À primeira vista, o Natal não tem conexão intrínseca com a
fraternidade da Maçonaria. O que quero dizer com isto é em nenhum lugar nos
graus que ela se vincula a qualquer feriado particular na sua prática, em
particular a época de Natal.
Existem, porém, certas celebrações que se tornaram parte da
fraternidade e que estão ligadas a um dos símbolos interessantes que está no
cerne da prática. Sem qualquer referência específica, diz-se que os Maçons vêm
de uma Loja do Santo João; o porquê e como, específicos desta ligação perdem-se
nas areias do tempo metafórico, mas alguma conexão infere um equilíbrio para o
equinócio celestial (do Verão até ao Inverno e vice-versa).
Através desta ligação, o Inverno seria representado por São João
Evangelista, cuja festa cai no dia 27 de Dezembro.
Este Santo S. João tem um significado simbólico interessante,
pois, como S. João Baptista (que representa o outro Santo S. João) foi o
precursor da vinda de Cristo, João Evangelista é considerado o primeiro
discípulo no Lago de Genesareth que reconheceu o Cristo e acreditou que ele
tinha ressuscitado.
Sobre o Santo também se diz que ele foi o único discípulo de
Cristo que não o abandonou na hora da sua Paixão aos pés da cruz. João
Evangelista também é chamado de Apóstolo da Caridade, o que pode ser em parte,
a sua ligação com a Maçonaria, além da sua determinação inabalável e pureza do
seu amor pelo divino.
Ao estudar a construção original dos dois Santos de nome João, a
conclusão a que cheguei foi que eles encontraram um equilíbrio entre zelo e
conhecimento.
S. João Baptista que foi o precursor do Cristo vivendo no seu
zelo pela vinda do filho de Deus e S. João Evangelista como a representação de
saber que o Cristo era o filho de Deus. Somente ao decifrar o componente de
saber ficou claro para mim que não se tratava do grau de conhecimento
adquirido, mas do grau em que S. João Evangelista confiava na sua intuição,
para saber o que estava diante dele. Um paralelo interessante vem no livro de
Mateus, onde esta mesma lição é comunicada a Pedro pelo Cristo que diz em Mateus
16: 15-17
“Mas e tu?” perguntou. “Quem dizes que eu sou?”
Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Jesus respondeu: “Bendito és tu, Simão, filho de Jonas, porque isto não te
foi revelado pelo homem, mas por meu Pai que está nos céus”.
Isto está um pouco fora do contexto original, mas ilustra o
conhecimento revelado com base na experiência, na aprendizagem.
S. João Evangelista chegou a esse conhecimento pela sua
experiência com o Cristo.
Outra maneira de encarar essa experiência é passar das
trevas para a luz, um despertar e, se se for mais além, o despertar da
consciência. Esta consciência ajusta-se perfeitamente à ideia do Sol
Invictus, ou o sol conquistador que supera o seu cativeiro noturno do Solstício
de Verão e novamente começa a vencer a noite nos seus minutos cada vez maiores
de luz do dia.
Olhando para algumas das outras ligações simbólicas, diz-se que
S. João Evangelista se relaciona com o símbolo alquímico do triângulo apontado
para cima que representa o fogo, onde novamente podemos ver uma ligação com a
luz e o conhecimento. Quando combinamos o signo alquímico de S. João Baptista
com o de D. João Evangelista, criamos a estrela de Salomão, e a dualidade de
fogo e água; para além disso, a dualidade de luz e escuridão e Verão e Inverno.
Outros trabalhos atribuídos a S. João Evangelista são as
Epístolas de João e o livro do Apocalipse, embora a sua conexão com eles nos
séculos posteriores tenha sido controversa, já que muito da sua vida de 2000
anos atrás se perdeu no tempo. Dentro da Igreja, o seu dia de festa é
mencionado pela primeira vez no Sacramentário do Papa Adriano I, cerca de 772
d.C..
A mensagem da Igreja, e algo que cada um de nós pode tirar de S.
João Evangelista, é “Aplica-te, portanto, à pureza de coração e serás como S.
João, um discípulo amado de Jesus, e serás preenchido com sabedoria celestial”.
A festa de S. João Evangelista é pouco lembrada hoje, exceto
dentro da Maçonaria onde é celebrada por algumas Lojas que ainda praticam o
ritual da Loja da Mesa onde os Irmãos se reúnem para celebrá-la com brindes aos
Irmãos presentes e ausentes.
No passado, era considerado um dia de festa de grande
importância para a Maçonaria por causa da sua proximidade com os feriados e a
presença de membros da Loja perto de casa. Por causa disto, deu a esses irmãos
um festival para se reunirem para pontuar o encerramento do ano.
No entanto, reunir-se assim é algo menos conveniente nos dias
modernos, já que a maioria das famílias viaja para o exterior para comemorar o
feriado.
O fato de ser menos celebrado não diminui a importância do dia,
nem do símbolo em si, pois no ritual moderno somos lembrados que viemos do
Santo S. João em Jerusalém, e como tal devemos fazer uma pausa e refletir sobre
o que significa.
S. João Evangelista dá-nos uma lição importante para buscar o
conhecimento e despertar das trevas e renovar no osso compromisso com o
despertar da luz do Sol Vitorioso. Mesmo retirando a metáfora cristã, podemos
saudar com o Sol Invictus, ou o sol conquistador, à medida que o
conhecimento é rê-despertado da sua derrota fria e invernal.
Através das lentes do simbolismo, S. João Evangelista dá-nos uma
forma de encontrar ressonância com o feriado da doação e da compaixão à
fraternidade do amor fraterno, alívio e verdade – a Maçonaria.
Feliz Natal!
Greg Stewart
Tradução de António Jorge
Fonte: Freemason Information
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