A Maçonaria regular só admite no seu seio crentes. Deixa, porém, ao
critério de cada um a crença concreta que cada um professa nada lhe importando
a forma como cada um vive a sua crença.
As obrigações que respeita (ou infringe...), a forma como se organiza
(ou não) a estrutura que porventura enquadre a prática da religião professada,
nem sequer a designação que cada um atribui à divindade que concebe e em que
crê. Por isso, adotou uma forma de se referir à Divindade por cada um venerada,
que é independente da designação utilizada em qualquer religião e que pretende
seja reconhecida por cada crente como se referindo à Divindade da crença que
professa: Grande Arquiteto do Universo.
Assim, para a Maçonaria, um maçom pode perfeitamente, sem problemas ou
reservas, ser católico, batista, anabatista, mórmon, pentecostal, evangélico,
luterano, calvinista, testemunha de Jeová, muçulmano, judeu, hindu, ou o que
quer que seja. A sua crença é do seu foro íntimo e é com ela que se junta aos
demais maçons para que, em auxílio mútuo, cada um se aperfeiçoe pessoal, ética,
moral e espiritualmente.
No sentido inverso, no entanto, as coisas não se processam de forma tão
simples e clara.
No âmbito da religião católica, é conhecido que repetidas vezes vários
Papas emitiram documentos de condenação da Maçonaria, tendo mesmo, durante
largo tempo, o Código de Direito Canônico punido com a excomunhão o católico
que a ela aderisse. Hoje, não é já assim, mas o último documento proveniente da
Cúria Romana continua a não ser particularmente simpático para a
Maçonaria:
Permanece, portanto imutável o parecer
negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus
princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e
por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às
associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se
da Sagrada Comunhão.
(excerto da Declaração sobre a Maçonaria de 26 de novembro de 1983 do
então Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé, Cardeal Ratzinger).
No âmbito da religião islâmica, também se conhecem posições de
responsáveis nada lisonjeiras para a Maçonaria:
Dado que a Maçonaria se
envolve em atividades perigosas e é um grande perigo, com objetivos perversos,
o Sínodo Jurisdicional determina que a Maçonaria é uma organização perigosa e
destrutiva. Todo o muçulmano, que se filiar nela, conhecendo a verdade dos seus
objetivos, é um infiel ao Islã.
(excerto final do parecer de 15 de julho de 1978 do
Colégio Islâmico Jurisdicional).
No campo das crenças cristãs resultantes da
Reforma, também não é difícil encontrar posições contrárias à maçonaria:
A COMISSÃO FAZ A SEGUINTE PROPOSTA:
1) - QUE SEJA REAFIRMADA A POSIÇÃO DA
ASSOCIAÇÃO CONTRÁRIA A MAÇONARIA E OUTRAS SOCIEDADES SECRETAS;
(...)
4) - QUE A AIBRB FAÇA UM APELO COM BASE NO
AMOR CRISTÃO, AOS CRENTES FILIADOS À MAÇONARIA, PARA QUE, POR AMOR A CRISTO E
AO TRABALHO DE DEUS QUE NOS FOI CONFIADO, AFASTEM-SE DE TAL SOCIEDADE.
(excertos de proposta aprovada na 12.ª Assembleia
da Associação das Igrejas Batistas Regulares do Brasil).
Não é de estranhar que existam posições
antimaçônicas em vários setores ou hierarquias - normalmente os mais
integristas, ortodoxos ou fundamentalistas - de várias confissões religiosas,
se tivermos em atenção à contradição fundamental entre a Maçonaria e as
religiões.
Cada religião, e particularmente nas religiões
monoteístas, considera que o seu caminho, a sua doutrina, a observância dos
seus preceitos é que conduz à Salvação. Portanto todos os que se posicionam no
exterior do seu caminho, da sua doutrina, dos seus preceitos, estão destinados
à Perdição.
Já para a Maçonaria, a questão não se põe nestes
termos. Cada um é livre de seguir o seu caminho, de professar a sua religião,
de seguir os preceitos dela e todos são considerados iguais e aptos para serem
bons e se tornarem melhores.
A Maçonaria (o maçom) não concebe que o mesmo
Criador, chame-se-Lhe Deus, Allah, Jeovah, Krishna, Manitu, ou o que se Lhe
chamar, conceba, admita, queira, que os que O veneram por um nome sejam salvos
e os que O conhecem por outro se percam, que os que seguem preceitos de uma
Tradição religiosa recebam eterna recompensa e os que tiveram a desdita de
nascer e viver num ambiente com diversa Tradição religiosa eternamente sejam
punidos.
Para a Maçonaria, o que importa é o comportamento,
a postura ética, o reconhecimento do Transcendente e do Divino, não o
cumprimento específico de normas, de práticas, de posturas, quantas vezes
decorrentes de diversos ambientes, de diferentes culturas, de separações feitas
pelos homens daquilo que o Criador fez igual.
Para a Maçonaria não há caminhos certos nem
errados. O caminho de cada um é o certo para ele, se estiver de boa-fé e for
perseverante nos seus propósitos.
A contradição fundamental entre a Maçonaria e as
diferentes hierarquias religiosas está na Tolerância, que é inerente à Maçonaria
e que os integristas, os ortodoxos e os fundamentalistas não aceitam. Tão
simples como isto!
Rui Bandeira
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