VAI DE ESCADA OU DE ELEVADOR?


A Maçonaria é um sistema de progresso moral, intelectual, filosófico e espiritual baseado em alegorias, símbolos e dramas transmitidos por meio de rituais. Os rituais compreendem graus que, quando sequenciais, compõem um Rito. Dessa forma, ao vencer cada grau, o maçom vai progredindo na senda maçônica. E por conta do progresso, essa trajetória é constantemente ilustrada como uma escada. Por conta de ser uma escada relacionada ao aperfeiçoamento do ser humano, não é raro os maçons a chamarem de “Escada de Jacó”.

Para ser considerado apto ao ingresso no grau seguinte, é comum a exigência de requisitos, como presença mínima nas reuniões, apresentação de um trabalho sobre os ensinamentos do grau em que se encontra e passagem por uma sabatina. Em outras palavras, Maçonaria é uma escola.

O Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA, o mais conhecido dos maçons brasileiros, é composto por 33 graus. Do primeiro degrau até o topo dessa escada costuma-se demorar, no mínimo, 06 anos. Isso porque existem interstícios a serem respeitados que garantem esse tempo mínimo. Por esse motivo, muitos maçons gostam de chamar o Rito Escocês de “Faculdade de Maçonaria”.

E por que alguém frequenta uma Escola? Para aprender, claro! Mas em uma faculdade, existem geralmente dois tipos de estudantes: os que estão ali pela vocação, pela vontade de aprender, e os que só querem o diploma, o título. Aqueles com vocação e vontade são assíduos, participativos, esforçados, estudiosos e comprometidos. Já os outros são ausentes, relapsos, enrolados, “picaretas”.  Na Maçonaria isso não é diferente.

Porém, no universo acadêmico existe uma alternativa para aqueles interessados apenas no título e que possuem o desvio de caráter da desonestidade. Para esses vaidosos desonestos existe um “atalho” que é a compra de diploma, um crime ainda frequente no Brasil. É claro que não se compra o conhecimento, que só pode ser conquistado. Mas para esse tipo de indivíduo, o título já é o bastante para satisfazer seus interesses.

De uma forma geral, existem três formas de se comprar um diploma: por meio de uma instituição corrupta, por meio de um funcionário corrupto, e por meio de um fraudador. O primeiro caso é claramente o mais grave, pois o crime não é cometido por um indivíduo, mas por uma instituição. Uma faculdade que vende diplomas, além de criminosa, não somente coloca em risco a qualidade dos serviços prestados pelos beneficiados pela compra, como prejudica a honra de seus estudantes honestos.

Infelizmente, ainda existe esse tipo de faculdade no Brasil e, mais uma vez, na Maçonaria não é diferente. São vários os casos de maçons passando por todos os graus superiores de um rito em um único final de semana. Esse lamentável fenômeno é conhecido por muitos maçons como “Elevador de Jacó”. O termo significa que o sujeito, em vez de subir degrau por degrau, “pega um elevador e vai direto para a cobertura”.

Sendo a Maçonaria uma escola, sua finalidade é ensinar. E sendo o maçom um estudante, seu objetivo é aprender. Sempre que um Corpo Maçônico ou um maçom fugir disso, estará cometendo um crime. Não um crime legal, mas um crime moral. Um crime perante os maçons e instituições maçônicas honestas deste país.

O fenômeno ocorre no Brasil desde a chegada dos primeiros Ritos Maçônicos, há quase 200 anos atrás, e possui permissão estatutária. No início, tinha-se a desculpa da necessidade de se formar rapidamente uma base para a consolidação dos ritos. Mas atualmente, em pleno século XXI, essa demanda não mais existe. A “subida súbita” tem servido apenas para atender os caprichos de alguns poucos “profanos de avental”, e sido motivada por interesses políticos das instituições fornecedoras.
      
 Os “usuários do elevador” nada sabem e, portanto, nada podem ensinar. Dessa forma, tal prática, assim como ocorre no mundo acadêmico, também é prejudicial ao desenvolvimento da Maçonaria. Mas cabe a cada um dos “estudantes exemplares” trabalharem para a mudança dessa realidade. Aí, quem sabe, essas “escolas de moral” possam ensinar também com o exemplo.

Kennyo Ismail

O FOGO SAGRADO



AO INICIANTE E APRENDIZ DA MAÇONARIA E TAMBÉM AO MAIS EXPERIENTE DOS MESTRES.

Fugindo da planície dos conflitos, onde se entrechocam simultaneamente os antagonismos, o aspirante à maçonaria atravessa o rio da vida coletiva. Longe de deixar-se levar pela corrente, sabe resistir às suas mais poderosas investidas e afirma desse modo sua individualidade.

Por fim, triunfou do elemento líquido e, subindo pelo terreno abrupto da orla, pode do alto, contemplar as águas, cujos torvelinhos o separam do imenso campo de batalha onde os vivos combatem entre si sem trégua alguma. Essa terra que de hoje em diante pisa é a da paz no isolamento como também, a da morte e a da aridez.

Quando volta dá as costas para o rio, se lhe oferece o espetáculo do deserto no qual penetrou Jesus ao sair das águas batismais do Jordão.

O Aspirante interna-se pelas areias em meio às rochas calcinadas. Não há a menor vegetação nem rastro de ser vivente: aqui, o dono absoluto é o sol que tudo seca e mata.

Essa luz que não projeta a menor sombra corresponde à luz da razão humana que pretende fazer omissão de tudo o que não seja ela mesma. Esta razão analisa e decompõe, mas sua própria secura incapacita-a para vivificar o que quer que seja.

Bem está que nos esforcemos para raciocinar com absoluto rigor, mas não criemos certas ilusões sobre o poder da razão, cujo trabalho não passaria de demolição, caso fosse chamada a ser a dona absoluta de nossa mente. Tenhamos bem presente que o Iniciado não deve ser escravo de nada, nem sequer de uma lógica levada ao extremo.

Se a verdadeira sabedoria nos aparta da vida, de suas alucinações e de suas quimeras, é simplesmente para ensinar-nos a dominá-la, não ao modo dos anacoretas que a desdenham, senão como conquistadores do princípio vital que anima todas as coisas no universo.

 A potência que rege o mundo tem por símbolo o fogo, tais como o conceberam os alquimistas: muito longe de consumir e de destruir, seu ardor anima e constrói. Propaga-se a tudo quanto vive. Mas o Fogo dos sábios comporta uma infinidade de graus em direta correspondência com as diferentes vidas que produz sua atividade.

É preciso que um indivíduo saiba inflamar-se de um ardor divino, se pretende ser algo mais que um autômato incapaz de realizar a Magna Obra. Por mais que a água do rio o tenha purificado externamente, limpando-o, como se diz, de tudo quanto turva o juízo da maioria dos mortais, o aspirante ficaria condenado a vagar sem proveito no domínio da esterilidade, se retrocedesse diante da prova suprema, a do Fogo.

O ardor do Sol faz-se cada vez maior e anuncia que a prova é iminente. Diante dessa ameaça, o aspirante pode ainda retroceder, permanecendo às margens do rio, estabelecendo ali sua morada, à maneira dos moralistas que perdem seu tempo com lamentações sobre as misérias humanas e belas prédicas que se perdem no deserto.

Mas o Iniciado não desperdiça seu tempo com discursos: é um homem de ação, um agente eficaz da Magna Obra, por cujo meio é criado e transformado o mundo; se o aspirante sente a vocação do heroísmo, não vacilará em expor à chama seu pé descalço.

Não retrocederá, ainda que as chamas surjam sob suas plantas, mas ver-se-á obrigado a deter-se, quando chegarem a formar uma muralha intransponível. Se quiser voltar atrás, que não perca um instante; ainda é tempo, e tem livre o caminho para bater em retirada. Mas, se domina sua angústia e afronta estoicamente a barreira do fogo, esta cresce e forma duas alas.

De pronto, forma um semicírculo cujas extremidades se unem por fim, deixando o temerário envolto por completo numa fogueira circular, cujo fogo lhe abrasa. As chamas aproximam-se cada vez mais do aspirante que permanece impávido, disposto a ser consumido pelo fogo.

Com efeito, a purificação suprema é obra do fogo que destrói, no coração do iniciado, até o último germe de egoísmo ou de mesquinha paixão. Este ardor purificante de que falamos aqui não é outra coisa senão o amor que nos sinala São Paulo na I Epístola aos Coríntios, nos seguintes termos:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

Conhecedor das noções iniciáticas difundidas pela corrente do pensamento helênico, o apóstolo acertou em seu modo de sentir: todos os dons da inteligência, todos os poderes de ação serão vãos, se não forem aplicados ao serviço da grande causa do bem geral. É preciso amar, chegar até o sacrifício absoluto de si mesmo, para ser admitido na cadeia de união dos iniciados.

É pelo coração, e tão só pelo coração, que alguém chega a ser maçom, obreiro fiel e colaborador verdadeiro do Grande Arquiteto do Universo.

O cerimonial de recepção é simbólico e representa objetivamente o que deve realizar o candidato em seu foro interno. Se tudo ficasse limitado às formalidades externas, a iniciação seria meramente simbólica, marcando tão só a admissão numa confraria de iniciados superficiais que souberam conservar um conjunto de exterioridades tradicionais e nada mais.

Não se veria mais que a casca do fruto. Sem embargo, no interior está à semente, núcleo central, de tal maneira que o iniciador que trabalha em conformidade com a letra do ritual, põe à disposição do verdadeiro candidato um esoterismo velado que se conserva intacto, ao abrigo de toda profanação.

Quando a maçonaria, ou qualquer outra confraternidade iniciática, faz referência à inviolabilidade de seus segredos, trata-se, não do continente dos segredos, sempre comunicável, senão que de seu conteúdo inteligível. Pode-se divulgar a letra morta, mas não o espírito que os privilegiados da compreensão saberão penetrar.

De outra parte, é indispensável sentir, para poder compreender.

A ponta de uma espada fere o candidato perto do coração no momento de sua admissão no Templo para buscar a luz. Antes de podermos discernir, devemo-nos abrir às verdades cujo germe existe em nós.

Não se deve desprezar o intelectualismo; sem embargo, seu domínio absoluto nos condena a uma estéril e desesperadora atividade especulativa. Caindo no excesso contrário, a iniciação cavalheiresca desdenhava o saber, para enaltecer unicamente o amor, este inspirador das mais sublimes ações.

Melhor equilibrados, o hermetismo medieval, o rosacrucianismo e a maçonaria moderna têm preconizado o desenvolvimento simultâneo do intelecto e do sentimento. É indispensável que nos capacitemos a reconhecer a verdade, a fim de conquistar a luz que deve iluminar nossas ações.

De outra parte, se não tivermos o acicate de um ideal, como poderemos nos sentir impelidos à Iniciação? O que atrai e fascina é precisamente uma pressentida beleza. Um amor secreto nos empurra até o santuário e nos infunde coragem para enfrentar os obstáculos das múltiplas provas que ainda nos esperam antes de alcançar o móvel desejado.

Ainda que não pudéssemos compreender mais que medianamente, o essencial seria levar sempre em nosso coração a chama do fogo sagrado, para sermos capazes de nos elevar quando assim o requerer a ação.

Os melhores maçons não são os mais eruditos nem os mais ilustrados, senão que os mais ardentes e constantes trabalhadores, porque são os mais sinceros e os mais convictos.

Quem ama com fervor está acima daquele que se contenta com o saber: a verdadeira superioridade afirma-se pelo coração, a câmara secreta de nossa espiritualidade.

Os que não souberam amar perderam-se no deserto sem passar pela prova do fogo. Cépticos, arrastam sua vida num eterno desencanto. São verdadeiros fantasmas ambulantes, em vez de homens que honram a vida com energia. Será necessário o sofrimento para ensinar-lhes o amor. Em resumo, o sofrimento não é em si um mal, posto que, sem a dor purificadora, ninguém chega a ser grande.

Trecho do livro ideal iniciático.


O ALFABETO MAÇÔNICO



O sistema de codificação mono alfabética em tempos utilizado pela Maçonaria e comummente conhecido como Alfabeto Maçônico ("Pig Pen"), é geralmente atribuído ao místico e alquimista alemão Heinrich Cornelius Agrippa de Nettelsheim, que nasceu em 18 de Fevereiro de 1486, de uma família nobre, próximo da cidade de Colônia, onde estudou medicina e direito, aparentemente sem se conseguir graduar.

Em 1503, Agrippa de Nettsesheim assumiu o nome de Cornelius Agrippa Von Nettesheim, adoptando o "Von" para sugerir sua origem nobre; três anos depois, funda uma sociedade secreta em Paris devotada à astrologia, à magia e à cabala.
A sua carreira foi bastante diversificada, tendo sido agente secreto, soldado, médico, orador e professor de Direito, em Colônia, Paris, Londres, Itália, Pavia e Metz. Em 1509, decide instalar um laboratório em Dole com o objetivo de sintetizar ouro, e durante a década seguinte viajou pela Europa, vivendo como um alquimista, e dialogando com importantes humanistas.
Em 1520, começou a praticar medicina em Genebra, e em 1524 torna-se médico pessoal da rainha-mãe na corte do Rei Francis I em Lyon. Quando a rainha-mãe prescindiu dele, moveu a sua pratica medica para Antuérpia, mas foi mais tarde proibido por praticar sem licença; ressurge posteriormente como historiador na corte de Charles V. 
Ao longo da sua vida, foi preso por várias vezes por diferentes motivos como dívidas e ofensas criminais, tendo morrido em 1535.
Em 1533, Nettelsheim publica o "De Occulta Philosophia", em Colônia, na Alemanha. No livro 3, capítulo 30, descreve sua codificação de substituição mono alfabética, hoje conhecida como Codificação Pig Pen. A tradução literal do nome da Codificação é "Porco no Chiqueiro" e deriva do fato de que cada uma das letras (os porcos) é colocada numa "casa" (o chiqueiro).
Este Alfabeto foi utilizado frequentemente nos Séc. XVII e XVIII, sendo que ainda hoje alguns praticantes das Ordens Maçônicas o utilizam para se identificarem e/ou para comunicarem, mais por tradicionalismo do que como forma de assegurar a confidencialidade, já que a sua "chave" é do conhecimento público e de simples utilização.
Autor Desconhecido


MAÇONARIA SIMBÓLICA NO BRASIL - OBEDIÊNCIAS E RITOS



AS OBEDIÊNCIAS
A Maçonaria Simbólica no Brasil é composta pelas seguintes Obediências bem conhecidas de todos os Maçons (1):

Grande Oriente do Brasil;

Grandes Lojas Maçônicas (CMSB);

Grandes Orientes Independentes (COMAB).

O Grande Oriente do Brasil foi fundado em 17 de junho de 1822 com a divisão da Loja “Comércio e Artes” em mais duas Lojas: “...União e Tranquilidade, e Esperança de Nichtheroy – para então formar o Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano, o primeiro nome do Grande Oriente do Brasil (GOB)” (William, 2010). Atualmente é maior Potência Maçônica da América Latina.

As Grandes Lojas foram criadas pela cisão de 1927, articulada por Mário Behring que havia sido reeleito Grão-Mestre do GOB em pleito fraudado, posteriormente anulado. 

Após algumas disputas internas, Behring renunciou ao cargo do GOB, mas manteve-se como Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do REAA, cargo cumulativo que também era exercido pelo Grão-Mestre do GOB. Ele já havia, em novembro de 1925, registrado os novos estatutos do Supremo Conselho. Em 17 de junho de 1927 reúne secretamente 13 dos 33 Membros Efetivos do Supremo Conselho e declara sua separação do GOB. Emite a Carta Constitutiva Nº 1 para a Grande Loja da Bahia fundada em 22 de maio de 1927, e a seguir para o Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje todos os estados da federação e o Distrito Federal possuem uma Grande Loja.

A COMAB, inicialmente chamada de Colégio dos Grãos-Mestrados, foi criada em 27 de maio de 1973 a partir da cisão dos Grão-Mestres do Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, que liderou o movimento por meio de seu Grão-Mestre, Irmão Danilo José Fernandes, após contendas eleitorais e políticas, algumas das quais resolvidas pela justiça profana.

Entretanto, como nem todas as Lojas desses estados seguiram os Grão-Mestres dissidentes e permaneceram no GOB, passou-se a ter as três potências em quase todos os estados da federação. Hoje a COMAB se encontra, além dos já citados, nos seguintes estados: Pernambuco, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Alagoas, Piauí, Bahia, Pará, Amapá e Goiás.


OS RITOS
Rito Adonhiramita – Criado a partir da polêmica ritualística em torno de Hiram Habif, teve grande adesão no seu início, mas acabou tendo sua pratica atenuada no mundo, porém permanece sendo bastante executado no Brasil.

Rito Brasileiro – Criado em 1914 pelo Grão-Mestre do GOB,  Irmão Lauro Sodré.  Passou vários anos “adormecido”, tendo sua implantação definitiva no GOB em 19 de março de 1968 pelo Decreto Nº 2080 assinado pelo Grão-Mestre Álvaro Palmeira. É hoje o segundo Rito mais praticado no Brasil.

Rito de Emulação (York) – Praticado desde a época dos “Antigos de York”, antes da união entre os “Antigos” e os “Modernos” que deu origem a Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1717. Hoje é o Rito mais praticado no mundo.

Rito Escocês Antigo e Aceito – Foi criado na França, a partir da década de 1650, pelos nobres escoceses que junto com seus regimentos, e regimentos irlandeses, acompanharam Henriqueta de França ao exílio naquele país, após seu marido, Carlos I – Rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda, ter sido decapitado por ordem de Cromwell, líder da Guerra Civil Inglesa. Porém, só se consolidou na segunda metade do século XVIII com a criação dos Altos Graus.

Rito Francês ou Moderno – Foi criado em 1761 para padronizar diversas práticas ritualísticas maçônicas presentes naquela época na França. Teve rápida expansão na Europa e foi o primeiro Rito adotado pelo GOB quando da sua fundação.

Rito Schroeder – Criado em 1801 por Friedrich Ludwig Schröeder durante a reforma da Maçonaria Alemã, se expandiu rapidamente naquele país, e em outros, por Irmãos em sua maioria de origem germânica. Dos Ritos praticados no Brasil é o único que trabalha apenas nos graus simbólicos.

O sonho utópico de muitos Irmãos é que a Maçonaria fosse dirigida por uma única Potência e quiçá, possuísse um único Rito. Entretanto, a Maçonaria é Universal. Lembrando o significado da palavra UNIVERSO, temos o “UNO DIVERSIFICADO”, mais especificamente, o Uno, Grande Arquiteto do Universo, se manifestando pelas infinitas formas que compõe o Cosmos. Portanto, tão natural quanto a existência das diferentes raças humanas, que são absolutamente iguais em todos os aspectos, é a existência das Potências e a prática dos diferentes Ritos na Maçonaria.

O que importa, verdadeiramente, é a honrosa manutenção dos Tratados de Amizade e Mútuo Reconhecimento, e sua virtuosa ampliação, para que os Irmãos, 
independentemente de Obediência ou Rito possam exercer o que preconiza o 14º Landmark da Ordem, que garante o “inquestionável direito de visitar e tomar assento em qualquer Loja”, uma vez que estejam Ativos e Regulares, de acordo com os critérios de cada Potência.

Assim, teremos uma Maçonaria harmônica e coesa, cumprindo nossos tradicionais ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e preparada para novas conquistas, ou seja, recuperar seu poder estratégico capaz de proporcionar novos avanços ao Brasil, superando os antigos obstáculos colonialistas ainda presentes em nossa sociedade e vencendo os desafios que se apresentam nesse início de milênio.


Luis Arino da Silva, M.'.M.'.
Loja Pioneiros de Brasília 2288 / Loja de Pesquisas Maçônicas do GODF 3994, Brasília - Brasil

 
Notas:
1) Existem, ainda, Lojas Distritais diretamente jurisdicionadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra: 01 em Minas Gerais, 02 no Rio de Janeiro e 07 em São Paulo, todas praticando o Rito de Emulação.

2) Foi utilizado como exemplo o Distrito Federal por possuir em sítio eletrônico as informações acessíveis das Lojas das três Obediências.
 
BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, William de Almeida. Pequena História da Maçonaria no Brasil. Revista de Estudos Históricos de La Masoneria. Maio a nov. de 2010. Disponível em:http://www.rehmlac.com/recursos/vols/v2/n1/rehmlac.vol2.n1-walmeida.pdf. Acesso em: 18 jul. 2010.

GALDEANO, Lucas Francisco. A Pluralidade de Ritos Maçônicos no Brasil e no Grande Oriente em Particular. Disponível em: http://www.freemasons-freemasonry.com/galdeano_ritos.html.  Acesso em: 18 jul. 2010.

Landmarks. Disponível em: http://www.guatimozim.org.br/canais/lands.html. Acesso em: 18 Jul. 2010.

O Livro dos Dias 2010: Lojas Maçônicas Brasileiras. Rio de Janeiro: Infinity. CD-ROM. 2010.

Ritos Practicados por Las Obediências Masónicas que Trabajan en España. Disponível em:http://www.cienmas.org/pages/masonhoy/espanaritos.pdf. Acesso em: 14 jul. 2010.

Sítio Eletrônico da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil. Disponível em:http://www.cmsb.org.br/index.php. Acesso em: 11 jul. 2010.

Sítio Eletrônico da Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. Disponível em:http://www.glmb.com.br/lojas.php. Acesso em: 11 jul. 2010.

Sítio Eletrônico da Grande Loja Unida da Inglaterra. Disponível em: http://www.ugle.org.uk/what-is-masonry/history-of-freemasonry. Acesso em: 15 jul. 2010.
Sítio Eletrônico do Grande Oriente de Brasília (COMAB). Disponível em:http://www.gobsb.org.br/lojasgobsb.html. Acesso em: 11 jul. 2010.

Sítio Eletrônico do Grande Oriente do Brasil. Disponível em: http://www.gob.org.br/gob/index.php?option=com_content&view=article&id=217&Itemid=193. Acesso em: 11 jul. 2010.

Sítio Eletrônico do Grande Oriente do Distrito Federal. Disponível em: http://www.godf.org.br. Acesso em: 11 jul. 2010.

SOU O VENERÁVEL: QUEM MANDA AQUI SOU EU!


A Maçonaria é uma instituição extremamente democrática. Em sua organização sempre estão presentes os três poderes: O Executivo, representado pelo V.’.M.’. e sua administração; O Judiciário, representado pelo Orador como membro do Ministério Público Maçônico e, o Legislativo representado pela Assembleia de Maçons.

Ou seja, baseado nos princípios democráticos, cabe ao grupo à decisão sobre os fatos relevantes para o bom andamento de uma Loja.

O que é muito comum em nossos Templos, pessoas despreparadas ao assumirem o maior cargo de uma Loja, após sua posse, passam a demonstrar a maldita SOBERBA.

São pessoas que na vida profana pouco se destacaram e, ao sentarem no Trono de Salomão acham que estão com um rei na barriga.

O “nós” deixa de existir. É um tal de “eu” vou fazer; “eu fiz”, “eu” aquilo, etc.
Quando é questionado, se irrita e solta: “Sou o Venerável, Quem Manda aqui sou eu!”.

Será?

Estão abertas as portas para a cizânia!

Os Irmãos começam a ficar aborrecidos com essas atitudes; começam a ocorrer faltas às sessões; começam a ocorrer atrasos nos pagamentos. A loja começa a perder sua energia!

Normalmente não estudam, pois acham que sabem tudo. As cerimônias por eles presididas são um festival de erros e tropeços.

Esses fracos administradores, na maioria dos casos, ao final de seu mandato ainda tem a cara de pau de dizer: ”Fui o melhor Venerável que essa Loja já teve!”.

Para esses Irmãos recomendo doses cavalares de Humildade, Estudo e, sobretudo, carinho com a Loja e respeito e amor pelos Irmãos.

Paulo Edgar Melo MI.’.
Membro da ARLS Cedros do Líbano. 1688 – GOB-RJ
Miguel Pereira/RJ

O ANTES E O DEPOIS DA MAÇONARIA



Antes de me tornar maçom, eu já admirava as virtudes e os virtuosos. Porém, me esforçava muito pouco ou quase nada para desenvolvê-las e praticá-las. Talvez porque no mundo profano, quase não se fala mais das virtudes. Existem interesses pessoais, locais e mesquinhos que isolam as virtudes em cada ser. Portanto, tenho a certeza que o gesto mais importante da minha vida, no sentido da busca pelo aperfeiçoamento pessoal, foi o meu ingresso na ordem maçônica.

Depois que iniciamos não podemos mais renunciar as virtudes, pois é através do desenvolvimento das mesmas que condenamos os nossos piores vícios, ou seja, é melhor a alegria do que a tristeza, melhor a admiração do que o desprezo, melhor o exemplo do que a vergonha. Neste contexto, não se trata da maçonaria ficar nos dando lições de moral, mas de ajudar a cada um a se tornar seu próprio mestre, como lhe convém, e seu único juiz. Desta forma nos transformamos a cada dia: tornamos-nos mais fortes, ao mesmo tempo mais suaves e, não por acaso fonte de luz no meio em que vivemos. A maçonaria faz com que a virtude seja uma excelência, pois são nossos valores morais vividos em atos.

Dentre várias virtudes que desenvolvemos na maçonaria, como a fidelidade, a prudência, a justiça, a compaixão, o amor entre outras, duas me chamam a atenção e acredito que são as que refletem a minha mudança principal de profano para maçom, sendo a humildade e a tolerância.

Aprendi que a humildade é uma virtude humilde. Pois quem se gaba da sua, mostra simplesmente que ela lhe falta. Por isso não devemos nos gabar, nem nos orgulhar, de nenhuma virtude, e é isso que a humildade ensina. Ela torna as virtudes discretas, como que despercebidas de si mesmas; Não se trata de sermos ignorantes do que somos, mas ao contrário, conhecimento, ou reconhecimento, de tudo que não somos.

Quanto à tolerância, enquanto profano, entendia que fosse somente ter a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar, noutra pessoa ou grupo social, uma atitude diferente das que são a norma no seu próprio grupo. Porém, agora, entendo que somado a este ponto de vista, ao contrário do amor ou da generosidade, que não tem limites, a tolerância é limitada, pois uma tolerância infinita seria o fim da tolerância.

O problema da tolerância surge na questão de opinião e, surge com muita frequência, pois ignoramos o que sabemos e, o que sabemos depende de algo que ignoramos. Portanto, tolerar o que pode ser condenável é deixar de fazer o que se poderia impedir ou combater, e desta forma abandonar todas as outras virtudes. Ou seja, tudo que ameaça efetivamente a liberdade, a paz ou sobrevivência de uma sociedade, a maçonaria se coloca de pé e a ordem para impedir ou combater. Somente devemos tolerar quando assumimos que iremos superar nossos próprios interesses, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência.

Concluindo, a maçonaria nos estimula a estudar e, pesquisando bons livros, alcancei a oração de Mahatma Gandhi, que reflete o que nós maçons, constantemente buscamos:

 “Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos. Se me dás fortuna, não me tires a razão. Se me dás o sucesso, não me tires a humildade. Se me dás humildade, não me tires a dignidade. Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda, não me deixes acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim. 

Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo. Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em desespero se fracasso. Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede ao triunfo. Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza... Senhor, se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim”.
 
Ir.: Daniel Paulo Santos – M.:M.:
ARLS Cidade da Serra 95 – GLMEES
Or.: Serra-ES

TEORIA DO CONHECIMENTO MAÇÔNICO




Quando iniciado na Maçonaria, muitos são os sonhos de realização, educação e cultura que o neófito espera obter. Imagina-se que terá mestres que lhe ensinarão todos os meandros da Arte Real.

Depois de algum tempo, ele percebe que a ordem maçônica apenas fornece local físico, ferramentas e amigos para a caminhada que fará a sua maneira e por seus próprios meios. O estudante maçom anda só na estrada do desenvolvimento, porque lhe cabe descobrir, decorrente da própria vivência, por si e em si próprio, na devida oportunidade, as verdades tão sonhadas.

As descobertas intuídas pelo método maçônico de aprendizagem são diferentes para cada pessoa, dependendo de sua herança cultural, porque o método objetiva que cada um desenvolva suas próprias verdades, sem submetê-las a um molde.

Esta liberdade de autodesenvolvimento tem conexão com a teoria do conhecimento da antiguidade, na qual Heráclito afirmou que tudo no universo muda constantemente, tudo é dinâmico. O método de ensino maçônico transporta esta ideia para as verdades de cada um ao longo do tempo. Cada pessoa tem verdades próprias, que mudam constantemente, dependendo apenas do dinamismo de seu alicerce cultural.

Inicialmente, é bem estranha a forma como cada ferramenta de pedreiro é apresentada, pois sua utilização é universalmente conhecida na arte da construção civil. O processo de conhecimento maçônico processa informações, manipulando símbolos, baseado em regras ritualísticas. O que o neófito não dispõe, são as regras que lhe permite utilizar estes mesmos utensílios do pedreiro de forma simbólica, na construção do próprio homem.

Dentro da teoria do conhecimento maçônico estes símbolos são aplicáveis aos aspectos: moral, ético, social, das saúdes física, mental e espiritual, e no conjunto de cada um.

Platão afirmou que os homens comuns se detêm nos primeiros degraus do conhecimento e não ultrapassam o nível da opinião; matemáticos ascendem a um nível intermediário, e só o filósofo tem acesso à ciência suprema.

Para isto, o filósofo usa um processo conhecido por dialética; passando de uma ideia para outra, sendo uma delas o complemento ou alicerce da outra. O filósofo é em essência o dialético.

A Maçonaria usa de suas lendas e símbolos para proporcionar ao estudante um método de progresso do pensamento filosófico; funciona também para obreiros, sem formação acadêmica alguma, poderem tratar processos dialéticos complicados e com isto se humanizarem. Estes exercícios dialéticos compõem a essência da formação do conhecimento maçônico.

O maçom é um filósofo diferente, porque seus processos cognitivos desenvolvem-se pela materialização da ideia na linguagem simbólica, no uso de símbolos e lendas, que são convertidos em pensamentos abstratos e complexos por métodos de associação e repetição. E isto faz a Maçonaria produzir seres humanos inteiros, equilibrados e destituídos da abordagem mecanicista que, ao fragmentar os processos, acaba por perder a visão do todo. O maçom é treinado para ser a um só tempo nos planos espiritual, psíquico, biológico, histórico-cultural, social, físico, e outros.

A fragmentação transmitida pela educação profana, usando de disciplinas, impossibilita ao homem aprender o que significa ser humano. É nisto que o método de ensino maçônico leva vantagem. A diversidade de ideias, pelo fato de cada um observar os processos a sua maneira, é a aplicação da teoria da complexidade, em semelhança com um universo vivo que evolui da desordem para a ordem em graus de complexidade crescentes.

Quando a Maçonaria migrou da arte de construir para a arte de pensar, no século XVIII, deu partida a um processo educacional que veio até o presente, revolucionando a sociedade em seu caminho por ações daqueles que foram treinados debaixo de sua filosofia. Desde então, e na maioria dos eventos históricos onde se pautou por Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a ordem maçônica agiu nos bastidores com esta educação do homem por inteiro e que move seus membros à ação.

O homem maçom torna-se mestre de si próprio ao longo de seu autodesenvolvimento, e procura alcançar o ápice da perfeição com a tomada de atitudes. Sem discutir, o maçom age baseado na moral que desenvolveu ao longo de sua jornada maçônica, e esta ação está pautada no desejo de acertar e promover o bem para si e a coletividade.

Nestas ações, ele pode ser aviltado e até morto, porque não é sem perigo que um homem de ação atua. Entretanto, na maioria das ocasiões ele se beneficia com esta postura, caindo sobre sua pessoa o reconhecimento da sociedade que o rodeia, e principalmente incrementa sua própria satisfação, alegria e felicidade. Nisto, o maçom é semelhante a um planeta que órbita o Sol; ele reflete a luz emanada por intermédio da ação frente ao que ele considera certo. A educação do maçom o leva a conhecer o mal e também o modo de evitá-lo.

A máxima em toda a caminhada fundamentada na teoria do conhecimento maçônico é o autoconhecimento, o “conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates, e esta noção, como resultado de um trabalho solitário e autodidata é decorrente de profunda introspecção, de longa meditação.

O interessante é que tudo o que se aprende nos templos maçônicos é baseado em lendas fictícias, porém alicerçados em fatos históricos registrados. Assim como as ferramentas, as lendas são materializações de conceitos abstratos, dentro da linha e em direção de estados de complexidade cada vez maiores. Estas histórias sempre têm mensagens que impulsionam ao desenvolvimento Moral. E como não se usam computadores para educar o homem maçom, ocorre enriquecimento espiritual e aporte de diversidade cultural.

Já que nada pode ser feito para melhorar a sociedade se no fundo do cidadão não existir um cunho de homem espiritualmente desenvolvido e em harmonia com o princípio criador do universo designado como Grande Arquiteto do Universo, o homem maçom considera a si mesmo um templo do Incriado, e tudo fará para não conspurcar aquele lugar sagrado. É templo cujo limite é sua própria pele, cujos portões são sua boca, ouvidos e visão, tudo regido por sua capacidade cognitiva e emocional equilibrados pela sua espiritualidade.

O maçom desenvolve sua espiritualidade para avançar com apoio daquilo que considera a origem de tudo; sem uma elevada Fé ele se perderia nas sendas do mal, à semelhança do que acontece na sociedade humana, na qual o homem fera prevalece sobre o homem evoluído. E tudo é proporcionado por seu próprio esforço e pelos princípios desenvolvidos com a técnica de aprendizado maçônico. A criatura humana ao longo de sua vida deve se desenvolver de forma equilibrada em todas as suas dimensões, e o que acelera o processo de desenvolvimento é uma potencialidade latente em cada um: a capacidade de crescer em espiritualidade. E cada pessoa desenvolve seus próprios critérios e ideias de divindade; o que para alguns faz sentido e alimenta sua capacidade de evolução espiritual, para outros não faz sentido algum.

A epistemologia genética, formulada por Piaget, ocupa-se com a formação do significado do conhecimento e meios usados pela mente humana a sair de um nível de conhecimento inferior para outro superior, mais complexo. Segundo ele, a natureza dos saltos do conhecimento são históricas, psicológicas e biológicas. Ele explica que “a hipótese fundamental da epistemologia genética é a de que existe paralelismo entre o progresso completo e a organização racional e lógica do conhecimento e os correspondentes processos psicológicos formativos”.

Pode-se deduzir que o método maçônico de progresso do conhecimento usa o lastro genético que cada um tem, e de forma livre permite que cada um construa sua própria base sem espremer este dentro de um modelo.

Muitas das lendas contam histórias de personagens movidas à ação, o que lhes trouxeram bons e maus resultados. No fundo, o trabalho em mergulhar nos sentidos destas lendas é sempre o de estudar denodadamente para desenvolver o poder de, em conhecendo o mal, saber evitá-lo.

Estes estudos são movidos principalmente pela curiosidade, à mola propulsora do desenvolvimento intelectual. O desejo intenso de ver, ouvir, conhecer, experimentar alguma coisa geralmente nova, original, pouco conhecida ou da qual nada se conhece, faz vencer barreiras, escalar níveis de conhecimento superiores, em níveis de complexidade sempre maiores, contribuindo para fazê-lo possuidor dos segredos do mal, a fim de desviar-se com galhardia de sua ação corrosiva e destruidora. É apenas pelo estudo levado pela curiosidade salutar e edificante que o maçom obtém sucesso em subjugar a natureza e passa a desfrutá-la em sua plenitude.

Em contrapartida, o que também favorece o desenvolvimento pessoal é o controle da indiscrição. O maçom ouve mais e age mais do que fala. Pela curiosidade e longe da bisbilhotice que induz ao perigo, desenvolve a capacidade de manter segredos, a nunca falar de assuntos de outros ou repassá-los sem sua anuência.

A vida em sociedade impõe a necessidade de politização, desenvolvimento do exercício do poder em favor da coletividade. E sendo o humano um ser social por excelência, a sociedade não funcionaria de forma equilibrada sem o exercício do poder de forma equitativa e livre sem a política. Aí o desenvolvimento filosófico maçônico tem sua mola mestra ao impulsionar pessoas a pensarem e agirem mais.

Lideranças são forjadas no fogo da convivência em lojas. De nada adianta revelar os segredos maçônicos por meio de livros com objetivo meramente comercial se não se oferecer a oportunidade da pessoa viver a Maçonaria, e não possibilitar que a maçonaria penetre nela.

Pela política, o poder é concentrado de forma natural, pelo convencimento com argumentos da razão e pela formação de relacionamentos fortes. Platão detratava o retórico e o considerava mentiroso, pois este usa o poder do convencimento para a adulação e adulteração do verdadeiro, e adicionalmente, o tinha como crédulo e instável. Segundo Platão, poetas e retóricos estão para o filósofo no mesmo nível em que está a realidade para as imitações da verdade.

Por ser uma coletividade diminuta, cada loja cobra imediatamente resultado da liderança. Não existe espaço para ações evasivas e dissimuladas como é comum observar-se na sociedade. Sentar no trono de Salomão, antes de ser privilégio que destaca e enaltece, é ato de fé, lição de humildade, exercício de real de política como ela deveria ser executada no mundo externo. O cidadão forjado nestas oficinas filosóficas vai certamente mudar e passa a praticar a política honesta, no exato sentido que Platão e Sócrates deram a tão nobre profissão.

O maçom não faz da filosofia a finalidade de sua própria vida, mas usa da filosofia maçônica para especializar sua capacidade cognitiva e emocional no exercício da Política. A Maçonaria é uma escola de política, pois com sua filosofia e sua organização desenvolve-se a verdadeira política. Foi Platão o primeiro a estabelecer a doutrina da anamnese, que é a lembrança de dentro de si mesmo das verdades que já existem a priori, em latência.

O conhecimento maçônico, alicerçado em suas simbologias e lendas, é um exercício permanente de anamnese. E fica tão fácil deduzir verdades complexas latentes que não há necessidade alguma de frequentar escola superior, basta viver o dia-a-dia maçônico que estas verdades afloram naturalmente, como se sempre estivessem plantadas na mente e no coração a priori. É aí que nasce o verdadeiro homem politizado. Este não busca um ganha-pão com este conhecimento, mas pela ação busca exercer a verdadeira atitude política, para tornar-se pedra polida dentro da sociedade ideal. Uma pedra cúbica que não rola ao sabor dos fluxos dos manipuladores como se fosse um seixo rolante de fundo de rio, por ter desenvolvida a capacidade de pensar, é um obstáculo para os políticos despóticos e desonestos.

O aspecto emocional deve ser alimentado com frequentes distrações, para permitir à mente descansar e se refazer para novas investidas na arte de pensar. Durante os períodos de devaneio pode ser desenvolvido o ócio criativo; usar o tempo de folga para criar e desenvolver ideias ou coisas apenas para o deleite emocional, mas que também propiciem crescimento.

Russell propôs que o ócio poderia ser acessível a toda a população se modernos métodos de produção fossem aplicados, para ele, o trabalho, tal como o conhecemos, não é o real objetivo da vida. De Masi diz que a sociedade industrial permitiu que milhões de pessoas atuassem apenas com os corpos e não lhes deu liberdade de se expressarem com a mente.

O que se faz nos templos maçônicos é exatamente esta retomada da capacidade de pensar que o mundo pós-industrial impôs. Só que na Maçonaria ninguém é compelido só a pensar, mas também de sentir e interpretar toda a mensagem maçom dentro de seu nível de entendimento.

Interagem diversão, trabalho, sentimentos e misticismo. Mesmo após as sessões, nas ágapes festivas o processo de construção continua, é quando se discutem livremente todos e quaisquer temas da vida. As emoções fazem parte do homem, principalmente aquelas que disparam o gatilho da racionalidade. É em momentos de laser que a maioria das ideias são forjadas, haja vista que elas parecem já existir a priori e nos saltos para níveis superiores de conhecimento, para níveis de complexidade maiores, são então apenas “lembradas”.

Muitas vezes o pensador passa dias em profunda meditação para buscar solução a um problema de forma intensa e sem descanso; basta-lhe um momento de descontração, e o cérebro expele a solução para aquilo que jazia incógnito e insolúvel até então.

Outras vezes o pensamento é inédito, não existe registro de haver sido pensado anteriormente, na maioria das vezes ele é despertado em momentos de descontração por um símbolo, por uma estória ou lenda; de repente a ideia está ali, num estalo. A mola da teoria de conhecimento maçônico é seu paradigma da complexidade, a curiosidade salutar em avançar cada vez mais nos conhecimentos de trabalhar a Arte Real em benefício da humanidade, sempre com frequentes intervalos de laser entre cada investida.

É devido a este conjunto harmônico da metodologia maçônica que ela tem sucesso em lapidar com um mínimo de esforço os seres humanos de uma pedra bruta e tosca em pedra polida e cúbica, onde cada um ocupa seu espaço na sociedade humana de forma esplendorosa nas colunas e paredes do grande templo da humanidade para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.

TEXTO RETIRADO DA REVISTA PALAVRA MAÇÔNICA

NOTAS SOBRE TEORIA DO CONHECIMENTO MAÇÔNICO



1. Herança Cultural, respeitante ao conjunto de conhecimentos, informações, saberes adquiridos e que ilustram o indivíduo, segundo uma perspectiva evolutiva;

2. Dialética, em filosofia, método que investiga a natureza da verdade mediante a análise crítica de conceitos e hipóteses. Esse termo adquire relevância fundamental no pensamento de Platão, Aristóteles, Friedrich Hegel e Karl Marx;

3. Mecanicismo, em filosofia ocidental, termo que designa qualquer conceito segundo o qual o Universo é mecanicamente explicável. Nesse sentido, é equivalente ao Materialismo. Também se usa a palavra mecanicismo como sinônimo de Naturalismo (filosófico). Devida a René Descartes. O método desdobra processos complexos em menores e mais simples de entender, para então tentar entender como funciona o conjunto. O problema é que, ao analisar o detalhe, na maioria das vezes o analista acaba perdendo a capacidade de observar o conjunto, de formar juízo do conjunto dos processos. Como exemplo seria analisar uma árvore como ser vivo.

O técnico formado por nossas instituições acadêmicas a dividiria em raízes, tronco, galhos e folhas. Depois passa a analisar suas raízes nos mais diversos aspectos, e ao formar conhecimento das raízes esquece-se de considerar os outros detalhes que a tornam um ser vivente inteiro, e mais, esquece que uma árvore é parte de um sistema ainda muito mais complexo de interação com o meio ambiente, sendo esta árvore local de abrigo de pássaros, de animais, de insetos, de fertilidade do solo e outros. Agora transfira isto quando for analisar uma criatura humana. O método da Maçonaria analisa o ser humano em todos os seus aspectos, da forma mais completa possível, sem desconsiderar nenhum detalhe. E isto só é possível com o uso de uma linguagem simbólica, onde cada um enxerga um objeto de uma forma diferente toda vez que olhar para ele na linha de tempo. Isto porque a aculturação é um processo dinâmico no tempo e as verdades sofrem mudanças na corrente do tempo e em função das mudanças que ocorrem na psique das pessoas, sejam elas explicitas ou subliminares;

4. Só emitimos nossa luz quando a recebemos de outra fonte. Pode-se refletir a luz do sol, da tocha, da vela, mas principalmente de nossas ações, quando estas estão em equilíbrio com a natureza e consigo mesmo. Como não somos vaga-lumes, necessitamos que a luz venha de fora para que a possamos refletir, assim acontece com a filosofia maçom, há necessidade que venha um estimulo externo para provocar a iluminação interna necessária à evolução como ser humano;

5. Conhecer o mal não significa praticá-lo. É decorrente da vontade do maçom de fazer frente ao mal com atitudes e ações que visem traduzir todo o mal em bem. Isto porque o homem maçom deve ser manso e calmo como a ovelha para fazer o bem, mas astuto e ardiloso como a cobra para escapar do mal;

6. Epistemologia, reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento. Estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história; teoria da ciência;

7. Anamnese, lembrança pouco precisa; reminiscência, recordação. Na filosofia platônica, rememoração gradativa através da qual o filósofo redescobre dentro de si as verdades essenciais e latentes que remontam a um tempo anterior ao de sua existência empírica.

Biografias:
1. Bertrand Russell ou Bertrand Arthur William Russell, filósofo, matemático e sociólogo inglês. Também conhecido por Terceiro Conde Russell. Nasceu em Ravenscroft em 18 de maio de 1872. Faleceu em Perto de Penrhyndeudraeth, País de Gales, em 2 de fevereiro de 1970. É o mais representativo e influente pensador inglês do século XX;

2. Domenico de Masi, antropólogo, consultor, escritor, filósofo, professor e sociólogo italiano. Nasceu em Rotello, Província de Campobasso, Itália em 1 de fevereiro de 1938, com 70 anos de idade. Consultor de Administração; 

3. Heráclito ou Heráclito de Éfeso, filósofo grego. Nasceu em Éfeso, Jônia em 540 a.C. Faleceu em Éfeso, Jônia, em 470 a.C. Afirmava que tudo era feito de fogo. Filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de pai da dialética;

4. Piaget ou Jean Piaget, experimentador, filósofo, lógico, psicólogo e teorista suíço. Nasceu em Neuchâtel em 9 de agosto de 1896. Faleceu em Genebra, em 16 de setembro de 1980, com 84 anos de idade. Pesquisador e estudioso do desenvolvimento intelectual. Conhecido por seus trabalhos pioneiros sobre o desenvolvimento da inteligência infantil. Seus estudos tiveram grande impacto no campo da psicologia infantil e da educação, revolucionando os métodos de aprendizagem. Piaget observou que a criança cria, e recria, a realidade. Em seus trabalhos, distinguiu quatro etapas no desenvolvimento intelectual da criança: sensório-motor (até os 2 anos), pré-operacional (de 2 a 7 anos), operacional concreto (até os 12 anos) e operacional formal (até os 15 anos). Entre suas obras destacam-se: A linguagem e o pensamento na criança (1923) e Psicologia e Pedagogia (1970). Piaget é doutor honoris causa da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, título que recebeu quando visitou o Rio, então capital da República, em 1949;

5. Platão ou Platão de Atenas, filósofo grego. Também conhecido por Aristócles Platão de Atenas. Nasceu em Atenas em 428 a.C. Faleceu em Atenas, em 347 a.C. Considerado um dos mais importantes filósofos de todos os tempos;

6. Sócrates ou Sócrates de Atenas, filósofo grego. Nasceu em Atenas em 468 a.C. Faleceu, em 399 a.C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.

TEXTO RETIRADO DA REVISTA PALAVRA MAÇÔNICA

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