamada Satanás e outros nomes. Eu sei que muitos cristãos são pessoas boas e honestas que acreditam e fazem boas ações em nome de Jesus.

Eu, no entanto, divirjo deles, pois não acredito que precisamos fazer boas ações para alcançar "glória de Deus" e para ganhar a "salvação", devemos fazer o que é certo e bom para nos sentirmos bem conosco e felizes.

As Pessoas não precisam viver sob a ameaça da ‘condenação eterna’ porque acreditam em coisas que desafiam totalmente a razão. A ameaça da condenação eterna e a promessa da vida eterna não são comprovadas e não têm fundamento epistemológico.

Ninguém jamais morreu e voltou dos mortos, portanto não há evidências ou fatos que expliquem o que pode acontecer conosco quando nosso corpo perecer. Muitas pessoas acreditam, apenas porque são informadas por pseudos mensageiros da verdade, que se não seguirem os dogmas das igrejas e dos livros sagrados vão para o inferno. Isso não é fé, isto é extorsão espiritual.

Devo admitir que às vezes eu sinto que as pessoas acreditam que estou atacando os cristãos. Não é minha intenção, na verdade meus questionamentos não são sobre as pessoas, sobre os fiéis, eu divirjo com as religiões, não qualquer uma em particular, mas, questiono apenas essa visão de um deus quase humano, que e descrito como um Ser portador dos defeitos e idiossincrasias dos Seres Humanos.

Fico muito agastado quando vejo pessoas arrojando termos como "Jesus é a salvação", o Brasil é uma "nação cristã". Apenas me perturba que as pessoas ainda acreditem em mitologias, contos de fadas, lendas e fábulas, ficando realmente prisioneiras delas, e não se permitam raciocinar logicamente e com um senso de razão. Elas podem se livrar da ameaça de um inferno inexistente e simplesmente aproveitar sua vida, apreciar e consagrar a natureza, e serem amáveis, fraternas, justas e éticas com os outros.

Em deus eu acredito! Mas, também que Ele me concedeu o ‘livre arbítrio’ e a ‘razão’, eu sou um Ser Racional, e não preciso de ninguém para me dizer quem Deus, e o que devo fazer e me comportar para agradá-lo.

O meu Deus, quando criou o universo e o homem, estabeleceu Leis que regem a Criação, essas Leis Naturais estão no comportamento de cada coisa criada, essas Leis são Universais e mantém a ordem universal.

O homem como criatura, está inserido no universo e, portanto, submetido a essa Lei Universal, e como toda a criação, essa Lei está no próprio homem, em seu interior.

O homem ignorante em princípio, foi ais poucos encontrando essas Leis, da barbárie passou ao período clássico com a filosofia, e ascendeu ao período empírico com a ciência, aos poucos foi desvendando as Leis Naturais Universais. Nesse caminho o homem foi se descobrindo e descobrindo as Leis que devem reger sua existência, assim com as Leis Universais estão em todas as coisas, essa Lei Natural Humana está dentro do próprio homem, cabendo a ele, racionalmente, encontrá-la.

Agradeço ao meu Deus ter criado o Homem racional e inteligente, e como sendo Eu um Ser Racional, me dado condições de mergulhar no interior do meu Ser, e ao encontrá-lo poder adorá-lo e descobrir como posso pautar meu comportamento nesse caminhar que é a vida, para seguir as Leis Naturais Universais, e poder me tornar um Espírito Livre e um Ser de Bons Costumes.

Quando eu quero encontrar meu Deus, não preciso buscar qualquer edifício material, eu simplesmente penso, não preciso nem recitar palavras, pois ele está em mim. Ele está dentro de mim!

Isso é porque penso que sou Deísta.

Eduardo G. Souza.

INCENSO E ALTAR DOS PERFUMES NO REAA




Um irmão escreveu a Pedro Juk a seguinte questão:

Estimado Pedro Juk, surgiu-me uma dúvida quando estava lendo o Informativo JB News de número 1359, onde outro irmão pergunta sobre o uso do incenso em Loja.

O Irmão respondeu que não está previsto o uso do incenso no REAA, sendo, portanto proibido. Foi ai que surgiu a minha dúvida. Para que serviria o Altar dos Perfumes que fica no Oriente? Ao meu entender seria para colocar uns incensos, umas essências para perfumar a Loja. Não fazer uma cerimônia de incensação, mas apenas deixar um incenso perfumando a Loja. Pode por gentileza sanar essa minha dúvida.

Considerações:
Pois é meu Irmão, esse Altar no simbolismo do Rito não serve realmente para nada. 

Existem três possibilidades de o mesmo ter permanecido no Oriente da Loja sem qualquer utilidade.

A primeira possibilidade talvez tenha sido quando das já extintas Lojas Capitulares, cujas particularidades do mobiliário e decoração se distinguiam do simbolismo.

Houve tempo, já no século XIX, que essas Lojas Capitulares englobavam no Grande Oriente da França e os seus seguidores também o simbolismo, isto é: do primeiro Grau até o décimo oitavo Grau. Quando esse sistema foi extinto, ficando apenas o simbolismo com o Grande Oriente e os demais com o Supremo Conselho, algumas particularidades capitulares acabariam por permanecer no básico maçônico (três primeiros graus), como é o caso do Oriente elevado e da balaustrada.

Assim existe a possibilidade de que o Altar dos Perfumes tenha sido também um elemento do outro sistema (o capitular) que acabara permanecendo onde não deveria ter sido conservada.

Já a segunda possibilidade está na cerimônia de Sagração do Templo, cujo costume acabou se generalizando no Brasil com uma mesma ritualística através de um mesmo ritual especial e específico por Obediência para todos os ritos nela praticados, inclusive inserindo caracteres desconhecidos para alguns sistemas ritualísticos.

Daí talvez dessa cerimônia de Sagração, onde é pertinente o uso desse Altar apenas na oportunidade em que o Templo é consagrado já que a Sagração de um Templo se faz tão-somente uma só vez, acabaria permanecendo esse móvel no Oriente da Loja simbólica escocesa, porém sem apresentar qualquer significado, já que os seus rituais simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) não preveem com ele qualquer prática ritualística.

Quanto à última possibilidade, que eu particularmente entendo como bastante provável, é a do simples “enxerto” no escocesismo simbólico de uma cerimônia de incensação, cuja característica e tradição pertencem a outro rito.

Como o Rito Escocês tem sido tratado como uma verdadeira “colcha de retalhos”, nada mais comum que certos rituais equivocados e ultrapassados tenham por seus autores associado uma cerimônia de incensação com seus turíbulos e incensos e, obviamente não podendo faltar o Altar dos Perfumes.

Deste modo, em se tratando do simbolismo escocês, como esse Altar só é usado na consagração do espaço, não demoraria muito a aparecer à invenção do tal acendimento de incenso na Loja. Destarte, unindo o útil ao agradável, apareceria o elemento fumígeno com o seu respectivo suporte de apoio – o Altar.

Daí também inventar-se-ia até a tal “chama votiva” que deveria ficar acesa sobre o dito altar em alusão à presença do “Criador”, como se já não existisse o Delta que é um dos mais importantes símbolos que relembra a presença da “Divindade”, seja ela de concepção teísta, ou deísta.

Como pelo exposto no Rito Escocês tradicionalmente não existem esses procedimentos, os atuais rituais simbólicos do GOB não mencionam qualquer prática litúrgica que envolva o Altar dos Perfumes e outras ações dele derivadas, contudo o dito ainda equivocadamente permanece identificado como mobiliário na planta do Templo.

O ideal seria mesmo suprimi-lo no rito em questão, senão a sua presença acabaria dando margem, por exemplo, ao juízo como aquele emanado pela vossa respeitável pessoa: “Ao meu entender seria para colocar uns incensos, umas essências para perfumar a Loja. Não fazer uma cerimônia de incensação, mais apenas deixar um incenso perfumando a Loja”.

O ideal seria mesmo suprimi-lo no rito em questão, senão a sua presença acabaria dando margem, por exemplo, ao juízo como aquele emanado pela vossa respeitável pessoa: “Ao meu entender seria para colocar uns incensos, umas essências para perfumar a Loja. Não fazer uma cerimônia de incensação, mais apenas deixar um incenso perfumando a Loja”.

Autor: Pedro Juk
Fonte: JB News, nº 1463


MAÇONARIA E COMPROMISSO



Na Iniciação a Maçonaria como que “firma um contrato” com o novo homem: uma promessa mútua ou obrigação será mantida desde o instante do juramento (compromisso) e enquanto durar a recíproca confiança.

Apesar dos juramentos serem tomados na primeira pessoa do iniciando, também a Loja – e a Ordem como um todo – assumem obrigações para com o Maçom. A partir da entrega do avental, o iniciado deverá estar seguro de encontrar amigos entre os Maçons – mais que amigos, Irmãos dedicados e leais – prontos a prestarem o justo e necessário auxílio nos momentos aflitivos e durante os combates travados sob o escudo da Virtude. Além disso, a estrutura administrativa e cultural da instituição deverá propiciar a Luz do Conhecimento em favor de cada um dos seus obreiros.

Nas etapas da nova vida em Loja a palavra “virtude” revelará sua característica mais íntima: um PODER (virtus = vir, virilidade, força) pronto a passar do dever ao ato com coragem e desprezo pela dor. É por isso que usamos o tratamento “poderoso irmão” que corresponde a VIRTUOSO IRMÃO.

A palavra “Maçonaria” traz à mente, para quem não foi iniciado na Ordem que leva este nome, um relacionamento ou entendimento entre pessoas. É neste sentido que podemos conceituar a natureza social da Maçonaria: um acordo ou entendimento que produz uma série de compromissos.

Um compromisso, por sua vez, resulta de uma promessa a ser cumprida. A palavra promissum que herdamos do latim tem esse significado: coisa devida e obrigação solene assumida perante alguém ou um grupo de pessoas.

A obrigação solene é o principal elemento que faz dos rituais maçônicos atividades sagradas. Os juramentos (compromissos) são tomados em nome do que há de mais puro, tanto para a Loja quanto para o neófito recebido em seu quadro.

Se for transcendente, essa pureza, inefável por si mesma, é tomada como o Princípio Criador e sua contraparte – a Consciência Moral. Ambos são invioláveis, sacrossantos e representados num livro sagrado (a Lei) que não pode ser levianamente tocado, infringido ou violado sem repercussões de foro íntimo.

Assim, cada maçom, curvado em genuflexão diante do Mistério, deposita no escrínio de seu coração as cláusulas de um “contrato” gravado nos arquivos perenes da memória e de sua história pessoal.

A partir da Iniciação o candidato torna-se Aprendiz, isto é, aprende como aplicar a tríade Liberdade-Igualdade-Fraternidade em seus deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com a humanidade. A Iniciação e seu tempo de Aprendiz não visam fazer dele um homem livre e de bons costumes, pois essas são condições necessárias (sine qua non) que ele deve trazer da vida secular.

É necessário que o candidato possua o sentimento de sua própria liberdade e esteja plenamente consciente da distinção entre o bem e o mal. Se, sob quaisquer circunstâncias, ele age contra seus próprios valores é porque ainda é um escravo.

Na Loja de Aprendiz o neófito vai tomar conhecimento, mediante o estudo, a observação e a experiência das ferramentas úteis à aplicação de sua liberdade e de seus bons costumes na condução de seus pensamentos, palavras e ações em direção a Deus, à pátria e à família.

A Consciência Moral consiste em tomarmos certa distância de nossos atos, o que nos permite reavaliá-los e conceber novas atitudes capazes de implementar o bem. Nesse particular vale a advertência de Schopenhauer: “é mais fácil pregar moral do que fundamentá-la na prática“.

Herdamos do antigo Direito Romano o sentido de “obrigação” que tem a promessa: ela retrata um vínculo entre coisas ou pessoas. Esse vínculo ou ligação (ligatio) constitui uma espécie de encargo (obligatio) – servidão voluntária que alguém toma sobre si em determinado momento e que deve ser levada a cabo desde então e até o futuro.

Assim é o Direito, conjunto de condições pelas quais o arbítrio de um pode conciliar-se com o arbítrio do outro, ordenando as associações humanas num sistema de normas lógicas, legítimas e válidas.

O compromisso visto por ambos prismas é, portanto, uma ligação que subordina a vontade singular à pluralidade que rege as relações humanas. Numa Loja maçônica esse acordo ou pacto é um vínculo moral que, além de gerar direitos (benefícios) dá origem a restrições, ônus e gravames (deveres).

Como nas obrigações jurídicas, há sempre uma tarefa ou ofício – um fazer – , mas também o “não fazer” (non facere), duplo aspecto que reflete um ordenamento maior que o Direito e as leis.

Os sujeitos desse “contrato maçônico” oscilam entre a parte que tem o direito de exigir e a outra sobre quem recai o compromisso. Pactua-se sobre o pressuposto de que ambas nutrem uma permanente disposição para querer o bem sendo o objeto (o debitum) sempre o mesmo: um trabalho análogo ao dos antigos pedreiros (os operativos), mas desta vez construindo e reconstruindo a sociedade (os especulativos), levantando novos templos à Consciência Moral, à prática do dever, da justiça, da caridade e das grandes concepções da vida pública.

Toda esta analogia reflete o cenário do Direito das Obrigações com seus quatro elementos:
um sujeito ativo ou credor que tem o direito de exigir a solvência do encargo;
o sujeito passivo ou devedor, sobre quem recai o trato a ser cumprido;

o objeto do compromisso (debitum) que o devedor deve praticar ou abster-se de praticar em favor do sujeito ativo;

o vínculo jurídico que liga os sujeitos dessa obrigação.

Enquanto nas obrigações ditas “civis” um compromisso tem início, meio e término – ou seja, esgota-se ao ser satisfeito seu objeto integralmente – na Lei Natural e no âmbito moral os direitos e as obrigações possuem um conteúdo ditado pela natureza e válido para qualquer tempo ou lugar.

Por exemplo: toda pessoa nasce entranhada de direitos que se desenvolvem à medida que sua personalidade amadurece, dando lugar a compromissos e obrigações de caráter social. São as convenções, ajustes e pactos.

Na mesma esteira o desenvolvimento da sociedade vem marcado por três estágios de reconstrução social dos quais brotaram a inclusão dos direitos e deveres do indivíduo:

Relativamente à cultura do Ocidente, contemplamos o primeiro estágio da reconstrução social no ordenamento religioso e moral contido do pensamento judaico-cristão.

Segundo a tradição, no Antigo Testamento (primeiro acordo ou pacto) a aliança se desenvolveu desde Abraão até o decálogo entregue por Deus a Moisés com três deveres (mandamentos) para com Deus e sete outros de cunho social: “Honrarás o teu pai e a tua mãe, não cometerás homicídio nem adultério; não furtarás, não darás falso testemunho, nem cobiçarás a casa do teu próximo“.

 Desse conjunto de leis originaram-se 613 disposições, ordens e proibições em benefício de uma coletividade essencialmente nômade. Os direitos e deveres contidos nas tábuas da Lei e na Arca da Aliança visavam primeiro a coletividade – o povo hebreu – antes de se destinarem ao indivíduo.

Na nova aliança (Novo Testamento) Jesus autenticou as obrigações mosaicas e os direitos dela decorrentes, transformando-os em fundamentos de um nascente humanismo face ao poderio de Roma.

O rigor da antiga lei, cuja maior parte fora adaptada pelos patriarcas a partir dos costumes egípcios, do Código de Manu e da Lei de Talião, foi explanado em termos de misericórdia e compaixão através do Evangelho condensado em apenas dois preceitos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento”.

Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo é semelhante a este: “Amarás o teu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”

O Direito natural ou jusnaturalismo de John Locke, Hugo Grotius e outros se baseia na existência de conteúdos desse tipo. Mesmo quando não falam de uma transcendência admitem os padrões estabelecidos pela natureza e, portanto, válidos em qualquer tempo ou lugar.

Paulo de Tarso, na Epístola aos Romanos, lembra o conjunto das obrigações naturais ressaltando a superioridade das mesmas em relação à criatura, dizendo: “… mesmos os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas que são da lei“. O primeiro desses compromissos sociais consiste no direito à vida e no dever de garanti-la em todos os aspectos.

O segundo grande estágio da reconstrução social foi firmado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada em 1789 pela Assembleia Nacional Constituinte. Nessa Declaração de Direitos moldaram-se os ideais da primeira fase da Revolução Francesa sintetizados no seu Artigo. 1.º: “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos.

As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.” Esta tese, cláusula pétrea da cidadania, foi inspirada na Revolução Americana de 1776 e nas ideias do Iluminismo.

Cento e cinquenta e nove anos mais tarde sobreveio o terceiro estágio da reconstrução: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade“, Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada pela ONU em 10 de dezembro de 1948.

Entre o primeiro estágio (lei mosaica) e o segundo passaram-se dezessete séculos. Mas entre o segundo e o terceiro (Declaração dos Direitos pela ONU), apenas um século e meio. Apesar de tudo, reconheçamos ou não este fato, a Consciência Moral avança mais rápido do que o progresso científico.

Outra consequência dos estágios da reconstrução social é a constante busca de uma solução possível do conflito entre obedecermos aos ditames da sociedade e a vontade que emana do nosso íntimo. Vem em socorro dos novos construtores a primeira norma do imperativo categórico da filosofia de Immanuel Kant (1724-1804): “age sempre de maneira que a norma de vontade possa ser erigida como legislação universal“.

Kant definiu o imperativo categórico como o impulso que leva as pessoas a agirem em conformidade com os princípios determinantes da natureza humana. A ação, neste sentido, deve ser entendida como um objetivo, nunca como um meio.

Por isso os símbolos da Maçonaria apontam para uma diversidade de interpretações. A cada Aprendiz, Companheiro e Mestre devem ser dada a máxima liberdade para compreenderem e traduzirem no âmago da consciência o significado dos símbolos.

Cada construtor do Templo maneja suas próprias ferramentas e descobre seu método de lavrar a pedra, desvendando por si mesmo o que ele deverá ser a partir do que é. A obra pela qual ele responde é o edifício inteiro (o Templo da Virtude) onde uma simples pedra colocada fora de esquadria compromete a estabilidade de todas as colunas, arcos e abóbada.

 Mais uma vez é a consciência que fiscaliza os trabalhos. Só ela pode corrigir os ângulos e a geometria. E quando julga, são valores que nascem da experiência individual, pois os símbolos existem mais para velar do que para revelar.

O avental e cada ferramenta de trabalho possibilitam ao Maçom sua entrada no Templo Interior segundo recursos de sua consciência. Dessa forma, na consecução do “contrato” o Iniciado sai vencedor – contente e satisfeito – a um só tempo solitário e participante da Ordem.

Como se inserem nos dias de hoje e na vida do Maçom – seja ele Aprendiz, Companheiro ou Mestre – as promessa e obrigações assumidas que garantam seu vínculo com a Loja e com cada um dos Irmãos que o cercam?

Para os autênticos construtores sociais, ancorados no ontem (tradição), voltados para o hoje, com a firme bússola da Lei e seu significado, permanecem intactas as colunas que sustentam o humanismo lógico e ético:

a ação de uns para com os outros em espírito de FRATERNIDADE, garantindo-se o equilíbrio dos direitos, isto é – uma IGUALDADE;

a preservação da LIBERDADE com que todos nasceram (livres e iguais em dignidade e em direitos).

Contemplando este significado, comparado à luz dos estágios acima descritos, torna-se explicável a tríade com a qual a Maçonaria se identifica: LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE.

Algumas correntes menos atentas ao conteúdo histórico, filosófico e sociológico do lema “Liberdade-Igualdade-Fraternidade”, consideram-no “mero apanágio da Revolução Francesa“, negando-lhe autenticidade entre os Livres Pensadores e Iluministas que lapidaram os cânones da Franco-Maçonaria a partir do século XVIII.

Para o Iluminismo há desigualdades naturais às quais temos que nos curvar: 
desigualdade de talentos, de saúde, de inteligência, de aptidões, e na aceitação delas reside a virtude da tolerância. Mas, sabedor disso, o maçom tem o dever de combater as desigualdades artificiais oriundas da injustiça social, fomentadas pela má distribuição de renda, pela avareza, pela corrupção e pelos falsos prestígios advindos dessas mazelas. Mesmo as desigualdades naturais podem resultar daquelas provocadas pela injustiça e falta de liberdade.

Cabe às Lojas e a cada Maçom em particular investigarem esses fatos sociais e promoverem a equidade de oportunidades – primeiro no seio da Ordem para depois – alicerçados no exemplo do “dever de casa” – expandirem o ideal nos quatro cantos da Terra. É nisso que reside o caráter especulativo da Maçonaria.

Finalmente, o vínculo que liga os sujeitos da obrigação maçônica pode ser apreciado nas seguintes cláusulas ou decálogo da Iniciação:
I – Cada obreiro, Loja e Potência Maçônica zelam pela manutenção da Ordem protegida da curiosidade e dos ataques a que possa ser exposta.
II – Desenvolvem seus trabalhos com disciplina, ordem e o respeito necessário.
III – Buscam uma convivência que propicie a maior perfeição possível em relação aos hábitos e aos costumes.
IV – Dirigem seus trabalhos em direção à Virtude e ao esclarecimento dos assuntos da Instituição.
V – Combatem sem trégua os vícios, a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros.
VI – Glorificam permanentemente o Direito, a Justiça e a Verdade.
VII – Promovem, em todos os setores da sociedade, atos que visem o bem estar da Pátria e da Humanidade.
VIII – Fazem de cada empreendimento fonte inesgotável de felicidade.
IX – Escudados na misericórdia praticam e ensinam a tolerância e a paz.
X – Mesmo nos momentos mais difíceis, esforçam-se para que prevaleça o amor à Ordem e o respeito às autoridades.

Estamos às portas do quarto grande estágio da reconstrução social. Parte da humanidade já percebeu isso e se apressa para adequar-se à Nova Era. O joio já está separado do trigo. É nas Ordens Iniciáticas que a colheita vem se tornando mais evidente.

Aperta-se o tempo para o cumprimento integral do contrato: há os que permanecem em seus postos e os que, por infelicidade, buscam na deformação das cláusulas do contrato um abrigo temporário para a inadimplência.

Autor: José Maurício Guimarães


MAÇONS, MÃOS AMARRADAS OU DESCASO?



Hoje pela manhã, conforme está sendo noticiado por todos os meios de comunicação do país, um Reitor foi preso, acusado de desvio de verba.

Até então, tudo normal em um país que acorda e dorme com noticias de corrupção, desvios de verbas praticados e acobertados por políticos, membros do judiciário e empresários.

O problema é que mais uma vez vemos um Maçom estampando as capas e chamadas dos principais meios de comunicação, como sendo responsável por desvio de verbas públicas.

Para o profano, não existe distinção de “potências”. Desconhecem o significado de GOB, GOSC, GL, etc. Para eles “é tudo maçom”. E, cá entre nós, estão certos.
Alguns dos IIr. devem estar se questionando: A aonde o Ir.’. quer chegar com esse texto?

Eu respondo: Um grande sentimento de insatisfação e impotência.
Insatisfação pelo fato de não ver a Ordem tomar atitudes reais, e não pronunciamentos políticos vazios e brigas de vaidades em trocas de e-mails, contra esse tipo de maçom. Não é o primeiro, e com certeza não será o ultimo.

A maçonaria, que deveria ser o exemplo, está dando mostras de que não faz o dever de casa expurgando do seu meio pessoas que não merecem serem chamadas de maçom.

E não só nesse caso acima.

Diariamente todos nós vemos, ouvimos e, em alguns casos, até mesmo presenciamos, atitudes de “irmãos” que não poderiam, e nem merecem, serem chamados assim, sem que nada aconteça contra eles na Ordem.

Pessoas que agem como verdadeiros bandidos, em alguns casos até praticando ameaças a outros IIr.’.

Vivem e convivem na Ordem, ocupando funções importantes, pendurando medalhas e graus nos paletós, como se fossem exemplos. Ganham afagos, elogios, são saudados como “Valorosos IIr da Ordem”. Como se diz hoje no mercado, são grandes “Influenciadores”. Reina a hipocrisia, a vaidade e mentira, onde deveria reinar a paz, a ordem, a verdade.

E sabem o motivo disso continuar, e sinceramente duvido que isso mude um dia, acontecendo na Ordem?

Por um simples motivo:

 “Eu não quero me incomodar”.

Essa simples frase acima é um “mantra” para a maioria de nós. Sim, a maioria.
“Eu não mexer nisso, não quero me incomodar”.

“Você não tem ideia do que é tocar nesse assunto. Não vale a pena esse incomodo”.
“Vamos tocar nossa Loja. Isso não é problema nosso.”

“A maçonaria é maior do que essas pessoas. O tempo as eliminará da Ordem."

Como explicar que pessoas como essas não são expulsas da maçonaria? Como aceitar que nada seja feito para que esses falsos maçons? Como não se indignar com a falta de respeito com os maçons que luta diariamente contra a injustiça?

Sinceramente meus IIr.’., essa falta de atitude de quem deveria zelar pela seriedade da nossa Ordem, e falo da maçonaria em geral não somente aqui em nosso estado, nos iguala a qualquer associação de bairros do mundo profano.

Tenham a certeza que em algumas horas, vamos todos ouvir, ver e ler nos meios de comunicação e redes sociais (essas serão impiedosas): “a maçonaria tomou conta da UFSC novamente para isso, roubar”, “mais um maçom roubando”, como já escutamos diariamente coisa do tipo” esse presidente ladrão é maçom”, “esse prefeito safado é maçom”, etc.

Fica meu desabafo e minha indignação para a reflexão dos IIr.’.

Até quando vamos conviver com isso? Até quando aceitaremos essa falta de respeito? É isso que desejamos para a Ordem?

E uma última pergunta: Será que vale a pena continuar sendo um maçom?

FA Sergio Rodrigues.



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MAÇONARIA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO: O MAÇOM DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO

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