A GRANDE LUZ


Não é, com certeza sabido, quando realmente ocorreu. Se num tão remoto passado, que até a lembrança foi encoberta pelas brumas do tempo, se mais recente, mas perdidos os registros devido ao caráter sigiloso … o fato é que em algum momento do passado o homem começou a perceber que era por demais valioso o Dom da vida ostentando uma peculiaridade ainda mais valiosa e fascinante que é a inteligência, o conhecimento, o saber.
E começou então uma busca no sentido de resguardar o que já se sabia para transmiti-lo de geração em geração através dos bancos genéticos do saber de seus membros e também de aumentar a capacidade do saber, pois via o homem, como até hoje acontece, uma infinidade de possibilidades que decorrem do fato de apoderar-se do conhecimento.
Sentia o homem a necessidade de organizar esta situação. Organizá-la em conjunto. E foi assim se instituindo a partir de frágeis comunidades no início, o que hoje se chama de Maçonaria. Surgiu duma necessidade no sentido de organizar o conhecimento. De agrupar os elementos considerados como sendo portadores de conhecimentos mais apurados, de vivência mais rica em saber.
Assim, a partir de insipientes passos titubeantes começou a se consolidar o esboço do movimento que envolveria o mundo como uma teia de infiltração duradoura e silenciosa, a Maçonaria.
Ao avolumar-se o corpo da ordem pela profusão de elementos participativos gradativamente se engajando em suas fileiras, começaram a se delinear as regras que permitiram fosse a ordem respeitada e caracterizada em seus objetivos, comportamentos e também se fez a conceituação necessária a reger o ingresso na ordem.
E como em todos os movimentos grupais em que o número de participantes começa a ficar significativo, quão mais não quando de caráter mundial, passou a ordem a ter dificuldades na unidade, na coesão dos elementos participativos, dificuldade natural do acomodamento de todos os princípios, de todas as diferentes linhas comportamentais.
E inevitavelmente surgiram os cismas. Correntes paralelas se formando dentro da ordem mantendo objetivos comuns, mas seguindo seus Obreiros trilhas diferentes por julgarem de bom alvitre se portarem doutra forma. Mas absolutamente nada deve ou deveria influir no entrelaçamento dos Irmãos das correntes diferentes que se formaram, originando Rituais específicos segundo tradições regionais diversas, costumes outros ou mesmo dificuldades peculiares de determinadas áreas de atuação.
Vem a ser, e assim deve ser encarado, como um fato absolutamente natural. Mas o que deve ser mantido comum é o que aqueles primeiros seres humanos, os quais num intento de perpetuar e aumentar o saber instituíram fundamentados sobre colunas ostensivamente fortes, belas e sábias.
Deverá este princípio ser resguardado incondicionalmente, quer fira ou não nossos interesses pessoais. Quer agrade ou magoe devem os princípios básicos da ordem ser resguardados, sob pena de que isto não respeitado, a ordem como um todo bata as colunas, por permitir o caráter de individualidade, quando a Maçonaria é essencialmente universal e mística, sem dono, sem um comandante.
Deverão os princípios de a ordem estar inexoravelmente acima de qualquer vício ou costume fugaz de determinada Loja, introduzido perniciosamente ou desavisadamente pelo continuísmo ou pelo marasmo intelectual.
É neste particular que também reside grande parte da força da Maçonaria, o poder de iluminar seus Obreiros conseguido e mantido pelas luzes das Lojas. As luzes vivas que incansavelmente deverão erguer-se do Oriente para iluminar com saber os Obreiros indicando-lhes os caminhos a serem seguidos até o Ocidente.
Nos auspícios desta situação de iluminação abundante e profusa é que se fundamenta a Loja, que é a célula viva do grande corpo místico chamado Maçonaria.
Assim sendo, como uma célula de qualquer ser vivo precisa de muita energia, assim a Loja necessita da iluminação abundante proporcionada pelas suas grandes luzes que harmoniosamente deverão distribuir dentre os Obreiros esta luz a iluminar constantemente os caminhos a serem trilhados.
E a ninguém mais de direito e obrigação cabe a incumbência de espargir esta luz do que àquele por todos nós consignado como sendo o Mestre por excelência, e em consequência o Mestre Venerável.
E a esta luz não chamaria em hipótese alguma de ocupação ou cargo, que poderia deixar transparecer a ideia de uma incumbência meramente oficial de coordenação dos Trabalhos em Loja. E não é absolutamente esta a posição do Venerável.
Ele é, antes de tudo, uma verdadeira situação de combustão com conseqüente liberação de energia, de desfragmentação de possíveis correntes, de iluminação das situações em Loja as quais venham a se refletir no comportamento dos Obreiros também na vida profana.
Deverá estar intrínseca a capacidade do Venerável de ser carismático no sentido de ser obedecido com doçura e benevolência. De ser acatado com modéstia.
De ser realmente aquela luz que brilha soberana e calma no Oriente da Loja. Poder-se-ia dizer que o Venerável Mestre é a posição que culmina uma vida maçônica orientada para o humanitarismo e para as metas da ordem e não o galgar sequencial inconsequente dos degraus que se projetam no ascender de cargos da Loja.
O Venerável Mestre não ocupa tão-somente cargo, ou desempenha determinada função na Loja. O Venerável Mestre existe como a apoteose de uma vivência maçônica.
Ele não ocupa, não desempenha, não coordena, ele simplesmente “É” a própria luz, na Loja, em função da qual existe e não pode por ninguém este facho de luz ser obliterado.
O Venerável Mestre deve ser aquilo que todo Maçom teria por objetivo, por meta a alcançar ao longo de sua vida maçônica. E esta meta será alcançada se o Venerável atuante conduzir a contento seus Obreiros derramando-lhes em profusão o que de mais importante se pode objetivar, a luz da sabedoria.
Ir.'. Luiz Paulo Seitenfuss


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