AS QUATRO BORLAS



Para a Igreja Católica Apostólica Romana existem quatro virtudes cardinais ou virtudes cardeais que polarizam todas as outras virtudes humanas. Este conceito teológico destas quatro virtudes teve a sua origem inicialmente do esquema de Platão e adaptado por Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho de Hipona e São Tomás de Aquino.

O conceito teológico destas quatro virtudes, segundo a Doutrina da Igreja Católica, elas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade humana, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão e a fé.

As virtudes cardeais são quatro:

 A prudência (originalmente “Sapientia” que em latim significa conhecimento ou sabedoria), dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para atingi-lo. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida, sendo por isso considerada a virtude-mãe humana.

 A justiça, que é uma constante e firme vontade de dar aos outros os que lhes é devido;

 A fortaleza (ou Força) que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem;

 E a temperança (ou Moderação) que modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados, sendo por isso descrita como sendo a prudência aplicada aos prazeres.

“Pendente nos cantos da Loja estão quatro borlas, destinadas a nos lembrar das quatro virtudes cardeais, a saber: Prudência, Justiça, Fortaleza e a Temperança, a totalidade das quais, nos informa a tradição, era constantemente praticada pela maioria de nossos antigos irmãos”.

Esta provavelmente seja a referência mais conhecida sobre as quatro borlas, mencionada nos principais rituais Ingleses, Escoceses e Irlandeses, de onde derivam a maioria dos rituais do mundo.

As virtudes cardinais como esculpidas na tumba do Papa Clemente II na Catedral de Bamberg.



As Quatro Borlas pendentes dos quatro cantos da Loja que são mencionados nas instruções sobre o painel do Primeiro Grau, estão diretamente relacionadas com os métodos utilizados pelos mestres pedreiros operativos ao definir os quatro cantos do prédio e ao implantar os cantos em um canteiro de obra.

Mesmo hoje em dia, um mestre de obra, ao construir os cantos das linhas de um prédio irá suspender prumos a partir de suportes de madeira, adjacente aos cantos, para garantir que os cantos fossem perpendiculares, bem como corretamente localizados com relação aos demais pontos de canto estabelecidos.

Estas linhas eram também esticadas entre as linhas de prumo relevantes nos cantos, para garantir que as paredes seguiriam as linhas corretas e assegurar que os cantos estavam no esquadro e perpendiculares. As Quatro Borlas também aludem às linhas de prumo, que foram colocadas nos cantos do prédio durante a construção.

Em tempos operativos as Quatro Borlas que eram suspensas nos quatro cantos do alojamento representavam guias, que foram destinados a ajudar um maçom para manter uma vida justa e correta, de onde derivou a referência para as quatro virtudes cardeais que, tradicionalmente, são prudência, justiça, fortaleza e a temperança.


Em lojas modernas especulativas essas Quatro Borlas, representando respectivamente a prudência, justiça, fortaleza e a temperança, nesta sequência, deve começar no canto sudeste, que está ao lado esquerdo do Venerável Mestre, em seguida, avançar no sentido horário em torno do recinto da loja.

Hoje em dia borlas não é uma característica comum em templos maçônicos, mas geralmente são representados apenas pelo nome de uma das quatro virtudes cardinais em cada canto. Em linguagem atual temperança sugere moderação ou mesmo abstinência; fortaleza implica coragem no sofrimento; prudência transmite uma impressão de cautela e justiça implica em reconhecer o que é certo.

A prática da temperança ou moderação deve estar estreitamente aliada à fortaleza ou força, o que implica coragem moral, bem como ser forte e destemido. Mesmo assim, a busca do curso de ação correto deve ser sempre temperada ou moderada com prudência, que envolve o uso do bom senso e da boa aplicação da razão e da lógica.

No senso comum a justiça implica na interpretação estrita da lei, mas no seu sentido mais amplo, deve refletir o maior bem para a comunidade como um todo. É por isso que, em muitas versões da instrução sobre o painel do primeiro grau, a referência às quatro virtudes cardeais é seguida imediatamente por uma declaração semelhante à seguinte passagem citada do Ritual de Emulação Inglês:

“As características distintivas de um bom maçom são virtude, honra, e misericórdia, e que elas possam sempre ser encontradas no peito de um maçom.”

Neste contexto, misericórdia implica que a justiça por si só é insuficiente, mas que ela deve ser temperada pela misericórdia se for para alcançar um resultado equitativo. A virtude e a honra são corolários importantes da misericórdia. Virtude significa bondade, moralidade e probidade, e também significa muitos atributos de honra, que por sua vez significa honestidade, integridade, retidão e justiça.


Na época operativa, todas as estruturas religiosas significativas e outros edifícios imponentes foram criados a partir do centro, quando a localização do centro de uma estrutura tinha sido decidida, o primeiro dever do mestre pedreiro era estabelecer o ponto central da estrutura no terreno. Chamava-se a isso de bater o centro. Ele, então, iria determinar a necessária orientação do edifício por um método apropriado e configurá-la no chão.

Nós maçons especulativos deveríamos estar cientes de que, simbolicamente, eles têm por objetivo encontrar as respostas para suas perguntas no centro, que é o ponto dentro de um círculo a partir do qual todas as partes da circunferência são igualmente distantes.

O Círculo entre Paralelas Tangenciais e Verticais é também importante símbolo maçônico e, como essas paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio, ou seja, os dois São João, o Batista e o Evangelista, a figura mostra que o Sol não transpõe os trópicos e recorda, ao maçom, que as concepções metafísicas e a consciência religiosa de cada obreiro são de foro íntimo e, portanto, invioláveis.

O ponto dentro de um círculo é um hieróglifo antigo e sagrado que se refere à divindade. O mundo maçônico é um mundo geométrico por excelência, portanto podemos definir o quadrado como a matéria, o círculo como o espírito e o ponto é a origem de tudo, o criador.

É um símbolo de importância suficiente para merecer uma contemplação profunda, mas bastará agora dizer que as respostas encontradas no centro são aquelas estabelecidas de acordo com os decretos da divindade.

 Edifícios sagrados geralmente eram obrigados a facear ou o leste ou o nascer do sol no solstício de verão. Caso se necessitasse que a orientação fosse de leste a oeste, o primeiro passo seria determinar a verdadeira linha Norte-Sul com precisão, por meio de uma linha passando pelo ponto central, a partir da qual a verdadeira linha Leste-Oeste poderia ser estabelecida.

Quando as quatro marcas de canto tinha sido estabelecidas, estacas perpendiculares distintamente marcadas eram criadas perto delas, com cordões ou fitas coloridas suspensas distinguiam as estacas marcadas, da mesma forma como hoje são usadas estacas pintadas ou estacas com bandeiras coloridas, chamando a atenção para a sua localização e protegendo-as contra danos acidentais.

Como as lojas operativas eram orientadas na mesma direção do templo de Salomão em Jerusalém, que é o inverso de lojas especulativas modernas, a entrada para o alojamento era no leste e o mestre sentava no oeste. Para evitar possíveis confusões, na discussão a seguir será feita referência à posição dos oficiais na loja, e não aos pontos cardeais.

Lojas Operativas tinham um Mestre, um Primeiro Vigilante e um Segundo Vigilante que tinham uma localização relativa entre eles. Em lojas operativas havia também um quarto oficial, o Superintendente de Trabalho, cuja localização era do lado oposto ao do Segundo Vigilante. Nesta explicação sobre a localização e o simbolismo das Quatro Borlas pendentes dos cantos do alojamento, assume-se que todos esses quatro oficiais ficam sentados de frente para o centro do alojamento.

A borla no canto do lado direito do Mestre deve representar justiça e a do seu lado esquerdo deve representar temperança. A razão para isso é que, quando governa seu alojamento e administra sua força de trabalho, o Mestre deve fazê-lo com justiça que, no entanto, deve ser temperada com misericórdia, de modo a garantir que não só o cliente obterá o serviço que está pagando, mas também que os seus trabalhadores vão receber os devidos pagamentos.

A borla no canto do lado direito do Superintendente do Trabalho deve representar prudência e a do seu lado esquerdo deve representar justiça. Tal como o seu Mestre, a quem ele representa, o Superintendente do Trabalho deve ser prudente na utilização de sua força de trabalho e dos materiais, para que o Mestre esteja devidamente servido; mas ele também deve garantir que os homens sejam tratados com justiça, para que eles recebam os proventos a que têm direito.

Os dois Vigilantes são os oficiais que exercem controle direto sobre os trabalhadores, sob a supervisão imediata do Superintendente do Trabalho. A borla no canto do lado direito do Administrador Sênior, o Primeiro Vigilante, deve representar fortaleza e a do seu lado esquerdo deve representar prudência.

A razão para isso é que, como o oficial que exerce o controle direto sobre os trabalhadores enquanto estão no trabalho, ele é responsável por superar as muitas dificuldades que inevitavelmente afligem o trabalho, o que exigirá a máxima firmeza de sua parte. Ao mesmo tempo, deve exercer o seu controle sobre o emprego dos homens e do uso de materiais com a máxima prudência, para proteger o bem-estar dos homens e, ao mesmo tempo garantir que a execução da obra não seja penalizada.

O Segundo Vigilante, cujo dever é ajudar o Administrador Sênior, é o oficial principal responsável pelo bem-estar dos homens, especialmente quando eles estão em repouso e descanso. A borla no canto do lado direito do Segundo Vigilante deve representar temperança, em alusão à forma pela qual o descanso deve ser sempre conduzido. A borla do lado esquerdo do Segundo Vigilante deve representar fortaleza, porque ele deve personificar Hiram Abif cuja fortaleza deve ser sempre imitada por todos os maçons.

Para o nosso pleno desenvolvimento como Maçom e como ser humano, devemos não só praticar as quatro virtudes cardiais, prudência, justiça, fortaleza e a temperança, bem como as três virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade, as quais nós deveremos usar com muita sabedoria e inteligência.

Bibliografia:


1. https://leonardoboff.wordpress.com/2011/07/19/face-a-crise-quatro-principios-e-quatro-virtudes/
2. LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples, Livro III, cap. 2. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
3. https://bibliot3ca.wordpress.com/as-quatro-borlas/
4. https://focoartereal.blogspot.com.br/2015/06/as-borlas-e-corda-de-81-nos.html
5. http://bodeadormecido.blogspot.com.br/2016/01/as-quatro-borlas-na-maconaria.html
6. Ritual no grau de Mestre Maçom do G.’.O.’.B.’. dos seguintes ritos, Brasileiro, R.’.E.’.A.’.A.’., Adonhiramita e York.
Oriente de Porto Alegre, 29 de setembro de 2017 da E.’.V.’..
Eduardo Bandeira Lecey
C.’.I.’.M.’. 250559 – M.’.I.’.
Praticante do Rito Brasileiro
A.’.R.’.L.’.S.’. Guardiões da Arca nº 4348
Federada ao Grande Oriente do Brasil

EU, PEDRA BRUTA QUE SOU...


Um dos vários motivos que me levaram a “bater à porta” do Templo e entrar na Maçonaria, e o mais importante (disso tenho a certeza!) foi o de precisamente puder “desbastar a minha pedra bruta”.

Pedra Bruta essa que não é uma capa ou camada rochosa que sirva de sustentação para a minha pele ou corpo; mas antes sim, uma capa que envolve a minha Alma.

Essa Pedra Bruta a ser (e que quer ser!!!) lapidada sou EU!!!

Não que eu tenha imperfeições ou qualquer defeito no meu corpo. Nada disso!!!

Tenho antes, algumas imperfeições na Alma. Imperfeições essas que me impedem de ser um Homem Bom e Perfeito.

São vícios, são vontades e paixões a combater, muitos “Eus” e poucos “Outros”, que me impedem de ser alguém melhor do que aquilo que sou na realidade.

E são estas arestas defeituosas que eu quero desbastar, partir, extirpar de Mim.

A Pedra Bruta em si, simboliza a Imperfeição do Homem comum, com os seus vários defeitos. E é o seu trabalho, o seu desbastar, o seu polir, que importa refletir.

Quais as ações a tomar, quais as ferramentas a ser usadas. Essas sim são as tarefas de quem quer polir a sua pedra bruta.

Quando na cerimônia da minha Iniciação segurei as ferramentas de Aprendiz e dei as  pancadas rituais na Pedra Bruta, senti naquele momento que algo em mim estava a mudar, senti que algo mudava para melhor.

Senti que naquele momento aquela pedra era eu, e reparei que ainda tinha muito trabalho pela frente. Pois aquela pedra bruta, com as faces “mal amanhadas” como se usa dizer, em nada se parecia com a Pedra Cúbica e Perfeita que tanto almejo em me tornar.

E sei que só cultivando a prática do Bem, da Solidariedade bem como da Caridade, do cultivo da Fraternidade, Tolerância e Respeito pelo próximo, com uma enorme disciplina e vontade de aprender; somente dessa forma me poderei tornar numa Pedra Polida, e deixar de ser esta pedra tosca e feia que hoje sou.

Não sei se algum dia terei as minhas faces tão polidas e serei tão perfeito como a pedra "polida" que se encontra no interior do Templo; mas uma coisa tenho eu bem por certa, é que não me cansarei de usar o malho e o cinzel, por mais que as "mãos me doam" ou que os "calos me incomodem", até que a minha forma se assemelhe a ela.

E quando chegar esse dia poderei pousar e guardar finalmente as minhas ferramentas e então, poderei partir contente e satisfeito, pois pouco terei mais a fazer...

Ruy Bandeira


A LETRA “G” NA MAÇONARIA






Qual o significado da letra “G” comumente presente no centro do Esquadro & Compasso?

Vários autores apontam vários significados, muitos dos quais absurdos: God, GADU, Grande Geômetra, Ghimel, Gama, Geração, Gênio, Gnose, Gomel, Glória, Gibur, Gibaltrar, etc.

Há ainda aqueles autores que, sem conseguirem se aprofundar na pesquisa sobre o tema preferem afirmar que o verdadeiro significado do “G” é um grande mistério maçônico, talvez nunca revelado. Uma desculpa um tanto quanto poética.

A letra G é um daqueles tantos símbolos que sobrevivem aos séculos, mas, infelizmente, perdem seu significado original, ganhando vários outros significados ao longo do tempo. E vez ou outra, um desses significados novos prevalece, sepultando de uma vez por todas o original.

Séculos atrás, conhecimento era algo raro, reservado a pequena parcela da população, restrito aos poucos com berço ou condições financeiras para tanto. 

Naqueles tempos, a Geometria era tida quase como uma ciência sagrada, mãe da arquitetura e da construção, sem a qual as Catedrais não podiam ser planejadas e concluídas.

As crianças não aprendiam Geometria nas escolas, como ocorre atualmente. Apenas aqueles que trabalhavam com construções aprendiam tais lições. Em resumo, a Geometria era a ciência do maçom operativo, uma ciência que os distinguia dos demais, que tornava possível a execução da Arte Real, que levanta templos às virtudes.

A presença do “G” no Templo é representativo da Geometria como a ciência maçônica; como foco do estudo, conhecimento e prática do trabalho maçônico; e principalmente como origem da Arte Real, base para o uso de todas as ferramentas do maçom. Esse significado pode ser comprovado em todos os antigos Catecismos Maçônicos que se tem conhecimento.

A letra “G” definitivamente não é “God” ou qualquer outro nome relacionado ao Grande Arquiteto do Universo. Apenas nas línguas anglo-saxãs, a palavra referente a Deus começa com “G”, enquanto que o uso do “G” também sempre constou nos países de línguas latinas. Se “G” fosse God (inglês e holandês) ou Gott (alemão), então nos países como França, Espanha, Itália e Portugal utilizariam um “D”: Dieu (francês), Dios (espanhol), Dio (italiano) e Deus (português). 

E isso não aconteceu e não acontece, nem nesses países e nem nos que adotam as línguas latinas. Já a palavra “Geometria” mantém sua letra inicial tanto nas línguas anglo-saxãs como nas latinas: Geometry (inglês), Geometrie (holandês e alemão), Géométrie (francês), Geometría (espanhol), Geometria (italiano e português).

O surgimento de novos significados para o “G” foi surgindo entre o século XVIII e XIX, quando os intelectuais-maçons da época, achando a simbologia maçônica de certa forma simplista, começam a inventar significados considerados por eles mais profundos e adequados para os símbolos maçônicos e pegar emprestado símbolos de outras fontes (astrologia, alquimia, cabala, templários, etc.), criando novos rituais e ritos.

Ao indicar num mesmo ritual que uma única letra tem 07 diferentes significados, não relacionados entre si, os “sábios da maçonaria” daquela época, assim como os de hoje, revelam uma informação importantíssima a todo maçom estudioso: na tentativa de “florear” nossa simbologia, se mostram grandes incoerentes.

Sim, “G” é apenas “Geometria”. Pode não parecer muita coisa hoje, mas na época era. 

Espero que o próximo maçom a se aventure em escrever sobre o “G” na Maçonaria não subestime a inteligência de seus irmãos. Não basta apenas pegar o dicionário, abrir no “G”, selecionar algumas palavras legais e depois filosofar um pouquinho sobre elas. É exatamente assim que perdemos a nossa história.


Escrito por Kennyo Ismail

A VERDADE MAÇÔNICA



Passados alguns anos do meu ingresso na Maçonaria, obviamente tenho uma visão completamente diferente da Ordem agora. E responderei o porquê disso nessas “nem tão mau-traçadas linhas” seguintes... Logo após meu ingresso, muitas vezes me fiz as seguintes perguntas:

“O que verdadeiramente fazem aqui esses homens de bem, reunidos nesta sessão fechada, e com esta ritualística rebuscada”?

Qual o verdadeiro objetivo disso tudo?”“.

Presumo que esta indagação seja comum em qualquer cidadão recém-ingressado em nossa Fraternidade. Em questionários a mim fornecidos naquela ocasião, e também em perguntas contidas nos rituais, forneci respostas sem muita convicção.

“O que vindes aqui fazer?”

Ora, nas primeiras sessões, minha resposta mais honesta seria “Ainda não sei”.

“Que verdade é esta?” Ora, nos primeiros momentos, a única verdade era a que eu verdadeiramente ainda não sabia o que estava fazendo ali. Esse momento de “incerteza”, digamos assim, foi para mim, até certo ponto angustiante.

Eu tinha certeza de várias coisas, por exemplo: Eu sabia perfeitamente que estava entre homens bons, de caráter, e que de nenhuma maneira estariam se reunindo para “conspirações”, ou algo parecido, como muitas vezes se ouve “lá fora”, na vida profana.

Eu tinha certeza que as sessões, com a sua ritualística e seu simbolismo, celebravam tempos remotos, e que “tudo aquilo tinha um por que”. Mas ficava a sensação de que a certeza absoluta do “por que” de eu estar ali, essa eu ainda não tinha.

Mas o tempo foi passando... Informações múltiplas eu ia recebendo, e assimilando com avidez. Mas a angustiante sensação de ainda não saber perfeitamente o objetivo daquilo tudo ainda me intrigava.

Fui elevado, e pensei “agora saberei algo que preciso saber e ainda não sei”. Mas não mudou muita coisa... Mais informações, mais simbologia... Comecei a ler. Ler livros sobre a Ordem Maçônica pesquisar, me
aprofundar.

Mas a pergunta dentro do meu peito ainda incomodava. “O que verdadeiramente eu estou fazendo aqui?”.

Finalmente fui exaltado ao Grau de Mestre-Maçom. A ritualística da sessão de exaltação é belíssima, e faz realmente “renascer” dentro de nós algo que parecia “adormecido”, ou “sepultado”.

É um verdadeiro renascimento. A sensação é de que verdadeiramente renascemos para algo mais iluminado, mais puro e mais sublime.

Contudo, a resposta àquela perguntinha ainda não veio...

Continuei lendo, estudando, pesquisando, procurando... Certo dia, deitado em minha cama, lendo o livro “O Símbolo Perdido”, um “best-seller” do autor americano Dan Brown (autor de “O Código Da Vinci”), parece que “caiu à ficha”...

Eu estava, exatamente naquele momento de minha leitura, me perguntando se o autor do romance não estaria “popularizando” em demasia a Maçonaria, dando detalhes de rituais, entre outras coisas mais, e iniciei, comigo mesmo, uma crítica ao autor. Fechei o livro e comecei a pensar...

“Esse sujeito impertinente está popularizando uma sociedade secreta!” Mas continuei divagando... Voltei a me perguntar, agora com certa ansiedade: “Mas ele está popularizando o quê? Se eu ainda não sei perfeitamente o que é, na sua essência, a maçonaria, e já sou mestre-maçom, qual leitor deste livro, que não pertence à Ordem, irá saber algo?”

Ai, como eu disse antes, “caiu à ficha”... Na verdade, a “verdadeira verdade” não encontraremos em instruções maçônicas... Essa verdade está dentro de nós mesmos!

É certo que a Maçonaria, em tempos remotos de perseguições e “inquisições”, foi obrigada a se recolher e se esconder, para sobreviver. E hoje mantém sua discrição, em virtude desse passado, porém não é mais
perseguida.

Enfim, a sublime filosofia do ecumenismo religioso, com a crença em um Poder Espiritual Superior comum a todos os humanos, não precisa mais se esconder!!

O pensamento igualitário e fraterno não precisa mais secreto!

Pregamos simplesmente uma filosofia de vida, de superação de dogmas, e fundamentalmente de tolerância e de respeito ao próximo, respeito às diferenças!

Essa é a verdade buscada, e que cada um encontra à sua maneira, dentro da Maçonaria! Fechei o livro com uma sensação de leveza na alma...

Descobri a “verdade” que os maçons escondem...

E ela estava aqui tão pertinho, dentro de mim... Se há mais alguma “verdade” a ser descoberta no meu caminho na Ordem, eu saberei na hora certa.

Mas a “verdade” que eu queria saber por hora, eu descobri. E me libertei da angústia. Naquele dia dormi orgulhoso. Orgulhoso demais de ser maçom.


Cléber Capela – M.’. M.’. da ARLS Cedros do Líbano 1688 – GOB-RJ

MAÇONARIA - A INICIAÇÃO



A INICIAÇÃO
Nada mais é que a recepção que é praticada por aquele que é candidato a se associar a uma Loja Maçônica, uso o termo associar de acordo com as leis civis existentes em nosso país.

Uma maçonaria sem base iniciática nada mais é que uma sociedade Filantrópica.

É necessária que haja uma morte metafórica e simbólica, assim tal a fênix que renasce das cinzas, o novo associado se desnuda de suas paixões, vaidade e intransigência, o que nos leva ao pensamento do Filósofo e filólogo Nietzsche, em seu livro Zaratustra, "É preciso haver morte para que surja o super-homem; ele indica a necessidade da superação de si mesmo e com isso aponta para uma nova maneira de sentir, pensar, avaliar" e é esta a diferença entre o iniciado e o não iniciado.

É uma maiêutica (parto), termo usado pelo filósofo Sócrates, para uma nova vida que se descortinará na vida do iniciado.

A iniciação é o primeiro passo e é necessário para se ingressar na escalada maçônica, muitos passam pelo processo de iniciação e não prosseguem na busca de novos conhecimentos e aperfeiçoamento, isto é abandonam por qualquer motivo a ordem maçônica.

Matemáticos e filósofos constataram que nós somos números e símbolos.

O simbolismo representa a base, o fundamento de toda a maçonaria do mundo, ou seja, universal.

O iniciado tem que aprender gradativamente os símbolos e alegorias.

Quem seja incapaz de compreender os símbolos se achará sempre na posição de não iniciado e que entrando em um templo maçônico, mesmo lendo um livro, revista, a mídia eletrônica ou outra fonte de pesquisa referente à maçonaria, observa toda uma série de objetos, que lhe parece familiar, mas não entende o seu significado.

Símbolo = Figura, marca, qualquer objeto físico que apresenta um significado convencional.

Alegoria = Forma figurada de um pensamento, ficção ou metáfora que na expressão tem um significado e no sentido, outro.

AS VIAGENS
Já foi dito que o homem, para se tornar maçom, tem que ser submetido às provas que constam nos Rituais e é necessário que se cumpra as partes ritualística, que por sua vez são conhecidas por viagens.

O candidato está cego, por esta razão não enxerga o que se passa a sua volta, ele faz um trajeto sempre conduzido por um Ir.’. experiente.

Simbolicamente, os caminhos são cheios de obstáculos, que ele candidato terá que superá-los, estes caminhos, representam os perigos em sua vida, bem ele venceu esta primeira fase.

Em outra viagem, tão importante quanto a primeira, ele encontrará novos desafios, trovões, tempestades, ruídos de espadas e termina com um lavar de mãos, significando que ele está em parte purificado, por esse elemento da natureza que é a água.

Depois de tantos obstáculos que foram superados a seqüência é fazer um trajeto mais tranquilo e silencioso, ele enfrenta agora outra purificação, o elemento da natureza é o fogo, que serve para ativar bem o coração no candidato o amor aos seus iguais, a fraternidade e a caridade.

Estas provas representam no candidato o seu renascimento e morte para os seus preconceitos, erros e ilusões.

Autor: Pedro Neves

Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br


O ÁLCOOL E A LOJA: UMA MISTURA ACEITÁVEL OU PERIGOSA?


No Brasil, seja no momento do ágape ou nas festividades, até o momento, nunca observei uma loja que faça restrição ao consumo de álcool em suas dependências. Eu, que gosto bastante de beber cerveja, mas por morar longe de minha loja e depender do carro para o deslocamento até a minha residência, prefiro não beber, pois como sabemos, é contra lei consumir bebidas alcoólicas e dirigir.

Sabemos que o consumo excessivo de álcool provoca diversos efeitos na região cerebral, tal como alterações nas áreas responsáveis pela memória e déficit cognitivo. Dados da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas (ABEAD), por ano, 32 mil pessoas morrem em decorrência da bebida alcoólica. O álcool também está por trás de 60% das mortes no trânsito e 72% dos homicídios. Além de o álcool contribuir para casos de afogamentos, quedas, suicídios, entre outros.

Á partir deste interessante ponto iniciei uma pesquisa para entender como outros países encaram o tema “O álcool e a loja”.

A história do álcool na Maçonaria pode ser vista a partir dos primórdios, coexistindo pacificamente. Quando a Grande Loja de Londres foi formada em 1717, as primeiras lojas reuniram-se em tabernas, incluindo aquelas que finalmente formaram a UGLE.

Lojas americanas continuaram a tradição de reunião em tabernas incluindo a primeira Grande Loja de Maçons na América, em Boston, formada no Bunch of Grapes Tavern. Muitas lojas participam de lojas de mesa ou festividades que envolvem brindes.

No entanto, o modo de vida americano mudou como uma nova onda de imigração atingindo as costas. Muitos reformadores começaram a ver álcool como um mal que contribuía para os problemas da sociedade. Um movimento social chamado “movimento de temperança” começou por volta de 1840, a fim de limitar a quantidade de álcool que as pessoas poderiam consumir. Mais tarde, o estado de Maine criou uma proibição para todas as bebidas alcoólicas e foi acompanhado por outros Estados “secos”.

O movimento causou uma intensa proibição em muitas organizações fraternas, incluindo muitas Grandes Lojas estaduais, que começaram a banir aqueles que poderiam se unir aos proprietários dos bares ou tavernas. O movimento cresceu quando a 18ª Emenda foi ratificada na Constituição, que proibia “a fabricação, venda, ou transporte de bebidas alcoólicas, a importação dos mesmos, ou a exportação a partir dos Estados Unidos para bares”.

Após uma década de contrabando, a 21ª Emenda foi ratificada, revogando a 18ª Emenda, embora ainda foi dado aos Estados, o direito de restringir o transporte de bebidas alcoólicas, caso eles assim desejassem.

Nos Estados Unidos, ainda existem muitos condados e municípios secos, incluindo 46 condados completamente secos no Texas. Há também exemplos modernos da Temperança incluindo o Mothers Against Drunk Driving (MADD) e da International Organisation of Good Templars. O álcool ainda é altamente regulado e modernas leis estaduais definem o nível do consumo através dos esforços do MADD.

O site Paul M. Bressel realizou um estudo com as diversas Grandes Lojas americanas, onde podemos verificar que pelo menos três Grandes Lojas proíbem o ingresso de proprietários de bares. Muitas Grandes Lojas consideram a embriaguez uma questão de comportamento não-maçônico com a possibilidade de repreensão. Muitas Grandes Lojas também proíbem que o álcool seja servido na Loja, por exemplo, Arizona, Flórida, Kansas, Kentucky, Louisiana, etc.

Em alguns estados americanos, a loja para fornecer bebidas nas festividades, deve tirar uma licença de evento que serve somente para um dia. A Califórnia é um exemplo desta prática.

No Canadá, Escócia, França, Inglaterra e Suécia não é permitido o consumo de bebidas no espaço da loja, enquanto a loja estiver aberta no templo. Após o término da sessão, é permitido o consumo na área da loja, mas os irmãos não podem adentrar ao templo com bebidas. Nos países islâmicos, não é permitido o consumo de álcool nas dependências das lojas maçônicas.

Eu acredito que não há nada de errado com álcool ser consumido nos ágapes e festividades, desde que a conduta não leva a embriaguez excessiva. Nós buscamos uma ordem moral mais elevada, mas devemos lembrar-nos do nosso passado, um passado que incluiu reunião em tabernas.

É pela fragilidade dos homens em não conhecer os seus limites, que leva o álcool a ser um problema.



Bibliografia:
Link do estudo realizado pelo site Paul M. Bressel – http://www.bessel.org/liquor.htm

Relatos de diversos irmãos dos países citados no texto.

Fonte: O Prumo de Hiran


FRAGMENTOS DE ESPIRITUALIDADE, EQUILÍBRIO E ÉTICA


1. O maçom, em tese, é pessoa madura; basta, no entanto, não ser perfectível para desestabilizar ou desintegrar essa afirmação.

2. O homem maduro equilibra as três dimensões Religião, Política e Ética/Moral, desde que tenha consciência espiritual com: interioridade; ética, solidariedade e compaixão; e sobriedade.

3. A maçonaria apóia, com ênfase, na Razão, na Espiritualidade e na Ética; estas duas últimas são estreita e estritamente vinculadas dado que Ética sem Espiritualidade é erro grosseiro e Espiritualidade sem Ética é falta gravíssima, é a ruína da alma, é o próprio caos que confunde e embaralha a vida de dominados e dominantes.

4. Como a eficiência, no atual estágio “high-tech” do mundo, “ganha” da verdade e “mascara” valores, o maçom deve pensar, sentir e agir, sempre, no mesmo tom e densa conformidade do pensamento com:
(a) objetos e coisas do mundo, para consolidar a verdade;
(b) discurso ou linguajar, para gerar retidão, sinceridade e coerência; e
(c) a ação, para construir e enrijecer o caráter.

5. Vale lembrar que o cínico despreza a ideia de perder tempo ou “tutano” com verdades, virtudes ou valores, salvo se for de interesse escuso ou de mentirinha. Ele sabe que o valor genuíno não tem verdade embutida e, só é verdadeiro para quem se submete a ele; e sabe também que a verdade não traz valor inquestionável embutido e só é efetiva para quem ama a verdade ou acredita nela.

6. Os humanos, todos, têm substrato orgânico igual e constituem a única espécie viva cuja natureza (mamífero, onívoro, racional, 9 (nove) metros de intestino, “sangue quente” etc.) pode ser “tão distante” da própria essência quanto se queira. Além disso, o humano é o único animal aparelhado para (a) “não ter” predador (7,2 bilhões de almas e crescendo) e (b) disputar, junto com as baratas, qualquer longitude ou latitude do planeta.

7. O fato de o humano ser dotado de capacidade cerebral para delirar, pensar e agir, ou não, desenvolveu assim essência peculiar, argamassa do caráter e da retidão, que o distingue na Criação. A essência da alma humana (insinuada pelo “conhece-te”, de Sócrates, preconizada pelo “mergulho na alma”, de Agostinho, e operacionalizada pela “fórmula VITRIOL”, da Maçonaria) pode excursionar ao extremo perverso, tal qual, por exemplo, o tiranete corrupto e genocida, capaz de roubar, em benefício próprio e dos malfeitores de sua quadrilha, as riquezas e o futuro de sua pátria, ou, em menor escala, o “gerente da boca de fumo” do narcotráfico.

8. Pode, também, caminhar para o extremo da bondade e compaixão, tal como o Dalai Lama ou Madre Tereza de Calcutá. A mão divinal plasmou o livre arbítrio para que as pessoas decidam, a cada momento, o rumo a seguir.

9. Pois bem, de um lado não existe mecanismo humano capaz de “ler e expor os pensamentos” de terceiros e, por outro lado, assim como as pessoas têm direito ao delírio e ao livre - pensar, têm, também, entre o pensamento e a ação, o direito de “pensar cafajeste” e “agir virtuosamente” revelando, ainda, bons costumes e bons comportamentos... Ou não!

10. E é nesse átimo de tempo entre pensar e agir que a ética toma forma, força e vigor, e o caráter se delineia, fica conformado e se impõe. Dificilmente, alguém habituado à retidão de caráter vacilará... Soli Deo Gloria.

João Francisco Guimarães


PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE UM APRENDIZ MAÇOM


Após algumas reuniões e momentos de estudo, utilizando apenas do que foi apresentado para o grau, além das observações cotidianas do convívio prazenteiro de uma Loja Regular, um aprendiz está apto a apresentar suas primeiras impressões sobre o processo de iniciação, principalmente sobre a cerimônia que concede o titulo de Aprendiz Maçom e as transformações ocasionadas pela sua entrada e frequência na ordem iniciática.

Ao entrar para a maçonaria o profano passa por um longo e minucioso processo de admissão, dividido em quatro etapas distintas. Esse processo tem por objetivo conhecer bem o postulante à insígnia de aprendiz maçom.

O processo de escolha de um candidato, principalmente aos olhos deste, pode ser considerado algo demasiadamente moroso. Contudo esse tardo no desenrolar no cumprimento fidedigno das etapas, constitui-se de elementos fundamentais para uma escolha coerente e responsável de um futuro membro da irmandade.

O postulante à insígnia de aprendiz maçom, por sua vez, precisa se manter discreto durante todo o processo de escolha. Não se pode deixar que a euforia do convite se transforme em convicção de aceitação pela ordem. Quanto mais circunspecto for o candidato, menor a chance de decepção deste em caso de uma possível rejeição ao seu nome.

É importante também salientar que o candidato não deve agir de forma obsedante, a fim de forçar e/ou acelerar o rito normal das etapas de escolha/aceitação/iniciação. A utilização de um parco espaço de tempo na concretização das etapas e do procedimento como um todo, aumentaria consideravelmente a probabilidade de uma escolha equivocada.

Ao citar a palavra processo, que tem a sua origem no latim procedere, que por sua vez significa ‘mover adiante, avançar’, o faço de modo proposital, a fim de deixar bem claro a importância de uma escolha bem sucedida e consequente aceitação de um candidato indicado. Do contrário corre-se o risco de acolher um candidato que não trará bons fluídos para a “irmandade”.

De uma forma análoga, quero dizer que uma “erva daninha” pode causar a deterioração do seu hospedeiro, levando-o ao enfraquecimento e/ou a morte. Diante dessa premissa, é necessário seguir as etapas que antecedem as “provas de iniciação” com rigor, coerência e responsabilidade, não permitindo queimar etapas ou acelerar o seu desenvolvimento.

A escolha e aprovação de um candidato devem passar necessariamente por uma avaliação criteriosa de qualidades importantes e inerentes ao ser humano. Contudo, não se deve destacar o caráter, a honestidade e a honra como sendo características indispensáveis ao candidato indicado, pois, tais qualidades devem ser entendidas como uma obrigação de todo e qualquer ser humano em pleno gozo de suas faculdades mentais e consciente de suas responsabilidades e obrigações frente à sociedade que vive.

Para poder fazer parte da ordem iniciática, e frequentar uma Augusta e Respeitável Loja Regular, não basta apenas o candidato indicado ser um homem de bons costumes, acreditar em um Princípio Criador, ser solidário, gozar de boa saúde física e financeira. 

É preciso, sobretudo, amar a pátria, respeitar os princípios fundamentais do Estado democrático de Direito, que encontram as mais sublimes inspirações nos ideais da Revolução Francesa (1789-1799), e no tão pujante lema, liberté, égalité, fraternité.

É preciso também que o pretenso candidato deixe florescer em seu coração um desejo candente de mudanças, que seja capaz de cavar masmorras aos mais profundos e nocivos vícios, lutando diariamente contra toda e qualquer forma de perversão, degradação ética e moral, corrupção, depravação em todos os sentidos, desregramentos, libertinagem, bem como contra toda dependência física ou psicológica que possa corromper o homem e suas virtudes.

Após a iniciação, e passada a euforia do momento, um aprendiz necessariamente precisa desenvolver uma disciplina de observações e estudos, pois, só assim se tornará um maçom virtuoso. A lapidação da pedra bruta só acontecerá se o aprendiz for capaz de compreender o que acontece em seu entorno.

Quando um profano aceita o convite de um maçom para iniciar o processo que poderá levá-lo a fazer parte da ordem iniciática e a frequentar uma Augusta e Respeitável Loja Regular, inicia-se nesse momento uma conexão, direta e bilateral, entre a irmandade (maçonaria universal), ciente e consciente do que é ser um maçom, seus deveres e obrigações e um profano totalmente ignorante e desconhecedor do que o espera.

Leigo em sua essência, o profano inicia sua caminhada em direção ao desconhecido, completamente desnudo de conhecimento sobre a ordem, inteiramente “pedra bruta”, ansioso para ser lapidado e fazer parte de algo que não conhece. 

Ao aceitar o convite o profano assume o risco de uma caminhada, com ângulos e retas bem distintas, que a princípio não fazem sentido e muito menos levam a lugar algum, tamanho o desconhecimento do candidato.

Tal caminhada será feita na mais completa escuridão, sendo permitido enxergar a luz somente ao final desta, como um prêmio pela coragem e perseverança do candidato.

Diante de tamanha incongruência entre as partes, como pode um profano querer fazer parte de algo que não lhe és apresentado? O que motiva um homem envolto em um mundo místico, cheio de vícios e preconceitos, aceitar um convite para fazer parte de algo tão ignoto? A resposta para tantas perguntas não é tarefa fácil para um aprendiz, talvez o desconhecido intimida ao mesmo tempo em que fascina o profano. Talvez esse seja o segredo da longevidade da maçonaria. Apenas suposições.

Ao longo do processo o profano é movido pelos mais variados sentimentos, mas nenhum assusta mais do que o medo do desconhecido.

Entre todas as etapas nenhuma é mais gratificante ao mesmo tempo em que aterrorizante do que as provas de iniciação. A escuridão que ofusca o candidato não só o deixa cego para o mundo exterior, como também o leva a pensamentos singulares e reflexivos. A cada passagem sentimentos, medos e dúvidas afloram frutos de uma encenação quase dramática.

É inevitável não ter medo, pois, o desconhecido assusta. O silêncio estarrecedor, quebrado apenas por sussurros desconexos e enigmáticos, não deixa dúvidas de que algo está acontecendo.

Tomado de uma pressão psicológica, o profano completamente desorientado e embriagado por um misto de emoções, fruto, sobretudo, de um teatro psicodélico, ainda precisa terminar sua jornada, se assim quiseres fazer parte da ordem. Sendo submetido ao juramento.

Terminada as provas é chegada à hora mais surreal de todo o processo, quando o neófito vê a luz, uma visão que leva o ex-profano ao mais sublime deleite, o desvendar de um mundo desconhecido, uma emoção indescritível, que não se deve ser transcrita, apenas sentida, pois, transcende o belo, e surpreende a mais incrédula das criaturas, uma verdadeira recompensa por toda a espera e provações.

Como prêmio por toda bravura, perseverança e retidão, o agora aprendiz maçom assume seu lugar na Coluna do Norte. Um mero aprendiz, ansioso para se embebedar de conhecimentos e aprendizados.

Diante dos augustos mistérios o profano até o último minuto antes de ver a luz se manteve “em pé e á ordem”, mesmo desconhecendo o desconhecido. Ao alcançar seu prêmio, o agora aprendiz, passa a ter real noção do que o espera.

Passa a entender que não está aceitando fazer parte de uma ordem iniciática para ganhar status e/ou lograr êxito em sua vida financeira, mas sim, quando de coração, ele está aceitando uma mudança de vida de princípios, atitudes e principalmente está assumindo um compromisso com uma nova e complexa família, espalhada pelos mais distantes rincões desse planeta.

O aprendiz maçom será parte viva de um instrumento, onde para se tornar um bom maçom deverá buscar o aperfeiçoamento diariamente, em um exercício constante de autocrítica e mudança de hábitos. Até se tornar um maçom de corpo e alma o aprendiz terá que desbastar a “Pedra Bruta” cotidianamente, “cavando Masmorras aos vícios e levantando Templos à Virtude”, processo que pode levar uma vida inteira.

Ao final do seu primeiro estágio, o aprendiz maçom passa a compreender perfeitamente que não foi ele que escolheu ser maçom e sim 
a maçonaria que o escolheu para ser um dos seus. Uma simbiose única entre a perfeição sublime da maçonaria e a imperfeição dos homens que vestem ternos e capas pretas.

Autor: Kleist Alan Tameirão
*Kleist é aprendiz maçom da ARLS Deus, Pátria e Família, nº154, situada no oriente de Corinto e jurisdicionada à GLMMG.


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