Dentre as atribuições do Primeiro Vigilante, consideramos a mais
importante a de pagar os obreiros e despedi-los sob a certeza de que estão satisfeitos
com o pagamento recebido.
E desde os primeiros passos, ao obreiro é ensinado que para
receber precisa trabalhar e, com dedicação e estudo, poderá inclusive solicitar
um aumento de salário.
Sabemos que salário é a contraprestação recebida pelo trabalhador
em razão do cumprimento de uma atividade ou desenvolvimento de um trabalho a
ele determinado.
A origem da palavra tem a ver com o “Sal”, que nos primórdios
era utilizado para a preservação de alimentos, mas, como em uma oficina
maçônica tudo é simbólico, esse salário não é diferente.
Um exemplo disso é que muitas vezes, embora tenham recebido seus
salários, muitos obreiros não desenvolveram efetivamente um trabalho, mas,
ainda assim, foram pagos.
A maçonaria tem por objetivo primordial o aperfeiçoamento
individual, e nos ensina a aplicar os conhecimentos adquiridos e fazermos a
diferença através do exemplo, cortando na própria carne ou, diríamos
maçonicamente, desbastando a pedra bruta.
Também é de conhecimento geral que a Ordem nos orienta a evitar,
de toda maneira possível, virarmos o maço e o cinzel em direção a um dos nossos
irmãos.
Antes, porém, devemos auxiliá-lo, como um bom Mestre que orienta
seu discípulo, e não fazer o trabalho por ele.
Dessa forma, algumas perguntas sobre Salário surgem e merecem
respostas, ou melhor, uma reflexão. Embora seja o primeiro vigilante o
“pagador”, não há menção a quem determina quanto cada um receberá e há noticias
apenas sobre o aumento, mas não temos como saber qual fator de reajuste deverá
ser aplicado.
Já abordamos que o Salário é apenas simbólico, mas será que isso
procede? Para que consigamos chegar a essa conclusão é preciso definir quem é o
responsável por estabelecer esse salário, e a resposta é simples e
curta: o próprio obreiro.
Certa feita ouvimos, durante os trabalhos, um irmão dizendo,
dentre outras coisas “A maçonaria tem espaço para todo mundo”. É bem verdade
que, naquele momento, ele se referia ao interesse por uma seara ou outra da
Ordem, isto é, alguns se interessam e se aprofundam nos ensinamentos dos graus
simbólicos, outros pelos graus superiores também chamados Filosóficos, a
maioria pelo Rito Escocês Antigo e Aceito e, ainda, outros pelo Rito de York,
mas naquele momento o ilustre irmão, com poucas palavras, abriu nossos olhos
para uma nova perspectiva, levando-nos, então, a rever alguns conceitos.
Com frequência, temos ouvido de um valoroso, digno, respeitável
e “sapientíssimo” irmão que a Maçonaria “tem muito pavão”, “que precisamos
combater a vaidade”, “a vaidade está acabando com a Ordem”. Curiosamente, nosso
guru e guia Salomão, filho de Davi, instruiu: “Tudo é vaidade” (Eclesiastes
1:2).
Não é segredo que a
vaidade é inerente ao ser humano, todos gostamos de ter o trabalho reconhecido
e merecemos receber o crédito por ele, afinal, pensando bem, é o nosso
devido Salário.
Sim, há entre nós aqueles que definiram como salário maçônico,
quase que exclusivamente, o reconhecimento por cada e qualquer ato realizado.
Por isso, fazem questão de ostentar na lapela toda honraria botton ou
insígnia que recebem, bem como exibi-las de todas as maneiras possíveis e isso,
para contrariar os mais exigentes, não é pecado, delito maçônico e nem
prejudica ou desonera o salário de qualquer outro obreiro.
Podemos listar como salários estabelecidos por nossos
irmãos o valor em espécie, pois alguns dos irmãos passando por problemas
financeiros solicitam isenção à Loja, mas também não prestam serviço, se
furtando inclusive da presença, de maneira que recebem salário sem trabalhar.
Outros têm como salário a congregação dos irmãos, consideram que
a simples reunião em Loja já é o suficiente. Ainda outros necessitam de um
trabalho elaborado de aprofundamento em estudos maçônicos, ou de assuntos
relevantes e atuais.
Em algumas situações, aqueles passando por problemas emocionais
recebem seu salário apenas por terem a oportunidade de se abrirem em Loja,
sabedores de que nada será revelado e que seus segredos serão guardados.
Inúmeros outros exemplos poderiam ser aqui citados, mas entendemos que nosso
objetivo já foi cumprido com os acima elencados.
Definido quem estabelece o salário queremos saber quem paga. De
acordo com os regulamentos, o Primeiro Vigilante é o responsável, mas na
prática o salário dos obreiros é pago não por uma pessoa especificamente, mas
por toda a oficina e será pago devidamente se cada uma das Luzes, Dignidades e
Oficiais cumprirem com sua obrigação.
Cabem, portanto, ao Hospitaleiro, verificar as dificuldades dos
obreiros; ao Chanceler, conferir a frequência e comunicar ausências; ao
Tesoureiro, dar ciência da situação financeira do obreiro; aos Mestres, os
ensinamentos; e, às Luzes, dar a atenção necessária aos obreiros, pois, afinal,
foram eleitos e confiados para essa tarefa, ou seja, com a devida prestação do
trabalho bem feito, pagamo-nos uns aos outros.
Uma das nossas tarefas em Loja é atentar para pagar a cada um de
acordo com o que ele deseja receber como salário, seja um mimo, um elogio, um
desabafo, um abraço caloroso, uma prancha ou apenas uma pergunta retórica que o
deixe pensativo.
Antes que os irmãos mais conservadores nos atirem pedras, sob a
alegação de que não devemos incentivar a “vaidade”, convém relembrar a parábola
dos trabalhadores da vinha, narrada em Mateus 20:1-16, donde extraímos que o
empregador, após combinar o valor a ser pago a cada um dos trabalhadores,
efetua o pagamento individualmente, mas é criticado, pois tendo pagado a cada
um conforme acordado, alguns se sentiram injustiçados argumentando terem
recebido o mesmo que outros que labutaram por menos tempo são de pronto,
repreendidos pelo empregador com as seguintes palavras: “Amigo, não te faço
injustiça, não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te…”.
O
lapidar da pedra bruta perpassa por valorizar o
nosso salário individual e não em criticar o salário exigido pelo
irmão.
O aumento de salário se faz necessário quando o obreiro já não
está mais satisfeito com aquilo que recebe e deseja receber além do que vinha
recebendo, mas não nos enganemos, o aumento de salário pode ocorrer em qualquer
momento e não apenas com a efetiva mudança de grau.
A necessidade pode ser
momentânea e se limitar àquela reunião, motivo pelo qual devemos ser e nos
manter “Vigilantes”.
Antes de nos dirigirmos ao Templo, busquemos estabelecer o
salário que desejamos receber, mas sejamos sinceros e, ao final de cada
reunião, quando perguntados: “E os obreiros, estão satisfeitos?”, reflitamos se
recebemos o salário que desejávamos e se, principalmente, ajudamos a pagar ao
irmão o salário que ele desejava receber.
Assim, ao final, possamos responder corretamente e em uníssono:
“Estamos satisfeitos!”.
Autor: Leonardo Avelino Medeiros
*Leonardo é Primeiro Vigilante da Loja Águia das Alterosas
Nº 197 – GLMMG.
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