1. INTRODUÇÃO
A Maçonaria Moderna
identifica-se, de forma geral, com um mote: “a busca da verdade”. Por sua vasta
história e amplitude geográfica, produziu ritos diversos e linhas de estudo que
podem ser equiparadas às múltiplas vertentes do conhecimento humano. Mas, por
mais diversas que sejam suas formas de atuação, a Ordem Maçônica não pode
olvidar-se quanto ao compromisso de seu objetivo principal: elucidar a mente e
dissipar as trevas da ignorância.
No entanto, alguns temas
suscitam maiores reflexões do que outros. O tema do presente trabalho - “A
Egrégora Maçônica” - é um destes que se apresenta arenoso. Eivado de muitas
ilações, sensações, até crenças, constrói ambiente enigmático para o
pesquisador maçônico atento ao intento de atingir-se certo grau de
assertividade. Diante desta circunstância, a ARLS Caminho de Luz, que adota o
REAA, permitiu-se adicionar um subtítulo ao tema, qual seja, “Uma Visão
Crítica”.
A visão crítica a que se
refere aqui é aquela que busca identificar os reais fundamentos de qualquer
premissa. Uma vez esmiuçado o conceito, reconstrói-se o mesmo com a
responsabilidade de referenciar a pesquisa, a lógica e a razão, e não crendices
efêmeras ou sensações pessoais.
Egrégora, para
muitos Maçons, significa a reunião de forças mentais e espirituais dos irmãos
congregados em Loja, na presença de uma entidade espiritual. Ou ainda, conforme
o Rito, a ligação psíquica e espiritual à essência de todo Maçom que existe ou
já existiu.
Assim, ouve-se em reuniões
maçônicas do REAA explicações das mais variadas formas, se utilizando do
misticismo, esoterismo, e de tantas outras quase ciências para tentar dar
sentido para reunião dos irmãos em loja.
No entanto, baseando-se
em um resgate histórico, nos fundamentos iluministas da Maçonaria Especulativa,
bem como no berço de nascença do REAA, outro significado para “Egrégora” pode
ser identificado.
A despeito das cargas
esotéricas, a união de desígnios e o foco comum na execução ritualística
apresentam-se, aparentemente, como fatores importantes a serem estudados na
geração do chamado “espírito de corpo”, de pertencimento e aglutinação.
Em razão desta
dualidade de conceitos, tão díspares, o tema foi desenvolvido buscando um
resgate histórico do contexto da formação da maçonaria especulativa, e, nesta
esteira, a identificação dos objetivos eleitos para ser a razão de atuar da
maçonaria através do REAA. Em sequencia, buscar-se-á verificar se é plausível a
hipótese de que a maçonaria brasileira, impregnada pela forte presença da
mística latina, deturpou premissas iluministas do REAA ao fazer inserir
passagens ritualísticas e conceitos exógenos em sua doutrina.
Com isso, pretende-se
identificar racionalmente os motivos pelos quais os irmãos se reúnem com
espírito mais associativo e profícuo em algumas sessões do que em outras.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. BREVÍSSIMO
RESGATE HISTÓRICO
A Maçonaria foi levada para França pelos
Stuarts e sua corte, quando estes foram exilados no Castelo de Saint Germain.
Teria sido a primeira manifestação Maçônica em território Francês. Descende
ainda, conforme o Historiador G. Bord, do regimento criado por Carlos II,
chamado Guardas Irlandeses (Procedimentos Ritualísticos 1º Grau,
p.9).
Ainda na França, o
gérmen do Rito Escocês Antigo e Aceito bebe do iluminismo, que rompe com a
lógica obscurantista e passa ao pensamento científico racional. Representava a
vitória da ciência sobre a superstição que dominava o pensamento medieval.
Também, pudera. Na Idade
Média, período que durou do Século X ao XV o homem viveu aprisionado em seu
pequeno mundo, cheio de superstições e medos. Com pouquíssimas pessoas
alfabetizadas de fora do clero, a igreja atuava como fornecedora de
justificativas religiosas para todos os momentos. As epidemias e catástrofes eram
quase sempre atribuídas ao diabo e resolvidas com exorcismos, sinais da cruz e
outros simbolismos.
Os Reis respeitavam o
poder da igreja e essa, por sua vez, dependia deles para sua proteção e
patrocínio. Tendo o controle do poder espiritual, e também político e
financeiro, a Igreja Católica foi responsável por manter a ordem social da
Idade Média.
Isto fica evidente, com
base no fragmento de um texto da época:
Deus quis que, entre os
homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores
estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos estejam obrigados a
amar e venerar o seu senhor (...).
O surgimento da
Maçonaria Especulativa está intimamente ligado com vários acontecimentos
ocorridos na Europa. No final do século XV, o Mercantilismo permitiu o
surgimento das pequenas indústrias, e as expansões marítimas trouxeram mudanças
na consciência popular. O ceticismo, que questionava a autoridade tradicional
(nobreza e clero) desaguaria em conceitos mais claros e universais.
Princípios Humanistas
resgatam a filosofia da Grécia Antiga, tentando encontrar explicações racionais
sem a utilização da religião e da
superstição.
O século XVIII trouxe
uma nova etapa ao Renascimento, o Iluminismo. Seus ideais espalharam-se por quase
toda Europa, jogando luz sob as ideias obsoletas e supersticiosas da Idade
Média, conhecida como a Noite dos Dez Séculos.
Os entraves para a
evolução do homem precisavam ser retirados e com isso, a Razão deveria ser sua
guia, substituindo a antiga crença religiosa e ganhando maior liberdade
política, econômica e social.
Ao que consta, tanto o
nascimento da Maçonaria Especulativa quanto o florescimento do REAA, advêm do
homem ter relembrado sua especial condição: a racionalidade. Neste contexto, os
grandes inimigos da maçonaria são eleitos e seus antídotos enfaticamente
recomendados, chegando aos rituais franceses o juramento maçônico de se
combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros, além de se
lutar perenemente contra o fanatismo e a superstição.
2.2. OS INIMIGOS DA
MAÇONARIA ENFATIZADOS NO REAA
Identificado o
contexto histórico francês do REAA, surge dúvida séria quanto à compatibilidade
do conceito de Egrégora Maçônica em um rito que exige de seus
membros o juramento de combater os grilhões da humanidade.
Assim, com o intuito de
bem identificar os significados contidos nos substantivos que representam os
inimigos da maçonaria, em especial para o REAA, é que se enxerga a necessidade
do detalhamento dos seus conteúdos.
A Maçonaria tem por
objetivo o combate aos “grilhões” da humanidade, como o despotismo, o
preconceito, a ignorância e o erro, dessa forma buscando glorificar a verdade e
a justiça.
Entende-se por grilhões
uma forma de restrição de liberdade, mas não somente ao sentido de liberdade
como o de circular livremente, mas sim a liberdade de pensamento, liberdade
essa que se alcança através da capacidade de discernir; e o discernimento, por
sua vez, é alcançado pela razão.
O discernimento é
necessário ao Maçom, pois somente pode ser considerado livre aquele que não
está aprisionado aos grilhões do preconceito, da ignorância, do erro e da
superstição. A Razão unida à inteligência deve ser usada pelo correto uso do
Maço e do Cinzel. A Pedra Bruta deve ser transformada aplicando-se nela a Razão
e a Inteligência para ser utilizada no Edifício Social como uma Pedra Cúbica,
de forma justa e perfeita.
Entende-se
por preconceito o juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude
discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de
comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento
sério.
A ignorância é
a condição da pessoa que não tem conhecimento da existência ou da
funcionalidade de algo. O estado da pessoa desprovida de conhecimentos; sem cultura;
condição de quem não tem estudo.
O erro é
definido como uma opinião, julgamento contrário à verdade. Falsa doutrina ou
opinião falsa. Um engano ou equívoco.
A superstição, outra
masmorra da razão, pode ser definida como um desvio do sentimento religioso,
fundado no temor ou na ignorância, e que empresta caráter sagrado a certas
práticas destituídas de qualquer transcendência. Define-se, também, como uma
crendice em que se confia em situações com relações de causalidade que não se
podem mostrar de forma racional ou empírica. Ela geralmente está associada à
suposição de que alguma força sobrenatural, que pode inclusive ser de origem
religiosa, agiu para promover a suposta causalidade.
Superstições são, por
definição, não fundamentadas em verificação de qualquer espécie. Elas podem
estar baseadas em tradições populares, normalmente relacionadas com o
pensamento mágico. O supersticioso acredita que certas ações (voluntárias ou
não) podem influenciar de maneira transcendental a sua vida.
O elo causal entre a
atitude do supersticioso e o efeito que se supõe ocorrer é, em muitos casos,
difuso, muitas vezes não declarado e sempre impossível de ser verificado ou sem
cunho científico.
Esta maneira de pensar
contrária à razão, não só viola os princípios da ciência, mas aprisiona aquele
que assim age. A Maçonaria se levanta contra a superstição por já ter
experimentado, nas brumas da história humana, a facilidade com que homens sem
escrúpulos manipulam pessoas através de crendices, retirando-lhes a liberdade
de ação e de pensamento.
2.3. A EGRÉGORA
MAÇÔNICA NO REAA E SUA POSSÍVEL (E EQUIVOCADA) ORIGEM
Algumas definições de Egrégora Maçônica que
estão disponíveis em livros e repositórios levam o maçom a pensar em entidades
terrenas e espirituais trabalhando juntas, com princípios místicos envolvidos,
formando uma unidade ativada pela suposta energia do pensamento.
Para alguns autores,
como Jorge Adoum e Nicola Aslam, a Egrégora Maçônica, se “bem feita”, com a
reunião de fortes e idênticas vibrações, com pensamentos da mesma natureza, um
ser verdadeiro ganharia vida e ficaria animado de uma força boa ou má, conforme
o gênero dos pensamentos emitidos pelos participantes.
Orlando Soares da Costa, preceitua:“O nosso corpo, tal como o planeta Terra, é um verdadeiro campo eletromagnético. As células do nosso corpo são basicamente compostas de sódio e potássio. Basta um pequeno conhecimento de física elementar para saber que nosso corpo físico é uma grande bateria. Cada célula do nosso corpo é ligada a três dos nossos sistemas: o Nervoso, o Circulatório e o Imunológico. Interessa-nos neste momento apenas o Nervoso. Este como sabemos, é formado por miríades de pequenos feixes capilares que se encontram em dois grandes eixos, os sistemas nervosos simpáticos e parassimpáticos, que se unem em um eixo central que é a medula, que conduz toda a carga energética ao conjunto cerebral em nossa caixa craniana, através do hipotálamo.”
Inclusive autores
maçônicos que se autodenominam ligados ao REAA, identificam a presença do
ente Egrégora e atribuem-lhe uma posição central nas sessões
ritualísticas. Um deles é Rizzardo da Camino. Em seu livro “O Aprendizado
Maçônico”[1],
ele nos traz:
“As Lojas mais
“espiritualizadas”, emprestam à Cerimônia, atenção especial; há um fundo
musical adequado; a luminosidade passa a ser mais amena com colorido adequado;
todos de pé; o Oficiante ajoelha-se; ergue com ambas as mãos o Livro Sagrado e
lhe faz a leitura. Esse momento é de expectativa. Os videntes notam a formação
de um “SER ESPIRITUAL”, com semelhança ao ser humano, com características
angélicas, envolto em nuvens diáfanas; cresse e cobre a todos os presentes,
permanecendo em flutuação, tenuamente visível, sem perturbar pelo seu mistério.
É “um corpo espiritual”
que se forma; seus componentes são retirados da aura de cada um dos IIr.·.
presentes. É a Egrégora. É o mistério que faz de cada um, um só ser; todos os
Maçons passam a uma individualização única; é a harmonização dos pensamentos,
dos ideais, dos propósitos; é a aura geral, o esplendor único. É a
transformação do corpo físico em corpo místico; é a fusão de todos numa
corrente divina. A Egrégora é um ser real, que permanece enquanto o Livro Sagrado
permanecer aberto. E “ele” esse corpo divino e místico, esotérico e diáfano,
faz parte da “cobertura celestial”. É a proteção real. Não há mais o porquê de
um Ir.·. manter com outro qualquer dissonância, pois todos passaram a formar um
só corpo, fundidos e imersos na Egrégora.”
A leitura das linhas
acima, em contraste com as definições trazidas no tópico anterior sobre
superstição, dá condição de o pesquisador maçônico questionar a validade e
existência desta entidade chamada Egrégora. Afirmar pela existência
e formação de um campo vibracional energético, sem qualquer lastro
doutrinário ou simbólico oficialmente admitido pelos rituais, muito menos
cientificamente válido, alcança, aparentemente, as raias da fantasia,
encobrindo os reais motivos pelos quais os maçons, no REAA, se reúnem em sessão
de
Loja.
Diante de tal panorama,
pergunta-se o real motivo dessa influência exacerbada do misticismo no
pensamento maçônico latino. Por que razão a cultura maçônica brasileira aceita
melhor os fatos explicados com base em argumentos metafísicos do que aqueles
explicados com bases
científicas?
Sem dúvida que a
característica dos povos latinos de serem suscetíveis a influências do
misticismo não lhe é exclusiva. A Humanidade de modo geral sempre esteve
sujeita a influências de tudo aquilo que não se pode explicar. Desde as mais
priscas eras, o pensamento do homem era levado por crenças místicas. Já na
Grécia Pré-Socrática toda e qualquer explicação era dada com base em atos
praticados por deuses ou semideuses de sua
mitologia.
Mais tarde, com a
ascensão do Império Romano, a cultura grega foi absorvida pelo povo romano e o
misticismo foi mais arraigado ainda nas crenças da
população.
Os Latinos foram um
antigo povo de origens indo-européias estabelecido na Península Itálica, mais
precisamente na costa do Mar Tirreno, na região hoje chamada de Lácio, local
onde se encontra a cidade de Roma. Esse povo contribuiu de forma determinante
na formação do povo romano, que absorveu sua língua e cultura. Por esta razão,
muitas vezes o termo “latino” é empregado como sinônimo de
“romano”.
Os latinos e depois os
romanos antigos acreditavam serem descendentes de Marte, o Deus grego da
guerra, relacionando a isso o caráter de ser um povo extremamente belicoso.
Mesmo após a queda do Império Romano, com o domínio dos povos bárbaros,
passou-se a evidenciar a crença monoteísta em um ser supremo.
Com o evoluir da
História, os povos europeus passaram a sofrer pesada influência da Igreja
Católica nas Idades Média e Moderna. Com o advento das grandes navegações, os
colonizadores da América Latina, mais notadamente os espanhóis e portugueses,
essa influência cruzou o oceano e desembarcou no novo continente, a América.
O indivíduo branco, que
participou da formação da cultura brasileira fazia parte de vários grupos, que
chegou ao país durante a época colonial. Além dos portugueses, vieram os
espanhóis, de 1580 a 1640, durante a União Ibérica (período sob o qual Portugal
ficou sob o domínio da Espanha). Entretanto, foi dos portugueses que recebemos
a herança cultural fundamental, onde a história da imigração portuguesa no
Brasil confunde-se com nossa própria história.
A mitologia portuguesa[2] é
herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante diversas
entre si, que deixaram um fértil legado imaginárias. Engloba o conjunto de
narrativas maravilhosas e lendas sobre personagens e suas façanhas, fenômenos
naturais e objetos extraordinários ou regiões fantásticas, com características
sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer dos séculos,
tanto no campo literário como no da tradição oral.
Todavia, um dos mais
importantes legados portugueses foi à religião católica, crença de grande parte
da população brasileira. O catolicismo, profundamente arraigado em Portugal,
deixou no Brasil as tradições do calendário religioso, suas festas e
procissões, tornando-se a religião oficial do Estado até a Constituição
Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Atualmente, o Brasil é
considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais. De acordo
com o IBGE 73,8% da população brasileira declara-se católica.
Com isso, os povos
latino-americanos obviamente acabaram formando uma cultura essencialmente
misticista, em virtude de toda influência na sua formação social e política,
não apenas de seus colonizadores mas também dos próprios povos que já habitavam
o continente antes da invasão européia. Portanto, seria pouquíssimo provável
que tais povos se desvirtuassem dessa característica.
Como hipótese
científica, admite-se que estas circunstâncias sociológicas pressionaram o
contingente de maçons brasileiros a tal ponto que, por um conforto
ideológico-religioso, preferiu-se optar em descaracterizar passagens
ritualísticas e premissas doutrinárias do REAA, a buscar desenvolver-se
aptidões de pesquisa metodológica científica geradora da liberdade de espírito.
Tal particularidade constitui, em conjectura, o fundamento da adição do
conceito de Egrégora Maçônica dentro do REAA.
2.4.EGRÉGORA
MAÇÔNICA VS SUPERSTIÇÃO E A AUTÊNTICA ESPIRITUALIDADE
Há tempos o homem segue
costumes, muitas vezes sem saber como surgiram e por que permanecem até hoje,
quando tudo parece ter esclarecimento lógico e racional. Ocorre que
infelizmente a sociedade é alimentada por dogmas culturais e mídia transbordada
por uma pseudociência mística que mistura sua falácia com o jargão científico,
mas rejeita o método científico como teste para suas teorias.
Uma pseudociência é um mito que reivindica
status científico, mas não quer ser julgada como tal. Ironicamente, sua
expansão só tende a aumentar, uma vez que nos oferecem aquela visão romântica
da vida que queremos ver, e é muito fácil acreditar em algo quando estamos com
sede de nos apegar a qualquer coisa. Todos os dias os nossos temas
culturais, o nosso sistema educacional, nas revistas, nos jornais, na
televisão, no rádio e mesmo nas escolas nos bombardeiam com elas.
Apesar de ser possível
apontar características supersticiosas dentro de praticamente todas as
religiões, é considerado um equívoco confundir as duas coisas. Religião não é
magia. Enquanto uma prática supersticiosa, como um talismã ou uma simpatia,
propõem melhorar nossa existência aqui e agora no mundo físico, a religião
trata da vida espiritual. A superstição traz um benefício imediato, apenas por
placebo, enquanto a religião busca a paz divina, envolvendo normas éticas e
códigos de conduta.
Hipócrates de Cós é o
pai da medicina. Ele é lembrado, principalmente, por causa do juramento
hipocrático. Mas ele é celebrado sobretudo por seus esforços para arrancar a
medicina do terreno da superstição e trazê-la à luz da ciência. Numa passagem
peculiar, Hipócrates escreveu:
“Os homens acham a
epilepsia divina, simplesmente porque não a compreendem. Mas se chamassem de
divino tudo o que não compreendem, ora, as coisas divinas não teriam fim.”
A um Deus das Lacunas é
atribuída a responsabilidade pelo que ainda não compreendemos. Como o
conhecimento da medicina, tecnologia e demais disciplinas tem se desenvolvido
progressivamente, cada vez mais aumenta o que compreendemos e diminui o que
tinha de ser atribuído à intervenção divina ou magia.
Há milênios
filósofos céticos cansados de respostas fáceis e despertados pela admiração e a
curiosidade de descobrir o que há por trás dos mistérios que os cercam,
instavam em atacar e desafiar tudo, a eles não escapando a crença nos deuses,
que dominantemente é vislumbrado, de diversas formas, como factível de tal
existência. Muitos, contudo, extinguem o politeísmo e a existência de um Deus
antropomórfico (com formas humanas) conferindo a Este uma unidade: o Todo, o
Uno, as leis que governam o universo, o Criador de um plano, A energia e
matéria, o espírito de bondade e inteligência infinita, a Perfeição e as formas
que denominamos de Natureza. O próprio gênio e físico Albert Einstein tinha sua
concepção de que “Deus é a lei e o legislador do Universo“.
A busca pela verdade é
campo da ciência e da racionalidade. O problema dessa busca é a capacidade de
interpretação, pois na cultura popular prevalece uma espécie de Lei de Gresham,
segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa, nos tornando analfabetos da razão.
Há 2400 anos, Platão, no
livro VII das Leis, deu a sua definição de analfabetismo científico:
Aquele que não sabe
contar um, dois, três, nem distinguir os números ímpares dos pares, ou que não
sabe contar coisa alguma, nem a noite nem o dia, e que não tem noção da
revolução do Sol e da Lua, nem das outras estrelas [...]. Acho que todos os
homens livres devem estudar esses ramos do conhecimento tanto quanto ensinam a
uma criança no Egito [...] Com espanto, eu [...] no final da vida, tenho tomado
conhecimento de nossa ignorância sobre essas questões; acho que parecemos mais
porcos do que homens, e tenho muita vergonha, não só de mim mesmo, mas de todos
os gregos.
Compete aos homens, por
sua racionalidade, identificar e desmitificar todo conhecimento mal empregado,
pela oportunidade de enxergarmos determinados costumes com o olhar crítico da
ciência, onde a dúvida só pode ser sanada pelas lentes das evidências. O
próprio ceticismo nos deu amparo para questionar o, até então, inexplicável e
sermos livres de fato.
Nessa toada, livres e de
bons costumes, os Maçons tem o dever de se desvencilhar das amarras da falsa
ciência. Os bons pedreiros, ao construírem seus edifícios e catedrais, carecem
utilizar o conhecimento empírico e pragmático da engenharia, caso contrário
suas obras tendem a ruir.
Na vida espiritual
(leia-se espírito como personalidade imaterial da consciência) os Maçons têm os
mesmos deveres, se desvencilhar das amarras da ignorância e do erro. Apesar
disso vemos no meio Maçônico alguns costumes que se assemelham as ditas
superstições, dentre elas aquelas trazidas do meio profano e outras que se
originaram dentro de Loja, vezes por má interpretação, outras por simples influência
do meio cultural no transcorrer dos tempos. Nisso podemos citar o uso de
amuletos ou termos empregados de forma duvidosa ou equivocada, tal como a
concepção da Egrégora Maçônica por muitos.
3. CONCLUSÃO:
Os motivos que levam os
Maçons do REAA a reunirem-se em Loja, não dependem de uma energia vibracional
gerada entre os irmãos, os colocando em um uníssono ou sincronia, mas sim tal
harmonia está em objetivos e ideais convergentes, a fim de poderem progredir
nos trabalhos da Maçonaria, em coerência com o Humanismo, que foi a base
teórica e filosófica do Movimento Iluminista.
Ao se reunirem os
Maçons, obtém-se uma sinergia, resultado da somatória de todos os esforços
voltados para os mesmos objetivos, mesmos fins, e que são muito claros para
todos os praticantes do REAA: combater o despotismo, a ignorância, os
preconceitos e os erros; glorificar a Verdade e a Justiça; promover o bem-estar
da Pátria e da Humanidade; levantando Templos à virtude e cavando masmorras ao
vício.
A Maçonaria Especulativa
busca entender, por meio da razão, a Natureza e o papel do homem em seu meio,
por isso luta por manter-se livre das superstições, temores e erros.
Por outro lado, não se
pode deixar de reconhecer a importância da espiritualidade que outros Ritos
Maçônicos no Brasil conservam em suas práticas, tendo por base a formação
religiosa do povo brasileiro, influenciada fortemente pela Igreja Católica,
pelas religiões africanas e indígenas. E tal fato não é nem bom ou ruim, mas
uma realidade com as quais os maçons devem aprender a conviver, em conformidade
com os princípios da tolerância e livre credo.
Com ou sem mística, o
que é de fato fundamental é agregar forças construtivas para que os maçons
consigam dar formas concretas aos fins supremos de Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
AAp.´. MM.´.:
David Simão
João Duleba
Murilo França
Claudio Ramos
Ricardo Igor
Elton Rocha
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
http://curiosidadesmisteriosantigos.blogspot.com.br/2015/06/latinos-saga-de-um-povo.html
http://www.infoescola.com/mitologia-grega/teogonia-de-hesiodo/
http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos-indigenas.html#!/tcmbck
http://www.suapesquisa.com/astecas/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%B5es_jesu%C3%ADticas_na_Am%C3%A9rica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_portuguesa
https://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAggYMAB/a-influencia-dos-povos-na-formacao-cultura-brasileira
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=308
Os conceitos
apresentados, com adaptações, foram consultados nos seguintes sites: http://www.significados.com.br, http://pt.wikipedia.org
Hernandes, Paulo Antonio
Outeiro.
Curso de formação de
aprendizes do Rito Escocês Antigo e Aceito.
1º edição-Londrina-Ed.
Maçônica “A Trolha”, 2015.
Bauer, Alain
O Nascimento da Franco
Maçonaria – tradução Fulvio Lubisco
São Paulo-Ed. Madras,
2008.
Pike, Albert e Pessoa,
Fernando.
As Origens e os
Ensinamentos da Maçonaria- tradução Fulvio Lubisco.
São Paulo-Ed. Madras,
2015.
Cortella, Mario Sergio
Pensar nos faz bem- filosofia,
religião, ciência e educação.
5º edição- Petrópolis-
Ed. Vozes, 2015.
Procedimentos
Ritualísticos, 1º Grau Rito Escocês Antigo e Aceito. 2016.
Ritual, 1º Grau-Aprendiz
Maçom- Rito Escocês Antigo e Aceito. 2009.
SUPERSTIÇÕES E CRENDICES
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