QUANDO UM INICIADO É VERDADEIRAMENTE MAÇOM?




 

Ouso dizer-lhe que um Homem Iniciado só será verdadeiramente Maçom quando conhecer a si mesmo e, a partir de então, ser capaz de compreender aqueles que o cercam, entendendo as suas tristezas, fraquezas e até faltas, mas, sobretudo, tendo a coragem de dizer-lhes o quão é necessário que a sinceridade e a lealdade prevaleçam sobre os interesses individuais de cada um.

Um homem só será verdadeiramente Maçom quando, como disse Joseph Fort Newton, tiver mantido a fé em si mesmo, no seu semelhante, no seu Deus e na sua mão uma "espada" contra o mal, no seu coração o “toque de uma canção”, feliz por viver, mas sem medo de morrer. Ou seja, buscando incessante e insistentemente a VERDADE sobre todas as coisas.

Digo-lhe que enquanto Maçons precisamos buscar sempre uma maior aproximação, uma melhor estruturação e organização de nossa Ordem, em especial sob o ponto de vista sócio-político e administrativo, no sentido de termos de fato uma vivência plena da essência Maçônica, sem vaidades e sem divisões em nossa universalidade, para fazermos a diferença nas comunidades onde nossas Lojas estejam inseridas.

Nesse sentido, meu Amado Irmão, a essência Maçônica está na capacidade em que cada Iniciado tem em compreender e exercer os seus deveres, responsabilidades e papéis perante todos os entes que o cercam, mas, atente-se, pois para o discernimento necessário a essa consciência é preciso estudo e compreensão dos ensinamentos contidos na simbologia e na prática da ritualística maçônica. Eis que, nesse mister, cabe à loja não somente iniciar o homem, mas, sobretudo, instruí-lo e prepará-lo para uma nova etapa em sua vida.

Dito isso, é fundamental que as Lojas Maçônicas e seus Obreiros percebam um fato inquestionável: o de que a sociedade humana vem ao longo dos anos se envolvendo em inúmeras necessidades banais, criadas por mentes vaidosas e vazias, que perdeu de vista a sua realidade e as suas raízes, para uma assustadora e avassaladora inversão de valores éticos e morais, a ponto de afetar inclusive os valores de instituições consideradas até então “inquestionáveis”, tais como a própria família, a Maçonaria, entre outras.

Você pode estar a perguntar: o quê a Maçonaria e eu temos a ver com isso?

Ou nós nos adequamos à realidade de um mundo extraordinariamente dinâmico e espantosamente instável ou estaremos irremediavelmente condenados a desaparecer em poucos anos. Não pelo fecharmos das portas de nossos templos ou encerramentos de nossas atividades, mas, simplesmente, por falta de credibilidade. Primeiro entre nós mesmos e depois perante a sociedade de um modo geral.

Lembro-lhe de que a razão de nossa existência nunca foi não é, e nunca será fundamentada na prática da filantropia, da caridade e da beneficência.

Ou a maçonaria, através das lojas maçônicas, se empenha em transformar o homem maçom em um líder capaz de promover mudanças profundas no estrato social ou seremos tão somente meros expectadores de uma história recheada de fatos negativos e deletérios aos reais interesses de cidadão e trabalhadores, a exemplo do que vem sendo escrito no Brasil de hoje por autoridades e políticos corruptos e sem princípios éticos e morais.

É por isso e por muito mais que a nossa participação na sociedade deve estar ligada a todas as situações que interferem no desenvolvimento humano. Precisamos ter consciência do potencial universal e divino da Sublime Ordem Maçônica, pois nenhuma outra organização possui a estrutura humana que ela tem: quem abriga em seu seio tamanha diversidade de homens (etnias, crenças, profissões, etc.), na busca de um objetivo comum – a evolução da humanidade?

Mas, na mesma medida em que possuímos uma estrutura invejável, adotamos uma postura acomodada e isenta de ações efetivas e concretas para melhorarmos os ambientes aos quais pertencemos e ou frequentamos. Por exemplo: É gritante a falta de instrução, conscientização e conhecimento do que vem a ser Maçonaria. Repito: muitos ainda consideram-na filantrópica. Arrepia-me tamanha ignorância!

As nossas Sessões Ordinárias duram em torno de 120 minutos e os períodos de estudos ou de instrução, quando utilizados, duram em torno de cinco a quinze minutos. É lamentável ver que muitos querem encurtar as Sessões, simplesmente para ampliar a “segundinha”, sempre regada com muita cerveja, cachaça e outros produtos não menos etílicos.

Quando algum irmão mais interessado tenta apresentar um trabalho mais elaborado, a reclamação é certa, vai atrasar o andamento da sessão e, consequentemente a “segundinha” vai ficar prejudicada. Perguntas: como instruir-se em tempo tão exíguo? Como esgotar a discussão de um assunto interessante em tempo tão curto? Como a diretoria de uma loja pode propor uma ordem do dia que seja de fato produtiva e edificante? Aliás, o que temos discutido nas “ordens do dia” de nossas reuniões?

É grande o número mestres maçons que, ao atingirem essa condição, deixam de estudar, pois acham coitados, que atingiram a plenitude maçônica e, pensando assim, prejudicam muito o desenvolvimento de aprendizes e companheiros, razão fundamental de existência do próprio mestre.

Talvez seja este o maior problema interno de nossa ordem - o excesso de confiança daqueles que se vêem como ''líderes", mas que não o são e tão somente se comportam como indivíduos vaidosos e cheios de presunção; muitos, por desconhecimento de nossos princípios mais elementares, param no tempo e não aceitam que se discuta dentro das lojas assuntos de interesse geral, inclusive da ordem, como as questões políticas, econômicas e sociais. a nossa falta de posicionamento político contribuiu e tem contribuído para o estado de coisas que ora assistimos no país como um todo – onde o que prevalece é a falta de ética, a corrupção e a impunidade.

Quantas vezes presenciamos impassíveis, o comportamento antimaçônico de muitos Irmãos, verdadeiros “profanos de avental”, que querem fazer de seus defeitos e vícios, regras morais para os demais - é o resultado final da falta de estudo e de conhecimento dos princípios elementares, que aliados à presunção do falso saber "entronizam” os falsos líderes acerca dos quais já fiz menção acima;

A tudo isso se soma a um verdadeiro desrespeito às tradições históricas da Ordem, onde candidatos são indicados sem os menores critérios e ou cuidados, permitindo que indivíduos sem princípios utilizem a Maçonaria, unicamente para a conquista de benefícios pessoais e ou profissionais – isto já nos enfraqueceu demais.

Veja só: sob o pretexto de sermos em pequeno número, se comparados a outras organizações, alguns defendem e promovem abertamente a iniciação indiscriminada de profanos, propiciando assim, o acesso aos nossos Templos, Ritos e Rituais, a pessoas que em nada engrandecerão nossas colunas.

Sem contar a enormidade de publicações indevidas sobre a ordem, em revistas, livros de qualidade duvidosa, Internet, entre outros. Como se isso fosse fundamental para estarmos mais próximos da sociedade, tal qual fazem e agem certas seitas religiosas - há anos venho alertando sobre este estado de coisas. Já fui inclusive taxado de preconceituoso e antidemocrático, por não aceitar a iniciação de pessoas “oportunistas”.

Até quando seremos coniventes com Irmãos se lamentando sobre o que a Maçonaria fez ou está fazendo por eles, quando em verdade deveriam analisar sobre o que poderiam eles fazer pela Maçonaria? Já que é dever de todo Maçom conhecer e saber quais são os objetivos da Sublime Ordem a qual pertence, devendo se comprometer com a plena realização e concretização dos mesmos, sempre atento aos seus atos e hábitos diários, pois são eles que constroem ou destroem o desenrolar de suas vidas, seja no mundo profano, seja no mundo maçônico.

O Maçom deve ter consciência de que, antes de ser um homem que se envolve em relações simplesmente materiais, é um elemento que se colocou à disposição do equilíbrio entre todas as coisas e criaturas, e, consequentemente pela evolução da sociedade humana e de tudo que a cerca.

Por esse motivo me dirijo novamente a você, no sentido de pedir-lhe: nunca deixe de discutir os rumos de nossa Sublime Ordem junto aos irmãos de vossa Loja, pois existem em nossas bases homens que podem e devem contribuir para o engrandecimento da Maçonaria Universal, despertando a vontade e a necessidade de muito trabalho para que as nossas marcas sejam deixadas pelo caminho, e que o amanhã seja melhor do que o hoje e do que o ontem.

“O que vale na vida maçônica não é a Iniciação (ponto de partida) e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim teremos o que colher...!” (Autor por nós ignorado)...

Pelo M.·. I.·. Aquilino R. Leal, Fundador Honorário da Aug.·. e Resp.·. Loj.·. Maç.·. Stanislas de Guaita 165. Publicado na Folha Maçônica Nº 442, 1 de março de 2014

 

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