A CADEIA DE UNIÃO


Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceito (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as concepções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos.

Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos.

É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas.


Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos.

Rui Bandeira

A GRANDE LUZ


Não é, com certeza sabido, quando realmente ocorreu. Se num tão remoto passado, que até a lembrança foi encoberta pelas brumas do tempo, se mais recente, mas perdidos os registros devido ao caráter sigiloso … o fato é que em algum momento do passado o homem começou a perceber que era por demais valioso o Dom da vida ostentando uma peculiaridade ainda mais valiosa e fascinante que é a inteligência, o conhecimento, o saber.
E começou então uma busca no sentido de resguardar o que já se sabia para transmiti-lo de geração em geração através dos bancos genéticos do saber de seus membros e também de aumentar a capacidade do saber, pois via o homem, como até hoje acontece, uma infinidade de possibilidades que decorrem do fato de apoderar-se do conhecimento.
Sentia o homem a necessidade de organizar esta situação. Organizá-la em conjunto. E foi assim se instituindo a partir de frágeis comunidades no início, o que hoje se chama de Maçonaria. Surgiu duma necessidade no sentido de organizar o conhecimento. De agrupar os elementos considerados como sendo portadores de conhecimentos mais apurados, de vivência mais rica em saber.
Assim, a partir de insipientes passos titubeantes começou a se consolidar o esboço do movimento que envolveria o mundo como uma teia de infiltração duradoura e silenciosa, a Maçonaria.
Ao avolumar-se o corpo da ordem pela profusão de elementos participativos gradativamente se engajando em suas fileiras, começaram a se delinear as regras que permitiram fosse a ordem respeitada e caracterizada em seus objetivos, comportamentos e também se fez a conceituação necessária a reger o ingresso na ordem.
E como em todos os movimentos grupais em que o número de participantes começa a ficar significativo, quão mais não quando de caráter mundial, passou a ordem a ter dificuldades na unidade, na coesão dos elementos participativos, dificuldade natural do acomodamento de todos os princípios, de todas as diferentes linhas comportamentais.
E inevitavelmente surgiram os cismas. Correntes paralelas se formando dentro da ordem mantendo objetivos comuns, mas seguindo seus Obreiros trilhas diferentes por julgarem de bom alvitre se portarem doutra forma. Mas absolutamente nada deve ou deveria influir no entrelaçamento dos Irmãos das correntes diferentes que se formaram, originando Rituais específicos segundo tradições regionais diversas, costumes outros ou mesmo dificuldades peculiares de determinadas áreas de atuação.
Vem a ser, e assim deve ser encarado, como um fato absolutamente natural. Mas o que deve ser mantido comum é o que aqueles primeiros seres humanos, os quais num intento de perpetuar e aumentar o saber instituíram fundamentados sobre colunas ostensivamente fortes, belas e sábias.
Deverá este princípio ser resguardado incondicionalmente, quer fira ou não nossos interesses pessoais. Quer agrade ou magoe devem os princípios básicos da ordem ser resguardados, sob pena de que isto não respeitado, a ordem como um todo bata as colunas, por permitir o caráter de individualidade, quando a Maçonaria é essencialmente universal e mística, sem dono, sem um comandante.
Deverão os princípios de a ordem estar inexoravelmente acima de qualquer vício ou costume fugaz de determinada Loja, introduzido perniciosamente ou desavisadamente pelo continuísmo ou pelo marasmo intelectual.
É neste particular que também reside grande parte da força da Maçonaria, o poder de iluminar seus Obreiros conseguido e mantido pelas luzes das Lojas. As luzes vivas que incansavelmente deverão erguer-se do Oriente para iluminar com saber os Obreiros indicando-lhes os caminhos a serem seguidos até o Ocidente.
Nos auspícios desta situação de iluminação abundante e profusa é que se fundamenta a Loja, que é a célula viva do grande corpo místico chamado Maçonaria.
Assim sendo, como uma célula de qualquer ser vivo precisa de muita energia, assim a Loja necessita da iluminação abundante proporcionada pelas suas grandes luzes que harmoniosamente deverão distribuir dentre os Obreiros esta luz a iluminar constantemente os caminhos a serem trilhados.
E a ninguém mais de direito e obrigação cabe a incumbência de espargir esta luz do que àquele por todos nós consignado como sendo o Mestre por excelência, e em consequência o Mestre Venerável.
E a esta luz não chamaria em hipótese alguma de ocupação ou cargo, que poderia deixar transparecer a ideia de uma incumbência meramente oficial de coordenação dos Trabalhos em Loja. E não é absolutamente esta a posição do Venerável.
Ele é, antes de tudo, uma verdadeira situação de combustão com conseqüente liberação de energia, de desfragmentação de possíveis correntes, de iluminação das situações em Loja as quais venham a se refletir no comportamento dos Obreiros também na vida profana.
Deverá estar intrínseca a capacidade do Venerável de ser carismático no sentido de ser obedecido com doçura e benevolência. De ser acatado com modéstia.
De ser realmente aquela luz que brilha soberana e calma no Oriente da Loja. Poder-se-ia dizer que o Venerável Mestre é a posição que culmina uma vida maçônica orientada para o humanitarismo e para as metas da ordem e não o galgar sequencial inconsequente dos degraus que se projetam no ascender de cargos da Loja.
O Venerável Mestre não ocupa tão-somente cargo, ou desempenha determinada função na Loja. O Venerável Mestre existe como a apoteose de uma vivência maçônica.
Ele não ocupa, não desempenha, não coordena, ele simplesmente “É” a própria luz, na Loja, em função da qual existe e não pode por ninguém este facho de luz ser obliterado.
O Venerável Mestre deve ser aquilo que todo Maçom teria por objetivo, por meta a alcançar ao longo de sua vida maçônica. E esta meta será alcançada se o Venerável atuante conduzir a contento seus Obreiros derramando-lhes em profusão o que de mais importante se pode objetivar, a luz da sabedoria.
Ir.'. Luiz Paulo Seitenfuss


OS SINAIS DE RECONHECIMENTO MAÇÔNICOS


Um dos segredos que os maçons devem guardar consiste nos sinais, palavras e toques próprios de cada um dos graus. A sua origem - os sinais pelos quais um artesão da maçonaria operativa identificava as suas aptidões perante mestres que o não conhecesse - já foi aqui sobejamente explicada. Mas qual a sua utilidade e significado atuais?

Desde o século XVIII que há exposés, ou revelações, de rituais maçônicos. Como seria de esperar, uma vez que cada Grande Loja tem autonomia para alterar os seus rituais - o que costumam fazer com alguma regularidade - rapidamente os sinais de reconhecimento estabelecidos nos rituais terão sido alterados em reação a essas "inconfidências".

Também não surpreenderá que, em função dessas alterações, os sinais de reconhecimento não sejam, hoje em dia, os mesmos nem em todo o mundo, nem em todos os ritos, nem em todas as obediências.

 Há variações, pelo que os maçons são delas instruídos para que possam reconhecer irmãos apesar das diferenças.

Entenda-se, por outro lado, que estes "meios de reconhecimento" são meramente rituais. O que é que isto significa?

Significa que, em primeiro lugar, são usados no contexto das sessões rituais, e do acesso às mesmas.

Assim, se um maçom se dirigir a um templo onde se vão reunir irmãos de outra Loja na qual não seja conhecido, e pretender assistir à sessão, é quase certo que o farão identifica-se através dos sinais rituais de reconhecimento.

No entanto, quase certo é também que não se fiquem por aí. Nos nossos dias a maioria das Obediências emite cartões em nome e para uso dos seus obreiros que atestam estarem os mesmos com a sua situação regularizada.

É também costume as Obediências emitirem, a pedido, o chamado "Passaporte Maçônico", que permite a identificação do seu portador perante Obediências estrangeiras. Sem qualquer destes documentos, e sem que sejamos conhecidos, é não só possível como quase inevitável vermos a nossa entrada negada numa sessão de Loja.

E fora de uma sessão de Loja?

Espero que ninguém imagine os maçons a fazer macaquices e "sinais secretos" a estranhos, não vá dar-se o caso de eles serem maçons também... Fora de Loja os maçons, ou já se conhecem previamente, ou reconhecem-se pela sua postura, forma de estar na vida e princípios que defendem.

Dados os modernos meios de identificação (cartões, passaporte maçônico, etc.), a utilidade original dos sinais de reconhecimento é reduzida.

Por que se mantêm então, e qual a razão do seu secretismo?

Não nos esqueçamos de que a Maçonaria se socorre de símbolos e alegorias para transmitir os seus ensinamentos.

Assim, os segredos de grau recordam a cada maçom que deve ser um homem honrado, de bons costumes, capaz de guardar para si um segredo que lhe tenha sido confiado.


Por outras palavras, os maçons guardam segredo desses sinais de reconhecimento, uma vez mais, por uma razão muito simples: porque juraram fazê-lo.

Paulo M.

MAÇONARIA – PERGUNTAS E RESPOSTAS QUE ESCLARECEM

O que é maçonaria?

É uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista.

É filosófica porque em seus atos e cerimônias tratam da essência, propriedades e efeitos das causas naturais. Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da ética pura.

É filantrópica porque não está constituída para obter lucro pessoal de nenhuma espécie, senão, pelo contrário, suas arrecadações e recursos se destinam ao bem-estar do gênero humano, sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça. 

Procura conseguir a felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela tranquilidade de consciência.

É progressista porque, partindo do princípio da imortalidade e da crença em um princípio criador regular e infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não põe nenhum obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade e nem reconhece outro limite nessa busca senão a da razão com base na ciência.

Quais são seus princípios?

Seus princípios são a liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, raças, nações; a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, raça ou nacionalidade; a fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo criador e, portanto, humanos e, como consequência, a fraternidade entre todas as nações.

Qual é seu objetivo?

Seu objetivo é a investigação da verdade, o exame da moral e prática das virtudes.

Qual é o lema?

Ciência - Justiça - Trabalho. Ciência para esclarecer os espíritos e elevá-los; Justiça para equilibrar e enaltecer as relações humanas; Trabalho por meio do qual os homens se dignificam e se tornam independentes economicamente. Em uma palavra, a maçonaria trabalha para o melhoramento intelectual, moral e social da humanidade.

A maçonaria é religiosa?

Sim, é religiosa, porque reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual se dá o nome de Grande ou Supremo Arquiteto do Universo, porque é uma entidade espiritualista em contraposição ao predomínio do materialismo. Esses fatores, que são essenciais e indispensáveis para a interpretação verdadeiramente religiosa do universo, formam a base de sustentação e as grandes diretrizes de toda ideologia e atividade maçônica.

A maçonaria é uma religião?

Não. A maçonaria não é uma religião. É uma sociedade que tem por objetivo unir os homens entre si. União recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo. E esse seu esforço de união dos homens admite em seu seio pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção.

Para ser maçom é necessário renunciar à religião a qual se pertence?

Não, porque a maçonaria abriga em seu seio homens de qualquer religião, desde que acreditem em um só criador, o Grande ou Supremo Arquiteto do Universo, que é DEUS. Geralmente existe essa crença entre os católicos, mas ilustres prelados têm pertencido à Ordem Maçônica, entre outros, o Cura Hidalgo, Paladino da Liberdade Mexicana; o padre Calvo, fundador da maçonaria na América Central; o Arcebispo da Venezuela, d. Ramon Ignácio Mendez; padre Diogo Antonio Feijó; cônego Luiz Vieira; Frei Caneca e muitos outros.

Quais outros homens ilustres foram maçons?

Filósofos como Voltaire, Goethe e Lessing; músicos como Beethoven, Haydin e Mozart; militares como Frederico, o Grande, Napoleão e Garibaldi; poetas como Byron, Lamartine e Hugo; escritores como Castellar, Mazzine e Espling.

Somente na Europa houve maçons livres?

Não. Houve também na América. Os libertadores da América foram todos maçons. Washington, nos Estados Unidos; Miranda, o pai da liberdade sul-americana; San Marttin e O’Higgins, na Argentina; Bolívar, no norte da América do Sul; Marti, em Cuba; Benito Juarez, no México; e o Imperador D. Pedro I, no Brasil.

Quais os nomes de destaque no Brasil que foram maçons?

D. Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Luís Alves de Lima e Silva (o Duque de Caxias), Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Washington Luiz, Rui Barbosa e muitos outros.

Por José Everaldo Andrade Souza

M.·.M.·. da  A.·. R.·. L.·. S.·. da Loja Elias Ocké – nº 1841. Or.·. de Ilhéus – Bahia.


Referência Bibliográfica: Mansur Neto, Elias. O que você precisa saber sobre maçonaria- 2 ed. - São Paulo: Universo dos Livros, 2009.


MAÇONARIA EM LOJA


A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.

Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todo o outro interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.

Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente em nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.

Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.

Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.

Apenas isso.

Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.

É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contataram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.

Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.

É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria!

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente
.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.

Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, uma hora ou duas, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.

Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde ele trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.

De fato não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade!

O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).

Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjetivos do que isso.

Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçônica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.

São a arrogância, a vaidade e a ambição.

Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objetivos finais do nosso trabalho.

Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.

Cultivemos e levemos conosco a capacidade de compreender as diferenças.

Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.

O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.

E para isso a abertura do espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência".

J.P. Setúbal


TRONCO DE SOLIDARIEDADE



Sinopse  Considerações a respeito do Tronco de beneficência ou de solidariedade; ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.

No Rito Escocês Antigo e Aceito é explicado ao neófito que o Tronco de Solidariedade arrecada dinheiro, denominado metais, que serão distribuídos depois aos necessitados.

O obreiro coloca seu óbolo na mão e a fecha, coloca-o dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e solta sua doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus dedos, energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e retira-a fechada.

Ao retirar a mão fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração, também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do quadro.

Existem relatos que creditam a origem deste procedimento como remanescente ao tempo em foi construído o templo de Salomão, onde ferramentas, projetos, documentos e pagamento dos obreiros eram colocados dentro das colunas do templo, que eram ocas exatamente para esta finalidade.

O pagamento de companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do interior do tronco das colunas o salário a que faziam jus.

Mas a origem mais convincente e lógica é francesa, pois naquela língua a palavra "tronc" pode ser usada tanto para tronco humano como para caixa de esmolas.

Guarda-se apenas a simbologia deste procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais são meras figuras simbólicas e não são ocas.

A circulação ritualística da bolsa de solidariedade obedece ao formato de duas estrelas de seis pontas, que por sua vez são compostas cada uma por dois triângulos um dentro do outro, em posição invertida.

A marcha inicia no ocidente, entre colunas, em direção ao oriente. O irmão hospitaleiro coloca a bolsa colada a sua cintura, ao lado esquerdo do corpo e inicia a marcha.

Sem olhar para o que é depositado na bolsa vai passando por todos os obreiros em loja.

O venerável mestre, primeiro vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador, secretário e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na primeira estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos mestres e oficiais da coluna do sul e pelos mestres e oficiais da coluna do norte, definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor externo formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela.

E por fim, o cobridor externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa, retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas. Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do que deve fazer em seguida.

Normalmente o hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar do tesoureiro e ambos conferem o valor coletado. Em seguida o tesoureiro comunica ao venerável mestre o valor arrecadado.

Durante a circulação da bolsa nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo.

Normalmente é momento em que os obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois o ato de doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como culto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um.

Para tornar o momento mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.

O retirar de metais não ocorre no instante em que o obreiro retira a mão da bolsa, mas é solicitado ao venerável mestre que determinará a seu critério mandar efetuar sindicâncias, para só então fornecer os recursos financeiros ao irmão em necessidade.

Normalmente sequer é o beneficiado quem faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do hospitaleiro, mas pode ser qualquer outro irmão do quadro.

O irmão que não consegue pagar suas contas tem direito ao uso destes recursos? Não! Isto não é situação válida para obter recurso deste fundo.

O obreiro teve sua casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu de forma inesperada, pode ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência? Sim! À critério do venerável mestre e da loja.

Sempre precisa haver razão válida, de real valor humanitário para se efetuar algum socorro. E esta ajuda é feita muitas vezes de tal maneira que o beneficiado sequer sabe de onde vem o recurso, é feita também de tal forma que não humilhe aquele; tem somente o objetivo de amenizar o sofrimento de quem realmente necessita. É por isto também conhecido como tronco da viúva, onde os filhos da viúva são os maçons.

Quando os fundos do tronco dos pobres ou da viúva atingem valor razoável, parte dele é destinado para obras de beneficência.

Nunca é totalmente gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver necessidade de socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.

Não colaborar com o ato litúrgico do tronco de solidariedade é o mesmo que fugir da prática da caridade e torna o maçom indigno de exercer todos os demais privilégios maçônicos.

E se possuir posses que lhe permitam fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo, pois poderá ser ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa.

Se não colabora por vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha algo errado consigo mesmo.

Dar esmola não significa mixaria, ninharia, insignificância; é melhor que não coloque nada e arque com as consequências que sua consciência lhe exigir.

É pela beneficência que o verdadeiro maçom se torna digno na procura de alcançar a glória de merecer de parte daquilo que ele considera o Grande Arquiteto do Universo, o seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação da sociedade.

Em sendo tão séria, esta disposição então porque abusar da sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe o que o amanhã reserva?

Bibliografia:
1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN 85-7252-158-5, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 1270 páginas, Londrina, 2003;

2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora Ltda., 413 páginas, São Paulo, 2001;

3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 143 páginas, Londrina, 2003;

4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 550 páginas, São Paulo, 1989;

5. Paraná, Grande loja do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, terceira edição, Grande loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.

Charles Evaldo Boller
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná



ALTAR - A MATERIALIZAÇÃO DO ESPIRITUAL



Ainda, por incrível que pareça, existe grande confusão entre Altar e Dossel do Venerável, que são duas coisas distintas. O Altar é o lugar onde o homem entra em contato com Deus.

É a materialização do espiritual. A posição do Altar varia de conformidade com os ritos, mas sempre é colocado em lugar de destaque, preferivelmente no centro e 
defronte ao Dossel.

Há os que afirmam que sua colocação deverá obedecer à Constelação Austral, tanto que o Altar também é conhecido com o nome de Ara.

Ainda, infelizmente, pelo menos no Brasil, não se conseguiu uniformizar a construção e uso do Altar. Uns o constroem em forma de triângulo, outros, quadrado, e por fim há os que apenas o apresentam como uma pequena coluna com caneluras.

No Templo de Salomão era quadrado, tendo em cada canto, na parte superior do cubo, um pequeno corno e sobre ele o Livro Sagrado aberto onde descansam o esquadro e o compasso entrelaçados. Nos cantos, três luzes, permanecendo um ângulo vazio ao Norte, onde não há luz.

Já entre nós é mais usado o Altar triangular, onde são colocados a Bíblia, um compasso e um esquadro.

Outros ritos colocam em cada face do triângulo um candelabro; no centro uma pequena almofada com franjas de ouro e sobre ela o Livro Sagrado, quando aberto, o compasso entrelaçado pelo esquadro e a espada Flamígera.

Os altares sempre foram locais onde o homem apresentava sacrifícios a Deus. Para os cristãos, considerando o Senhor o último Cordeiro dado em sacrifício, queimam incenso.

Espiritualmente representaria o desconhecido e materialmente, o túmulo.

Mas o seu significado mais coerente diz respeito apenas aos juramentos. Sobre o Altar somente devem ser colocados o Livro Sagrado; quando aberto sobre ele, o esquadro com o compasso entrelaçado.

Não se poderia emprestar ao Altar o significado de uma tumba, eis que o túmulo é representado pela Câmara das Reflexões.

O homem que sai da Câmara das Reflexões é alguém renascido ou ressuscitado, e a Nova Criatura não mais poderá ser entregue ao sacrifício.


Irmão Rizzardo da Camino 

Postagem em destaque

CISÃO DO GOB E A FORMAÇÃO DO COLÉGIO DE PRESIDENTES DA MAÇONARIA BRASILEIRA

Em março de 1973, realizaram-se eleições para os cargos de Grão-Mestre Geral e Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil. O cand...